A Rússia e a expansão da OTAN para o Leste

Expansão da OTAN em direção ao Leste para a Rússia

Provocação do ponto de vista dos russos, imperativo de segurança na argumentação de antigos países satélites da União Soviética: expansão da OTAN para o leste é polêmica e muito criticada. Confira na coluna desta semana.

Para os russos, talvez seja mais uma provocação que o recente encontro de cúpula da OTAN tenha acontecido justamente em Varsóvia. Afinal, a aliança militar liderada pela antiga União Soviética, contraponto à OTAN, carregava justamente o nome da capital polonesa.

O Pacto de Varsóvia é história, e boa parte dos membros de então ingressou na OTAN. A expansão da Aliança Atlântica para o leste começou em 1999, com os ingressos da Polônia, da República Tcheca e da Hungria. Em 2004, seguiram-se Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia. Em 2009, a Albânia e a Croácia.

Esse processo, ainda em andamento, incomoda a Rússia, que o encara como provocação. Pelo artigo 5 da OTAN, o ataque a um país-membro é um ataque a todos. Se a Ucrânia fosse membro da Otan, a presença de tropas russas em território ucraniano seria automaticamente uma afronta a toda a aliança militar.

A proteção é o principal argumento de países do Leste Europeu para o ingresso na OTAN. Eles temem a Rússia e citam os recentes conflitos na Geórgia e na Ucrânia como exemplos.

Já a Rússia vê a expansão da OTAN como provocação, se não ameaça, e invoca um argumento controverso: durante as negociações que levaram à reunificação da Alemanha, em 1990, políticos ocidentais teriam prometido que a OTAN não ampliaria sua fronteira oriental.

Não existe um acordo conhecido que sustente essa afirmação, mas transcrições de conversas da época (por alguns anos secretas, mas hoje de livre acesso) mostram que diplomatas ocidentais de fato fizeram promessas nesse sentido para conquistar a anuência russa à reunificação alemã.

Em 2009, a revista alemã Der Spiegel publicou trechos de uma conversa entre o ministro alemão do Exterior, Hans-Dietrich Genscher, e o seu colega soviético, Eduard Shevardnadze, na qual o diplomata alemão fala claramente que a OTAN não vai se expandir para o leste. Promessa semelhante teria sido feita pelo então secretário de Estado dos EUA, James Baker.

A questão de por que a União Soviética não exigiu esse compromisso por escrito pode ser encontrada numa declaração de Shevardnadze, citado pela revista alemã: “No início dos anos 1990 ainda existia o Pacto de Varsóvia. A possibilidade de que a OTAN iria se expandir para países dessa aliança soava então absurda”.

Controvérsia à parte, vários historiadores, diplomatas e políticos americanos consideram a política de expansão oriental da OTAN um erro, argumentando que ela serve para acirrar tendências nacionalistas, antiocidentais e militaristas na Rússia.

Coluna Zeitgeist

Edição/Imagens: Plano Brasil

Fonte: DW

19 Comentários

  1. Infelizmente a OTAN está passando dos limites, forçando a Moscou ao rearmamento, principalmente de sua parte ocidental.
    Não tem sido respeitado nada além das próprias vontades dos governantes ocidentais, criam-se justificativas estapafúrdias para aumentar o bloco, não obstante colocam sistemas próximos da fronteira russa, sob alegações de “auto defesa”.
    Que a Europa se acostume, pois terá mais mísseis nucleares apontados para suas cabeças, e agora será de toda as partes, desde a Crimeia até Kaliningrado.

    • Meu caro respeito a sua opinião, mas não vejo a OTAN invadindo nenhum país limítrofe a Rússia, vejo sim os países do leste europeu tentando e se associando a OTAN temendo uma invasão Russa a seus territórios. Acredito que cada nação tem o direito de escolher que rumo dar as suas vidas, a quem querem se aliar ou até mesmo se espelhar, a Ucrânia um país soberano, teve uma parte do seu território extirpado pela Rússia, por tentar uma aproximação cultural e econômica com a união europeia.
      A Rússia deveria repensar seu papel no mundo como potência militar, cultural e econômica, do período da guerra fria e do comunismo, e dar as cartas como player mundial que é, respeitando primeiro os direitos individuais de seu povo, e em seguida respeitando a soberania das demais nações, e enterrar essa política de influência a força.
      A Rússia já conquistou parceiros estratégicos pelo globo, sem precisar dar um tiro se quer e nem mesmo ameaçar nenhuma nação.
      Sou um fã da história russa, e um entusiasta dos assuntos russos, mas não concordo com a posição da russa em alguns assuntos.

