Por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.
A Guerra Global contra o Terrorismo (GWOT [Global War on Terrorism]), levada à efeito em países como Afeganistão, Iraque, Paquistão, Iêmen, Somália e Síria, foi marcada por uma infinidade de OpEsp (Operações Especiais) cujo elevado grau de sensibilidade impede que os pormenores a elas relacionados sejam publicamente revelados. Manter resguardados os detalhes de missões consideradas como sendo de natureza crítica para os interesses e a segurança do Estado que as patrocinou é fundamentalmente importante, inclusive, para garantir a confidencialidade dos operadores que dela participaram de modo a evitar associações indesejáveis e possíveis riscos à sua segurança pessoal e familiar.
Muito embora mantenham suas identidades protegidas sob a égide do segredo, é de conhecimento público que inúmeros operadores especiais lotados em diferentes FOpEsp (Forças de Operações Especiais) de várias nacionalidades tomaram parte das sucessivas campanhas realizadas em decorrência da GWOT. Certamente há, nesse aglomerado de informações sigilosas, uma série de relatos evidenciando personagens que de uma forma ou outra se destacaram no cumprimento das tarefas a eles atribuídas. Seguramente desponta entre esses atores de destaque, a figura inusitada do “cão de combate”, introduzido no campo de batalha como um elemento de suporte às ações dos quadros operacionais das unidades militares de elite.
A participação ativa desses animais na GWOT é destacada nos dois livros escritos por Matt Bissonnette (sob pseudônimo Mark Owen), ex-operador do DEVGRU (Naval Special Warfare Development Group [Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval]) da Marinha norte-americana, que atuou na operação militar que culminou com a morte de Osama bin-Laden, líder da organização fundamentalista (al-Qaeda) que perpetrou os atentados terroristas contra o território estadunidense na manhã de 11 de setembro de 2001. Tanto em “Não há dia Fácil” (2012) quanto em “Não há Heróis” (2015), Bissonnette destaca o apoio ofertado pelos animais nas ações táticas desempenhadas pelo DEVGRU.
O emprego de cães por FOpEsp não representa nenhuma inovação no campo de batalha, uma vez que registros das antigas civilizações egípcia e grega apontam a utilização de cachorros em situações de enfrentamento. No decorrer das duas Guerras Mundiais ocorridas no século XX, esses animais desempenharam funções distintas, tais como: localização de feridos em combate; detecção de minas explosivas; auxiliando na instalação de fios de telégrafo; transportando kits de primeiros-socorros e correspondência.
Por disporem de capacidade visual, olfativa e sensorial mais desenvolvida que os padrões da espécie humana, os cães de combate empregados pelas tropas especiais são adestrados para desempenhar uma série de ações de modo a oferecer contribuições significativas, tais como: promover o reconhecimento e/ou rastreamento do terreno, de modo a assessorar na condução de patrulhas ou em procedimentos de varredura; subjugar ou intimidar elementos adversos com força não-letal. Por ocasião da diversidade de tarefas que caracterizam a atividade OpEsp, os animais que delas participam devem ter a capacidade de desempenhar múltiplas funções, sendo necessário reunir condições físicas e traços de personalidade compatíveis com as exigências das ações a serem desempenhadas por eles. Nesse sentido, considerando o conjunto de atributos (resistência física; agressividade; inteligência; lealdade) que distingue cada espécie canina, raças como Pastor Alemão, Pastor Holandês e Pastor Belga Malinois, têm a preferência para operar provendo o suporte às unidades militares de elite.
Para prover o assessoramento às FOpEsp, os cães de combate dispõem de um diversificado aparato tecnológico que inclui: colete tático à prova de balas e perfurações à faca com diferentes níveis de proteção; sistema de iluminação com luz direcional e luz infravermelha; dispositivo de comunicação de alto desempenho; colete salva-vidas inflável; câmeras com capacidade de visão noturna e transmissão em tempo real. Assim como os quadros operacionais das equipes que auxilia, os cães de combate são inseridos na AO por meio de paraquedas ou desembarque aerotático (fast rope), permanecendo conectados a um operador durante a manobra de infiltração.