O “novo” Brasil e a Rússia estão fadados à parceria

A dramática substituição do mais alto escalão de poder no Brasil terá, inevitavelmente, um impacto significativo não só sobre as políticas internas, mas também sobre a política externa do maior país da América Latina.

No decorrer dos próximos dois anos que faltam para as eleições presidenciais, Michel Temer terá que resolver, em primeiro lugar, as complexas questões nacionais herdadas dos governos de esquerda, primeiro o de Luiz Inácio Lula da Silva e, em seguida, o de Dilma Rousseff.

Ambos fizeram muito em benefício das camadas mais pobres da população, mas, ao mesmo tempo, e quase que inevitavelmente, pioraram a condição dos ‘livros contábeis’ do Estado.

No entanto, o papel cada vez mais ativo desempenhado pelo país-continente sul-americano na arena internacional irá obrigar o Itamaraty a, no mínimo, não reduzir o ritmo de atividade nos principais seguimentos.

Isso se refere não só aos vetores tão tradicionais da diplomacia brasileira, como América Latina e Estados Unidos, mas também à cooperação no âmbito da associação Brics, na busca comum da construção de um mundo multipolar.

No atual contexto de crise econômica global, queda dos preços do petróleo e de outras matérias-primas, ascensão do terrorismo internacional e instabilidade política em muitas regiões do planeta, a influência desse grupo só tende a aumentar.

Pela lógica, visando os interesses de ambos os países, a parceria entre Brasília e Moscou também deve se desenvolver. Ao longo dos últimos 15 anos, aproximadamente, as relações bilaterais se desenvolveram sobre uma sólida base comercial e econômica que é complementada pela cooperação no campo da alta tecnologia, incluindo os setores de energia, espaço, telecomunicações e militar.

Um dos frutos dessa cooperação foi, por exemplo, a permanência do primeiro astronauta brasileiro em órbita ao redor da Terra (em 2006, Marcos Cesar Pontes viajou até a Estação Espacial Internacional em uma missão que durou 10 dias).

Bom, mas pode ser melhor

O presidente russo Vladímir Pútin fez uma visita ao Brasil em 2014, e, no ano seguinte, os líderes dos dois países assinaram um acordo de parceria estratégica em Moscou que, desde então, confere uma importância política especial para as relações bilaterais. Desde 2010, o regime de isenção de visto vigora entre os dois países, embora seja preciso reconhecer que o intercâmbio de turistas, por enquanto, não é grande.

Uma etapa mais ampla de cooperação em muitas áreas está delineada nos acordos firmados pelos respectivos chefes de Estado em julho de 2014, em Fortaleza, à margem da cúpula do Brics.

Em resumo, é possível observar com satisfação que, comparadas às relações entre Brasil e União Soviética, que em sua maioria possuíam caráter formal e basicamente se limitavam ao comércio de petróleo e produtos agropecuários, as estáveis relações do Brasil com a nova Rússia apresentam melhorias significativas.

Seu potencial, no entanto, ainda está longe de ser plenamente aproveitado, fato que é reconhecido de modo autocrítico dos dois lados do Atlântico. A experiência de cooperação acumulada pelos dois gigantes pode e deve ser propagada em novas esferas de interesses mútuos.

Os brasileiros possuem know-how avançado, especialmente em agropecuária, indústria automotiva, e extração de petróleo e gás natural em águas profundas. Mas também existem muitas coisas úteis que eles podem aprender com os russos.

É lastimável que, no momento, muito pouco seja feito em áreas tão importantes como investimentos mútuos, cooperação entre grandes universidades e intercâmbio cultural. É verdade que, hoje em dia, toca-se com frequência música brasileira nas rádios russas (o autor destas linhas se orgulha do fato de que, no âmbito do programa de rádio “Globo Musical”, ainda no distante ano de 1980, apresentou aos ouvintes soviéticos pela primeira vez o trabalho de Beth Carvalho, Alcione, Chico Buarque, Gilberto Gil, Roberto Carlos e outros cantores populares daquela época. E a repercussão entre o público soviético foi enorme!).

Por outro lado, pouco se conhece na Rússia sobre o teatro, o cinema e a pintura produzida no Brasil – também a arquitetura, na qualidade de legado do grande Niemayer, merece um olhar mais atento. Os dois países tem ainda o que compartilhar na área dos esportes.

Na Rússia ainda não foi esquecida, e até hoje é apreciada, a posição do Brasil há 36 anos de se recusar a participar do boicote à Olimpíada de Moscou,, apesar da forte pressão de Washington. É claro que enormes distâncias separam os nossos países, mas nem isso impediu que trocassem missões diplomáticas ainda no ano de 1828.

