Governo da Alemanha teme por conflito híbrido e recomenda estocar alimentos para 10 dias

Vinte e cinco anos depois do fim da Guerra Fria, a Alemanha decidiu adotar um novo plano de defesa civil.

Ele inclui instruções para que a população estoque comida e água suficientes para vários dias, pensando na eventualidade de uma agressão militar convencional, mas também em hipotéticos atentados terroristas, grandes catástrofes naturais, guerra cibernética e ataques químicos, biológicos ou atômicos.

“É pouco provável um ataque contra o território da Alemanha que exija o uso dos mecanismos de defesa convencionais”, observa o relatório redigido pelo Ministério do Interior alemão, “mas o país deve estar suficientemente preparado para a possibilidade de que uma ameaça se concretize”.

Uma das medidas propostas é a recomendação de acumular reservas de água suficientes para cinco dias, ou seja, cerca de dois litros por dia por pessoa. No caso dos alimentos, a recomendação é de um estoque para 10 dias. O plano contempla situações de emergência em caso de interrupção do fornecimento de água ou eletricidade, e uma série de medidas em caso de ameaça química, atômica ou biológica ou de ataques cibernéticos.

O novo plano, divulgado nesta quarta-feira em Berlim pelo ministro do Interior, Thomas de Maizière, enfatiza a provisão de medicamentos, os planos de urgência em caso de interrupção do abastecimento de água e luz e medidas de proteção contra um eventual ataque com armas químicas, biológicas e radioativas. O documento também prevê orientações para a retirada maciça de população, abrigos de emergência, medidas para obter dinheiro em espécie e a proteção de bens culturais.

Segundo Maizière, o novo Conceito de Defesa Civil vem substituir um plano “absolutamente obsoleto”, que datava de 1995. “Trata-se de um plano razoável e proporcionado para antecipar cenários catastróficos. Devemos nos preparar para uma grande crise”, disse o ministro. “É obrigação do Estado prever e estar preparado para agir diante de qualquer tipo de ameaça.”

O plano de 1995 havia sido elaborado num contexto de distensão após o final da Guerra Fria, razão pela qual dispensava várias medidas de proteção. Mas os atentados de 2001 em Nova York e uma grande catástrofe natural que atingiu o país em 2002 levaram as autoridades a idealizarem novas medidas de segurança.

Em 2012, o ministro do Interior e seus homólogos estaduais retomaram a redação de um novo plano de defesa civil, que levaria quatro anos para ser concluído. O novo documento foi criticado pela oposição, e o Partido Verde acusou o Executivo de alimentar o medo na população. “Tudo isto não é senão uma propaganda populista que joga com os medos da população e só gera uma maior insegurança”, declarou o deputado verde Konstantin von Notz.

Mas a população não se deixou impressionar pelas novas medidas. Durante um breve percurso por um movimentado supermercado de Berlim, várias pessoas admitiram que o estoque de mantimentos não era razão para pânico, e muitas donas de casa consideraram a medida desnecessária. “Eu tenho mantimentos para dois meses em minha casa”, disse uma mulher, segundo quem várias amigas suas também fazem esses estoques.

O principal temor do Governo, segundo o ministro Maizière, é um conflito híbrido que envolva Governos nacionais e terroristas, com uma mistura de ataques cibernéticos, propaganda e agressões militares. Um dos setores mais vulneráveis, segundo o ministro, é o energético.

“Posso imaginar que uma mistura de grupos e Estados tenha interesse em testar, alguma vez, até que ponto a sociedade alemã é resistente e adaptável à dependência do fornecimento de energia”, disse o ministro.

ENRIQUE MÜLLER

Edição/Imagem: Plano Brasil

Fonte: El País