OTAN determina reforço militar no Leste

Líderes da aliança transatlântica decidem posicionar batalhões na Polônia e nos países bálticos. Apesar da maior manobra desde a Guerra Fria, Aliança sinaliza vontade de manter o diálogo com a Rússia.

Os líderes da Otan decidiram nesta sexta-feira (08/07) posicionar quatro batalhões multinacionais na Polônia e nas três repúblicas bálticas como principal medida de reforço militar no leste da Europa. A Aliança Atlântica, por outro lado, sinalizou também que quer manter abertos os canais de diálogo com a Rússia.

“Mantemos nosso interesse em manter o diálogo com a Rússia. A Rússia não deve ser isolada”, advertiu o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em entrevista coletiva ao término do primeiro dia da cúpula, no qual foram formalizadas as decisões para continuar “o maior reforço da Aliança desde a Guerra Fria”.

Concretamente, serão distribuídos quatro mil soldados em quatro batalhões na Polônia, na Estônia, na Letônia e na Lituânia, liderados por Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Alemanha, respectivamente.

Os EUA confirmaram para o próximo ano o envio de mil militares à Polônia, o Reino Unido de 500 à Estônia e de 150 à Polônia, e a Dinamarca 250 sem informar o destino, enquanto a Espanha disse que detalhará em breve sua contribuição, que segundo fontes aliadas consistirá em elementos de apoio aos batalhões.

Além disso, a França fornecerá uma companhia ao batalhão na Estônia, a Noruega uma companhia na Lituânia, a Romênia uma companhia à Polônia e Holanda e Portugal diferentes companhias à Lituânia, enquanto a Polônia assegurará militares nos países bálticos e Bulgária, Itália e Croácia também enviarão soldados, segundo as mesmas fontes.

Os quatro batalhões “são um elemento a mais em nosso esforço para reforçar o flanco oriental da Otan”, disse Stoltenberg, que acrescentou que se somam “à força de ação rápida, ao aumento de manobras, à maior atividade de nossas bases, ao aumento das provisões militares na região e à maior coordenação de nossas forças”.

“O que fazemos é inteiramente defensivo”

Os líderes aliados deram, além disso, sinal verde à criação de uma brigada multinacional na Romênia, composta principalmente por soldados romenos e búlgaros.

Em paralelo, declararam a capacidade operacional inicial do sistema de defesa de mísseis balísticos, de modo que os navios americanos com base na Espanha, o radar na Turquia e a sede do interceptador na Romênia “podem agora trabalhar juntos sob o comando e controle da Otan”.

“O que fazemos é inteiramente defensivo, um escudo contra ataques de fora da área euroatlântica”, comentou Stoltenberg. O secretário-geral indicou que os embaixadores aliados explicarão as medidas adotadas a seu colega russo no Conselho Otan-Rússia previsto para quarta-feira em Bruxelas.

Stoltenberg destacou o forte investimento da Rússia para modernizar sua defesa nos últimos anos e que o país utilizou “a força militar contra uma nação soberana na Europa, violando a integridade territorial e soberania da Ucrânia”.

“Por isso ampliamos nossa presença na parte leste da Aliança”, resumiu, apesar de ter ressaltado que o diálogo aberto com a Rússia permitirá “evitar incidentes que possam escapar de controle”.

Os aliados também impulsionaram uma nova era de colaboração com a União Europeia (UE) por meio da assinatura de uma declaração para cooperar mais em segurança marítima, ciberdefesa, ameaças híbridas e consolidação de capacidades de defesa em terceiros países.

Reino Unido não mudará de posição

Esta primeira jornada da cúpula também esteve marcada pela expectativa criada pela decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, uma medida que Stoltenberg considerou que “não mudará” a posição de liderança desse país na Aliança.

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, garantiu que quando seu país sair da UE “não vai dar as costas à Europa nem à defesa e segurança europeias”.

Por outra parte, o vice-secretário-geral da Otan, Alexander Vershbow, presidiu uma Comissão Otan-Ucrânia de ministros das Relações Exteriores na qual destacou que a Aliança pretende avançar na colaboração com o governo georgiano “dentro do contexto de aumento da tensão no Mar Negro e no flanco sudeste”.

Os aliados decidiram aumentar o apoio à Geórgia em formação (incluindo a possibilidade de impulsionar um projeto de fundo fiduciário) e comunicações estratégicas, e para desenvolver sua defesa e vigilância aéreas.

PV/efe/ots

Fonte: DW

OTAN se reúne em Varsóvia para debater ameaça russa

Ofensivas militares da Rússia espalham medo no Leste Europeu. Aliança Atlântica reafirma compromisso com segurança dos países-membros e tenta diálogo com Moscou.

Nesta sexta-feira e sábado (07-08/07), os líderes dos 28 Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e numerosos países parceiros se reúnem em Varsóvia numa conferência de cúpula. O encontro é anunciado como um marco em que irão se tomar decisões para reforçar a segurança da Aliança Atlântica, aumentando seu poder de dissuasão e defesa e projetando estabilidade para além de suas fronteiras.

