Coreia do Norte e Coreia do Sul concordam em resolver diferenças pelo diálogo

A Coreia do Norte e a Coreia do Sul concordaram nesta terça-feira em negociar para resolver problemas e em realizar conversas militares com o objetivo de evitar conflitos acidentais, após o primeiro diálogo oficial entre as partes em mais de dois anos, em meio às tensões geradas pelo programa de armas nucleares de Pyongyang.

© REUTERS – Ri Son-gwon (dir.), chefe da delegação norte-coreana, e o vice-ministro da Unificação da Coreia do Sul, Cho Myoung-gyon

Por Christine Kim e Hyonhee Shin

Em um comunicado conjunto após 11 horas de conversas, a Coreia do Norte prometeu enviar uma grande delegação para a Olimpíada de Inverno de Peyongchang, em fevereiro, na Coreia do Sul, mas fez uma “forte reclamação” após Seul propor conversas para desnuclearizar a península coreana.

A Coreia do Sul pediu para seu vizinho cessar atos hostis que aumentavam a tensão na península, e em troca o Norte concordou que a paz deve ser garantida na região, informou o Ministério da Unificação da Coreia do Sul em comunicado separado.

Em seu posicionamento separado, a Coreia do Norte ressaltou que seu arsenal é voltado apenas para os Estados Unidos, não para os “irmãos” sul-coreanos, a China ou a Rússia, e disse que discussões sobre o programa nuclear teriam um impacto negativo nas relações intercoreanas.

As conversas entre as Coreias são monitoradas de perto por líderes mundiais ansiosos por qualquer sinal de uma redução nas tensões, conforme crescem os temores sobre os lançamentos de mísseis e o desenvolvimento de armas nucleares da Coreia do Norte, em desafio a resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

Mais cedo nesta terça-feira, o governo sul-coreano disse estar preparado para suspender algumas sanções temporariamente para que autoridades norte-coreanas possam visitar a Coreia do Sul para os Jogos Olímpicos de Inverno. A Coreia do Norte informou que sua delegação contará com atletas, autoridades de alto escalão, uma equipe de torcida e artistas, assim como repórteres e espectadores.

A Coreia do Sul proibiu unilateralmente a entrada de diversas autoridades norte-coreanas em resposta aos testes nucleares e de mísseis de Pyongyang, feitos apesar de pressão internacional.

No entanto, algumas autoridades sul-coreanas disseram ver a Olimpíada como uma possível oportunidade para diminuir as tensões.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Roh Kyu-deok, disse que Seul irá considerar se necessita tomar “medidas prévias”, junto com o Conselho de Segurança da ONU e outros países relevantes, para ajudar norte-coreanos a visitarem o país na Olimpíada de Inverno.

Negociações serão feitas em breve para estabelecer detalhes da condução de norte-coreanos para os Jogos, informou o comunicado, com a agenda exata a ser decidida através de trocas documentadas.

Na conversa desta terça-feira, a primeira desde dezembro de 2015, Seul propôs discussões militares intercoreanas para reduzir tensões na península e uma reunião de membros familiares a tempo do feriado do Ano Novo Lunar, em fevereiro, mas o comunicado conjunto não fez menção às reuniões.

A Coreia do Norte também terminou trabalhos técnicos para restaurar uma linha direta militar com a Coreia do Sul, informou Seul, com comunicações normais prontas para serem retomadas na quarta-feira. Não ficou imediatamente claro quais informações serão transferidas na linha direta.

A Coreia do Norte também respondeu “positivamente” à proposta da Coreia do Sul para atletas de ambos os lados marcharem juntos na cerimônia de abertura dos Jogos e em outras atividades conjuntas durante a Olimpíada de Inverno, segundo Seul.

Atletas de ambos os lados não marcham juntos em eventos esportivos internacionais desde os Jogos Asiáticos de Inverno de 2007, na China, após as relações esfriarem durante quase uma década de governo conservador na Coreia do Sul.

