Síria – Cenários após ruptura entre Moscou e Washington

Na segunda-feira (3), o Departamento de Estado dos EUA anunciou o fim dos contatos bilaterais com a Rússia sobre a Síria, acusando Moscou de não cumprir com suas obrigações no cessar-fogo.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros, por sua vez, acusou Washington por sua prontidão em “fazer pacto com o diabo” – ou seja, extremistas islâmicos – apenas para conseguir a mudança do regime em Damasco.

A Gazeta Russa examinou os possíveis cenários após o fim do cessar-fogo sírio e do diálogo EUA-Rússia.

1. Conflito EUA-Rússia em território sírio

A possibilidade e o esforço em evitá-lo estão baseados nas negociações sobre a Síria entre os líderes dos órgãos de política externa dos EUA e da Rússia, de acordo com o cientista político da Universidade Econômica Russa Plekhanov, Aleksandr Perendjiev.

Esse é o principal objetivo buscado pelas duas potências, já que, exceto por ele, não há entre elas ponto de contato acerca da Síria. Nessas condições, e levando em consideração os últimos passos de Washington, poderia ocorrer um conflito entre os dois países em território sírio, de acordo com Perendjiev.

“Ainda mais porque ele já ocorreu indiretamente: os americanos atiraram e bombardearam uma subdivisão militar do governo sírio onde havia conselheiros militares nossos; e a parte russa bombardeou terroristas, entre os quais havia americanos”, disse o cientista político à agência Ria Nôvosti.

Perendjiev refere-se, no primeiro caso, ao ataque efetuado por aeronaves da coalizão dos EUA contra o exército do presidente Bashar Assad e, no segundo, à investida russa contra uma base militar britânico-americana na Síria.

Mas um confronto direto entre Moscou e Washington em território sírio ainda é pouco provável, de acordo com analistas.

“Ao romper relações com a Rússia no que diz respeito à Síria, os EUA mantiveram canais militares de comunicação para evitar os conflitos entre aeronaves militares dos dois países”, ressalta o pesquisador do Instituto de Estudos do Oriente Médio da Academia Russa de Ciências, Vladímir Sotnikov.

Dessa maneira, os EUA tentam não permitir qualquer enfrentamento entre os militares dos dois países.

2.  “Plano B” da administração de Obama

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, relembrou da existência de um “plano B” ao citar alternativas para o beco sem saída em que se encontra o processo de paz.

“O ‘plano B’ sugere o fortalecimento da oposição anti-Assad e anti-EI”, disse à Gazeta Russa o diretor do Centro de Análises de Conflitos no Oriente Médio do Instituto dos EUA e Canadá, Aleksandr Chumulin.

Os monarcas árabes e a Turquia, alinhados com Washington, ocupam-se justamente disso, segundo o cientista político. Ele acredita que, com essa intenção, serão armados também grupos como o Al-Nusra, classificado como terrorista pela ONU e pelos EUA.

Em outras palavras, todas as forças que se direcionam contra Bashar serão concentradas nessa luta, o que levará a uma intensificação dos combates e a um aumento no número de vítimas, já que os partidários do presidente sírio, entre eles a Rússia, não estão dispostos a recuar.

O porta-voz do presidente russo, Dmítri Peskov, já anunciou, após a decisão de Washington, que Moscou não se retirará da “guerra contra o terror e do apoio ao governo sírio”.

Nesse cenário, Washinton pode tentar mudar o regime sírio à força, empregando sua aviação como na operação na Líbia, em 2011, que levou à morte de Ghadafi

“Nesse caso, porém, será inevitável um confronto com as Forças Aeroespaciais russas, que protegem o exército sírio via ar”, diz o pesquisador do Instituto Moscovita Estatal de Relações Exteriores (Mgimo, na sigla em russo), Mikhail Vladímirov.

Isso torna a possibilidade mais improvável, já que um conflito entre duas potências nucleares é indesejável.

Dessa forma, segundo o analista, o abastecimento dos oponentes de Assad não terá resultados, já que não mudará o balanço de forças no conflito enquanto a aviação russa estiver destruindo os combatentes por via aérea.

3. Êxitos do exército de Assad

Livres, após a decisão de Washington, das restrições existentes nos acordos de paz, os soldados de Assad, com o apoio da Rússia, poderão obter importantes êxitos, derrotando seus oponentes em Aleppo, mesmo que esses contem com o auxílio de Washington e sua coalizão.

Ao conseguir o controle sobre essa cidade, tão importante na Síria, o exército sírio começaria a atuar na província de Idlib, de acordo com Vladímirov.

Mas só um posicionamento dos grupos sunitas predeterminaria a vitória de Assad, segundo o cientista político.

