Mensagem de unidade, oculta divergências entre países da UE

Os líderes da União Europeia vão enviar uma mensagem de unidade, hoje, em face da decisão do Reino Unido de deixar o bloco, dizem autoridades e diplomatas. Por trás dessa demonstração, porém, eles estão profundamente divididos sobre as reformas futuras na UE e como a região deve abordar as negociações com o Reino Unido.

Todos os 28 líderes da UE vão participar da reunião de cúpula hoje e, amanhã, 27 vão discutir o futuro do bloco sem o primeiro-ministro britânico, David Cameron.

O voto pela saída do Reino Unido já gerou uma enxurrada de propostas sobre o rumo do bloco, com divergências surgindo entre países-membros e até mesmo dentro de cada país.

Alguns países querem um aprofundamento da integração dentro da zona do euro, enquanto outros alertam que qualquer outro impulso federalista poderia dividir ainda mais o bloco e alimentar o descontentamento popular.

Ao mesmo tempo, enquanto representantes de países como Alemanha, Hungria e Polônia defendem a necessidade de uma abordagem construtiva para a saída do Reino Unido, outros querem se livrar dos britânicos o mais rápido possível. Eles esperam que as dificuldades que os britânicos enfrentam agora —turbulência financeira, crise constitucional e reviravolta política — façam outros membros da UE desistirem de seguir o mesmo caminho.

“Eu não sou vingativo”, disse o primeiro-ministro belga, Charles Michel, em entrevista publicada ontem no jornal “Het Laatste Nieuws”. Ele afirmou, contudo, ser necessário deixar os britânicos sentirem que eles conquistaram uma vitória duvidosa. “Apenas os interesses belgas e europeus me importam hoje — não os britânicos […] Não tem caminho de volta.”

As divergências revelam o choque do resultado do referendo realizado na quinta-feira passada. Assim como os que lideraram a campanha para a saída do Reino Unido pareciam não ter um plano B, muitos governos da UE, embora preocupados com o resultado da votação da semana passada, acreditaram até o último minuto que o Reino Unido ficaria no bloco.

Diplomatas europeus dizem que não esperam que os 27 líderes reunidos amanhã entrem em discussões detalhadas sobre o futuro do bloco. É provável que outra cúpula, onde as propostas podem ser melhor discutidas, ocorra no máximo até setembro.

Já surgiram, entretanto, linhas divisórias entre federalistas e aqueles que priorizam a soberania nacional, minando o apelo pela unidade e complicando as negociações com o Reino Unido.

Em um documento conjunto, os ministros das Relações Exteriores da Alemanha e da França defenderam um fundo monetário da zona do euro — assim como a criação de uma “capacidade fiscal”, um orçamento compartilhado que ajudaria os países da zona do euro atingidos por crises financeiras. Mas o ministro alemão insistiu que qualquer orçamento conjunto dependeria de os países da zona do euro adotarem reformas estruturais profundas em suas economias. Logo, não há chances de o documento se tornar uma política alemã. Ele não foi endossado pela chanceler Angela Merkel, cujo partido de centro-direita, a União Democrata Cristã (CDU), domina a coalizão governista. O ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, também rejeitou as sugestões na sexta-feira, dizem autoridades, antes que elas fossem divulgadas publicamente.

Ontem, o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Witold Waszczykowski, disse à TV do seu país que qualquer tentativa de criar um núcleo interno integrado dentro da UE poderia causar uma “dissolução” do bloco. Depois de uma reunião entre dez ministros das Relações Exteriores e Assuntos Europeus do bloco, realizada ontem à tarde em Varsóvia, ele apresentou uma visão de longo prazo bem diferente para o bloco, na qual os poderes dos países-membros são reforçados.

Há uma divergência significativa também sobre como estruturar futuras negociações com o Reino Unido, de acordo com diplomatas.

Todos os 27 governos concordam que as discussões só vão começar de forma apropriada quando o Reino Unido acionar uma cláusula legal no tratado da UE que dá início a um período de dois anos para o país negociar sua saída. Embora alguns diplomatas e legisladores da UE não gostem da ideia de retardar a iniciativa de acionar a cláusula, conhecida como Artigo 50, Cameron deixou novamente claro ontem que irá esperar até pelo menos o outono, que no Hemisfério Norte começa em setembro.

Nos últimos dias, alguns diplomatas da União Europeia têm sugerido que, uma vez que as negociações comecem, elas devem se concentrar em questões sobre a saída do Reino Unido, como a descontinuação dos pagamentos do país para a UE. Discussões mais amplas dos laços entre a UE e o Reino Unido, incluindo comércio e acesso ao mercado único e aos bancos de dados de segurança do bloco, não seriam a prioridade.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse na sexta-feira, em entrevista ao jornal alemão “Bild”, que o artigo 50 “governa a saída da União Europeia e que aqui também não poderia haver renegociação”. Ele disse que é “primeiramente uma questão clara de divórcio, porque cidadãos e empresas precisam de segurança legal”. Isso pode levar a uma nova parceria com o Reino Unido, “um dia”. Mas países com fortes relações comerciais, econômicas e migratórias com o Reino Unido estão se opondo à ideia.

Em Bruxelas, há também uma crescente preocupação com o desempenho do Executivo da UE e seus líderes — há uma disputa entre os líderes da UE e da Comissão Europeia sobre quem deve liderar as negociações sobre a saída do Reino Unido. Há rumores sobre o futuro de Juncker à frente da Comissão Europeia, mas um porta-voz dele descartou ontem a ideia de que ele poderia abandonar o cargo.

Na verdade, tanto o Conselho Europeu, que representa os governos individuais da UE, quanto a Comissão provavelmente terão papéis separados, com a última mais concentrada em detalhes legais, trabalhos técnicos relacionados à saída do Reino Unido e alianças futuras. O primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, disse, porém, que o Conselho Europeu terá o “controle político global” das negociações.

LAURENCE NORMAN e VALENTINA POP

Colaborou Martin Sobczyk / Varsóvia e Jenny Gross / Londres

Fonte: The Wall Street Journal

1 Comentário

  1. Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.
    Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre,
    Daniel 2:43,44

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