6 pontos para prestar a atenção nas eleições do Chile neste domingo

Ex-presidente Piñera lidera pesquisas de intenção de voto para suceder a presidente Bachelet | Foto: Martin Bernetti/AFP

Marcia Carmo

Neste domingo, os chilenos votam em primeiro turno para escolher o sucessor da presidente socialista Michelle Bachelet. A disputa envolve oito candidatos, entre eles um ex-presidente e um jornalista. A expectativa é de que menos da metade dos eleitores chilenos compareçam – o voto não é obrigatório no país.

Pesquisas de intenção de voto indicam que o Chile pode viver um cenário político parecido com o de 2010. Naquele ano, Bachelet passou a faixa para Sebastián Piñera. Quatro anos depois, em 2014, foi Piñera quem “devolveu” a faixa para Bachelet.

Este ano, Piñera é candidato novamente, por uma coalisão conservadora. Pesquisas eleitorais apontam que ele tem a liderança isolada, com 44% das intenções de voto. É mais que o dobro do segundo lugar, o jornalista e senador Alejandro Guillier, de centro-esquerda, próximo de Bachelet.

“Piñera tem chances de ganhar porque a esquerda nunca esteve tão dividida”, afirma Marta Lagos, diretora da ONG Latinobarómetro. Pela primeira vez, a frente de centro-esquerda disputará a cadeira do Palácio presidencial de La Moneda com mais de um candidato.

Além disso, a desaceleração da economia chilena “influencia” o voto em Piñera e “complica” as chances de Guillier, segundo Guillermo Holzmann. professor de Ciências Políticas da Universidade de Valparaíso.

“A percepção é de que a economia está estancada e que, com Piñera, voltaria a crescer”, diz Holzmann. O Chile cresce menos de 2% ao ano, afetado pelo desempenho da China.

Caso as pesquisas se confirmem, Piñera não terá força para vencer no primeiro turno, apesar de estar na liderança. Para isso, precisaria de mais de 50% dos votos. O segundo turno está previsto para 17 de dezembro. O eleito só será empossado em março de 2018.

Veja 6 pontos para prestar atenção nas eleições no Chile neste domingo:

1 – Qual é o legado de Bachelet?

O governo de Michelle Bachelet implementou medidas importantes, como reformas educativa e tributária e a descriminalização do aborto em casos de estupro ou de risco para a mãe.

“As medidas implementadas por Bachelet significam uma mudança cultural para os chilenos”, opina Marta Lagos, da ONG Latinobarómetro.

Já o analista Guillermo Holzmann acredita que a herança de Bachelet tem pontos negativos: “A reforma tributária, por exemplo, gerou uma série de distorções, e elas deverão ser revistas pelo próximo governo”.

Lagos e Holzmann observam que Bachelet teve falhas que acabaram abrindo caminho para a possível eleição de Piñera, seu opositor.

Além disso, um caso de corrupção que envolveu um filho de Bachelet reduziu seu apoio popular.

A presidente costuma ser mais elogiada no exterior do que no seu país. Conta com cerca de 40% de popularidade – longe dos cerca de 80% de apoio registrados ao concluir seu mandato anterior, em 2010.

A expectativa é de que, ao deixar o governo, volte a ter um posto nas Nações Unidas, onde foi diretora da ONU Mulheres.

Eleições vão escolher sucessor de Michelle Bachelet | Foto: Christian Miranda/AFP

2 – Sebastián Piñera vai retornar?

Empresário milionário, com doutorado em economia na Universidade Harvard, nos EUA, Piñera governou o Chile entre 2010 e 2014. Seus opositores o acusaram de conflito de interesses em diferentes ocasiões, o que ele nega.

“Em termos de conflito de interesse, Piñera sempre nos surpreende”, disse o deputado do Partido Comunista (PC), Daniel Núñez. Segundo ele, o ex-presidente teria criado uma lei de pesca após suas empresas terem investido no setor.

A acusação de conflito de interesses contra Piñera também apareceu na campanha política deste ano. Seus aliados dizem que as denúncias “são fantasmas sem embasamento”.

Piñera prometeu reativar a economia e reduzir o tamanho do Estado, buscando atrair investimentos internacionais.

“Quando chegou à Presidência pela primeira vez, Piñera governou com tecnocratas. Agora, tende a ser mais político”, considera Holzmann. Analistas econômicos observam que o mercado vê com bons olhos a eleição de Piñera.

No fechamento da campanha, na quinta-feira à noite, Piñera disse que esta campanha “não foi fácil, porque faltaram projetos por parte dos vários candidatos e houve clima de ódio” contra ele e sua família.