Reportagem adicional de Soyoung Kim e Josh Smith, em Seul; e David Brunnstrom, Jim Oliphant e Steve Holland, em Washington

Fonte: Reuters

Coreia do Norte e Coreia do Sul concordam em realizar conversas militares

A Coreia do Norte e a Coreia do Sul concordaram em realizar conversas militares, informaram os dois países em comunicado conjunto depois de participaram de conversas formais, nesta terça-feira, pela primeira vez em mais de dois anos.

Líder da delegação norte-coreana, Ri Son Gwon, troca documentos com colega sul-coreano, Cho Myoung-gyon, após reunião bilateral no vilarejo de Panmunjom 09/01/2018 Yonhap via REUTERS

A Coreia do Norte também decidiu enviar uma delegação de autoridades de alto nível e uma equipe de torcida à Olimpíada de Inverno de Pyeongchang, que acontecerá na Coreia do Sul no próximo mês, mas o líder de sua delegação expressou sentimentos negativos em relação a menção à desnuclearização durante as conversas desta terça, afirmou o governo sul-coreano em comunicado.

Reportagem de Christine Kim e Hyonhee Shin

Fonte: Reuters

“Iniciativa está de novo com as Coreias”

Retorno à mesa de negociações é principal resultado dr primeiro encontro entre representantes de Seul e Pyongyang depois de quase dois anos de silêncio, avalia especialista Patrick Köllner.

Delegação da Coreia do Norte cruza fronteira com o sul para o encontro com representantes sul-coreanos

O principal resultado do encontro entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, ocorrido nesta terça-feira (09/01) em Panmunjom, é que os dois principais atores do conflito coreano voltaram a conversar e a iniciativa, agora, está com eles, avalia o especialista Patrick Köllner, diretor do Instituto Giga para Estudos Asiáticos.

“É de fundamental importância que os dois governos voltem a conversar, pois o conflito afeta em primeiro linha os 50 milhões de coreanos”, afirma Köllner, em entrevista à DW.

As Coreias do Norte e do Sul não mantinham conversações há quase dois anos.

DW: Só o fato de a Coreia do Norte e a Coreia do Sul terem se sentado de novo à mesa de negociações já foi saudado como um feito. O que saiu desse encontro?

Patrick Köllner: Em primeiro lugar ficou definido que a Coreia do Norte vai participar dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, e isso é uma garantia de jogos tranquilos e seguros. Para o governo da Coreia do Sul, claro, isso é da maior importância. Em segundo lugar, os encontros de famílias [divididas entre os dois países], que há muitos anos foram cancelados, serão retomados. E medidas que reforcem a confiança mútua, na forma de conversações entre militares dos dois lados, poderão vir a se concretizar.

DW: Esses são os resultados concretos. Mas qual a principal mensagem do encontro em Panmunjom?

Uma mensagem importante é que os dois principais atores do conflito – as duas Coreias – de fato se reuniram para conversar e que a iniciativa está de novo com Seul e Pyongyang. O ano que passou foi marcado sobretudo pelos esforços armamentistas da Coreia do Norte e as reações deles resultantes, por parte dos Estados Unidos e da comunidade internacional. É de fundamental importância que os dois governos voltem a conversar, pois o conflito afeta em primeiro linha os 50 milhões de coreanos.

DW: Houve algo de surpreendente ou as conversações transcorreram dentro do esperado?

Transcorreram de forma positiva na medida em que a Coreia do Norte, até onde se sabe, não exigiu que as planejadas manobras militares entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte fossem canceladas. Esses exercícios estão marcados para ocorrer depois dos Jogos Olímpicos. Eles foram adiados, mas não cancelados. Uma exigência como essa provavelmente teria levado ao fracasso das conversações.

DW: Que objetivos os dois lados perseguem com as conversações? Qual a agenda de cada um?