Política da paz

Um conservadorismo saudável distingue, por tradição, a política externa do Brasil. O Itamaraty persegue de forma metódica seus objetivos prioritários, quase que independentemente da “cor” do governo que se encontra no poder. Dentre esses objetivos os mais importantes são a paz, o desenvolvimento e a cooperação, que coincidem com o slogan inscrito na bandeira nacional: “Ordem e Progresso”.

Mantendo-se fiéis a uma política externa em prol dos interesses nacionais, os profissionais que trabalhavam no austero Palácio rodeado por um espelho d’água procuraram encontrar possíveis pontos de convergência com as posições de Moscou mesmo durante a Guerra Fria.

Segundo o ex-ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, um diplomata brilhante com quem tive a oportunidade de me relacionar durante os briefings diários, ainda na época em que ele era assessor de imprensa desse órgão, “a parceria entre a Rússia e o Brasil tende a se desenvolver no âmbito político da coordenação de esforços em resposta a desafios como a necessidade de desarmamento, reforma e fortalecimento do papel da ONU, luta contra o terrorismo e o crime organizado e, acima de tudo, consolidação da paz, da democracia e do respeito pelos direitos humanos”. Hoje, isso parece ainda mais relevante.

Em sua busca por um lugar na ONU na qualidade de membro permanente do seu Conselho de Segurança, por exemplo, Brasília está contando com forte apoio de Moscou.

Além disso, em relação à maioria dos mais importantes problemas da atualidade, os interesses geopolíticos da Rússia e do Brasil coincidem ou estão próximos, devido a uma série de circunstâncias objetivas.

Os turbulentos eventos que aconteceram no mundo nos últimos anos apenas reiteraram a importância da cooperação entre os dois países-continentes na arena internacional, tanto em nível bilateral, quanto no âmbito do Brics. A este respeito, é igualmente importante o fato de que para a Rússia o Brasil foi e continua sendo um “interlocutor privilegiado” na América Latina.

Guennádi Petrov

Foto: AP

  • Guennádi Petrov é ex-chefe do escritório da agência de notícias TASS em Cuba, Brasil e Portugal.

Fonte: Gazeta Russa

 

15 Comentários

  1. Vamos ver SE o Itamaraty ….
    ___________________________________________________
    Athos – O assunto é: “O “novo” Brasil e a Rússia”.
    Não mude o foco!! – Plano Brasil

  2. Não há como acessar os mercados latino americanos se o Brasil não der o crivo, por mais duvidoso que isso pareça, até mesmo EUA teria dificuldades se nosso país assim o quisesse, todavia vale lembrar que assim também o é para os mercados de alguns países do Oriente médio e ásia, se não tiver o criso da Rússia não entra, logo, manter relações amistosas com a Rússia é sinônimo de progresso.

  3. Acredito que as relações entre Rússia e Brasil melhorem com o novo governo, visto que as relações internacionais voltaram a ser valorizadas novamente.
    Podemos cooperar bastante na área das engenharias civil, mecânica, naval e claro aprofundar mais o comercio visto que o protecionismo do passado recente impedia
    a entrada de produtos russos no Brasil e a consequentemente a entrada de produtos
    brasileiros na Russia

  4. Kkkkkkkkkkkkkkkk

    Primeiro o golpista foi beijar a mãozinha dos chineses

    E agora isso

    Rapaz…. Eu queria ver muito a cara dos trilogiopatas viu

  5. O ” novo ” brazil só esta fazendo o mesmo pragmatismo na sua política com os russos e chineses ….que tantos os golpistas criticavam lá na FIESP .. só.
    .
    Antes do LULA …(democraticamente eleito para ser o presidente do BRASIL) …. a politica externa brazileira era que nem uma mosca varejeira …. voando entorno dos EUA..rsrs ..o máximo que o Chanceler fazia …. era tirar o sapato para entrar nos EUA.
    .
    Quando o LULA na presidência .. se deu uma guinada para o Oriente com parceria estratégica no comércio com a China e a Russia .. basta lembrar que o primeiro ministro da defesa do BRASIL fora um diplomata que conhecia muito bem a Rússia.
    .
    O caminho da seda foi aberto pelo governo LULA e hoje os golpistas estão hipocritamente cuspindo no prato que comem .. só mente isso … o quê o usurpador faz é o certo …. em ir onde há desenvolvimento pleno que não estacionou .. está se movendo que nem uma locomotiva como se fosse um dragão .. ainda..

    • Abre o olho meu querido, vai ficar seguindo cartilha do PT até quando, lula dilma são tudo marionete da mesma cartilha comunista, o Brasil não é e nunca será! não adianta espernear… É … É INCOMPETÊNCIA ISSO SIM!!