O país anfitrião, a Polônia, tem pressionado para obter a maior presença possível de tropas da Otan em seu território, a fim de fazer frente à ameaça percebida partindo de Moscou. Também os países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia –, que têm fronteiras com a Rússia ou seu aliado Belarus, sustentam o slogan: “Quanto mais, melhor”.

Em Varsóvia, a Otan deverá atender, pelo menos em parte, a essa demanda. Segundo declarou o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, os aliados no Leste Europeu deverão receber uma reafirmação de que, em caso real de perigo, os demais Estados vão socorrê-los. Essa será a mensagem da cúpula, afirmou um alto diplomata da Otan que não quis ser identificado, acrescentando: “Em Varsóvia vai se decidir a direção a ser tomada. Isso não é rotina.”

“Dissuadir e negociar”

Falando ao Parlamento nacional na véspera do encontro, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, atribuiu à Rússia a culpa pelo agravamento da situação de segurança na Europa. Os países-membros da Otan no Leste estão “profundamente abalados” devido à investida russa contra a Ucrânia, afirmou.

Algum tempo atrás, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, criticara a Otan por ficar brandindo demais a espada em direção à Rússia e entoando cantos de guerra, enquanto negligencia o diálogo. A organização procura abrandar tais temores com a oferta à Rússia de “transparência e minimização de riscos”.

Merkel também lembrara ao Parlamento em Berlim que “só pode haver segurança duradoura na Europa com, não contra a Rússia”, e que o procedimento da Aliança Atlântica não é “antirrusso”, mas de natureza puramente defensiva. Por pressão alemã, a estratégia “dissuadir e negociar” será agora sustentada por todos os 28 Estados-membros da Otan, inclusive pela anfitriã Polônia.

Secretário-geral da OTAN Jens Stoltenberg: “Estamos abertos ao diálogo”.

Medidas de caráter psicológico

Os chefes de Estado e governo reunidos na capital polonesa darão sinal verde definitivo para o estacionamento de contingentes adicionais de mil soldados da Otan na Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, respectivamente. Além disso será fortalecida a brigada multinacional na Romênia.

Na opinião de Judy Dempsey, especialista em Otan do think tank de política externa Carnegie Europe, a Polônia e o trio báltico aceitarão a oferta da Aliança Atlântica de reforço de tropas, já que não obterão mais do que isso. “Trata-se de uma medida psicológica para tranquilizar os poloneses e os bálticos. Do ponto de vista militar, seguramente não é o suficiente, quando se vê o que a Rússia está montando no exclave de Kaliningrado e em Belarus”, disse à DW.

Desde a última cúpula da Otan, em 2014, em Newport, no País de Gales, a organização já instalou seis depósitos de armamentos em países-membros do Leste, destinados ao abastecimento da tropa de ataque rápido da Otan. Esta dispõe de 40 mil soldados estacionados em países ocidentais, aptos a serem mobilizados para o Leste no prazo de poucas semanas caso a Rússia prepare uma ofensiva.

O monitoramento do espaço aéreo na fronteira oriental também está sendo ampliado, assim como a presença de forças-tarefa da Marinha no Mar Báltico e no Mar Negro. O número e proporções das manobras no território dos aliados orientais será igualmente aumentado.

OTAN “aberta ao diálogo” com Moscou

Os estrategistas da Aliança Atlântica cuidam para que esses batalhões suplementares não fiquem estacionados permanentemente, mas em regime rotativo, sendo substituídos por novas tropas após alguns meses.

“Continuaremos nos orientando pelo Ato Fundador sobre Relações Mútuas entre a Otan e a Rússia”, prometeu Stoltenberg. Nesse acordo firmado em 1997 em Paris, a organização se compromete a não estacionar permanentemente “tropas de combate significativas” no território dos antigos Estados que estavam na órbita soviética.

No entanto o Kremlin não está satisfeito. O embaixador russo na Otan critica o processo de armamento, e o Ministério russo da Defesa reagiu anunciando a mobilização, para as regiões oeste e sul, de mais três brigadas com um total de até 30 mil homens.

A Otan, por sua vez, quer prosseguir negociando com Moscou, apesar do reforço das tropas. “Nós permanecemos abertos ao diálogo”, anunciou o secretário-geral Stoltenberg. Logo após a cúpula em Varsóvia está planejado um novo encontro do Conselho Otan-Rússia, em nível diplomático, no quartel-general da organização, em Bruxelas. As atividades desse conselho estão congeladas desde a anexação da península da Crimeia, em 2014, e da intervenção russa no conflito no leste da Ucrânia.

Como sinal de boa vontade, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falou ao telefone com seu homólogo russo, Vladimir Putin, pouco antes da cúpula de Varsóvia. Ambos concordaram quanto a uma cooperação estreita no combate à organização terrorista “Estado Islâmico” (EI) na Síria, numa demonstração que Washington e Moscou têm interesses comuns.

