Em entrevista no aniversário de 30 anos da cúpula bilateral de Reykjavik, o ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchov clamou por um reinício nas relações Rússia-Estados Unidos.
O encontro entre Gorbatchov e Reagan, ocorrido entre 11 e 12 de Outubro de 1986 na capital islandesa, abriu o caminho para restrições nucleares dos países.
A Gazeta Russa selecionou os principais pontos da entrevista de Gorbatchov à agência de notícias Ria Nôvosti:
A preparação para o encontro em Reykjavik
A situação então era complicada, paradoxal, e, em geral, alarmante. […] Navios norte-americanos tentavam “se sentir em casa” em nossas águas territoriais, os EUA executavam testes com armas nucleares, provocavam escândalos de espionagem etc. […] Eu achava que não se podia permitir que os acordos se transformassem em uma cortina de fumaça por trás da qual nada de substancial acontecia. Ainda mais porque a corrida armamentista nuclear continuava. Por isso, sugeri encontrar-me com o presidente dos EUA para tirar os acordos do ponto morto. Quando acertamos o encontro, começamos os preparativos. Era preciso chegar a Reykjavik com propostas construtivas.
O que Moscou propôs
Propusemos um esquema preciso e claro de acordos. Reduzir em 50% todos os componentes da tríade de armas estratégicas. Então, estávamos dispostos a chegar a um corte de 50% nos mísseis pesados baseados em terra e a um número nulo em relação a mísseis de médio e baixo alcance. Mas, para isso, tomamos uma posição dura: não se deveria iniciar uma corrida armamentista no espaço, no campo da defesa antimíssil.
Reação dos EUA e resultados do encontro
O presidente [Ronald Reagan] estava um pouco confuso. […] O presidente queria continuar o programa SDI [da sigla em inglês, “Iniciativa de Defesa Estratégica”, que incluía o uso de armas no espaço], e, ainda mais, conseguir nosso aval para o desenvolvimento de uma defesa antimíssil global. Com isso eu não podia concordar.
[…] Em primeiro lugar, concordamos acerca de diversas questões. Em segundo, miramos no horizonte, na perspectiva de um mundo sem armas nucleares.
Agradou-me o fato de que o presidente Reagan foi resoluto em nossas discussões e, acredito, falou de maneira sincera sobre a necessidade de livrar o mundo das armas de destruição em massa e de todos os tipos de armas nucleares. Encontramos nesse ponto uma língua em comum.
O que fazer agora
Agora, há um agravamento, uma tensão nas relações entre a Rússia e os EUA. Ocorreu um colapso na confiança mútua. Nunca emiti minha opinião: é preciso reiniciar os acordos em todas as agendas do dia, sem se deter em problemas regionais, e, sobretudo, quanto à problemática nuclear.
[…] Acredito que o mundo tenha chegado a um ponto perigoso. Não quero dar uma receita pronta, mas quero dizer: é preciso parar. É preciso reiniciar o diálogo. A suspensão desse foi o maior erro. É preciso retornar às principais prioridades. Essas são: a redução das armas nucleares, a guerra ao terrorismo, a prevenção de catástrofes ecológicas. Todo o resto fica em segundo plano, quando comparado a esses desafios.
‘Mundo não nuclear’ não é utopia
Claro que, nas condições atuais, é difícil falar sobre um movimento em direção a um mundo não nuclear. Não é preciso reconhecer isso. Mas não se deve esquecer: enquanto existirem as armas nucleares, haverá o perigo de que elas sejam usadas. Ou acidentalmente, como resultado de falha técnica, ou devido à maldade humana: loucos ou terroristas. E dá para imaginar os resultados.
Além disso, nossos países são obrigados, seguindo o acordo sobre não proliferação de armas nucleares, a conduzir ajustes para reduzi-las até sua liquidação. Assim, o objetivo de um mundo não nuclear não é utopia, mas um imperativo. Mas ele só pode ser alcançado por meio de uma desmilitarização da política e das relações internacionais.
ALEKSÊI TIMOFEITCHEV
Foto: Mikhail Gorbatchov – Meramente ilustrativa
Edição: konner@planobrazil.com
Fonte: Gazeta Russa
Um mundo sem armas nucleares vai existir quando as bombas atomicas não deixarem residuos radioativos e as principais potencias subirem ao espaço as suas anbições e desenvolverem alternativas como os misseis hipersonicos cujo o impacto produz um efeito tão devastador quanto uma arma nuclear, esse mundo um dia vai existir.