O Brasil na imprensa alemã (25/01)

Julgamento de Lula é destaque na mídia da Alemanha: jornais destacam como dura derrota para o ex-presidente na Justiça torna o cenário político brasileiro ainda mais incerto.

Protesto contra Lula em São Paulo

Frankfurter Allgemeine Zeitung: Condenado e, mesmo assim, decisivo na  eleição

A derrota foi, para Lula, pior que o esperado. Uma coisa é certa: a condenação vai virar as eleições de outubro de cabeça para baixo. Lula não faz segredo de suas ambições de voltar ao Palácio do Planalto. E a polarização no Brasil, que, após sua condenação, vai se acentuar, pode até ajudar a ele e a seu partido.

Süddeutsche Zeitung: Tribunal confirma pena de Lula

O popular ex-presidente brasileiro pode ter que passar 12 anos na prisão. Entre especialistas, é incerto se ele ainda tem chance de entrar na eleição de outubro. A batalha judicial pode se estender por meses. A democracia brasileira está, assim, diante de uma situação sem precedentes. A campanha de Lula é um impasse jurídico, que ninguém sabe se estará decidido antes da eleição.

Die Welt: Caminho aberto para o Donald Trump brasileiro

Para Lula, ficará difícil manter de pé sua candidatura a presidente. O escândalo de corrupção, que atingiu quase todos os partidos brasileiros, fez a confiança nele e em outros políticos despencar acentuadamente. No fim, o presidente pode ser um outsider: o conservador de direita Jair Bolsonaro está em segundo nas pesquisas.

Handelsblatt: Dura sentença contra Lula

A campanha eleitoral começou agora, com um inesperado, claro e duro julgamento. Mas isso não vai impedir Lula de se candidatar e apresentar recursos – apesar de vários outros processos contra ele ainda estarem em andamento. O ex-líder sindical se vê como vítima de uma conspiração da mídia e da Justiça. Mas, com a sentença, o campo de ação para Lula na política foi restringido. Uma coisa acerta: Lula não vai abrir mão por vontade própria de sua candidatura. Para o político, há muito em jogo.

Fonte: DW

Lula e a Alemanha

Ex-presidente simboliza uma história teuto-brasileira de sucesso e é visto por muitos alemães como figura de proa na luta por um mundo melhor e mais justo.

Lula ao lado de Angela Merkel, em 2009, durante entrevista em Berlim

Caros brasileiros,

Lula atrás das grades? A ideia de que o ex-chefe de Estado brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tenha que, em breve, ir para a cadeia não é estranha apenas para mim, mas para muitas pessoas na Alemanha. Lula, afinal, é visto por aqui como símbolo de uma história teuto-brasileira de sucesso.

Esta história teuto-brasileira de sucesso se baseia numa cooperação de mais de 30 anos entre a social-democracia alemã e o PT, entre a Confederação Alemã de Sindicatos e a CUT, entre a Fundação Friedrich Ebert, ligada ao SPD, e iniciativas de cunho social e político no Brasil.

E ela se baseia no sucesso de uma indústria que pertence ao DNA da Alemanha: a automobilística. O grupo Volkswagen em Wolfsburg, a líder de mercado Volkswagen do Brasil e os sindicatos dos dois lados do Atlântico estão ligados por uma relação muito especial. Ainda durante a ditadura militar, a Volkswagen do Brasil permitiu a criação de conselhos de trabalhadores – a pressão vinda de Wolfsburg tornou isso possível.

Lula é uma das principais cabeças do movimento sindical internacional, que é em grande parte apoiado por integrantes alemães. Ele é também, com isso, parte de um desejo alemão por justiça global. Para muitos apoiadores aqui na Alemanha, ele é a figura de proa na luta por um mundo melhor, como uma espécie de versão brasileira do primeiro presidente do Reich, Friedrich Ebert (1871-1925), que, como operário seleiro e social-democrata, teve uma ascensão semelhante à de Lula.

Quando o chanceler federal Helmut Schmidt (SPD) esteve no Brasil para uma visita oficial, em 1979, ele afrontou o regime militar então comandado pelo presidente João Figueiredo e se encontrou, contra a vontade deste, com o então líder sindical e metalúrgico Lula. Em 2009, Lula visitou Schmidt em Hamburgo e agradeceu a ele, de novo, por esse apoio.

Mas não apenas chanceleres e políticos social-democratas, como Willy Brandt, Gerhard Schröder, Johannes Rau e Helmut Schmidt, mantêm ou mantiveram laços estreitos com Lula. Também entre os cristão-democratas, como o ex-presidente alemão Horst Köhler, Lula desfruta de grande respeito.

Köhler conheceu Lula durante seu mandato como chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 2000 a 2004. A crítica de Lula às receitas de saneamento do FMI para a América Latina colaboraram para uma mudança de rumo nas políticas do fundo.

A chanceler federal Angela Merkel (CDU) também chamou Lula de amigo. “Nós já nos encontramos várias, várias vezes, e eu tenho que dizer que nos tornamos grandes amigos”, disse ela em 3 de dezembro de 2009, durante uma entrevista conjunta à imprensa em Berlim. Lula faz parte da Alemanha.

Astrid Prange escreve sobre Brasil e América Latina para a Deutsche Welle

  • Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter: @aposylt.

