Um atentado terrorista atingiu o aeroporto Atatürk, o principal de Istambul, na Turquia. Segundo autoridades, três homens-bomba se explodiram no terminal.
Mais de 40 mortos, centenas de feridos e um clima de medo: cidade turca vê ataques terroristas, como o ocorrido no aeroporto, virarem difícil rotina. E especialista alerta: “EI” tem recursos para conduzir novas ações.
Cacos de vidro ainda estão espalhados pela entrada principal do Aeroporto Atatürk de Istambul, lembrando a força da explosão no terminal internacional, nesta terça-feira (28/06), no mais recente de uma série de ataques terroristas a metrópoles.
No maior aeroporto da Turquia, no acesso aos prédios dos terminais, os passageiros têm que se submeter a um controle de segurança, incluindo detectores de metal e scanners de corpo inteiro, assim como ao controle de passaporte. Foi nessa área que ocorreu a primeira explosão.
Os registros do circuito fechado de TV mostram, no entanto, que pelo menos um atirador também conseguiu penetrar no terminal, portando um fuzil kalashnikov, e detonar um colete explosivo.
Nesta quarta-feira de manhã, os orifícios de balas estavam claramente visíveis no placar de desembarque. Pessoal de segurança adicional, armado com armas automáticas, patrulhava o andar dos desembarques. Para além da área enegrecida do saguão onde ocorrera a detonação, lojas e estandes estavam fechados. Faltavam dezenas dos painéis do teto, passageiros cuja viagem foram interrompida dormiam pelas cadeiras, envolvidos em cobertores das companhias aéreas.
Medo de voltar ao trabalho
Ersin Onderoglu, farmacêutico de uma das pequenas lojas da área, conta que o teto desabou completamente na entrada, e tudo ficou preto. “Tenho que dizer: os homens estavam trabalhando bem, em deixar tudo limpo e funcionando novamente. Mas deu muito medo na gente, foi bem ao lado da nossa loja.”
Outros empregados revelam ter receio de retornar ao trabalho. “Está tudo simplesmente uma bagunça, tem vidro por toda parte”, comenta Mehmet Günes, um dos zeladores do aeroporto. “Eu não estava no turno da noite, mas esta manhã eu tive medo até de vir para o trabalho. É um horror o que eles fizeram aqui.”
O andar de embarque, praticamente intocado pelo atentado, mostrava-se mais atribulado do que nunca, com milhares de passageiros em fila para os voos que agora foram retomados.
A maioria dos mortos era de nacionalidade turca, e as autoridades locais creem tratar-se principalmente de pessoal de segurança. Mas já é certo que entre eles encontram-se também 13 estrangeiros, inclusive tunisianos, sauditas, iraquianos e ucranianos.
Ao todo, foram computados 41 mortos e 239 feridos. A maioria stá sendo tratada em vários locais da metrópole turca, muitos no hospital estatal Bakırköy e no Bakırköy Sadi Konuk, próximos ao aeroporto.
Provável mão do EI
As autoridades turcas afirmaram haver capturado um dos terroristas, mas sem fornecer detalhes sobre sua identidade ou nacionalidade. Em coletiva de imprensa na noite da terça-feira, o primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim, disse haver indicações de que autores fossem simpatizantes da organização terrorista “Estado Islâmico” (EI).
Nos últimos nove meses, o país tem vivenciado uma série de atentados a metrópoles, totalizando dez ataques graves em Istambul, Ancara e Bursa. Simpatizantes do EI são responsáveis pela maior parte dos ataques, ao lado de militantes dos Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK).
“Urgimos o mundo, em especial os países ocidentais, a assumir uma posição firme contra o terrorismo”, instou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em comunicado. “Apesar de pagar um preço alto, a Turquia dispõe do poder, determinação e capacidade para prosseguir até o fim a luta contra o terrorismo.”
