Turquia deve ficar de fora da UE

Não há lugar para autocracias na União Europeia. O bloco pode se poupar a trabalhosas negociações para a adesão da Turquia de Erdogan e se despedir de uma ilusão.

O chanceler federal da Áustria, Christian Kern, meramente articulou aquilo que há muito está claro para todos os políticos responsáveis, também na central da União Europeia (UE) em Bruxelas: é hora de encerrar as negociações com a Turquia para uma adesão ao bloco europeu.

Provavelmente elas já estavam condenadas ao fracasso desde seu início, em 2005. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, admite, pelo menos, que por alguns anos Ancara ainda não estará pronta para o ingresso.

Onze anos atrás, os Estados-membros da UE ainda tinham esperança de que, no prazo de uma década, o então primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, na época pró-Europa, conseguiria guiar o país de fundo islâmico para dentro da comunidade europeia, como uma democracia moderna e economicamente ascendente. Quanto ao credo que Erdogan difundia, já na época, de que um dia a Turquia dominaria a UE, a opção foi intencionalmente ignorá-lo.

Hoje a esperança se desfez. Erdogan transformou-se de reformador em presidente autocrático, que mina o Estado de direito, restringe a liberdade de imprensa e de opinião e que recentemente, a custa de decretos de estado de emergência, prepara a definitiva transformação do Estado turco em regime presidencial. Seus anúncios de futuras “faxinas” sociais fazem temer o pior.

Erdogan e o Estado criado por ele não estão, realmente, prontos para ingressar na UE. Ele nem tem vontade de entrar: bem antes do golpe de Estado fracassado, Erdogan já dizia, em 2014, que “tanto fazia” se a UE aceitaria ou não a Turquia. Na época ele acabara de mandar prender jornalistas malquistos, com a assistência de uma Justiça submissa. E a UE que não se metesse: ele não dava a mínima para os valores europeus, disse.

Ainda assim, a União Europeia se aferra à decisão, tomada certa vez, de realizar negociações sobre uma eventual filiação, com resultado em aberto. Por que isso, afinal de contas, se todos sabem que elas jamais resultarão no ingresso turco? Não seria mais honesto fazer tabula rasa, como reivindica o premiê austríaco?

Uma ampliação da UE naturalmente sempre envolve dois lados. Também seria honesto dizer que hoje o bloco não está em condições de receber Ancara: tal representaria para ele uma sobrecarga tanto econômica quanto institucional.

Mas também em vários dos 28 Estados-membros é extremamente reduzida a disposição de aceitar 80 milhões de cidadãos de outra esfera cultural. Na Alemanha, a base conservadora da União Democrata Cristã (CDU), liderada pela chanceler federal Angela Merkel, é rigorosamente contra ter a Turquia como membro de pleno direito.

O próprio presidente Erdogan se queixou dos europeus que não querem aceitar os turcos por estes serem muçulmanos. Certamente aí há um quê de verdade. Acima de tudo, os cidadãos da UE céticos não iam querer ter nenhum turco que – como Erdogan – considera o islã uma ideologia superior, desprezando o bloco nacional europeu como “clube dos cristãos”.

A adesão turca precisaria ser ratificada por cada um dos Estados-membros, em parte em referendo. Aí a perspectiva de uma decisão positiva é muito reduzida, mesmo. Por isso, está mais do que na hora de ambos os lados acordarem sobre uma nova meta para suas negociações. Uma cooperação econômica intensificada e uma parceria de segurança no combate ao terrorismo são os complexos temáticos que mais interessam a ambos.

Há muitos anos não ocorrem, de fato, mais conversas sobre uma filiação – a rigor, elas nunca se iniciaram. O motivo é que desde 2005 Ancara se recusa terminantemente a aceitar a presença do Chipre na UE.

