Os Estados Unidos vão necessariamente se deparar com um de dois cenários: ou o próximo presidente terá que lidar com uma recessão durante seu mandato, ou o país terá a mais longa expansão econômica de sua história.
As apostas são de que uma recessão é mais provável. Economistas consultados na mais recente pesquisa mensal do The Wall Street Journal colocaram em quase 60% a probabilidade de que a próxima recessão acontecerá nos próximos quatro anos.
Isso não é uma previsão de que o próximo presidente americano causará uma crise. Em vez disso, é um reconhecimento de que, no decorrer da história, a economia americana nunca cresceu por mais de dez anos sem cair em recessão. Durante os próximos quatro anos, alguma coisa — seja a exaustão da força do ciclo econômico, um erro de política monetária do banco central americano ou algum choque externo — poderá tirar a economia dos trilhos.
A atual expansão começou em Junho de 2009 e tem continuado por 88 meses, constituindo o quarto período mais longo de crescimento dos EUA desde 1854.
Economistas veem uma chance de 20% de haver uma recessão já no próximo ano, uma probabilidade que aumenta para horizontes mais longos. Questionados sobre riscos específicos, vários citaram a possibilidade de uma desaceleração econômica global.
É verdade que a duração de uma expansão tem pouca relação com sua força. A economia americana vem crescendo a uma taxa anual de 2,1% desde 2009. Esse é o crescimento mais lento de qualquer expansão depois da Segunda Guerra Mundial. Muitos economistas estavam confiantes de que esse crescimento iria acelerar, mas agora a maioria prevê que a economia continuará a crescer nesse ritmo nos próximos anos.
A pesquisa ressalta o que provavelmente será o principal desafio do próximo presidente: presidentes frequentemente ganham flexibilidade para promover políticas em resposta a recessões. O ex-presidente George W. Bush, por exemplo, aprovou cortes de impostos em 2001 e 2003 para estimular a economia a sair de uma recessão. Já Barack Obama, que assumiu a presidência durante outra recessão, promoveu um pacote de medidas que incluiu cortes de impostos e aumento dos gastos públicos.
As políticas econômicas do próximo presidente, contudo, são extraordinariamente incertas. Por uma margem de 85% a 15%, os participantes da pesquisa do WSJ classificaram a atual eleição como mais incerta do que o normal, em parte devido à crescente separação entre os eleitores dos dois partidos, o Democrata, de Obama e Hillary Clinton, e o Republicano, de Donald Trump.
“Mesmo depois da eleição, ainda haverá um tremendo grau de incerteza”, diz Gregory Daco, economista-chefe para os EUA da empresa de análises e pesquisas econômicas Oxford Economics. “A elaboração de políticas pode, na verdade, ficar mais difícil em poucos meses.”
As políticas econômicas de Hillary se assemelham às de candidatos democratas anteriores. Mas ela deve enfrentar um Congresso dividido e discordante, que não foi capaz ou não quis passar novas leis nos últimos anos.
Trump promete conter a imigração, renegociar acordos comerciais e taxar importações. Nessas questões, ele difere das ideias há muito defendidas por muitos congressistas republicanos, inclusive o presidente da Câmara, Paul Ryan.
E observadores também têm mais dúvidas do que o normal porque as discussões públicas raramente abordam a execução das políticas. “A natureza pessoal da eleição deixou pouco espaço para uma discussão séria sobre políticas”, diz Douglas Duncan, economista-chefe da Fannie Mae, gigante do financiamento imobiliário.
Mas poucos pensam que é totalmente garantido que uma recessão vai ocorrer nos EUA durante os próximos quatro anos. Um quarto dos economistas colocou a probabilidade em menos de 50%.
É precisamente porque a economia está lenta que alguns acreditam que a recuperação pode durar um período longo. “Devagar e sempre deixa muito combustível para seguir em frente”, diz Russell Price, economista sênior da holding financeira Ameriprise Financial.
A pesquisa do WSJ foi realizada entre 7 e 11 de outubro com 59 economistas acadêmicos ou que trabalham em instituições financeiras e outras empresas.
Foto: Michael Nagle/Bloomberg/Getty Images
Edição: konner@planobrazil.com
Fonte: WSJ
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