Julgamento de Lula é destaque na mídia da Alemanha: jornais destacam como dura derrota para o ex-presidente na Justiça torna o cenário político brasileiro ainda mais incerto.
Protesto contra Lula em São Paulo
Frankfurter Allgemeine Zeitung: Condenado e, mesmo assim, decisivo na eleição
A derrota foi, para Lula, pior que o esperado. Uma coisa é certa: a condenação vai virar as eleições de outubro de cabeça para baixo. Lula não faz segredo de suas ambições de voltar ao Palácio do Planalto. E a polarização no Brasil, que, após sua condenação, vai se acentuar, pode até ajudar a ele e a seu partido.
Süddeutsche Zeitung: Tribunal confirma pena de Lula
O popular ex-presidente brasileiro pode ter que passar 12 anos na prisão. Entre especialistas, é incerto se ele ainda tem chance de entrar na eleição de outubro. A batalha judicial pode se estender por meses. A democracia brasileira está, assim, diante de uma situação sem precedentes. A campanha de Lula é um impasse jurídico, que ninguém sabe se estará decidido antes da eleição.
Die Welt: Caminho aberto para o Donald Trump brasileiro
Para Lula, ficará difícil manter de pé sua candidatura a presidente. O escândalo de corrupção, que atingiu quase todos os partidos brasileiros, fez a confiança nele e em outros políticos despencar acentuadamente. No fim, o presidente pode ser um outsider: o conservador de direita Jair Bolsonaro está em segundo nas pesquisas.
Handelsblatt: Dura sentença contra Lula
A campanha eleitoral começou agora, com um inesperado, claro e duro julgamento. Mas isso não vai impedir Lula de se candidatar e apresentar recursos – apesar de vários outros processos contra ele ainda estarem em andamento. O ex-líder sindical se vê como vítima de uma conspiração da mídia e da Justiça. Mas, com a sentença, o campo de ação para Lula na política foi restringido. Uma coisa acerta: Lula não vai abrir mão por vontade própria de sua candidatura. Para o político, há muito em jogo.
Fonte: DW
Lula e a Alemanha
Ex-presidente simboliza uma história teuto-brasileira de sucesso e é visto por muitos alemães como figura de proa na luta por um mundo melhor e mais justo.
Lula ao lado de Angela Merkel, em 2009, durante entrevista em Berlim
Caros brasileiros,
Lula atrás das grades? A ideia de que o ex-chefe de Estado brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tenha que, em breve, ir para a cadeia não é estranha apenas para mim, mas para muitas pessoas na Alemanha. Lula, afinal, é visto por aqui como símbolo de uma história teuto-brasileira de sucesso.
Esta história teuto-brasileira de sucesso se baseia numa cooperação de mais de 30 anos entre a social-democracia alemã e o PT, entre a Confederação Alemã de Sindicatos e a CUT, entre a Fundação Friedrich Ebert, ligada ao SPD, e iniciativas de cunho social e político no Brasil.
E ela se baseia no sucesso de uma indústria que pertence ao DNA da Alemanha: a automobilística. O grupo Volkswagen em Wolfsburg, a líder de mercado Volkswagen do Brasil e os sindicatos dos dois lados do Atlântico estão ligados por uma relação muito especial. Ainda durante a ditadura militar, a Volkswagen do Brasil permitiu a criação de conselhos de trabalhadores – a pressão vinda de Wolfsburg tornou isso possível.
Lula é uma das principais cabeças do movimento sindical internacional, que é em grande parte apoiado por integrantes alemães. Ele é também, com isso, parte de um desejo alemão por justiça global. Para muitos apoiadores aqui na Alemanha, ele é a figura de proa na luta por um mundo melhor, como uma espécie de versão brasileira do primeiro presidente do Reich, Friedrich Ebert (1871-1925), que, como operário seleiro e social-democrata, teve uma ascensão semelhante à de Lula.
Quando o chanceler federal Helmut Schmidt (SPD) esteve no Brasil para uma visita oficial, em 1979, ele afrontou o regime militar então comandado pelo presidente João Figueiredo e se encontrou, contra a vontade deste, com o então líder sindical e metalúrgico Lula. Em 2009, Lula visitou Schmidt em Hamburgo e agradeceu a ele, de novo, por esse apoio.
Mas não apenas chanceleres e políticos social-democratas, como Willy Brandt, Gerhard Schröder, Johannes Rau e Helmut Schmidt, mantêm ou mantiveram laços estreitos com Lula. Também entre os cristão-democratas, como o ex-presidente alemão Horst Köhler, Lula desfruta de grande respeito.
Köhler conheceu Lula durante seu mandato como chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 2000 a 2004. A crítica de Lula às receitas de saneamento do FMI para a América Latina colaboraram para uma mudança de rumo nas políticas do fundo.
A chanceler federal Angela Merkel (CDU) também chamou Lula de amigo. “Nós já nos encontramos várias, várias vezes, e eu tenho que dizer que nos tornamos grandes amigos”, disse ela em 3 de dezembro de 2009, durante uma entrevista conjunta à imprensa em Berlim. Lula faz parte da Alemanha.
Astrid Prange escreve sobre Brasil e América Latina para a Deutsche Welle
- Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter: @aposylt.
Fonte: DW
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