      Abraços

      • Caro Atirador 33;

        Eu concordaria com a sua opinião se não visse o mesmo movimento do lado contrário (desnecessário citar os movimento da aliança em relação ao OM e Leste europeu, só como exemplo).

        Particularmente (deixo claro que é minha opinião), não considero que a Rússia invadiu a Criméia (ex Ucrânia) visto que a mesma preferiu se tornar russa e que eu saiba (tenho certeza que seria muito bem demostrado pela mídia) não houve até o presente momento qualquer tipo de protesto ou descontentamento por parte da população local em relação ao referendo.

        Também “Acredito que cada nação tem o direito de escolher que rumo dar as suas vidas, a quem querem se aliar ou até mesmo se espelhar”, mas o mesmo enforque dado para a Rússia deveria ser dado para a OTAN (podemos citar a Líbia e a Síria como exemplo), no que tange a liberdade de escolha dos povos.

        Em meu ponto de vista, neste jogo nenhum dos dois lados estão corretos, e a relação entre eles é de perde x perde (e ganha mais quem perde menos), vejo os movimentos da Rússia em relação à expansão da OTAN para o leste como uma questão de física (ação e reação).

        Quem perderá menos neste jogo, só o tempo nos dirá.

        Grande abraço

        PS: Vaner Andrade e Vandrade são a mesma pessoa.

      • O que aconteceu na Ucrânia não foi invasão.
        O presidente reeleito em 2012, Víktor Yanukóvytch, ucraniano de etnia russa, negou um acordo com a união européia, tendo fechado no lugar um acordo com a Rússia de empréstimo bilionário e desconto no gás natural. Parte da população não gostou e partiu pra violência. Em fevereiro de 2014 Yanukóvytch saiu da Ucrânia por questão de segurança e os rebeldes pro-uniao européia junto com o parlamento, fizeram um julgamento do presidente por abandono do cargo. Os descentes russos da Criméia entenderam que issa era um golpe a eleição de 2012 e partiram pra violência, pedindo ajuda a Rússia, que passou a ajudar militarmente. Foi feito um referendo na Criméia para reanexar o território a Rússia e venceu a reanexacao. Lembrando que mais dá metade da população da Criméia é de origem russa. Então não podemos simplesmente falar em invasão Russa. A Rússia tinha interesses na Ucrânia: a base naval da frota do mar negro em sabastapol na Criméia e o fato de 80% do gás que é exportado da Rússia para Europa passar pela Ucrânia. Simplesmente não reconheceu o golpe e ajudou no processo de reanexacao da crimeia, não significando de fato uma invasão.

      • Willian,

        O fato da Crimeia ter cidadãos de origem étnica russa é um fator, no mínimo, questionável nesse caso… Os “russos” ( cidadãos que se declaram de etnia russa e/ou que falam russo, na verdade… ) são cerca de 58% da população. São maioria, mas estão longe de serem maioria absoluta. De fato, o lugar é uma concha de retalhos étnica, que somam também ucranianos, tártaros ( esses simplesmente odeiam russos ) e outros grupos menores…

        O referendo, feito em desacordo com o governo ucraniano, também acaba tendo um ponto falho ao não observar a lei ucraniana, sob a qual a Crimeia estava oficialmente submetida ( qualquer ato desse tipo deveria ter a aprovação do governo ucraniano )… Seria totalmente válido no sentido de consulta popular. Mas sem a aprovação de Kiev, ficou uma ponta de ilegalidade… Também fica clara a pressão russa nesse caso, certamente temendo perder seu rincão em Sebastopol, o que coloca em xeque a “vontade soberana” alegada pelos partidários pró-Russia.