Observando que “é impossível se colocar na cabeça dos líderes do EI”, Aaron Stein, membro do Centro do Oriente Médio do Conselho Atlântico, reconhece que “o grupo certamente tem meios e recursos para conduzir os ataques terroristas na Turquia”.
“As autoridades turcas estão trabalhando duro para evitar ataques futuros, mas nenhuma força de segurança é perfeita. Os atentados certamente estão espalhando medo, e os turcos estão ansiosos para retornar à paz e a segurança”, constatou Stein.
Fonte: DW
Liberdade e democracia contra o terrorismo
O ataque contra o maior aeroporto confirma que a Turquia está na mira do terrorismo internacional. No entanto a maior parte da responsabilidade cabe à chefia de Estado, opina Baha Güngör, da redação turca da DW.
O balanço do brutal atentado no Aeroporto Internacional Atatürk, em Istambul, é assustador, não apenas devido ao número elevado de vítimas. É também um enigma como os terroristas conseguiram penetrar até o terminal de voos internacionais do maior aeroporto turco, portando cintos de explosivos e armas. Além disso, agora a questão não é “se”, mas sim quando o terrorismo sangrento mostrará sua feia face novamente na Turquia.
As recentes tentativas de abertura internacional do presidente Recep Tayyip Erdogan chegam tarde demais. Por outro lado, suas manobras por uma guinada nas abaladas relações com a Rússia e com Israel são importantes, também por ambos os países disporem de grande conhecimento, partindo de seus serviços secretos, sobre onde e em que direção o terrorismo avança e quais países e regiões estão especialmente ameaçados. Outra questão é se eles o combatem suficientemente e se medidas eficazes são sequer possíveis.
Não só a Rússia e Israel, mas também os Estados Unidos e os aliados europeus observam há muito tempo como a Turquia, membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), se transforma num polo para os asseclas dos padrinhos do terrorismo, de motivação supostamente religiosa.
Enquanto isso, quem tem de pagar o preço dos maus julgamentos políticos de Erdogan são os cidadãos, que perdem suas vidas em sucessivos ataques; e também o país como um todo, que amarga décadas de atraso devido às rebordosas econômicas.
Contudo, não reconhecer os resultados de votações parlamentares, rejeitar decisões do próprio Tribunal Constitucional como “indignas de respeito” e dar fim à política de reconciliação com os curdos, impulsionam grandemente os inimigos da democracia.
Só mesmo os adeptos acríticos e aproveitadores do sistema, na melhor das hipóteses, é que se deixam cegar pelos discursos sob aplausos subservientes, nos quais Erdogan incansavelmente promete ao povo tempos melhores e mais seguros.
Os observadores críticos do país, jornalistas que discordam do chefe de Estado e pesquisadores, por sua vez, estão sujeitos a ações judiciais e penas de prisão, em vez de ter esperança de chegar até os ouvidos de Erdogan.
A fórmula é bem simples: quem enfraquece o Estado de direito democrático, quem cerceia a liberdade de imprensa e de opinião, quem coopta setores essenciais do aparato estatal, como a polícia e a Justiça, cria terreno fértil para o terrorismo.
A República da Turquia, que festejará seu centenário de fundação em 2023, originalmente pretendia evoluir no sentido das civilizações contemporâneas, ocidentais. Hoje, porém, após 14 anos sob a responsabilidade de Erdogan, o que ameaça é um pântano de guerra e terrorismo, como o que domina toda a zona de crise no Oriente Médio.
Por isso seria aconselhável, a partir de já, o presidente turco ser menos belicoso em relação a seus críticos, e em vez disso agir em maior harmonia com os defensores dos valores europeus.
Desse modo, é claro, não se descartará o perigo de novos atentados terroristas – fato que vale para o resto do mundo. Mas uma maior proximidade com a Europa traria pelo menos a esperança de se poder influir positivamente no clima humano na Turquia, afastando-se da fatídica polarização de todo o povo, que não traz vantagens a ninguém.
Fonte: DW