Na visita de Obama à Alemanha, Merkel anunciou a intenção de assumir maior responsabilidade na defesa

Em sua sexta visita à Alemanha como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama lançou uma mensagem de “moderado otimismo” sobre o papel que será adotado por seu sucessor na Casa Branca, Donald Trump.

Obama justificou este otimismo com a responsabilidade que implica assumir a presidência da maior potência do mundo. “Força você a se centrar. Requer seriedade”, disse em Berlim.

Ao lado dele estava a chanceler alemã (Primeira-Ministra), Angela Merkel, que reiterou sua vontade de cooperar com o futuro presidente dos EUA “com total convicção”. Como demonstração de boa vontade em relação a Washington, Merkel anunciou a intenção de assumir maior responsabilidade na defesa. “A Alemanha entendeu essa mensagem e começou a reagir”, afirmou.

A visita de Obama revolucionou o centro de Berlim, cujo espaço aéreo está fechado até sexta-feira. As pessoas que moram diante do Adlon, o hotel perto do Portão de Brandemburgo onde o presidente dos EUA se aloja, estão proibidas, durante sua permanência, de abrir suas janelas ou sair às sacadas. A segurança do presidente é o mais importante. Além de causar transtornos aos berlinenses, Obama chega à Alemanha com uma mensagem para a chanceler e os demais líderes europeus: a vitória de Trump não mudará as alianças que os EUA firmaram nos últimos 70 anos.

O presidente afirmou, ao lado da chanceler em Berlim, que a Rússia participou de ciberataques, informa a Reuters. Merkel se comprometeu diante dele a aumentar o gasto com defesa. “A Alemanha entendeu essa mensagem e começou a reagir”, disse.

Obama tentará aplacar os temores das autoridades alemãs, que por ora não sabem como ajustar-se ao próximo líder norte-americano. Os membros do Governo de Merkel não conseguem discernir quais das declarações eleitorais Trump colocará em prática como presidente e quais deixará para trás em nome do pragmatismo. Obama tentou nos últimos dias reduzir a preocupação ao dizer que Trump é um pragmático, e não um ideológico. “A democracia americana é maior do que uma só pessoa”, afirmou na quarta-feira em Atenas.

O atual presidente dos EUA se reunirá com Merkel ao longo destes três dias. Esteve com ela na quarta-feira, em um jantar improvisado no hotel Adlon, que incluiu, em homenagem a Berlim, o famoso currywurst da capital alemã. Estará com Merkel nesta quinta-feira, em um encontro bilateral e depois um jantar na Chancelaria, e na sexta-feira, em uma reunião da qual tomarão parte os líderes da França, François Hollande; Reino Unido, Theresa May; Itália, Matteo Renzi; e Espanha, Mariano Rajoy. Mais tarde, o presidente do Governo espanhol (primeiro-ministro) e a chanceler alemã almoçarão sozinhos, o que representará a volta da Espanha ao cenário político europeu depois de um ano de ausência pelo bloqueio político.

Como prévia desta maratona de reuniões, Obama concedeu uma entrevista ao canal público alemão ARD e à revista Der Spiegel. Nela repetiu os já habituais elogios a Merkel. E também tentou buscar possíveis pontos de acordo com o homem que o substituirá na Casa Branca, como na reforma que pretende fazer no programa de saúde, destaque de seu mandato, o chamado Obamacare. “Trump diz que quer melhorar o sistema de saúde. Se ele pode garantir o mesmo número de pessoas com seguro, e fazer isso melhor que eu, contará com meu apoio”, afirmou.

LUIS DONCEL

Foto: Kevin Lamarque / Reuters – Presidente dos EUA Barack Obama em Berlim, em frente ao Portão de Brandeburgo. 

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: El País

Obama e Merkel: troca de elogios e alertas a Trump

Presidente americano exalta cooperação com Alemanha, destaca a importância de continuar negociações de livre-comércio com a Europa e sugere que seu sucessor deve ter cuidado ao lidar com Moscou.