        Seja como for, a questão da Crimeia é mais complicada que isso… Aquele território, de fato, já tinha uma autonomia própria ( mesmo que limitada ), com seu próprio governante e parlamento, o que significa que essa situação já era passível de ocorrer. E de uma forma ou de outra, o que está feito, está feito…

        O passo lógico seria trabalhar pela normalização das relações e a aceitação por parte da Ucrânia dessa situação, mas isso não será feito ( não por enquanto ao menos… ). A OTAN certamente teme que uma conciliação possa deixar os russos mais ousados com relação a outros países limítrofes do circulo de influência desta organização, que também detenham minorias russas.

      • RR,

        Qual a legitimidade do governo ucraniano? Expulsaram, praticamente, o presidente eleito em 2012. O que aconteceu na Ucrânia foi consequência da não aceitação de atos pró-Rússia realizados pelo presidente legitimo. Ele foi eleito justamente por ser pró-Rússia. O presidente antecessor era pro-uniao européia e não agradou os ucranianos. Outro catalisador da reanexacao da Criméia foi o fato de o parlamento ucraniano logo depois que depôs o presidente, decidir por não adotar mais a língua russa como uma segunda língua oficial. Uma ofensa. A maioria dos ucranianos também falam russo. O referendo da Criméia teve aprovação de 96,8%, com participação de 1,2 milhões de uma população de quase 2,0 milhões. Fica a pergunta, quem financiava essa população que se revoltou contra um presidente democraticamente eleito?

      • Willian…

        Se o presidente anterior tivesse realmente apoio popular, a situação não chegaria a esse nível… Seja como for, o atual governo é reconhecido como legítimo por quase todo o mundo. Os caminhos podem ter sido tortos, mas são irrefreáveis…

        As pessoas não precisam ser pagas pra se revoltar… Basta uma ocorrência que as deixe nervosas…

        Os que adotam o russo como língua maior predominam nos territórios limítrofes do leste e na Crimeia. No restante do país, eles são apenas uma fração, que decai a medida em que se vai para o oeste e para o norte.

        96,8% ( se é que esse números são mesmo confiáveis ) entre falantes de russos, no final das contas… A minoria tártara boicotou o referendo. E eles são parte significativa da população…

      • RR, A revolta foi promovida principalmente pelos neonazistas ucranianos. A vontade popular não foi respeitada, pois não respeitaram as eleições de 2012. O próprio Yanukóvytch foi derrotado em 2004 e nem por isso promoveu uma revolução armada. Ganhou democraticamente em 2012. O que acontece na Ucrânia hoje é consequência de um golpe. Não foi a Rússia que invadiu a Criméia. A Criméia fugiu da violência ucraniana nazista

      • Willian,

        Essa estória de neonazi ucraniano é conversa fiada… Fora uma meia duzia de fotos na internet ( de autoria duvidosa ) e uma sequência de matérias pró-separatistas jogadas ao vento e de argumentação extremamente fraca, não há nada que sustente que todo o levante foi de fato levado a cabo, ou mesmo motivado, por essa gente… Há sim o apoio ocidental, como não poderia deixar de ser ( já que temos sim um jogo de interesses ), mas isso está longe de neonazis…

        A única relação mais próxima do nazi-fascismo partiu do movimento de Stephan Banderas durante a Segunda Guerra, que era de caráter nacionalista, mas lutou basicamente por objetivos próprios, ora contra alemães, ora contra polacos, e ora contra russos… assim como outros movimentos em diversos países que pegaram gancho na onda hitlerista com vista a tomada de poder.

        Movimentos independentistas na história da Ucrânia remontam ao final do Império Russo, logo até ao ponto da Ucrânia ter sido um dos bastiões da resistência a expansão russa sob a URSS. Por tanto, já temos uma situação na qual a oposição ao interesse russo já era latente; uma situação “encubada”, esperando para acontecer.

        O que ocorreu, isso sim, foi um verdadeiro levante popular contra um governo que, embora democraticamente eleito, era impopular e manchado por corrupção, logo ao ponto de cerca de 50% da população apoiar abertamente os protestos, que tiveram sim ampla adesão, notadamente ao largo de Kiev, onde mais de 70% das pessoas eram favoráveis a mudança. Onde as mudanças eram impopulares ( assim como a assinatura do acordo com os europeus ), de fato, era no extremo leste do país e na Crimeia, onde a população é, ou majoritariamente falante russo, ou simpatizante da Rússia.

