FOpEsp: Operações Policiais Especiais no Combate ao “Novo Cangaço” (Parte 1)

Fotografia 1: Quadrilha armada que atua na modalidade de assalto conhecida como “Novo Cangaço” executa roubo à banco no município de Campos de Júlio região Oeste do estado do Mato Grosso. (Fonte: Disponível em: http://tvtaquari.com.br/chefao-do-novo-cangaco-e-preso-na-bahia-por-policiais-civis-de-mt/ Acesso em: 20 mai. 2017).

Texto elaborado por Laio GIORDANNI Evangelista Melo*

A atual sensação de impunidade de ações delituosas e o descrédito das instituições públicas no Brasil favorece constantemente cenários cada vez mais ofensivos e violentos. A sociedade brasileira atual destaca-se, negativamente, por ser corrompida, consumista, comodista e inculta. Conforme índices recentes, o Brasil é um dos países que apresenta os maiores percentuais de homicídios do planeta. Praticamente 15% dos homicídios do mundo ocorrem em nosso país. Mata-se mais aqui do que na atual Guerra da Síria. Como se não bastasse, apenas 5% desses homicídios são solucionados, sendo seus responsáveis devidamente punidos. Por sua vez, o número de assaltos é o dobro da média mundial, e nesta modalidade criminosa, cuja impunidade é ainda maior. A origem desses índices alarmantes, talvez ocorra por uma questão cultural, política, econômica ou ainda todas estas correlacionadas. Diante de todo esse cenário propício ao crime e destruidor do verdadeiro conceito do termo “nação”, vemos o crime organizado dominar e dirigir o país, desde as margens da sociedade ao topo do poder executivo.

Oriundo do crime organizado, o “Novo Cangaço” remonta às investidas do Cangaço no início do século XX, valendo-se da formação de quadrilhas para promover ações violentas e aterrorizantes, saques e pilhagens, utilizando a sociedade como escudo e levando à desmoralização as instituições de segurança. As ações promovidas por essa modalidade de criminosos comumente é confundida, pela opinião pública, com o terrorismo, devido às características semelhantes aos atentados extremistas de orientação político-religiosas. Porém, o Novo Cangaço é uma categoria de ação muito distinta daquela que singulariza os eventos terroristas. Segundo o Historiador Militar Caleb Carr, autor do livro “A Assustadora História do Terrorismo”, o terrorismo é definido como:

“[…] a denominação contemporânea e a configuração moderna da guerra deliberadamente travada contra civis, com o propósito de lhes demolir a disposição de apoiar líderes ou políticas que os agentes dessa violência consideram inaceitáveis.”

Fotografia 2: Ocorrência envolvendo artefato explosivo levada à efeito por ação perpetrada por quadrilha armada que opera no contexto do Novo Cangaço. (Fonte: Acervo do GATE da Polícia Militar da Paraíba [PMPB]).

Em seu artigo “Understanding Homegrown Terrorism”, Abu Khawla, escritor e ativista dos Direitos Humanos, destaca que o terrorismo doméstico é:

“[…] um termo que define atentados terroristas cometidos por cidadãos ou residentes permanentes de um Estado contra o seu próprio povo ou governo, sem influência estrangeira, em um esforço para instilar o medo em uma população ou nas autoridades como uma tática para alcançar objetivos políticos, ideológicos ou religiosos.”

As causas terroristas costumam atrair indivíduos que simplesmente utilizam racionalizações filosóficas ou políticas para encobrir a cobiça e o impulso sanguinário. Assim, por suas ações não terem objetivos políticos, religiosos ou ideológicos definidos, sendo perpetradas contra instituições financeiras com o intuito de obter recursos para a prática de outros crimes e/ou consumismo exacerbado, o Novo Cangaço não deve ser classificado como ato de terrorismo.

É sabido que o Novo Cangaço, quando não está diretamente relacionado ao crime organizado ou ao financiamento e manutenção de carreiras políticas corruptas, é motivado pela impunidade intrínseca à justiça brasileira, levando centenas de indivíduos à investida criminosa como solução de seus problemas financeiros, ou servindo como combustível para o consumismo e a “ostentação”.