Se, pelo menos, parte deles, vendo o êxito de Damasco, fechar acordos de paz com Assad, então o conflito irá se exaurir. Se não, “dez anos de guerra aguardam a Síria”, arremata.

ALEKSÊI TIMOFEITCHEV

Edição: Konner/Plano Brasil

Fonte: Gazeta Russa

10 Comentários

  1. Prever o cenário de conflito Rússia-EUA é surreal mesmo levando os melhores cenários em conta, valendo da premissa que nenhum país se envolveria diretamente, talvez a Turquia se aproveitaria da ocasião para avançar em território sírio, ao mesmo tempo que Arábia Saudita investiria pesado no armamento dos rebeldes, mas em contra partida o Irã entraria com homens de forma pesada nas fileiras sírias – como já tem feito subliminarmente.
    Acredito que seria um confronto sem precedentes, mas que seria mascarado pela mídia a fim de não abrir um conflito em escala global, tanto para não envolver a OTAN (o que acabaria gerando a utilização de armamento nuclear de ambas as partes) como também para não abrir premissas de outras nações começarem um conflito com seus rivais na busca de interesses, pois esse cenário acaba por provocar esse tipo de reação.
    Tenho minhas duvidas, principalmente na questão israelense, que devido a dependência de manter a reciprocidade com os russos se veriam forçados a não agir de forma aberta, o que deixaria os EUA quase sem porto para manter um conflito, pois Arábia Saudita não entraria de forma alguma no conflito para não ter que encarar uma frente contra os russos e iranianos, tirando os iemenitas que somariam as fileiras, seria um inferno em Dubai, e o mesmo vale pra Turquia, que ganharia muito mais ficando quieta, logo, não vejo vantagens dos EUA tentar abrir um conflito direto com os russos na Síria, são muitos fatores negativos, ganham mais fomentando os rebeldes e armando os terroristas do Daesh como eles vêm fazendo.

    • Concordo, o terreno é favorável aos russos, provavelmente seria suicídio se as monarquias do golfo apoiassem os EUA com a logística necessária, só o Yemen com os Houthis e o exercito do antigo presidente tem pelo menos 200 mil soldados que precisam desesperadamente de uma potencia para livrar eles do cerco marítimo, imagine agora somando os xiitas iraquianos, iranianos e as minorias do golfo também, a arabia saudita não ia durar um mês, e a capacidade de produção de petróleo poderia ser mantida, dessa forma a aliança Pro-Síria teria controle de pelo menos 40-50% do petróleo extraído no mundo.
      A Turquia com Erdogan e todos seus problemas também não seria louca, isso só daria mais possibilidades para Russia explorar mais táticas geopolíticas e apoio a insurgência.

    • Caro Arc

      Concordo com suas palavras.
      Isso está me lembrando a WWI.
      Arc eu tenho um grupo no WhatsApp que debate aviação e geopolitica, estou te convidando para participar, só mandar seu numero para meu email que te add
      richardjoliveira@hotmail.com

      Sds

  2. Na minha opinião, os EUA vão começar a fornecer armas anti aéreas para os terroristas para tentar incapacitar a Força Aérea da Síria e intimidar a Rússia também.Porém, isso é muito perigoso, pois se os EUA começaram a fazer isso, a Rússia pode devolver na mesma moeda fornecendo mísseis anti aérea para os rebeldes do Iêmen e para Talibã também no Afeganistão. Claro que os EUA podem ameaçar com mais sanções, mas não terão moral para isso. Sem contar que PKK pode receber armas anti aérea também, que seria um inferno para Força Aérea Turca.
    È um cenário muito perigoso e imprevisível….

  3. Senhores, eu nem me arrisco a dar palpite mais! Nesta novela tivemos: abate de Su-24 Russo, bombardeio Russo sobre rebeldes pró-ocidente, bombardeio das forças do ocidente sobre o exército Sírio e agora ruptura entre Moscou e Washington… Não me assustaria ver na semana que vem, por exemplo, algum encontro entre líderes com direito chá da tarde e bate-papo….

  4. Os rebeldes estão ficando contra a parede, o Flop esta na mesa, vamos ver quem tem as cartas na manga ou blefe bem aplicado.

  5. A Terceira Guerra Mundial prestes a eclodir e a Imprensa Mundial nem aí. Claro, eu até entendo que existem outras notícias mais importantes para divulgar, tais como que roupa a Rihanna usou em determinado evento, mas acho que caberia ao menos uma pequena nota sobre isso, não acham?

    E tem gente que ainda duvida quando questionamos a integridade e parcialidade da imprensa mundial controlada pelo Ocidente. Veja, Estadão, Folha, Globo, BandNews, tudo farinha do mesmo saco, tudo fala a mesma língua.

Comentários não permitidos.