BATALHA DO RIACHUELO: Guerra sangrenta há 150 anos não termina com ameaças para MS

Em 11 de junho de 1865, Marinha garantiu que Estado seguisse no Brasil.

A única guerra na América do Sul envolvendo quatro países (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e com confronto mais violento registrado no continente aconteceu há 152 anos. A Guerra do Paraguai, que se iniciou em 1864 e só terminou em 1870, deixou rastros em Mato Grosso do Sul mesmo depois de mais de um século e meio. Para começar, se não houvesse a vitória brasileira, o Estado provavelmente pertenceria ao país vizinho.

Base do 6º Distrito Naval de Ladário, às margens do rio Paraguai. Só foi construído três anos depois do fim da guerra – Foto: Divulgação / Marinha do Brasil

Essa conquista nacional começou a ser desenhada com uma batalha decisiva, conhecida como Riachuelo. Os paraguaios, que eram mais fortes, acabaram perdendo nesse episódio e a defesa de uma região fronteiriça estratégica foi conquistada, mesmo sem os devidos equipamentos e estrutura que eram oferecidos à Marinha do Brasil.

A disputa naval foi travada em 11 de junho de 1865. Neste sábado (11), completou-se 151 anos dessa vitória que ajudou a manter o então Mato Grosso anexado ao país.

Naquele ano, a Marinha, que veio se instalar em Ladário em 1873, conseguiu vencer as tropas paraguaias no rio Riachuelo, um afluente do rio Paraná que fica em território argentino e é caminho para acesso ao mar. A conquista, considerada a mais importante para a força brasileira, tornou-se motivo de orgulho, mas revelou também deficiências que perduram com o tempo.

O Contra-Almirante Petronio Augusto Siqueira de Aguiar, comandante do 6º Distrito Naval de Ladário, há 39 anos na Marinha, disse que a data que marca a vitória da Batalha do Riachuelo precisa ser lembrada e celebrada para não se esquecer das ameaças que as regiões fronteiriças continuam passando.

“O mundo mudou da época da Guerra do Paraguai. As ameaças também. Temos hoje o crime organizado e o terrorismo como preocupações”, destaca.

Comandante do 6º Distrito Naval, Contra-Almirante Petronio Augusto. Foto – Divulgação / Marinha do Brasil

DESPREPARO DE SÉCULOS

O paralelo entre o passado e o presente mostra que as forças de proteção do país não tinham, e ainda não tem, estrutura adequada em caso de ataque.

O Paraguai era dono da melhor frota fluvial da América do Sul, enquanto o Brasil contava com navios preparados para navegar no alto mar, mesmo tendo uma extensa área fluvial a ser monitorada.

O país dependia muito mais da atuação de seus combatentes, do que dos equipamentos que eram oferecidos pelo governo, que na época era do Segundo Reinado.

“Precisamos pensar mais em defesa, tanto no militar como na segurança pública. Temos que estar prontos para defender nossos interesses”, alerta o Contra-Almirante, comentando sobre a situação atual e o que aconteceu há mais de um século.

COMO SE CHEGAR À VITÓRIA

A vitória na Batalha do Riachuelo é atribuída a dois fatores importantes. Um foi o erro da tropa paraguaia que pretendia fazer ataque na madrugada, surpreendendo navios brasileiros em uma noite de neblina, aproveitando que a Marinha não tinha a melhor estrutura para navegar em rio. A estratégia não deu certo e o Paraguai só chegou ao local da batalha na manhã, eliminando o efeito surpresa.

O segundo está atrelado ao desempenho de Francisco Manoel Barroso, o Almirante Barroso. Ele comandou a força naval brasileira em 11 de junho de 1865. Depois de escapar da armadilha, retornou à foz do Riachuelo e com a Fragata Amazonas derrotou os adversários. Com isso, a passagem para o Oceano Atlântico não foi tomada pelo Paraguai e se manteve no domínio brasileiro.

“Fazemos questão de cultuar alguns valores. Nessa época de comemoração da Batalha do Riachuelo abrimos a Marinha para a população e tentamos mostrar o que foi preciso para vencer. O Almirante Barroso mostrou moral, comprometimento, ética, propósito e resiliência. Achamos importante que as pessoas saibam disso”, opinia o Contra-Almirante Petronio.