Fonte: DW

 

 

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App

 

4 Comentários

  1. Como o tópico trata de repercussões internacionais sobre o linchamento judicial de Lula, onde “juízes” e “procuradores”, atuam como meros carrascos da Santa inquisição midiática à serviço de interesses antinacionais…

    Reproduzo trechos de comentário traduzido de Jean Luc-Melenchon, principal liderança da esquerda francesa:

    —————

    “Ainda sobre um assunto internacional. Desta vez se trata do Brasil. Bom, não sei se vocês seguem essa realidade, mas eu vou tentar contar da maneira mais breve possível por que é preciso sempre ficar de olho no que acontece no Brasil.

    Por que? Porque o Brasil é membro de uma coalizão, (podemos chamar assim) de países da qual o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul fazem parte que se chama BRICS, por causa das iniciais de cada país que a compõe.

    E os BRICS representam uma ameaça para os EUA, porque eles querem comercializar entre si e são grandes países. A China, por exemplo, com 1 bilhão e 400 milhões de habitantes, a Índia é um pouco menos populosa, os russos são 150 milhões, 170, alguma coisa assim. São massas humanas imensas e representam uma parcela da produção mundial extremamente importante, algo como 40% – é muito importante – e como eles decidiram comercializar entre si nas suas moedas nacionais, ameaçam a hegemonia do dólar. Além disso, o Brasil tem o azar de estar na América do Sul, por assim dizer. Ou seja, é o lugar que os americanos consideram como suas colônias em volta da América.
    Quando surgiu um poder de esquerda, os americanos ficaram loucos da vida e fizeram tudo o que puderam, como em todos os outros países, para desestabilizar esse poder de esquerda.

    (…)

    A partir do momento em que começaram a organizar golpes de estado em todos os países, eles resolveram organizar o que chamamos de golpe de estado institucional no Brasil, ou seja, tiraram a presidenta que tinha sido eleita em seguida ao governo de Lula mantendo o Partido do Trabalhadores no governo, Dilma Rousseff.

    (…)

    E, claro, todas as pesquisas, todas as sondagens, todas sem exceção, dão Lula como o vencedor das próximas eleições presidenciais no Brasil.

    Bom, e como foi pelo Brasil que começou a série de vitórias da esquerda na América Latina, eu nem lhes conto como o tio Sam ficou verde de raiva só de pensar na ideia de que ver Lula de novo no poder, principalmente depois de ter arrancado fora a Dilma Rousseff e tudo o mais.

    Eles estão completamente obcecados em fazer o que for preciso pra impedir que Lula volte. Então, criaram um processo por corrupção.
    E, evidentemente, com juízes que não vale a pena que eu qualifique com adjetivos. Enfim, esses juízes decidiram que Lula é um corrupto e que merecia 9 anos de prisão em regime fechado. 9 anos de prisão em regime fechado, entenderam?

    Enquanto que o atual presidente da república, que é um corrupto, não passou nem algumas horas perante um juiz. Bom…

    Então, eles julgaram Lula uma primeira vez, e na apelação, na segunda instância, eles condenaram de novo Lula. Eles condenaram de novo o candidato da esquerda, não por 9 anos, porque acharam que não era o bastante. Então, para não deixar passar, eles o condenaram a 12 anos em regime fechado.

    A CONDENAÇÃO DE LULA É CONFIRMADA NA APELAÇÃO E MAJORADA A 12 ANOS.

    Entenderam? Então, a natureza da própria sentença é uma maneira de dizer: “Não estamos nem aí, podem dizer o que quiserem, mas somos nós que temos o poder, somos nós que decidimos, e Lula vai ser preso”.

    E por que eles fazem isso? Para impedir que ele seja candidato nas próximas eleições presidenciais.

    (…)

    Mas, vejam bem, lembrem-se do que é a direita quando perde as eleições. Quando a esquerda perde, a gente aceita. Já quando a direita perde… Vejam bem tudo o que contaram a respeito das eleições na Venezuela, ou sobre todos os outros países. Onde eles tiverem a possibilidade de agir, irão agir. E o pior de tudo é que eles colocam as pessoas na prisão, prendem quem querem sob falsas acusações, e em seguida trapaceiam nas eleições.

    Digo isso tudo porque não podemos desanimar, não podemos baixar a guarda, não podemos deixar nossos companheiros! Estes que estão lutando pelo Brasil hoje, esses companheiros lutam conosco, eles têm seus defeitos, eu os conheço, tenho minhas críticas sobre a maneira como conduzem a política, mas isso não importa, são nossa família. Eles são parte de nosso campo e se eles ganham, são as superpotências que recuam, é menos força aos EUA, e logo, isso nos deixa mais livres, nós como franceses, porque a mão do mestre fica menos forte.”

    —–

  2. Destaco a última frase de Melenchon:


    “Eles são parte de nosso campo e se eles ganham, são as superpotências que recuam, é menos força aos EUA, e logo, isso nos deixa mais livres, nós como franceses, porque a mão do mestre fica menos forte.”

    No fundo não se trata de esquerda vs direita,
    hoje estes conceitos estão ultrapassados. A atual disputa pelo poder se dá entre globalistas anti nações vs aqueles que lutam por suas respectivas soberanias nacionais, tanto econômicas como culturais….

1 Trackback / Pingback

  1. O Brasil na imprensa alemã (25/01) | DFNS.net em Português

Comentários não permitidos.