Normalmente realizadas em cidades do interior do país, a incipiente retaliação por parte das forças de segurança (seja por questões de recursos logísticos; falta de uma estrutura de inteligência ativa e eficiente; escassez do recurso humano capacitado; apoio jurídico; armamentos e equipamentos; entre outros) não ofusca o provável sucesso da investida rápida e violenta em locais extremamente vulneráveis.

Fotografia 3: Quadros operacionais do Grupo Especial de Polícia Marítima (GEPOM) da Polícia Federal em ocorrência conduzida no município de Alvorada do Sul, região metropolitana de Londrina (Paraná), contra quadrilha que atuava com base no modus operandi do Novo Cangaço. (Fonte: Anonima).

Atuando como ponta de lança no combate a esta modalidade criminosa, as Forças de Operações Policiais Especiais, operam diuturnamente, superando os mais diversos obstáculos (institucionais, políticos logísticos, jurídicos e financeiros), para que a sociedade seja cada vez menos vitimada por ações desta natureza. Para o Historiador Militar Rodney Alfredo P. Lisboa, as Operações Policiais Especiais tratam:

“[…] de intervenções de alto risco, que extrapolam o padrão operacional de rotina e, que valem-se de pessoal, treinamento, armas e equipamentos diferenciados, conduzidas em qualquer ambiente (urbano ou rural), realizadas sob qualquer circunstâncias, buscando a solução de incidentes críticos de forma técnica, legal e ética.”

É importante esclarecer que o Novo Cangaço, coincidentemente ou não, se vale de preceitos da modalidade de Guerra Irregular (oportunidade, surpresa, sigilo, rapidez, eficiência e determinação) como fatores essenciais para o êxito de suas ações criminosas. Esse fato nos permite realizar algumas reflexões, tais como: As tropas convencionais estão à altura de combater essa modalidade criminosa? Quais são as medidas adotadas pelas Operações Especiais (OpEsp) para combater esses elementos adversos? Qual o papel do Estado e seus interesses considerando esse contexto? Como os serviços de Inteligência podem ajudar as OpEsp e operar nesse cenário de enfrentamento?

Continua…



* O Capitão GIORDANNI pertence ao Quadro de Oficiais Combatentes da Polícia Militar da Paraíba (PMPB), ingressou nas fileiras em fevereiro de 2006 e em 2008 formou-se bacharel em Segurança Pública pela Academia Militar do Cabo Branco – PB. Logo em seguida exerceu atividade de oficial de operações na Tropa de Choque da PMPB até o ano de 2011, no início de 2012 concluiu o Curso de Ações Táticas Especiais daquela força integrando o Grupamento de Ações Táticas Especiais da PMPB até os dias atuais. Em 2015 concluiu o Curso de Operações Especiais na PMMG. Exerce atualmente a função de Comandante da Equipe de Atiradores Policiais de Precisão desta tropa especial. Concluiu, ainda, diversos cursos operacionais na área de segurança.

Fonte: FOpEsp (Forças de Operações Especiais)

9 Comentários

  1. No Nordeste esse tipo de crime sempre existiu, mas antigamente eles temiam a reação da população que em diversas ocasiões reagiram e combateram os criminosos. Exemplo clássico disso é que Lampião ao atacar Mossoró foi rechaçado pelos moradores daquela cidade. Há diversos casos que não chegaram ao conhecimento porque ocorreram em pequenas cidades.
    Vale ressaltar que esse “novo cangaço” só está ressurgindo porque hoje os bandidos sabem que o risco é mínimo, pois o contingente de policiais é pequno e a polução está desarmada.
    O governo não tem condições de manter um batalhão em cada cidade do Brasil, portanto a solução é revogar essa lei idiota que proíbe o cidadão de se defender. O tal do estatuto do desarmamento foi uma das burrices do governo LULA que cedeu a pressão dos diversos grupos interessados no desarmamento e nenhum bem trouxe.