Ucrânia e Geórgia também presentes em Varsóvia

Para a especialista em Otan Judy Dempsey, contudo, está claro que quatro batalhões não têm a menor chance de impressionar militarmente o Kremlin. “O estacionamento dá aos russos um bom pretexto para criticar. Eles querem dividir a Otan e veem, é claro, que os social-democratas da coalizão de governo alemã têm problemas com os passos da organização”, comenta, referindo-se também às declarações de Steinmeier.

No fim do encontro de dois dias, os líderes da Otan também encontrarão em Varsóvia o presidente ucraniano, Petro Poroshenko. A mensagem será que as Forças Armadas de seu país seguirão sendo equipadas e treinadas para dar conta da guerra civil no leste da Ucrânia.

Ao mesmo tempo, porém, a aliança também espera que Kiev cumpra sua parte na implementação do Plano de Paz de Minsk, delineado na capital bielorrussa por Ucrânia, Rússia, Alemanha e França. Até o momento, é sobretudo Moscou a bloquear partes essenciais desse plano.

A Geórgia, candidata a filiação à Organização do Tratado do Atlântico Norte, só participará da cúpula em Varsóvia no nível dos ministros do Exterior. A Rússia, que apoia os separatistas georgianos na ocupação de territórios, é radicalmente contra a ampliação da Aliança Atlântica.

Fonte: DW

OTAN envia sinal de unidade com cúpula

Em Varsóvia, aliança reforçará compromisso com segurança de Estados-membros. Mensagem é endereçada à Rússia, mas também aos membros do Leste Europeu, opina o jornalista Peter Sturm, do “Frankfurter Allgemeine Zeitung”.

O confronto de dois blocos é, felizmente, coisa do passado. Se hoje em dia pessoas na Europa Ocidental se sentem ameaçadas por alguém, então esse alguém é, quase certamente, um terrorista islâmico.

Muitos jovens de hoje não podem imaginar como era na época da Guerra Fria. Então não devemos culpá-los quando reagem com ligeiro estranhamento quando cidadãos da Polônia e dos Estados bálticos falam sobre ameaças à segurança deles. Na Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia ainda está viva a consciência – e também entre os mais jovens – de se ter um vizinho grande e potencialmente ameaçador: a Rússia.

Isso pode ser considerado um exagero. Mas quem mantém os olhos abertos não pode ignorar que há vários anos a Rússia tem feito muito para consolidar sua má reputação entre os países do Leste Europeu.

O temor foi reaceso em 2008, quando a Rússia tomou partes do território da Geórgia numa breve campanha bélica. As preocupações cresceram quando ficou claro que a Rússia não tinha por que temer quaisquer consequências graves. E tudo ficou pior ainda com o conflito na Ucrânia, país que a Rússia desestabilizou por inteiro através de ações militares.

É por isso que fazer parte da Otan é tão importante para muitos dos antigos Estados satélites da União Soviética e para as suas populações. O tratado da Otan lhes garante o apoio de todos os Estados-membros no caso de um ataque. Essa promessa de assistência é hoje mais importante do que nunca. Pois, por exemplo, os países bálticos foram, nos últimos anos, várias vezes vítimas de ataques cibernéticos, cuja origem foi localizada na Rússia.

Ao se reunirem em sua cúpula em Varsóvia, os líderes dos países da Otan visam enviar uma mensagem de unidade. O destinatário mais importante desta mensagem é, naturalmente, o presidente russo, Vladimir Putin. Mas também os povos dos países do leste da aliança precisam desse gesto de confirmação. E isso não tem nada que ver com um “brandir de espadas”, como o ministro do Exterior alemão disse recentemente ter ouvido do lado ocidental.

Fonte: DW

2 Comentários

  1. Respeito a escolha do reforço das unidades do leste europeu como Lituânia, Polônia e Estônia, apesar de agredir o tratado de Varsóvia nas intenções iniciais deste tratado, é plenamente compreensível, devido o fortalecimento militar russo, mas tentar criar laços com Georgia e alimentar esperanças da Ucrânia de participarem do bloco é uma agressão aos interesses soberanos de Moscou, e isso é incontestável, haja visto que não hoje, mas amanhã poderá haver bases da OTAN próximas de mais da Rússia, o que leva o Kremlim a começar a mover suas peças em prol de tentar estabelecer lideranças dentro de Kiev e buscar fortalecer o leste ucraniano de forma que possam se proteger das agressões ucranianas e manter-se dominadores de sua região de forma independente, isso sem contar no fortalecimentos dos regimentos próximo a estes países e o envio e sistemas Iskander M para Kaliningrado e bombardeiros para Crimeia, resumindo, algumas posições da OTAN são claramente agressivas, nada tem a ver com auto defesa, esse discurso do sr. Stoltenberg é no mínimo hipócrita, pois claramente se vê que estão iniciando um novo jogo e poder com Moscou.

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