Defesa & Geopolítica

Segurança Publica: Criminosos promovem onda de ataques no Rio de Janeiro

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Anderson Barros Especial para o Plano Brasil

Uma guerra entre facções na Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte do Rio, deixou moradores em pânico na madrugada de ontem terça-feira (02/0517) . A intensa troca de tiros prejudicou a vida de trabalhadores e pais que não puderam deixar seus filhos nas escolas.

A cena parece de filme, mas aconteceu às 9h de ontem. Era o início do fim de uma série de ataques que fez todo o Rio refém. Os traficantes se entregaram. A contabilidade da crônica policial, no fim da terça-feira pós-feriado, era impressionante: 45 bandidos presos, dois mortos, e 36 armas apreendidas — dessas, 32 eram fuzis.

O capítulo de ontem da guerra cotidiana do Rio poderia ser “a invasão”. O inferno começou porque bandidos da favela de Parada de Lucas, do Comando Vermelho, deram início, ainda de madrugada, a um plano já conhecido de moradores e até do serviço de inteligência da polícia: tomar a Cidade Alta, a apenas dois quilômetros, dominada pela facção Terceiro Comando Puro. A área, na Zona Norte, é considerada estratégica para o tráfico, perto de vias importantes de acesso à cidade, como a Avenida Brasil, e da Baía de Guanabara, por onde chegam carregamentos de drogas e armamento. Não se sabe o tamanho do bando que partiu para a empreitada, mas, de acordo com a própria polícia, traficantes aliados da mesma facção do Borel e do Alemão cederam homens e armas.

Na Cidade Alta, assim que o bando invasor entrou, por volta das 23h de segunda, começou um intenso tiroteio que levou desespero aos moradores por cerca de dez horas. Muitos não saíram para trabalhar, e quase 5 mil crianças não foram à escola. O confronto, que já era intenso, cresceu com a chegada de policiais militares do 16º BPM (Olaria). Ao se depararem com a gravidade da situação, eles pediram auxílio a outras unidades e aos batalhões.

 Na ação atuam policiais militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), 16°BPM (Olaria), 22°BPM (Maré) e do Batalhão de Ações com Cães (BAC).

O Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE), o Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), além do Grupamento Aeromóvel (GAM) foram acionados em razão de ações criminosas contra coletivos na Avenida Brasil e na Rodovia Washington Luis (BR-040), onde ônibus foram incendiados. Nove ônibus e dois caminhões foram incendiados, na Avenida Brasil e na Rodovia Washington Luís. Bandos agiam simultaneamente. Eles paravam o trânsito, obrigavam motoristas e passageiros a descerem, jogavam gasolina e ateavam fogo aos veículos. Às 10h50m, o centro de operações da prefeitura decretou estado de atenção devido ao caos no trânsito — foram 66Km de engarrafamentos —, e a situação só voltou ao normal às 20h.

À tarde, sobre os escombros da guerra, começaram saques. Moradores roubaram a carga de um dos caminhões incendiados, na Avenida Brasil, diante de PMs que apenas olhavam. Um carro ainda passou fazendo disparos para o alto. O saldo parcial da operação está com 45 detidos e apreensão de 32 fuzis, quatro pistolas e 11 granadas. Dois criminosos foram feridos e socorridos ao Hospital Estadual Getúlio Vargas. Três policiais também se feriram, foram levados ao Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), sem gravidade. As ocorrências seguem para registro na 22ª DP, 38ª DP e Cidade da Polícia.

A apreensão de 32 fuzis pela Polícia Militar do Rio, nesta terça-feira (2), após o confronto entre facções pelo controle na venda de drogas da comunidade de Cidade Alta, na Zona Norte, representou um prejuízo aos traficantes da ordem de R$ 1,6 milhão.

O número é estimado por investigadores da Polícia Civil do Rio, levando em conta que no mercado clandestino, um fuzil custa, em média, R$ 50 mil. Os cálculos deixam de lado as pistolas, munições e granadas apreendidas na ação. Até a noite desta terça, enquanto ainda era elaborado o boletim de ocorrência da operação na Cidade Alta, pelo menos, 15 fuzis pertenciam à facção que invadiu a comunidade. Outras nove armas seriam da facção local.

O número de armas de grosso calibre impressionou o porta-voz da corporação, major Ivan Blaz. “É espantoso o número de fuzis apreendidos. Isso mostra a facilidade com que eles circulam no país e entram aqui no Rio de Janeiro. Não é atribuição da Polícia Militar fazer o controle dessa circulação e nem coibir a entrada no estado”, disse Blaz.

