Países árabes mantêm boicote ao Catar

Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Bahrein manifestam decepção com respostas apresentadas por Doha às suas exigências e dizem que adotarão novas medidas “no momento apropriado”.

Ministros do Exterior de Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Bahrein se reuniram no Cairo

Os ministros do Exterior dos quatro países árabes que impuseram um boicote ao Catar expressaram nesta quarta-feira (05/07) sua decepção com a resposta “negativa” vinda de Doha e disseram que as atuais restrições serão mantidas. Entre elas estão um boicote econômico e bloqueios do tráfego aéreo, marítimo e terrestre.

O ministro do Exterior do Egito, Sameh Choukri, disse que a resposta do Catar às exigências do bloco carece de conteúdo e “reflete uma falta de compreensão da gravidade da situação” por parte do emirado. Segundo Choukri, os ministros vão continuar acompanhando a situação e se reunir em Manama, a capital do Bahrein, em data ainda não anunciada.

Apesar da insatisfação com a situação, o grupo – formado por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Bahrein – não anunciou novas sanções após o fim do prazo dado ao Catar para atender às exigências apresentadas. O ministro do Exterior da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir, disse que medidas serão adotadas “no momento apropriado”.

Em 5 de junho, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Bahrein cortaram relações diplomáticas com o Catar, que acusam de apoiar o terrorismo, dando início à mais grave crise regional em décadas. Posteriormente, apresentaram uma lista de demandas com 13 pontos em 22 de junho, dando dez dias ao Catar para responder.

Entre as exigências estão o fechamento da emissora de televisão Al Jazeera, de uma base militar da Turquia no Catar e a redução das relações diplomáticas com o Irã. Ainda como condição para solucionar o impasse, os quatro países exigiram que Doha corte quaisquer contatos com a Irmandade Muçulmana e grupos como o Hisbolá, a Al Qaeda e o “Estado Islâmico”.

O prazo inicial de dez dias para o Catar atender às exigências encerrou-se no domingo, mas foi ampliado em mais 48 horas, a pedido do Kuwait, que está mediando a crise, e o Catar entregou as respostas nesta segunda-feira.

As autoridades de Doha rejeitaram as acusações de apoio ao terrorismo. Nesta terça-feira, o ministro do Exterior do Catar, xeque Mohammed ben Abderrahmane al-Thani, disse que a lista de exigências apresentada é irrealista e inadmissível.

Fonte: DW

Por que o pequeno Catar incomoda tanto?

Um dos menores países do mundo, emirado do Golfo é também um dos mais ricos e mais influentes do Oriente Médio. Entenda como sua história e sua atuação na região acabaram o levando ao isolamento.

O Catar é um dos menores países do mundo, com uma área de apenas 12 mil quilômetros quadrados, e também um dos mais ricos, com um PIB per capita anual de 68 mil dólares, graças às suas grandes reservas de gás e petróleo. Seu território é uma península, tendo como única fronteira terrestre a Arábia Saudita.

Uma monarquia absolutista hereditária desde a sua independência do Reino Unido, em 1971, o emirado está nas mãos da Casa de Thani, uma dinastia que ha séculos domina essa pequena região da Península Arábica. O islã é a religião oficial, e a sharia é a base da legislação nacional.

Logo após a independência, este emirado árabe passou por uma fase de grande expansão econômica devido ao gás e ao petróleo. Ainda em 1971 foi descoberto no Catar o maior campo de gás natural do mundo, o North Gas Field.

Com a riqueza do gás e do petróleo, o país atraiu milhares de trabalhadores do exterior e experimentou um vertiginoso crescimento populacional, saltando de 50 mil habitantes em 1950 para 2,5 milhões em 2016. Cerca de 90% da população do Catar é composta por estrangeiros, vindos, por exemplo, da Índia, do Paquistão ou do Egito para trabalhar na indústria do petróleo ou na construção civil. Apenas 250 mil habitantes são cidadãos cataris.

Boa parte das centenas de bilhões de dólares obtidos com as exportações de gás e petróleo foram depositadas num fundo de investimentos, o Qatar Investment Authority (QIA). O dinheiro é investido no exterior, de forma diversificada. O Qatar tem participações, por exemplo, na Porsche/Volkswagen e no Deutsche Bank.

O Catar é também o primeiro país árabe escolhido para sediar uma Copa do Mundo, a de 2022. O evento integra os esforços do governo para fortalecer o turismo na região. Além disso, a Qatar Airways se tornou uma forte concorrente das empresas aéreas europeias nos últimos anos, e o aeroporto internacional de Doha, um importante hub.

Influência diplomática

Mesmo minúsculo, o Catar desempenha um importante papel no Oriente Médio devido não só à sua riqueza, mas também por abrigar a maior base militar dos Estados Unidos na região, com mais de 10 mil militares, e por ser a sede da emissora de televisão Al Jazeera, de enorme influência no mundo árabe, principalmente com seu canal em árabe.

As grandes potências sunitas da região, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, acusam o Catar de apoiar grupos como a Irmandade Muçulmana e o Hamas, classificados por elas de terroristas, e de manter estreitas relações com o Irã, a grande potência xiita e arquirrival da Arábia Saudita na disputa pela hegemonia regional.

De fato, o Catar é um dos principais financiadores da Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, e abriga um dos líderes do grupo no exílio, Khalid Meshal, desde 2012.

A Al Jazeera tem sido frequentemente acusada por outros países árabes de ingerência em assuntos internos e de apoiar grupos islamistas, como a Irmandade Muçulmana no Egito, principalmente durante a chamada Primavera Árabe.

Já da base de Al-Udayd partem os voos americanos que atacam postos do grupo jihadista “Estado Islâmico” na Síria e no Iraque. A base é um dos principais trunfos diplomáticos do Catar.

Coluna Zeitgeist 

Fonte: DW

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