Muitas pessoas querem ver o BRICS fracassar. Os líderes ocidentais, sobretudo Estados Unidos e Reino Unido, são os primeiros, mas não os únicos: diversos observadores no mundo emergente parecem entrar nesse jogo.
Todos os anos, à medida que a cúpula do BRICS se aproxima, as previsões negativas se intensificam na imprensa.
Durante os preparativos para a recente reunião em Goa, o tom foi semelhante, mas com o agravante das rusgas Índia-China acerca do terrorismo no Paquistão. Porém, mais uma vez, a previsão não se concretizou; pelo contrário, alguns países, como Índia e Rússia no caso dos mísseis S-400, fecharam acordos importantes.
BRICS contra 1929
A maioria das instituições multilaterais globais que existem hoje não são mais relevantes. O FMI e o Banco Mundial, por exemplo, foram fundados durante os últimos anos da Segunda Guerra Mundial.
Em geopolítica, isso é história antiga.
Paralelamente, o G7 parece estar na UTI, e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) perdeu liderança.
Com as economias ocidentais à beira do precipício monetário e orçamental, os cinco membros do BRICS oferecem uma alternativa estável ao declínio do Ocidente. Mesmo em queda, China e Índia continuam registrando crescimento econômico elevado e devem superar por completo as demais economias nas próximas décadas.
Sem o BRICS, a economia mundial vivenciará 1929 novamente.
Freio sem desastre
Uday Kotak, vice-presidente-executivo do Kotak Mahindra Bank, acredita que a Índia deveria sair do BRICS por causa da desaceleração em quatro das cinco economias. Sua visão foi ecoada por vários especialistas mundo afora. Mas nem todos pensam assim.
De acordo com o Centro sobre Interesses Globais, dos EUA, é possível olhar para os BRICS do ponto de vista do mercado financeiro, ou do ponto de vista geopolítico.
“Porém, com qualquer lente que você os veja, verá mesmo: apesar das desacelerações econômicas e dificuldades neste setor alguns países, estes são, de longe, os países mais poderosos fora do núcleo desenvolvido”, lê-se em relatório do centro.
“Suas economias têm escala. Suas decisões podem mexer com os mercados financeiros. Eles têm capital intelectual e influência dentro de suas regiões. E, em termos de política externa, são o contrapeso para um mundo unipolar executado em grande parte por Washington e seus parceiros em Londres e Bruxelas”, continua.
Sobremesa emergente
Se as Nações Unidas não avançam na discussão de questões políticas relevantes, o órgão internacional é considerado um fracasso. Mas o BRICS não é uma plataforma criada para discutir política.
O principal papel do grupo é remover as alavancas do Ocidente que controlam a economia mundial. Ao estabelecer o seu próprio Banco de Desenvolvimento, o grupo de emergentes tirou do FMI o status de último recurso em termos de crédito.
O temor de que questões bilaterais envolvendo Índia e China fossem travar as negociações no âmbito do BRICS carece, assim, de fundamento.
Basta tomar como exemplo Goa-2016. Embora a Declaração de Goa mencione terrorismo, o foco da cúpula não foi este. Claro que o primeiro-ministro indiano Narendra Modi disparou contra o Paquistão, descrevendo-o como “mãe do terrorismo”, e China defendeu seu aliado, alegando ter feito “grandes sacrifícios”, mas tanto Nova Déli como Pequim estavam apenas jogando suas cartas.
Questões políticas podem, sim ser colocadas à mesa de negociações, porém como acompanhamento – como no caso da Síria. Por outro lado, temas com potencial para inviabilizar a cúpula simplesmente não têm lugar na mesa de negociações do BRICS.
Não dá para negar que sempre haverá diferentes opiniões e pontos de vista entre os países do grupo, como há discordâncias entre os membros da OTAN ou da UE. Só que, ao contrário destes, cujos membros têm mais ou menos os mesmos objetivos e compartilham da mesma ‘unidade racial’, os BRICS são diferentes entre si. Sua própria adesão ao grupo confere a eles um objetivo comum: o desenvolvimento. Como emergentes, todos almejam melhorar os padrões de vida em seus respectivos países.
RAKESH KRISHNAN SIMHA
Edição: konner@planobrazil.com
Fonte: Gazeta Russa
BRICS e G20 devem se unir para o bem mundial
Em entrevista concedida na terça-feira (25), a emissária da Rússia no G20, Svetlana Lukach, afirmou ser inadmissível contrapor os formatos do G20 e do BRICS.
“Acredito no G20 e acredito que não se possa contrapor os formatos dele com o do BRICS. E isso acontece não só porque os países do BRICS são parte do G20. Esses dois fóruns devem ser parceiros, permitir e produzir um certo ‘valor cumulativo’ em prol de todo o mundo”, disse Likach na abertura da conferência “G20 e BRICS: institutos de de administração global de um novo tipo”.
Segundo ela o G20 tenta, já há alguns anos, sair das medidas anticrise e partir para a formação de uma agenda em longo prazo, organizar estímulos para a estabilidade, balancear o crescimento e introduzi-lo em uma trajetória estável.
“Considero que o representante da China tenha sido muito feliz em sugerir justamente este momento ‘que transmitiu novo impulso ao trabalho do G20’. Entramos na discussão dos principais propulsores do futuro crescimento: a inovação, a futura revolução industrial, e, claro, a economia eletrônica”, disse Lukach.
Nesse sentido, Lukach acredita que, sem discutir os fatores que influenciarão no desenvolvimento nos próximos anos, “não se pode decidir aqueles mesmos desafios globais que estão diante de nós”.
“Esperamos que no ano que vem o emissário alemão continue a discussão desses temas-chaves. Sem dúvida, estarão na agenda do dia as questões sobre a garantia da estabilidade financeira, assim como o estímulo do crescimento, sobretudo com o uso da inovação e das novas tecnologias. Já faz tempos que vivemos em um mundo completamente diferente. Seria hora de o G20 também se conscientizar sobre esses fatores”, disse.
O G20 é um fórum informal das principais economias do mundo. No total, seus países representam 90% do PIB mundial e 80% da balança comercial. Atualmente, 19 países e a União Europeia têm status de membro fixo do G20.
Na composição do G20 estão: Rússia, Argentina, Austrália, Brasil, Reino Unido, Alemanha, Índia, Canadá, China, México, Arábia Saudita, EUA, Turquia, França, África do Sul, Coreia do Sul e Japão.
Edição: konner@planobrazil.com
Fonte: Gazeta Russa
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