Ação orquestrada pelo Comando Vermelho

O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, disse que a ordem de queimar veículos na Avenida Brasil, rodovia Washington Luiz e em vias próximas partiu de traficantes das favelas Nova Holanda, na Maré, da Kelson’s, na Penha, e do Parque das Missões, em Caxias. Pelo menos oito ônibus e dois caminhões foram incendiados.

Os incêndios foram em represália à operação ocorrida na Cidade Alta, após a tentativa de invasão do Comando Vermelho à favela, hoje controlada por uma facção rival. Não se sabe se os criminosos obtiveram êxito em tomar a comunidade, vista como estratégica pelos traficantes.

“Essa guerra pela Cidade Alta ocorre porque ela está num ponto estratégico, perto de rodovias, vias expresas e de fácil acesso a outras comunidades da Zona Norte”, disse Blaz.

O secretário de Segurança, Roberto Sá, informou, na entrevista coletiva sobre a operação que a Desarme, nova delegacia criada para repressão ao tráfico de armas, já iniciou o levantamento para rastrear de onde vieram os fuzis.

A polícia também pretende levantar a localização de depósitos onde essas armas são guardadas nas comunidades.

A apreensão, em uma ação que teve 45 presos e duas pessoas mortas, foi classificada por Sá como uma ação histórica da PM, pelo grande número de fuzis apreendidos em um único dia.

Especialistas , entretanto, alertam que o baque para a facção que tenta invadir a Cidade Alta pode ser apenas momentâneo. Eles afirmaram ainda que não há uma política para reprimir o financiamento da facção responsável pela invasão, garantido pela venda de drogas e aluguel de outras armas.

“Essa apreensão mostra algumas coisas: uma delas que as facções estão se armando para retomar territórios perdidos diante da fragilidade da segurança pública do Rio de Janeiro. Mas essa apreensão foi um baque momentâneo pois não se atinge as estruturas que alimentam essa criminalidade”, alerta o antropólogo e consultor de segurança Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado Maior da PM do Rio.

De acordo com o professor da Faculdade de Direito da Mackenzie, no Rio, e especialista em Segurança Pública Newton Oliveira a apreensão representa um “raio em dia de céu azul”.

“A pancada foi em uma facção. Foi válida, mas a gente percebe que é uma questão passageira porque vão tentar se organizar rápido”, analisa o professor, para quem a apreensão pareceu uma ação de “sorte, acaso, talvez visualidade e falta de acordo”.

Para o coronel Robson Rodrigues, o problema é que a facção pode iniciar uma série de ações para se recuperar rápido do prejuízo. “Uma operação criminosa que perde um número considerável de armas de uma vez pode representar uma cobrança interna ou repassar esse prejuízo para outras modalidades aumentando assim a insegurança”, comenta Rodrigues.

Para participar da invasão à Cidade Alta foram recrutados criminosos de diversas comunidades do Rio. Vários dos fuzis apreendidos pela polícia tinham a inscrição “CX”, que investigadores dizem ser a identificação das armas da “caixinha”. Um percentual da arrecadação das favelas da facção seria destinado para reforço em confrontos com rivais. Assim, os traficantes que contribuem podem solicitar armas em invasões.

Coletiva

Autoridades de segurança do Rio de Janeiro deram detalhes sobre as ações que desencadearam a queima de nove ônibus e dois caminhões na Cidade Alta e levaram pânico aos moradores e motoristas dos bairros próximos à Avenida Brasil e à rodovia Washington Luiz, nesta terça-feira (2). Segundo o secretário Roberto Sá, a polícia já identificou alguns mandantes da invasão frustrada pela PM, que terminou com mais de 45 presos e 32 fuzis apreendidos. Os presos que comandaram a invasão foram estão em presídios federais, fora do estado, segundo Sá.

A coletiva começou por volta das 16h30 no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), no Centro do Rio, e reuniu o secretário de Estado de Segurança, Roberto Sá, o Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, coronel Wolney Dias, e o chefe de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Carlos Augusto Leba.

“A polícia já identificou alguns mandantes do crime, inclusive de quem pode ter mandado queimar os ônibus”, disse o secretário. Segundo Roberto Sá, 45 pessoas foram presas e 38 armas de fogo apreendidas. Duas pessoas, que segundo a polícia eram criminosos, foram mortos pelo Bope.

Já Leba ressaltou que a ordem para a invasão da Cidade Alta partiu de dentro da cadeia, e foi cumprida por pessoas recém-saídas da prisão. “Os presos são do Borel, Formiga, Kelson e muitos da Vila Cruzeiro”, acrescentou.

Sá também voltou a afirmar que os incêndios a ônibus foram orquestrados para ajudar na fuga de traficantes.

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com informações de G1, O Globo e O Dia

Agradecimento ao major Ivan Blaz ( porta-voz da PMERJ) e ao  comandante do Bope, Coronel Paulo Matias

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