Em Berlim nesta quinta-feira (17/11), no penúltimo dia de sua última viagem como presidente americano, Barack Obama não poupou elogios à chanceler federal Angela Merkel, destacou a importância de continuar negociações de livre-comércio entre EUA e Europa, e fez alertas a Donald Trump sobre a forma de lidar com a Rússia.

Obama disse estar “otimista, mas com cautela” sobre seu sucessor e lembrou que, se um presidente não levar seu trabalho a sério, não permanecerá muito tempo no governo. Ele disse que espera que Trump enfrente a Rússia, caso Moscou se desvie dos valores defendidos pelos EUA e de normas internacionais.

“Para que nós possamos solucionar muitos grandes problemas ao redor do mundo, está em nossos interesses trabalhar com a Rússia”, disse Obama, em entrevista coletiva ao lado de Merkel na capital alemã.

O presidente também destacou que o compromisso de Trump com a Otan é importante. Durante a campanha eleitoral, o republicano ameaçou rasgar tratados de defesa assinados neste âmbito e acusou os parceiros de não estarem cumprindo as regras estabelecidas.

“Recebemos a mensagem e começamos a reagir”, disse Merkel, em referência às declarações feitas por Trump durante a campanha.

A Alemanha é constantemente criticada por não repassar o mínimo de 2% do PIB para defesa como determina a Otan. A chanceler disse que seu governo está preparado para aumentar o seu engajamento militar, como os americanos desejam.

Troca de elogios

Durante a coletiva, Obama não economizou elogios à líder alemã. “Tudo que posso dizer é que a chanceler tem sido uma parceira excepcional. Merkel é talvez a única líder entre os aliados mais próximos que estavam aqui quando cheguei”. O presidente disse que, embora eles não tenham tido sempre a mesma opinião, ele apreciou a sua “integridade, autenticidade e ponderação”.

“Ela é excepcional”, destacou Obama, citando a capacidade da líder de ser comprometida com os interesses do povo alemão, mas sem esquecer que uma boa liderança exige o engajamento do mundo como um todo. O presidente elogiou ainda a força, determinação e valores de Merkel diante a crise dos refugiados

Ao ser questionado se a chanceler deveria concorrer novamente ao cargo, o presidente disse apenas que, se fosse alemão, seria eleitor de Merkel. Ela, por sua vez, disse que o adeus a Obama será difícil. “A despedida é difícil quando se trata de alguém com quem o trabalho em conjunto foi bom.”

Livre-comércio

O Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE), que está sendo negociado desde 2013, também foi tema na coletiva de imprensa desta quinta.

“Sempre estive fortemente comprometida para concluir o acordo comercial com os EUA. Fizemos muitos progressos nas negociações, mas não o concluiremos agora”, reconheceu Merkel. Os líderes tinham a expectativa de fechar o tratado antes do fim do mandato do atual presidente americano.

Apesar de reconhecer impasses, a chanceler ressaltou, porém, que deseja continuar as negociações do acordo com Trump,que já declarou ceticismo sobre tratados comerciais. Merkel afirmou que o mundo não pode voltar ao período pré-globalização. O TTIP foi também defendido por Obama.

Durante a coletiva, o presidente destacou a importância da continuidade das negociações sobre o TTIP e argumentou que, nas últimas décadas, acordos comerciais mostraram que podem criar prosperidade em todos os países.

Ao comentar sobre Trump, Merkel se comprometeu a fazer de tudo para alcançar uma boa parceria com magnata e garantiu que vai recebê-lo com “uma grande franqueza e convicção”. A líder alemã reiterou o interesse da Alemanha em manter a estreita cooperação com os EUA, porém, destacou novamente que a base para isso são valores, como democracia, liberdade, respeito e direitos humanos.