Piñera discursa em comício no Chile; ex-presidente é o favorito nas eleições deste domingo | Foto: Ivan Alvarado/Reuters

3 – Eleitores chilenos estão apáticos

A desconfiança nas instituições contribui para que os eleitores chilenos estejam apáticos em relação ao pleito, segundo analistas.

No país, a percepção é de que “os políticos estão mais preocupados com suas próprias vidas e não com a do eleitor”, avalia Holzmann.

A coordenadora de Governabilidade Democrática do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Marcela Ríos, disse à imprensa local que a apatia eleitoral também está vinculada ao “deficit de formação cidadã” e ao fato de que “muitos chilenos já não se sentem representados pelos partidos políticos”.

Na tentativa de atrair mais eleitores, o governo anunciou que o transporte público será gratuito neste domingo.

4 – Economia do Chile está em baixa

O baixo preço do cobre, principal produto de exportação chileno, influenciou o desempenho da economia do país durante a atual gestão de Bachelet.

“No primeiro governo, Bachelet governou com alto preço do cobre. Na gestão atual, o preço caiu pela metade”, afirma Lagos. “Agora, o cobre voltou a subir. Se continuar assim, ajudará a economia no próximo governo”, completa Holzmann.

Analistas apontam ainda que o menor crescimento da China influenciou o atual ritmo da economia do Chile. A China é um dos principais sócios comerciais do país.

Segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), a economia chilena deve crescer apenas 1,4% este ano.

Na sexta-feira, a presidente Bachelet disse que a “economia está recuperando suas forças” graças a medidas tomadas pelo seu governo, como reformas econômicas. Falou ainda que seu sucessor “não terá desculpas para não manter os avanços da (atual) gestão”.

5 – Quem é Guillier, o ‘herdeiro de Bachelet’?

Guillier é conhecido no país por sua carreira no rádio e na TV. Ele teve programas em que questionava políticos e a gestão pública, como o Factor Guillier.

É visto como a continuidade de Bachelet. Na quinta-feira, no encerramento da sua campanha, seus seguidores gritavam “pelo amor a Bachelet, votaremos em Guillier”.

Ao contrário do esperado no início de sua campanha, não conseguiu aglutinar o apoio da esquerda e da centro-esquerda. No entanto, contou com apoio de grande parte das legendas que respaldam o governo da presidente socialista. Exceto a histórica Democracia Cristiana (DC), que disputa a eleição com candidata própria.

O candidato apoia as iniciativas da presidente Bachelet e discorda de Piñera em relação a temas como a presença do Estado na economia e políticas voltadas para os índios mapuches.

“Quero dizer à direita que nossos povos originários não são terroristas e que vamos reconhecê-los constitucionalmente”, disse Guillier.

Guillier participa de evento de campanha no Chile; jornalista é considerado o herdeiro de Bachelet | Foto: Rodrigo Garrido/Reuters

6 – De apoiadores de Pinochet a seguidores de Allende

Entre os oito candidatos à Presidência, dois trouxeram à tona lembranças do golpe militar no Chile de 1973, que retirou Salvador Allende do poder, e da posterior ditadura liderada por Augusto Pinochet, que durou até 1990.

O candidato José Antonio Kast (também conhecido pela sigla JAK), que conta com cerca de 5% das intenções de votos, foi definido como “neo pinochetista”. Contrário ao aborto em qualquer circunstância, ao casamento entre as pessoas do mesmo sexo e à imigração, Kast disse que Pinochet votaria nele neste domingo, se estivesse vivo.

Já o candidato Eduardo Artés, do Partido Unión Patriótica (UPA), acha que o Chile estaria melhor se o ex-presidente socialista Salvador Allende, deposto e morto no golpe de 1973, tivesse recebido mais apoio popular. Professor aposentado do ensino básico, Artés se define como comunista e diz que está à frente de uma coalizão que inclui representantes dos “proletários e marxistas”.

Fonte: BBC Brasil.com

 

1 Comentário

  1. E amarica latina continua no seu grande de nunca mudar.
    A economia do chile continua:
    Dependente de materias primas _ o cobre_ e agricultura.
    Dependente de poucos mercados consumidores, hoje muito dependente da china.
    Ausencia de avanco tecnico cientifico.
    Industria limitada.
    Etc.
    E o povo do chile como de toda a americs ibero-lusitana.
    Divido por questoes etncias.
    Descrente na politica, devido a comum corrupcao.
    Atrasado cientificamente.
    Enfim a cara da nossa America abaixo do Rio grande texano.
    Sendo que os Eua quando levantaram a Coreia do sul, Taiwan, e reergueram o japao msotraram os caminhos:
    Reforma agraria( para ampliar a renda e consumo)
    Investimento em educacao e ciencia para melhorar a produtividade interna.
    Fim de oligarquias no poder.
    Ampliacao das relacoes economicas com o maior numero de nacoes possivel e etc.

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