Em Wall Street, o fortalecimento do dólar tem sido um dos sinais mais visíveis do crescente otimismo na economia dos Estados Unidos. Mas, para muitos países, uma moeda americana forte significa problemas.
Muitos analistas estimam que a moeda americana vai continuar se valorizando em 2017, ampliando os ganhos de mais de 35% obtidos pelo dólar desde o rebaixamento de crédito dos EUA em 2011.
Essa expectativa deve-se principalmente porque o fortalecimento da economia parece capaz de impulsionar o Federal Reserve, o banco central americano, a realizar seu plano de elevar várias vezes as taxas de juros em 2017. Juros maiores tornam mais atraentes a manutenção de ativos denominados em dólares, atraindo dinheiro para os EUA.
“Nesse momento, existe uma pressão incrível para que todas as outras moedas sejam vendidas e o dólar seja comprado”, disse Christopher Stanton, diretor de investimentos da Sunrise Capital LP, que administra US$ 700 milhões.
Stanton recentemente apostou que a moeda americana iria se valorizar ante o dólar australiano, o iene japonês e o euro nos próximos meses.
Um dólar mais forte eleva o poder de compra dos consumidores e das empresas americanas ao tornar os itens importados mais baratos e reduzir os custos das viagens internacionais. Pelo mesmo motivo, contudo, um dólar elevado afetaria os exportadores americanos ao tornar seus bens menos competitivos no exterior, reduzindo os lucros das empresas e potencialmente afetando os preços das ações.
Nos mercados emergentes, a manutenção de um dólar forte pode reduzir o preço do petróleo e de outras commodities denominadas em dólar, pressionando as economias em desenvolvimento que exportam matérias-primas.
Empresas e governos dos mercados emergentes que tomaram emprestado grandes volumes de recursos em dólar também terão dificuldades em pagar essas dívidas.
Para a China, a alta do dólar está exacerbando as saídas de capital e apertando a liquidez, agitando mercados que registraram um período de relativa estabilidade em grande parte de 2016. Os mercados de títulos da China despencaram em reação à reunião do Fed de dezembro, em que o banco central dos EUA decidiu elevar os juros e sinalizar outros aumentos. Os reguladores chineses injetaram dinheiro para aliviar um possível aperto no crédito, em meio à queda também das ações.
O banco central chinês também teve que drenar US$ 300 bilhões de suas reservas nos primeiros três meses de 2016, mais do que ele gastou em 2015 inteiro, enquanto lutava para desacelerar a desvalorização do yuan ante o dólar. A moeda chinesa agora está em queda de 4,3% ante o dólar desde outubro, recuando para um recorde de baixa. Outras moedas dos mercados emergentes foram bem mais atingidas: a lira turca caiu cerca de 15% nos últimos três meses do ano.
Expectativa de um estímulo fiscal no governo do presidente eleito Donald Trump “reenergizou completamente o dólar”, disse Alan Ruskin, líder de estratégia cambial do G-10 do Deutsche Bank. “Esta é uma grande mudança na dinâmica de políticas.”
O índice do dólar do Wall Street Journal, que monitora o dólar ante uma cesta de 16 moedas, cresceu 3,1% em 2016, com uma valorização no fim do ano contra o euro, iene e moedas dos mercados emergentes.
Cerca de 60% dos clientes pesquisados pelo Citigroup acreditam que o dólar ou será “moderadamente mais elevado” ou “significativamente elevado” em relação as divisas de países desenvolvidos e de mercados emergentes em 2017.
Alguns se preocupam, contudo, que as propostas de Trump para gastos em infraestrutura e corte de impostos possam não se tornar realidade. E expansões fiscais anteriores tiveram efeitos variados sobre a moeda americana.
O índice de dólar da ICE subiu mais de 80% entre 1981 e 1985, impulsionado por uma série de estímulos fiscais implementada durante o governo do presidente Ronald Reagan e por vários aumentos de juros feitos pelo Fed nos primeiros anos da década.
Mas cortes nos impostos feitos no governo do presidente George W. Bush não conseguiu impulsionar o dólar nos anos 2000, quando os cortes foram acompanhados por um Fed baixista e por incertezas nos mercados de ações, afirma relatório do Deutsche Bank.
Investidores também esperam que o Fed fique de olho no fortalecimento da moeda, e eleve os juros em um ritmo mais lento se a alta do dólar começar a prejudicar a economia americana.
Thanos Bardas, gerente de portfólio da Neuberger Berman que supervisiona US$ 255 bilhões, disse que ele realizou lucros em dezembro em apostas de que o dólar iria se fortalecer ante o iene, preocupado com a forte valorização do dólar em um curto período de tempo. “Os mercados estão com perspectivas extremamente positivas”, disse ele. “A operação inteligente envolve confiança com verificação.”
IRA IOSEBASHVILI
Foto: ANDREW HARRER/BLOOMBERG NEWS
Edição: konner@planobrazil.com
Fonte: WSJ