Privatização do Enfrentamento: O Emprego do Elemento de Operações Especiais por Empresas Militares Privadas (Parte Final)

Figura 4: Dupla de contractors em ação durante a Guerra do Iraque no decorrer de 2004. (Fonte: Disponível em: http://www.economist.com/news/business/21590370-industry-reinvents-itself-after-demise-its-most-controversial-firm-beyond-blackwater Acesso em: 7 jun. 2017).

Texto elaborado por Rodney Alfredo P. Lisboa

As Empresas Militares Privadas (Private Military Companies [PMCs]) atuaram na década de 1990 principalmente no continente Africano. Contudo, é possível constatar atuações dos contractos na Europa, sobretudo nas regiões onde ocorreu a desintegração da União Soviética, e no sudeste do continente asiático. Na primeira década do século XXI, em decorrência dos atentados terroristas de 11 de setembro contra o território norte-americano e da deflagração da Guerra Global contra o Terrorismo (Global War on Terrorism [GWOT]), essas corporações passaram a se concentrar no Oriente Médio, primeiramente no Afeganistão (Guerra do Afeganistão [a partir de 2001]) e posteriormente no Iraque (Guerra do Iraque [2003-2011]).

Sobre os locais onde estas corporações são levadas a operar sob contrato, é importante destacar que no cenário internacional apenas uma pequena quantidade de Estados tiveram a preocupação de instituir legislações nacionais no intuito de regular as ações das PMCs. A carência de legislação pertinente pode gerar sérios problemas jurídicos para as PMCs, a exemplo do que ocorreu no caso de quatro contractors à serviço da Blackwater, Security Consulting condenados pelo homicídio de 17 civis iraquianos em decorrência de um incidente ocorrido em 16 de setembro de 2007 na praça Nisour, localizada em Bagdá (capital do Iraque), enquanto escoltavam um comboio da embaixada norte-americana.

Particularmente no que concerne aos contractors, cabe destacar que embora não se restrinjam a empregar apenas pessoal egresso das Forças de Operações Especiais (FOpEsp), as PMCs têm nos ex-operadores das unidades militares de elite seus servidores preferidos quando da necessidade de contratar/empregar profissionais para desempenhar as diversas funções para as quais as empresas se comprometem. Essa preferência justifica-se uma vez que o Elemento de Operações Especiais (ElmOpEsp) destaca-se por apresentar apurada capacidade física, emocional e intelectual, diversificado conjunto de habilidades operacionais (incluindo linguísticas), foi submetido a rigorosos programas de seleção e treinamento, além de acumular experiência significativa em ações de campo. Nesse sentido, ainda que não operem exclusivamente valendo-se dos predicados ofertados por ex-operadores egressos das FOpEsp, as PMCs se beneficiam da associação estabelecida por potenciais empregadores, que relacionam a qualidade do serviço prestado por essas empresas com o nível de excelência militar manifestado pelas tropas especiais.

Figura 5: Equipe de contractors executam simulação de ação em decorrência de um ataque desferido por elementos adversos. (Fonte: Disponível em: http://samspecialforces.blogspot.com.br/2015_09_01_archive.html Acesso em: 7 jun. 2017).

Tal como as PMCs, as FOpEsp tem uma estrutura flexível, capaz de adaptar-se às situações que se apresentam com mais facilidade se comparadas às rígidas constituições militares convencionais. Nesse sentido, as PMCs somente irão adquirir equipamento e contratar pessoal após a ratificação de um contrato, de modo a otimizar gastos adequando-se aos requisitos do serviço a ser prestado.

Outro aspecto que merece ser abordado e que aproxima as PMCs das FOpEsp, trata da panóplia utilizada pelas empresas para cumprir com suas obrigações contratuais, uma vez que as armas e equipamentos utilizados pelos contractors, normalmente, fogem do padrão empregado por tropas regulares de infantaria.

No tocante à disposição, a organização em pequenas equipes característica das FOpEsp condiz com as demandas das PMCs, uma vez que promove a autossuficiência dos contractors em ambientes extremamente exigentes, principalmente em situações onde o suporte de forças de apoio pode não estar disponível.

No atual cenário de enfrentamento, o Comando de Operações Especiais dos EUA (United States Special Operations Command [USSOCOM]) reconhece a utilidade das PMCs e as distingue como atores legítimos dotados com capacidade de prover serviços de segurança e operar em rede de colaboração com unidades militares, desde que sejam respeitados seus limites e limitações.

