A China manifestou alarme diante da indicação do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de que está disposto a usar o acordo básico sobre Taiwan como moeda de barganha na já conturbada relação EUA–China.
Em entrevista à rede de televisão americana Fox News no domingo, Trump questionou por que os EUA deviam seguir observando a política de uma “China unificada” se o governo chinês não estiver disposto a fazer concessões em políticas prejudiciais aos interesses americanos. Trump indicou táticas cambiais, tarifas e a intensificação militar da China no Mar da China Meridional, além do programa nuclear da Coreia do Norte.
O Ministério das Relações Exteriores da China advertiu que Trump corre o risco de adentrar em uma questão de importância incomparável para Pequim. “Estamos seriamente preocupados com isso”, disse o porta-voz do ministério, Geng Shuang, em uma coletiva de imprensa ontem. “A questão de Taiwan está vinculada à soberania e à integridade territorial da China e é um dos interesses fundamentais da China.”
Pequim considera Taiwan uma província separatista desde que os nacionalistas liderados por Chiang Kai-shek estabeleceram um governo na ilha em 1949, após anos de guerra civil. A decisão de Washington de rescindir o reconhecimento diplomático do governo de Taiwan e defender a política de uma China unificada foi condição prévia para o restabelecimento das relações diplomáticas entre EUA e China em 1979.
“Eu não sei por que temos de nos comprometer com uma política de uma China unificada a menos que façamos um acordo com a China sobre outras coisas”, disse Trump na entrevista.
Trump já havia posto em dúvida a disposição de seu governo de seguir o protocolo diplomático sobre Taiwan quando aceitou, em 2 de dezembro, um telefonema da presidente taiwanesa Tsai Ing-wen.
Embora a princípio Pequim tenha minimizado o episódio e tratado o telefonema como uma manobra de Taiwan, os comentários de Trump no domingo pareceram mais preocupantes para a China. A mídia estatal criticou duramente as declarações e uma onda de comentários raivosos tomou as redes sociais.
Na segunda-feira, o tabloide nacionalista “Global Times” afirmou em um editorial em chinês que o presidente eleito dos EUA pode até ser considerado um negociador experiente, mas “estava confuso como uma criancinha” sobre política externa.
“A política da ‘China unificada’ não é algo que possa ser comprado e vendido”, declarou.
A meta de reunificação com Taiwan é um tema sobre o qual o Partido Comunista tem apoio quase universal no país. Isso significa que líderes em Pequim não têm, politicamente, quase nada a ganhar ao incluir a questão em qualquer negociação com os EUA.
Embora o presidente chinês, Xi Jinping, tenha pedido paciência na resposta ao novo governo Trump, ninguém espera que recue em questões de soberania. Xi tem uma série de opções caso Trump siga com o discurso sobre Taiwan, incluindo chamar de volta o embaixador da China em Washington e colocar mais aviões militares nos céus em torno de Taiwan.
No sábado, dez aeronaves das forças armadas chinesas sobrevoaram o Canal Bashi, entre Taiwan e as Filipinas, de acordo com o Ministério de Defesa de Taiwan.
Uma resposta mais imediata seria dificultar o acesso americano a investimentos e consumidores chineses, ainda que isso abale os laços econômicos entre os dois países.
“A área mais fraca da China é a economia. [O país] não tomaria a iniciativa de prejudicar sua relação financeira e comercial com os EUA por motivo nenhum, exceto a questão de Taiwan”, diz Shi Yinhong, professor de relações internacionais da Universidade Renmin, de Pequim.
O principal diplomata chinês, o conselheiro de Estado Yang Jiechi, teve um encontro com o tenente-general da reserva Michael Flynn, indicado por Trump como conselheiro de segurança nacional, durante uma escala em Nova York dias atrás a caminho da América Latina, de acordo com Geng, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. Eles falaram sobre assuntos importantes das relações EUA–China, disse ele, sem entrar em detalhes.
Mesmo antes das últimas declarações de Trump, seu recente posicionamento contra a China repercutiu na comunidade empresarial chinesa.
O homem mais rico da China, Wang Jianlin, que é dono da rede de cinemas americanaAMC Entertainment Holdings Inc. e da produtora Legendary Entertainment, disse no sábado, em um fórum de negócios em Pequim, que as políticas comerciais de Trump poderiam afetar os milhares de trabalhadores americanos que ele emprega.
“Investi US$ 10 bilhões nos EUA. Tenho 20 mil funcionários lá”, disse Wang, de acordo com uma transcrição de suas observações publicadas na internet por sua empresa, a Dalian Wanda Group. O empresário observou que, para crescer, a indústria cinematográfica americana depende fortemente do mercado chinês.
Na questão do câmbio, não está claro que efeito poderia surtir a pressão dos EUA. Trump acusa a China de manter sua moeda artificialmente desvalorizada, enquanto Pequim vem gastando bilhões de suas reservas cambiais para evitar que o yuan caia rápido demais em relação ao dólar.
JOSH CHIN
Wayne Ma
Imagem: Trump ao lado da bandeira da China e de Taiwan – Crédito/ Pressphoto Agency Ritchie B. Tongo Europeia
Edição: konner@planobrazil.com
Fonte: WSJ
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