O telescópio russo que vai monitorar lixo espacial na órbita terrestre a partir do pico do Dias, em Brazópolis (MG), município distante 453 km de Belo Horizonte, entrou na reta final de montagem. O equipamento começará a ser testado na noite de 23 de fevereiro, pouco antes do Carnaval.
Construído pela agência espacial estatal russa Roscosmos, o telescópio vai mapear os detritos que estão na órbita da Terra, fragmentos e pedaços de satélites sem uso e foguetes velhos que continuam no espaço.
O equipamento é o primeiro desse tipo instalado no Brasil e também o primeiro do projeto russo fora do país de origem.
Com investimentos de R$ 10 milhões, custeados ao longo de dez meses pela Roscosmos, o projeto teve início em abril do ano passado e contou com a participação de seis técnicos e engenheiros brasileiros, que acompanharam a implantação do telescópio, e outros 14 profissionais russos, responsáveis pela instalação e montagem do telescópio.
Os 14 cientistas russos que participaram da implantação da estrutura mecânica, eletrônica e de informática do equipamento já deixaram o país.
Nos próximos dias, outros seis profissionais russos chegarão ao Brasil e serão responsáveis pela montagem final, adequando as lentes, os espelhos, o cilindro e a câmera do equipamento, montando a parte de ótica e do software do equipamento. A cúpula de seis metros de diâmetro, os computadores e a sala de monitoramento de 50 metros quadrados estão instalados e prontos.
Prejuízo enorme com lixo espacial
O astrofísico Bruno Castilho, 49, diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica, afirma que, com o mapeamento, também será possível monitorar o caminho dos satélites. Caso algum deles saia da órbita para entrar na Terra, é possível prever onde o equipamento vai cair e acompanhar os pedaços maiores, evitando acidentes.
“Um novo satélite colocado em órbita pode colidir com esses detritos em determinada órbita, onde há muito lixo acumulado a ser destruído. Se for um satélite militar, por exemplo, o prejuízo pode chegar a casa do bilhão”, afirma Castilho.
“Um país pode perder milhões de dólares num satélite e anos de trabalho com a colisão com um pedaço de lixo”, ele diz.
Telescópio idêntico na Rússia
Localizado a 1.864 metros de altitude, o observatório do pico do Dias já possui quatro telescópios para pesquisa astronômica, mas como explica Castilho, todos os equipamentos brasileiros têm um campo de visão menor.
“A diferença entre os telescópios [brasileiros e o russo] é o pedaço do céu que enxergam. Nosso telescópio de astronomia enxerga um pedacinho do céu com uma ampliação maior. O telescópio russo tem um campo de visão maior, capaz de mapear uma área mais extensa”, diz.
Todos os dados que eles gerarem ficarão disponíveis para os astrônomos brasileiros. “Dá para descobrir novos asteroides ou um cometa que está vindo na nossa direção, um estudo de estrelas variáveis, coisa que hoje não se faz aqui porque os telescópios têm um campo pequeno”.
“Rastrear asteroides e cometas”
O projeto russo, explica o astrofísico, teve início há dois anos, com a instalação de um primeiro telescópio nas montanhas Altai, na Rússia, que já está em operação. Os dois equipamentos — no Brasil e na Rússia–, vão fotografar o céu, fazendo um mapeamento da área.
Os astrônomos brasileiros vão fazer o gerenciamento dos dados e repassa-los para a agência russa. “Serão quatro engenheiros brasileiros responsáveis pelo equipamento. Os dados também poderão ser utilizados por astrônomos brasileiros para outras pesquisas, a exemplo de rastrear asteroides e cometas”, afirma o diretor do Laboratório Nacional.
“Como a Agência Espacial Brasileira já tinha um acordo com a Agência Espacial Russa para uso do espaço, os russos nos procuraram para implantar esse segundo telescópio. Avaliaram a localização do pico do Dias (lado oriental do hemisfério Norte) e acharam o lugar perfeito (lado ocidental do hemisfério Sul), que fica numa boa posição em relação ao russo”, diz.
Fonte: Uol Noticias