CN/ap/afp/dpa

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: DW

Opinião: Muito mais do que “goodbye Merkel”

A visita de despedida de Obama a Berlim deveria ser um encontro entre amigos. Mas, com a perspectiva de Trump como presidente, o democrata parece perseguir uma última missão política.

Barack Obama gosta de Angela Merkel. Mais ainda, ele tem uma apreciação extrema por ela, e não esconde esse fato. Já fora assim na última visita dele à Alemanha em Abril. Agora, meio ano mais tarde, em Berlim, o presidente dos Estados Unidos foi ainda mais longe.

No palco da política mundial, nos últimos oito anos, ele não seria capaz de imaginar uma parceira mais sólida e confiável, disse Obama. A chanceler federal alemã é aliada e amiga para ele, “os alemães devem apreciá-la”.

É claro que os americanos são conhecidos por sua efusividade. Logo tudo é declarado fantástico e incrível. Mas, em primeiro lugar, Barack Obama não é uma pessoa dada a exageros; e, em segundo, lembre-se que, após a eleição de Donald Trump como presidente, o New York Times definiu Merkel como “a última defensora do Ocidente livre”.

Nos EUA, os dados foram lançados. Na Europa, eles o serão em 2017, quando haverá eleições na França, na Holanda e na Alemanha. Em todos esses três países os populistas de direita estão avançando.

Marine le Pen, Gerd Wilders e Frauke Petry exultam com a vitória eleitoral de Trump. O presidente russo, Vladimir Putin, se alegra com eles. Os britânicos pretendem requerer a saída da União Europeia no próximo ano. O partidário do Brexit Nigel Farage já visitou o presidente eleito Trump em Nova York.

Será assim o futuro da política? Em 2017 os populistas vão tomar o destino do mundo nas mãos? Obama não quer aceitar essa perspectiva. Antes do pleito presidencial, ele advertiu Trump com veemência para que se contivesse. A transferência de poder tem que transcorrer de forma disciplinada e sem percalços – é o que ditam as regras do jogo da democracia. A democracia é forte, disse o presidente. Em outras palavras: os EUA já sobreviveram outras situações.

Para além da passagem do cargo e suas constrições, contudo, Obama persegue uma última missão política: ele quer salvar o que ainda pode ser salvo, e para tal aposta em Angela Merkel. É ela que deverá ajudar a conter os danos que se anunciam, em nível mundial.

Como – segundo Obama – “pilar da política internacional”, ela é uma constante confiável. Quem sabe lidar com Putin, talvez também consiga enfrentar Trump.

É preciso considerar isso, para avaliar corretamente os hinos de louvor que o chefe de Estado americano em fim de mandato presta à premiê. Obama quer fortalecer Merkel, quer encorajá-la a se candidatar novamente à chefia de governo, nas eleições legislativas de 2017. Ao mesmo tempo, ele conclama os cidadãos alemães a darem mais valor à líder conservadora.

Obama sabe que no último ano a chanceler federal e chefe da União Democrata Cristã (CDU) perdeu muito do apoio popular. Na verdade, ele não se mete na política de outros países, disse, mas “se vivesse aqui, eu certamente votaria nela”.

E Angela Merkel? A premiê alemã não é, sabidamente, o tipo de pessoa que se alegra visivelmente com louvores. Ela é sóbria demais para tal coisa. No máximo, aguenta o elogio, puxando ligeiramente o canto da boca para cima.

Além disso, o elogio de Obama implica uma carga pesada. Depois de 12 anos no cargo, ela ainda terá forças para defender o Ocidente livre? A força de enfrentar, até se impor contra os Trumps, Le Pens, Wilders, Erdogans e Putins deste mundo? Oficialmente, Angela Merkel ainda não se posicionou, deixando em aberto sua eventual candidatura. De muito mais tempo, ela não dispõe.

Sabine Kinkartz

  • Sabine Kinkartz é jornalista da Deutsche Welle

Edição: konner@planobrazil.com

Fonte: DW