Os norte-coreanos continuam perseguindo, claro, o objetivo estratégico de criar um racha na aliança entre Washington e Seul. Os sul-coreanos, aliás, sabem disso. Mas essa situação não impede que, dentro das possibilidades, tente-se reanimar a cooperação econômica entre os dois lados. Esta foi posta na geladeira nos últimos anos, em meio aos testes nucleares da Coreia do Norte. Até mesmo o envio de ajuda humanitária por parte da Coreia do Sul foi fortemente reduzido. A Coreia do Norte tem um interesse em voltar a promover a cooperação econômica. Já a Coreia do Sul tem um interesse em que as conversações sobre o que está acontecendo na Península Coreana não sejam feitas à margem de Seul, ela quer, por assim dizer, voltar a sentar no banco do motorista.

DW: As posições parecem inconciliáveis. A Coreia do Norte quer manter seu programa nuclear. A Coreia do Sul quer uma península livre de armas nucleares. Isso torna muito difícil alcançar algo concreto. Quanto espaço os negociadores dos dois lados têm para fazerem concessões?

De fato, o que complica a coisa toda é que as opções são limitadas: por causa das sanções internacionais impostas à Coreia do Norte. A Coreia do Sul, claro, não pode agora se precipitar e adotar medidas que transgridam essas sanções. Além disso, a situação toda é dificultada com o fato de os Estados Unidos serem um ator nos bastidores. Isso cria uma necessidade de coordenação na direção de Washington, tanto por parte de Pyongyang como de Seul. O que é possível, porém, são medidas para fortalecer a confiança, sobretudo pela primeira vez entre os militares. Também é possível que haja uma ampliação da ajuda humanitária por parte da Coreia do Sul. Tudo isso pode, no longo prazo, criar as condições para conversações que, por sua vez, incluam os Estados Unidos. Estas conversações poderiam então abordar também o contexto maior da evolução da atividade nuclear na Península Coreana.

DW: O encontro de hoje já cria uma esperança de distensão ou ainda é muito cedo?

Patrick Köllner

É preciso primeiramente considerar que, mesmo com as conversações, a atual constelação não muda de maneira fundamental. O programa nuclear e de mísseis da Coreia da Norte segue em frente. Na sua mensagem de Ano Novo, Kim Jong-un anunciou que vai dar início à produção em massa. Assim, os desafios continuam claramente definidos. Mas há também aspectos positivos, principalmente o fato de que as duas Coreias voltaram a se falar e que a hora da diplomacia retornou. No ano passado, vivenciamos sobretudo ações militares e as ameaças delas resultantes. Nesse sentido, é realmente um avanço que a diplomacia volte a desempenhar um papel.

  • Patrick Köllner é diretor do Instituto Giga para Estudos Asiáticos

Fonte: DW

 

3 Comentários

  1. O grande entrave à paz na Pensinsula Coreana desde o fim da Guerra de 50-53 são os EUA…que nunca aceitaram a existência de uma nação comunista, mas que no maior cinismo aceitaram a China por essa ter um mercado potencial de mais de 1 bilhão de consumidores para seus produtos “Made in USA” (assim pensavam os sobrinhos do Tio Sam no começo da década de 70 quando reestabeleceram relações diplomáticas com o Grande Dragão, por isso não deixa de ser uma ironia deliciosa ver que nos anos seguintes, foram os chineses que entupiram o mercado ocidental com produtos “Made in China” ao invés deles se afogarem em hambúrgueres ou Coca-Cola).
    Outra ironia claríssima deste último resquício da Guerra Fria e que, para qualquer pessoa com um mínimo de senso expõe o falso caráter norte-americano de se achar o “esteio” da moralidade do planeta: se a democracia – regime que os EUA se arvoram de serem os maiores representantes – nos ensinar a conviver com os diferentes, ao contrário dos regimes autocráticos, então por que os EUA não podem conviver com nações “diferentes”, isto é, comunistas (sem o pejo de motivações ulteriores), ao invés de tentar eliminá-los, exatamente como fazem as nações rotuladas por eles mesmos, os ditos “defensores da democracia”, de autoritárias ?!

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