A longa luta do Reino Unido para entrar na UE

Charles de Gaulle (e) ao lado do chanceler alemão Konrad Adenauer, em 1969.

De Gaulle foi principal empecilho para ingresso dos britânicos no embrião da atual União Europeia. Uma árdua batalha que seria bem-sucedida, mas logo contestada em plebiscito em 1975, como relata Alexandre Schossler.

Quem vê o Reino Unido dividido sobre a permanência na União Europeia (UE) pode ficar espantado em saber que, ao longo de todos os anos 1960, os britânicos lutaram muito para poder entrar na Comunidade Econômica Europeia (CEE), o embrião da atual UE.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido preferiu manter-se afastado das negociações para uma melhor integração europeia, que culminariam na criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), em 1951, por meio do Tratado de Paris, e da CEE, em 1957, com a assinatura do Tratado de Roma. Para oferecer concorrência à CEE, os britânicos chegaram até mesmo a criar uma segunda área de livre-comércio dentro da Europa, que não deu certo.

Foi só nos anos 1960 que o Reino Unido passou a se interessar pela CEE, atraído pelas possibilidades comerciais que ela oferecia e empurrado pelas próprias dificuldades econômicas internas. Mas as pretensões britânicas esbarraram num adversário poderoso: o presidente francês, Charles de Gaulle. Em duas oportunidades, em 1963 e 1967, o general barrou a entrada do Reino Unido na CEE, temendo que, com isso, a França perdesse poder dentro do bloco.

Em 14 de janeiro de 1963, De Gaulle concedeu uma entrevista coletiva à imprensa no Palácio do Eliseu, em Paris, onde explicitou suas objeções. “O Tratado de Roma foi fechado por seis nações continentais que, do ponto de vista econômico, são semelhantes. Não há brigas, problemas de fronteiras, nenhum tipo de rivalidade em questões de poder e domínio.”

Além disso, segundo o general, nenhum desses países tinha obrigações políticas e militares com outras nações. Já o Reino Unido é “insular, marítimo e, por meio de seu comércio e mercados, ligado aos mais variados e distantes países”. Para De Gaulle, a economia britânica era incompatível com o mercado comum europeu. Em resumo: esqueçam que um dia vocês poderão fazer parte da CEE.

Os britânicos, porém, não desistiram, e, em 1967, o primeiro-ministro Harold Wilson encaminhou um segundo pedido de ingresso – que foi novamente barrado por De Gaulle. Os ventos só mudaram em 28 de abril de 1969, dia da renúncia do general. O sucessor dele, Georges Pompidou, tinha uma outra visão sobre o Reino Unido e a Europa, e logo contaria com o apoio do novo chanceler federal alemão, Willy Brandt, que chegaria ao poder em outubro.

Já em dezembro daquele ano, os seis Estados-membros da CEE iniciaram as negociações para a entrada rápida de todos os países que estavam na fila, incluindo o Reino Unido. E, num lance de sorte para todos que desejavam o Reino Unido integrado à Europa, as eleições britânicas de 1970 levariam ao poder um ardoroso pró-europeu: Edward Heath (tão ardoroso que, muitos anos depois, Margareth Thatcher lhe atestaria obsessão com a causa).

O acordo de ingresso do Reino Unido na CEE foi assinado em 22 de janeiro de 1972, em Bruxelas, e em 1º de janeiro de 1973, o país ingressou na comunidade. O que parecia ser o final feliz de um longo esforço logo enfrentou seu primeiro teste. A crise econômica mundial de 1973, originada pela primeira Crise do Petróleo, criou o ambiente propício para o fortalecimento dos eurocéticos, que viam Bruxelas como parte dos problemas e não como solução.

Em 1974, Heath perdeu as eleições, e no seu lugar assumiu Harold Wilson, retornando ao poder. Para vencer as eleições, ele teve de prometer que faria um referendo sobre a permanência britânica na CEE.

Assim, em 5 de junho de 1975, o país que tanto lutara para fazer parte da comunidade europeia ia às urnas para decidir se deveria continuar fazendo parte dela. Assim como hoje, as questões econômicas estavam no centro dos debates. O resultado, porém, foi claro: 67,2% dos eleitores disseram sim, e apenas 32,8% defenderam a saída da CEE.

Coluna Zeitgeist

Fonte: DW