        Enfim, deve se falar com cuidado em vontade popular, pois a própria Ucrânia não tem uma verdadeira unidade nacional característica.

  2. Esse é preço de ser uma “Mafiocracia ” e ter um modelo econômico medíocre, ninguém consegue liderar apenas pela força por muito tempo e mais cria-se o risco de a própria pseudopotência se implodir de dentro para fora

  3. Incrível como a memória de muitos é fraca, me levando a preocupar-me com os mesmos, pois podem estar desenvolvendo problemas de memória, pois esquecer que a população da Crimeia pediu e solicitou ao governo russo para que intervisse na situação deles, e ocupasse seu território para assegurar a ordem no local é desonesto, não obstante, o mesmo povo pediu que fosse feito um referendo para reinserir a Crimeia ao território russo (isso mesmo REinserir, pois já pertenceu a administração russa na antiga URSS). O presidente Putin ainda reavaliou a situação, mas levou a cabo o referendo que gerou choro e ranger de dentes na Europa, que vale ressaltar, não tem dignidade legal alguma sobre a situação depois de apoiar grupos neonazistas nas manifestações sangrentas de Kiev. Não seria bom deixar de lembrar também aos esquecidos, que o governo ucraniano era legitimamente eleito, e o presidente eleito foi expulso um animal cachorro, tendo que fugir de uma população persuadida por propagandas e divulgações carregada de progranda anti-governo, fato inconteste, pois foi o próprio CEO da Ebay quem confessou que investiu a bagatela de 5 bilhões de dólares para colocar a Ucrânia contra a Rússia, a fim de separar os laços econômicos e comerciais entre os países. Como procuro ser ajudador, lembrarei também que o povo do leste ucraniano, mas diretamente as cidades de Lugansk e Donetsk pediram a Rússia apoio para rechaçar a horda ilegal e golpista que marchava de Kiev rumo a eles, e Moscou não aceitou anexar tais cidades pois não faziam e nunca fizeram parte da Rússia, respeitando assim a carta magna da ONU no que cerne ao direito territorial, a mesma carta que a Rússia respeitou no referendo da Crimeia. Seriam muitos pontos que precisam ser relembrados, mas jugo ter lembrado os mais importantes, que deixam claro como foi a história real daquele período não muito distante.
    Espero ter ajudado os esquecidos, e mais ainda, espero que sejam honestos ao lembrar dos fatos e corrigir suas posturas incorretas.

    • Muito bem lembrado. É só encarar que isso são fatos e não posição partidária/política. O governo ucraniano atual tem total apoio da Svoboda, partido neonazista ucraniano. Imaginem o parlamento ucraniano tendo que votar a destituição de um presidente eleito com uns malucos cercando o parlamento. Uma das coisas que fizeram também foi a derrubada de monumentos da antiga união soviética. É difícil para os nazistas lembrarem de quem realmente os derrotou.

      • O problema é que muitos tentam perverter a verdade dos fatos ocorridos, e nem citamos posicionamentos, não citamos o “eu acho, eu penso”, só colocamos os acontecimentos. A questão ucraniana já está mais do que saturada, o problema é que tem sempre alguém pra inocentar os culpados.

  4. Só odeiam admitir, os órfãos de Stálin e Lênin, que esses países se juntaram à OTAN por livre iniciativa de seus governos e vontade de seus povos. Os russos estão pagando pelo ranço ditatorial que sempre tiveram, profundamente enraizado em sua cultura desde os tempos dos Czar.

    • …………a Europa sofreu durante o século XX duas guerras mundiais com armamento convencional….se houver uma terceira guerra mundial esta poderá ocorrer novamente na Europa se bem que existe quem diga que será no Oriente tendo a China, Japáo e Estados Unidos como protagonistas….será uma guerra nuclear e se ocorrer na Europa, esta como a conhecemos desaparecerá de vez…..os países europeus que se aliaram aos EU por confiar em seu “guarda-chuva” nuclear num conflito, serão os primeiros a se ferrar porque o seu inimigo, a Rússia alí ha pouco mais de 100 kms tbm tem um arsenal atômico bastante numeroso em ogivas….os países da OTAN com sua agressão literalmente “dando um tiro no próprio pé”………..

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