Referência

GROGA, Lueka. Explaining Private Military Contractors in a Globalized World. (S.I.) Leiden University, 2011.

Fonte: FOpEsp (Forças de Operações Especiais)

3 Comentários

  1. Bem,
    Querendo ou não “guerreiros sem Pátria” existem desde sempre. Exemplo: Pagar por soldados estrangeiros Roma cansou de fazer. Isto não é algo inventado pela presente violência do mundo, simplesmente sempre esteve aí.
    Atualmente temos dois tipos de guerreiros sem Pátria: Os históricos mercenários, e, mais recentemente, também esses tais de Contractors.
    Em relação a estes últimos temos certamente uma característica, mais leve, de diferenciabilidade marcante em relação aos ditos mercenários: A rastreabilidade de suas identidades e de seus responsáveis. Mas no restante são todos assassinos perigosos, sem dúvida nenhuma.
    Claro que o ideal seria a não existência de seres humanos dispostos a matar outros por simples encomenda, porém o mundo em que vivemos está longe ainda de certos primores morais.

    Mas aproveitando este assunto de segurança privatizada de alto nível, reparem na patética Lei do Desarmamento do Brasil… Essa lei tupiniquim é focada exclusivamente no brasileiro civil pobre e de classe média. Todos os demais brasileiros podem ter armas.
    Vejam, para os brasileiros ricos… As armas não só estão liberadas para todos eles como seu porte também, a qualquer hora do dia e da noite e em qualquer lugar, e sem nenhum adestramento ou teste psicológico. Como assim?…
    Simplesmente, se vc tem bastante dinheiro (pertence a classe A) basta contratar um segurança, pois ele carregará a sua arma e da-rá todos os tiros que forem necessários, sem o mínimo entrave para vc.
    Simples assim, o porte e aquisição de armas é liberado para quem pode pagar por segurança particular. Basta que a arma não fique na sua mão.
    Ora, na real, isso é o mesmo que não existir a Lei do Desarmamento. Esta lei é uma mentira e sempre o foi.

    Fosse essa lei séria de verdade então unicamente armas, no Brasil, estariam nas mãos das FFAA, pois mesmos os diversos tipos de forças policiais e de segurança particular deveriam ser desarmadas em quase 100%, lhes cabendo poucas armas e de uso apenas em casos extremos, e em paralelo, uma nova legislação penal duríssima deveria ter sido criada contra qualquer meliante portador de arma de fogo, algo que não foi feito.

    Nossa Lei do Desarmamento é simplesmente cheia de furos. Serve apenas de uma piada para bandidos e milionários rirem até não poderem mais do restante da população brasileira.

    FIM para essa Lei do Desarmamento unicamente do brasileiro pobre e mediano.

    • De todas as argumentações a respeito do caráter discriminatório, deste infame embuste que se tornou está lei do desarmamento, este é um dos mais sensatos que li, compartilho de sua opinião.

  2. Pelas figuras, dá para perceber que o equipamento dos mercenários é melhor.

    Também dá para perceber o alto grau de medo e paranoia dos combatentes americanos, inclusive dos mercenários, traduzidos em agressividade estúpida e inútil (massacre de civis descrito acima). Falta sangue frio. Nisso, temos de sobra.

    Já tive que lidar com alguns militares americanos – e vi como os nossos são psicologicamente mais estáveis, menos falastrões, mais sagazes e até mais corajosos, pois, ao contrário dos americanos, confiam mais nas próprias habilidades e de seus colegas do que em armamento e tecnologia.

    Talvez seja por isso que nossos militares cumprem bem suas missões de paz e de pacificação da ONU.

    Aliás, na figura 5 acima, um alvo fácil para um RPG ou uma rajada de metralhadora (até um mau atirador acabaria com o grupinho – funciona contra distúrbios civis, mas não num ataque com armas de fogo). Muita pose, pouco resultado. E demonstra estar acuado, encorajando o inimigo.

    Quanto à questão do desarmamento, concordo com o ViventtBR – os ricos continuarão armados com seus jagunços alugados, os bandidos não serão punidos com severidade por portarem armas e o cidadão de bem, o que não usa a própria arma para cometer crimes, é punido e deixado à mercê dos psicopatas sádicos criminosos.

    Chega de tratar o cidadão de bem como bandido e o bandido, como cidadão de bem. #fimdodesarmamentoja!

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