      • Sr AWM infelizmente nāo ė so o PT.. LULA e DILMA que sāo marioneta de Cartilhas.. Espero que o TEMER nāo seja outra marioneta.

    • Como filho de funcionarios do Itamaraty, eu posso falar melhor sobre isso, e ao menos as pessoas devrriam se dar o trabalho de ler sobre a história do Itamaraty, e que ele sempre foi independente. Basta lembrar que em 1975, em pleno governo militar, nos abrimos uma embaixada em Pequim. Que também, aconselhamos a reconhecer o Governo de Angola, que havia.conquistado sua independencia de Portugal, através de uma guerrilha socialista. Sem contar o episódio da libertação dos.refens brasileiros no IRAQUE. Toda a.história desse casa é baseada na sua independencia de ideologia partidarias e de governos, visando apenas os interesses da nação. Somente o PT tentou politizar a instituição e como todos.se lembram, através de.um político que nada tinha a.vez.com o quadro interno da casa, e ai fomos chamados de anão diplomatico. O ITAMARATY FOI SEMPRE RECONHECIDO COMO UMA GRANDE INSTITUICAO PELOS MEIOS DIPLOMATICOS INTERNACIONAIS
      APREDENDO SUA.HISTÓRIA BRASILEIROS, ANTES.DE.CRITICAR.

      • Caro Ricardo,
        Qual a respeitabilidade de quem chamou o Brasil de “anão diplomático”?

        Que o Itamaraty é competente,isso todos nós concordamos.
        Mas dizer que não há ideologia nas relações exteriores…?
        Sempre há! Em qualquer época,em qualquer lugar. Não existe
        essa”neutralidade” ideológica. A atuação só é técnica após a definição
        de diretrizes.Que são sim ideológicas.Ou você acredita que a atuação do Departamento de Estado Americano é desideologizado?
        A não ser que você considere ideologia o que a esquerda(e o PT) pensam ,
        e decisão técnica as idéias e ações da direita.
        O que pode(e deve ter) é um cuidado do governo(qualquer um!) que estiver no poder em não distanciar-se de premissas básicas que estão expressas na Constituição(e,portanto ,fazem parte de consensos primordiais da nação ).

        Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

        I – independência nacional;

        II – prevalência dos direitos humanos;

        III – autodeterminação dos povos;

        IV – não-intervenção;

        V – igualdade entre os Estados;

        VI – defesa da paz;

        VII – solução pacífica dos conflitos;

        VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;

        IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

        X – concessão de asilo político.

        Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

        Onde o PT,no poder,quebrou essas regras? Quem é esse “político” alheio à casa? Seria o Celso Amorim?
        Um exemplo: Durante esses anos no governo,Lula e Dilma tiveram a companhia de governos reconhecidamente de direita na Colômbia.Apesar disto,mantiveram relações amistosas e,até cooperativas entre eles. Quando eles deram alguma declaração agressiva com relação ao governo colombiano sequer parecida com as que o “grande diplomata” José Serra já deu com relação à Venezuela?
        Diga-me,caro Ricardo : onde está,então a “politização” das relações exteriores?

  6. O Brasil tem tudo para ser uma potencia em todos os niveis da America do sul.
    Mas grande parte dos politicos Brasileiros seja da direita esquerda ou centro sao apenas marionetas paus mandados de grandes camarilhas.
    Nāo adianta dizer a culpa ė desse ou daquele partido todos servem o interesse de grandes camarilhas. Enquanto o Brasil viver de ideologia de capacho de Americano Russo Chines e Europeu nada vai mudar. Nos EUA nāo ha partidos Comunistas e tem corrupçāo. Na China nāo tem Partido Republicano nem Democrata tem corrupçāo. Na Europa ta cheio partidos comunistas ..socialistas ..democratas..de extrema direita e tem corrupçao. Por isso meus srs a culpa nao sao dos partidos mas sim as pessoas os politicos. E so ver o Senado e congresso Brasileiro 85% e corrupo ou esta ligado de alguma forma a corrupcao. De dia brigam de noite jantam juntos fazem parte de sociiedades secretas.

  7. O golpista do lado do putin e igual a um amador ……olha o sorriso irônico do putin…..kkkkk… nao tem preco!!!!!!!

    • Pena que o Brasil vende mais para a Rússia do que compra de volta.
      Se Puitn não gostar é pior para ele, e não para o nosso país.

      O maior interessado em cooperar são russos, não entendeu?

      • Se o Brasil vende mais para a Rússia do que compra, se rompermos relações quem perde mais é o Brasil. Ou você acha que o que eles compram de nós não poderiam comprar de outros? Fico impressionado com o seu nível de inteligência, Deagol.

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