O presidente da China, Xi Jinping, emergiu de uma reunião de cúpula do Partido Comunista com um novo título de liderança, um sinal de ampliação de sua autoridade política — e também de sua capacidade de reprimir uma latente dissidência interna.
Ontem, durante uma reunião anual com a presença de várias centenas dos membros mais graduados do partido, Xi recebeu a obscura designação de “núcleo” da liderança do órgão. O termo foi aplicado no passado ao líder revolucionário Mao Tsé-Tung e a dois sucessores dele, mas não ao antecessor imediato de Xi.
A denominação não torna Xi invulnerável, dizem especialistas em política chinesa. Ele ainda enfrenta a resistência de alguns grupos dentro do partido, das forças armadas e das estatais.
Em mais um sinal de força de Xi, a cúpula encerrada ontem também impôs novas regras disciplinares a toda a hierarquia do partido, com um foco destacado na liderança sênior.
A designação de ‘núcleo’ vem com tentáculos, diz Wu Qiang, pesquisador de Pequim e ex-professor da Universidade de Tsinghua. “É uma clara declaração de que qualquer dissidência ou resistência à autoridade de Xi, mesmo vinda dos níveis mais altos, pode ser e será punida.”
Desde que chegou à liderança do partido, quatro anos atrás, Xi subverteu o modelo consensual promovido por seu antecessor, Hu Jintao. Xi assumiu o comando das forças armadas, da economia e da maioria das outras instâncias do poder, centrando as decisões em comitês liderados por ele.
Xi, que tem 63 anos e é filho de um veterano comandante da revolução, combinou eficazmente um estilo combativo de fazer política com mensagens bem aceitas pela população. Ele lançou a mais rigorosa campanha contra a corrupção das últimas décadas no país, angariando uma grande popularidade entre os cidadãos chineses e ganhando força para punir rivais. Sua imagem de líder poderoso foi ainda mais fortalecida por uma política assertiva de segurança nacional e relações exteriores e uma mensagem de restaurar a grandeza do país.
O novo status de Xi dá a ele uma arma a mais, num momento em que o partido se prepara para um ano possivelmente conflituoso de barganhas em torno das mudanças na liderança do partido marcadas para o fim de 2017, quando cinco dos sete membros do Comitê Permanente do Politburo, a alta cúpula do partido, devem se aposentar.
Nas últimas semanas, observadores da política chinesa e membros do partido têm dito que Xi talvez tente, no próximo ano, adiar a nomeação de um potencial sucessor para o comitê, possibilitando que ele continue no poder depois que seu segundo — e o que deveria ser o último — mandato acabar, em 2022.
A autoridade fortalecida de Xi pode, ainda assim, não ser suficiente para alcançar esse objetivo, dizem analistas políticos, considerando as preocupações crescentes da elite do partido com o poder dele e a forma como vem gerenciando a economia chinesa, assolada pelo pesado endividamento das empresas e o excesso de capacidade na indústria.
“Ele obviamente ganhou uma batalha vital, mas ainda é muito cedo para comemorar”, diz Minxin Pei, professor da cadeira de governos na Faculade Claremont McKenna, na Califórnia. Uma coisa é dar ao líder máximo do país um novo título, outra bem diferente é fazer concessões críticas referentes à sucessão, acrescenta Minxin.
O título de “núcleo” foi outorgado durante uma reunião de quatro dias do Comitê Central do partido — que inclui generais, líderes de estatais e governantes das províncias — realizada em um hotel militar em Pequim.
Em mais um ato de apoio a Xi, a reunião também adotou regras disciplinares que reforçam a campanha anticorrupção promovida pelo líder, incluindo uma fiscalização mais rigorosa e novas diretivas sobre o que é considerado um comportamento político aceitável.
Num longo comunicado distribuído no encerramento da reunião, o Comitê Central enfatizou a importância da nova designação de Xi.
Todos os membros do partido devem “se unir fortemente em torno do centro do partido, com o Camarada Xi Jinping em seu núcleo […] e inelutavelmente proteger a liderança da autoridade do partido e sua unidade centralizadora”, afirma o comunicado, que foi divulgado pela mídia estatal.
Foto: JU PENG/XINHUA/ZUMA PRESS
Edição: konner@planobrazil.com
Fonte: WSJ
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