Em entrevista na Turquia, o vice-presidente do Partido Democrático dos Povos (HDP) disse que a operação na fronteira turco-síria tem como objetivo atacar curdos.
O político curdo, Idris Baluken, acredita que a luta contra o grupo terrorista Daesh (proibido na Rússia) seria somente um pretexto usado pelo governo turco para justificar suas ações para a comunidade internacional.
“As ações das tropas turcas são destinadas para ganhar tempo e oferecer a possibilidade aos grupos terroristas na Síria, especialmente ao Daesh enfraquecido, de ganharem forças,” disse.
A Turquia nega tais declarações, reforçando que a operação busca somente acabar com atividades terroristas no território sírio, tendo os curdos como uma das “ameaças”, declarou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sobre a operação.
“Com o início da operação em Jarablus a Turquia de fato assumiu uma posição na guerra síria. Erdogan e o AKP [Partido turco da Justiça e Desenvolvimento] puseram, de forma premeditada, a Turquia no inferno da guerra devastadora na região do Oriente Médio”, acrescentou Baluken à Sputnik.
O especialista e político sublinhou também que a questão do possível início da operação nunca foi discutida pelo Parlamento, já que ele atualmente está em recesso. Balunken acha que “o partido no poder [da Turquia] aproveitou esse momento para enviar tropas à Síria”.
As autoridades da Turquia informaram que a saída do território sírio ainda é incerta: as unidades turcas vão permanecer na Síria até que as forças do Exército Livre da Síria tomem o controle da situação.
De acordo com o entrevistado, a violação da soberania de um país e a entrada de tropas estrangeiras são medidas que acarretam em consequências graves se for levado em consideração o direito internacional.
“As consequências pelo passo dado pela Turquia podem ser muito graves”, sublinhou.
O político curdo espera que a Turquia mude sua posição “antes que seja tarde demais”.
Foto: © Sputnik/ Hikmet Durgun
Fonte: Sputnik News
Turquia amplia ofensiva na Síria
Tanques turcos cruzam a fronteira com a Síria para dar apoio à operação Escudo do Eufrates.
Após expulsar o EI de cidade estratégica na fronteira com o país vizinho, tropas turcas prosseguem com os avanços em solo sírio para forçar o recuo de milícias curdas para a margem leste do Eufrates.
No dia seguinte à tomada da cidade de Jarablus por grupos rebeldes sírios, mais dez tanques de guerra turcos, acompanhados de outros dez veículos armados, cruzaram a fronteira do país com a Síria, reforçando a ofensiva contra alvos da organização extremista “Estado Islâmico” (EI) na fronteira.
Os tanques se juntaram nesta quinta-feira (25/08) a um contingente de outros 12 blindados que já estavam em solo sírio desde o dia anterior, como parte da operação batizada de Escudo do Eufrates. Foi a intervenção turca que, dentro de horas, permitiu que rebeldes capturassem a cidade, último bastião do EI na região.
A ofensiva marca a primeira vez em que forças turcas apoiadas pelos Estados Unidos atravessam a fronteira com o país vizinho para intervir contra o EI, além de agir também contra milícias curdas na região.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, os rebeldes sírios que tomaram Jarablus avançaram mais dez quilômetros ao sul da cidade, na fronteira entre a Turquia e a Síria. Ao mesmo tempo, forças curdas ganharam 8 quilômetros de território rumo ao norte, numa aparente tentativa de evitar os avanços dos rebeldes.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, disse que, após o êxito em Jarablus, as forças turcas deverão continuar suas operações na região, numa tentativa de forçar o recuo da milícia curdo-síria Unidades de Proteção Popular (YPG) para a margem oposta do rio Eufrates.
O principal objetivo da operação era evitar que a população de Jarablus fosse liberada do “Estado Islâmico” por milícias curdas, que avançam e poderiam criar um corredor curdo na fronteira.
A Turquia está atenta aos ganhos territoriais dos curdos na guerra civil da Síria e teme que isso possa inflar o movimento separatista da minoria curda em seu território. Curdos estabeleceram três zonas autônomas no norte da Síria desde que a guerra civil eclodiu, em 2011. Eles negam, porém, que estejam tentando fundar um Estado próprio.
“Nosso acordo com os EUA estabelece que os curdos em Manbij e região devem se retirar para a margem leste do Eufrates”, afirmou Yildirim.
O ministro turco da Defesa, Fikri Isik, disse que o desejo de Ancara é atingir esse objetivo dentro de uma semana. Segundo afirmou, nenhuma baixa foi registrada nas forças turcas que realizaram a “limpeza” dos membros do EI de Jarablus.
Segundo o colunista Abdulkadir Selvi, do jornal turco Hurriyet, a operação visa criar uma zona livre de grupos terroristas e limitar os avanços das milícias curdas. Ele afirma que 450 soldados turcos entraram no território sírio no primeiro dia da ofensiva, e que esse número poderá aumentar para 15 mil. O jornal, citando fontes militares, diz que cem militantes do EI teriam morrido durante os combates.
Manbij foi libertada recentemente das mãos do EI por uma aliança liderada pelo YPG. Nesta quinta-feira, o grupo curdo afirmou as milícias que haviam tomado a cidade retornaram às suas bases após o término da missão.
Em comunicado, o YPG diz que o comando militar e todas as posições tomadas foram entregues a um conselho militar local, enquanto o controle da cidade havia sido transferido para um conselho civil no dia 15 de agosto.
No comunicado, o YPG afirma que os conselhos militar e civis de Manbij são formados por pessoas locais. O grupo, porém, não mencionou a localização de suas bases.
RC/afp/rtr
Fonte: DW
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