Desrespeitando o direito internacional, os turcos mantêm ocupado o norte da ilha, e todos os esforços no sentido de resolver esse problema falharam, até agora, sobretudo devido à resistência turca. Não há qualquer sinal de que o nacionalista Erdogan vá ceder nesse ponto. Isso já é motivo suficiente para privar de sentido qualquer conversa de adesão.

O enterro formal das negociações exige uma resolução dos chefes de Estado e governo da União Europeia – coisa provavelmente difícil de alcançar. As perspectivas de filiação da Turquia há muito estão mortas. Infelizmente o país se afastou da UE. O belo sonho de uma Turquia europeia estourou como uma bolha de sabão.

Bernd Riegert

  • Bernd Riegert é correspondente da DW em Bruxelas

Edição/Imagem: Plano Brasil

Fonte: DW

6 Comentários

  1. COM EDORGAN, JÁ VAI TARDE… melhor para o mundo… menos um país com governo internacionalista dito democrata e mais um país com governo nacionalista… os planos da NOS não estão dando muito certo ultimamente… a mão de Deus agindo na história… 🙂

  2. Há algo podre no reino da UE … ( desculpe-me Shakespeare em usar a sua celebre frase em Hamlet …. ” Há algo de podre no reino da Dinamarca” ” ) .
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    Até parece que o farizeísmo com as suas notáveis hipocrisias barata … é algo epidêmico de escala planetária .. rsrs .. até parece uma infestação pulgas em gaiola de macaco … e em frenesi ..cada macacada fica coçando às costas do outro .. 😉
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    Não é muito difícil de não comparar , de uma certa forma , as pretensões da Ucrânia e da Turquia para ingressar na UE .. um bloco que os britânicos rejeitaram .
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    Aliás .. o governo da Turquia…do autoritário e golpista do Erdogan e do chocolateiro pau-mandado da Ucrânia .. Petro Poroshenko e a sua elite de nazistinhas … que até pouco tempo andavam de mão dada para ferra os russos , com as simpatia da OTAN .. não difere muita coisa não .. é trocar seis por meia duzia . 😉
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  3. Só lembrando aos neo-fariseus … que o malvado e autoritário Erdogan que a mídia do sistema perverso do ocidente tanto critica … é o mesmo Erdogan quando era recebido de braços aberto nas melhores Maison da aristocrática e corrupta elite europeia e americana .
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    A questão é .. o quê levou Edorgan mudar em 180° a direção da sua política externa ? … deve ter muito dinheiro e poder em jogo, com certeza .
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    .Lembre ! … todo golpista sempre mostra o seus verdadeiros motivos animalesco para o mundo .. são lobos em pele de cordeiro … esse filme de lobo em pele de cordeiro está passando em todo lugar ..rsrsr ..inclusive nos melhores centros urbanos dos trópicos .. a coisa só tende a piorar .. deve ser por isso que chamam essa era de Kali yuga ….. a era do ferro .

  4. O contexto historico Turco impede sua adesão na UE, Eles já foram um imperio [o Otomano que tras aos Europeus pessimas lembranças – basta ver o genocidio de Armenios, que é negado] e não vão querer ficar sujeitos a vontade de Alemães e Franceses que tem muitos interesses sobrepostos. A mesma situação vive a Inglaterra, outro que um dia já foi um grande imperio e hoje ve dia apos dia sua influencia diminuindo, mas sabe ainda o peso que tem e teve.
    O ex-imperio é como o ex-rico que gosta de manter as aparencias, come cove e sai arrotando caviar.
    Sds

  5. A União Europeia é um barco furado, que independente do tempo que leve, um dia vai afundar, a Turquia tem potencial para trabalhar com todos os lados sem fazer votos de fidelidade a ninguém, não entrar na UE é a melhor opção.

    • Concordo contigo ARC.A Turquia pode caminhar sozinha com suas próprias pernas sem depender da UE. È um país que fica numa posição estratégica ,que tem possibilidade de relacionar bem com todo mundo e lucrar muito bem em cima disso.

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