Em entrevista à agência de notícias Ria-Nôvosti, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguêi Riabkov, declarou que os líderes dos países do grupo assinarão documento sobre cooperação e discutirão situação no Oriente Médio durante a 8° Cúpula do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que ocorre de 15 a 16 de Outubro em Goa, na Índia.
Quais serão os temas principais da próxima cúpula do BRICS, em Goa?
A Cúpula do BRICS é um evento muito importante. Não apenas para a imprensa, mas do ponto de vista político, ela tem um impacto significativo sobre os processos econômicos internacionais.
Como reza a tradição, no final da cúpula os líderes dos países-membros assinarão uma declaração final. É um texto abrangente que cobre todos os aspetos da cooperação e avalia todos os processos mais relevantes.
Estamos elaborando esse documento, e 80% dele serão dedicados a questões econômicas. Sua aprovação está em fase avançada.
Após a cúpula do G-20 em Hangzhou, o grupo BRICS continua a coordenar estreitamente suas posições. Este processo é bem-sucedido.
A Índia, que preside o grupo neste ano, apresentará diversas iniciativas que visam a reforçar a cooperação dentro do grupo, especialmente nas áreas de agricultura, transporte ferroviário, acesso à água, além de outras áreas de importância prática para todos os participantes.
Os indianos mostraram uma abordagem muito cuidadosa e criativa desses assuntos. Apesar do criticismo e de algumas dificuldades econômicas, a cooperação entre os BRICS está ganhando velocidade.
Os líderes pretendem discutir assuntos políticos?
Na área política, não podemos ignorar a discussão no mais alto nível do problema do terrorismo e da situação no Oriente Médio e na Síria.
Todos os países do BRICS estão enfrentando o problema do terrorismo, de alguma maneira ou de outra. Esse desafio é constante e perigoso.
Mas não estamos só falando, já começamos a cooperação prática. Algumas semanas atrás, realizamos a primeira reunião do grupo de trabalho que discutiu as abordagens práticas da intensificação da cooperação entre os BRICS na luta contra o terrorismo.
A situação no Oriente Médio e o problema sírio estarão refletidos no documento final, além de outras questões internacionais atuais, como os problemas climáticos e a reforma da ONU e do Conselho da Segurança. No momento, estamos coordenando o texto do documento, é cedo divulgar os detalhes
Os países do BRICS têm uma posição comum sobre a Síria e o terrorismo?
Cada país avalia esses problemas baseando-se na sua própria experiência, em suas prioridades e preferências.
Sem falsa modéstia, posso afirmar que a Rússia está mais envolvida nesses assuntos que nossos outros parceiros no grupo. Assim, com todo respeito ao papel desempenhado pelos nossos amigos chineses, indianos, colegas da África do Sul e do Brasil, a voz da Rússia tem mais peso.
Temos grande respeito às abordagens dos nossos colegas, mas esperamos que as avaliações e as abordagens russas também sejam incluídas no documento final da cúpula. O mais importante a saber é que os outros BRICS não apoiam uma solução militar para o conflito sírio, uma mudança violenta de governos ‘indesejáveis’ e a divisão de terroristas entre bons e maus. Ou seja, esses ‘pecados’ de alguns de nossos outros parceiros ocidentais.
Como a crise política no Brasil pode afetar sua participação do grupo?
Não vejo qualquer razão para afirmar que a chegada do presidente Michel Temer ao poder jogar sombra sobre o Brasil ou alterar a atitude do país, que tem aprofundado a cooperação no BRICS.
Além disso, durante a cúpula informal dos BRICS em Hangzhou, a parte brasileira demonstrou disposição para continuar a trabalhar da maneira habitual.
O Brasil participa de todos os eventos do BRICS e promove ativamente suas ideias. A luta contra o terrorismo é um dos exemplos que mostra seu papel, muito ativo e positivo, no BRICS. Sentimos que a parte brasileira dá continuidade não apenas a um diálogo político, mas a um diálogo interativo, isto é, expande as áreas de entendimento mútuo e as abordagens comuns.
A chegada ao poder da nova liderança brasileira não levou a um congelamento da cooperação. A continuidade do trabalho no formato BRICS é garantida, e isso é muito positivo.
TATIANA KALMÍKOVA
Edição: Konner/Plano Brasil
Fonte: Gazeta Russa
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