  2. Artigo interessante.

    Mas o conceito de terrorismo clássico precisa ser ampliado devido a essa mutação do “novo cangaço”.

    Se o governo impõe o desarmamento e a frouxidão das leis penais e processuais penais, e gastar mais em “políticas sociais” com a desculpa de tentar melhorar a segurança, permitindo o surgimento desse tipo de bandido, significa que os políticos e os bandidos são cúmplices em:

    1) locupletamento público e privado;

    2) aterrorizar e chantagear a população para impor uma política perdulária socializante (“gastos sociais”).

    Então o crime organizado é um braço armado a serviço, direto ou indireto, dos oligarcas. É terrorismo, sim.

    O crime organizado sempre foi a base e o modus operandi dos grupos guerrilheiros, revolucionários e terroristas. Precisam ser combatidos do mesmo modo.

    É guerra, já que até as forças especiais possuem um treinamento mais bélico além do treinamento policial. É preciso governar sob Estado de Sítio e sob leis penais militares.

    Antigamente, a polícia, ao lidar com cangaceiros, não os aprisionava; matava-os e expunha suas cabeças em praça pública. E a população civil ordeira era parceira na manutenção da boa ordem púbica e social.

    Mas nossos políticos, militares e policiais de hoje pensam e agem diferente…uma pena.

  3. O crime organizado é terrorismo de Estado.

    O único regime político que lucra com o crime é o socialismo e golpistas do mesmo naipe.

    O Brizola, nos anos 1980, possibilitou a expansão e o fortalecimento do tráfico de drogas no RJ e toda a estrutura cultural (marxismo cultural de apologia a drogas e ao hedonismo – devidamente apoiado pela TV, funk, ostentação, etc), e urbanística (expansão e não urbanização das favelas existentes – ambiente que facilita o esconderijo de bandidos e de difícil acesso da polícia), sucateamento e desmoralização da polícia, corrupção generalizada, caos social, etc para que as pessoas clamem por um Estado-babá que cuide de tudo e de todos (socialismo).

    • “O crime organizado é terrorismo de Estado. “… eu sempre falei isso aqui… quem usa armamento de uso restrito é TERRORISTA !!!… PONTO… semana passada no MT um tenente do BOPE foi morto em combate com uso de um fuzil… ORA !!!… qual reprimenda legal isso deveria ter ???… simples homicídio ???… quem arrasa esse país são essas leis benevolentes para marginais feitas por bandidos… pois quem vota em uma legislação bandida como essa é BANDIDO… não há outras palavras para descrever esse fato… qualquer pessoa fora desse país dominado pela esquerdice perceberia no ato que nossas leis são para tornar a vida do cidadão de bem um inferno na terra enquanto beneficia a marginalidade… nosso CONGRESSO É TRAIDOR DO POVO BRASILEIRO… sinto em dizer isso, mas é FATO…

  4. O Nordeste existe diversos exemplos onde a miséria e a injustiça dos homens imperam junto e associado com o problema natural como a seca.
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    O cangaço foi e é um produto disso tudo, hoje ele se veste com a roupagem do crime organizado moderno onde os seus mentores estão presos em presídios bem longe em outros estados más por meio e celulares mandam e desmandam em grupos fortemente armados onde quer que estes estejam, no braZil ou no Paraguai.
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    Já houve casos da gang do Lampião no Caso de Mossoró … onde foram expulsos por meio de armas más também… tem o caso do Juazeiro do Norte ( CE ) …onde essa mesma gang do Lampião, foi convidado a deixarem aquela cidade sem que houvesse tiroteio e mortes… Achar que só através da liberação de armas para a população se resolve o problema do crime.. é querer vê de uma forma bem simplista as problemáticas do combate do crime sem querer olhar para as origens do crime que muitas vezes são por questões sociais.
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    O Nordeste é um exemplo no que ocorre no resto do braZil , terra de elite antissocial dos coronéis que através da injustiças desses grandes contra os pequenos, criou o cangaço com seus capitães Virgulinos , o Caldeião dos Dantas onde aviões da FAB foram usados para metralhar os camponeses insurgentes a mando dos tais coronéis , Canudos de Antônio Conselheiro onde o Exército foi usado para dizimar uma cidade inteira a mando dos coronéis.
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    Esse Nordeste do passado onde todo mundo podia ter armas más não podia ter uma vida digna, onde a justiça era e é muito seletiva e preconceituosa é bem parecido com o Nordeste de hoje para não disser o braZil .., fico imaginando nesse contexto de hoje tomando os exemplos do passado….. Como será o Nordeste e o resto do braZil com a liberação de armas para todos, como alguns querem .. Lembrando que os coronéis ainda estão por ai com seus jagunços … basta vê o que ocorre nos campos com as matanças de índios bem recentemente aconteceu.
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    • E os nordestinos pobres, honestos e trabalhadores, por que eram a maioria e não se transformaram em cangaceiros?

      Sempre que alguém diz que bandido é bandido porque é pobre, algum pobre honrado e honesto se sente ultrajado.

      Diga isso num ponto de ônibus lotado às 18:00 numa cidade grande, a algum vendedor ambulante ou a algum capinador de lote para ser linchado.

      A população desarmada e atacada pelos cangaceiros era assassinada, estuprada, agredida, etc. Será que uma população armada seria mesmo uma solução simplista?

      Pergunte a algum “neo-cangaceiro” se ele gostaria de assaltar um posto de pagamento bancário localizado no pátio interno dum quartel duma brigada de infantaria ou uma agência de banco num arraial sem policiamento – ele preferirá a segunda opção. Por quê? Porque, no quartel, a guarda vai “costurar” todo mundo com 7.62 mm – isto é, a reação será armada.

      Qual seria a sua solução nada simplista? Distribuir bolsa-champanhe, vale-perfume, vale-churrascaria, cupom de 90% de desconto no preço da seda, bolsa-prostituta e vale-cachaça, que era isso que os cangaceiros mais gostavam?

      Se a “elite” oligárquica não tinha e não tem vergonha na cara, ameaçava e comprava autoridades, é porque os “feudos” deles não estavam submetidos a qualquer império da lei e nem autoridade civil firme ou eclesiástica influente – sem Rei, sem Reza e sem Regra.

      Isso se chama falta de caráter, e políticas sociais não conseguem mudar isso (até pioram). O comunismo é a melhor prova disso – não funcionou para o povo de nenhum lugar, mas os “ALucenados” estão prontos a defendê-lo a qualquer preço, inclusive por cima do cadáver do povo que diz querer “libertar”.

      Como diria Antônio Conselheiro, viva a monarquia, viva o imperador, e viva Cristo Rei e Senhor!

    • Detalhe: Antônio Conselheiro e o povo de Canudos não eram cangaceiros, e Lampião foi armado pelo EB para combater a Coluna Prestes, que, como bons comunistas que eram, saqueavam o sertão e (por que será?)
      nunca conseguiram conquistar a simpatia do povo.

      • ………….fenomenos como Lampião.Antonio Silvino,Jesuíno Brilhante e de carater religioso como Padre Cícero,Antonio Conselheiro e Frei Damião ocorrem tendo como o coronelismo e suas nuances sociais….como pouca coisa mudou na cultura do Nordeste especialmente na área da caatinga os valores morais em suma continuam os mesmos da época do Brasil pós Colonia…..esse “Novo Cangaço” só diferencia do anterior pelo fato de possuir novas armas como dinamite e fuzil moderno….porém.a essência é a mesma….roubar e matar em pequenos povoados que contam com um contingente de 6 a 10 policiais despreparados cujo armamento é tão sómente um revólver calibre 38 na cintura…ora como esse pessoal vai lidar com gangues armadas de fuzis iguais aos dos narcotraficantes?…………lastimável

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