Indicação do local onde foi travada a Batalha do Riachuelo. Reprodução / Marinha do Brasil

O QUE NÃO MUDOU

A atuação da Marinha resultou na manutenção do atual Mato Grosso do Sul como território brasileiro. Mas as falhas do passado, envolvendo a falta de estrutura, perdura. “O Brasil não estava preparado para a guerra”, reconhece o atual comandante do 6º Distrito Naval de Ladário. “Hoje as ameaças são outras, mas ainda precisamos pensar mais em defesa”, completa.

Apesar de constitucionalmente a Marinha não atuar no combate direto ao tráfico internacional de drogas, tráfico de pessoas, atuação do crime organizado na fronteira e mesmo terrorismo, existe o trabalho de inteligência do 6º Distrito Naval que procura monitorar a região, tanto no Estado como em Mato Grosso.

Como a força militar tem estrutura naval mais eficiente do que outras corporações que atuam na fronteira, tais como Polícias Federal, Militar, Civil e Militar Ambiental, existe a possibilidade de trabalho conjunto. Essa parceria está sendo mais amplamente sendo feita com a Polícia Militar Ambiental.

Parte da frota naval do 6º Distrito de Ladário. Foto – Divulgação / Marinha do Brasil

GUERRA ONDE TODOS PERDERAM

A historiadora e professora em Ladário, Terezinha Assad, analisa que o conflito teve vitória bélica, mas todos os lados sofreram derrotas.

“O Paraguai deixou de ser a grande potência da América do Sul que era, o país perdeu uma grande parte de sua população e a sua economia foi devastada. O Brasil, embora vitorioso, teve também grandes prejuízos financeiros com o conflito”, indica.

Para conseguir manter-se em combate ao longo de seis anos o país pegou empréstimos estrangeiros, principalmente da Inglaterra.

O Paraguai, que até a época estruturava-se como uma potência, inclusive industrial, perdeu em torno de 300 mil pessoas. Estima-se que 90% era da população masculina maior de 20 anos. A fome e pobreza disseminaram no país vizinho e não houve recuperação mais de 150 anos depois.

Nesse período, a economia do país foi trocada de produtos manufaturados para produção agrícola, porta aberta para o contrabando e um dos maiores produtores de maconha da América do Sul, além de ser o principal fornecedor da droga para o Brasil. O caminho para esse entorpecente ser distribuído passa justamente por Mato Grosso do Sul.

Corpos de paraguaios no campo, em imagem de 1866. Foto – Fundação Biblioteca Nacional

“Passados 150 anos da Guerra do Paraguai, outros tipos de questões fronteiriças estão aí e que precisam ser refletidas, como é o caso dos ‘brasiguaios’ (há conflito envolvendo brasileiros e seus descendentes que vivem no país vizinho com os nativos por conta de terra), a questão do uso da energia da Usina de Itaipu, o preparo das forças navais brasileiras para enfrentar um conflito externo, a questão do contrabando de mercadorias, e os tráficos de drogas, armas e de pessoas. São questões que não podem ser relegadas ao esquecimento”, reforça a historiadora.

Fonte: Correio do Estado

15 Comentários

  1. A Guerra do Paraguai,deixa claro que o BRASIL, já era um desgoverno no período do império, muitos ficam cantando esse período em verso e prosa,mas a verdade é que os imperadores brasileiros eram péssimos governantes,apôs a Guerra do Paraguai ficou claro que esse regime não podia mais se sustentar , estava caindo de podre !

  2. Ocorre neste texto o mesmo equívoco de diversos historiadores. O Paraguai não era um país em crescente industrialização. Sua economia era primária e a sua população era basicamente rural. A grande potência regional à época era justamente o Brasil.

  3. O Paraguai estava se industrializando essa época, não era potência,mas havia começado a se industrializar. Foi na mesma época que o Japão. No Livro “A campanha das cordilheiras” o autor brasileiro cita as ferrovias recem construídas no paraguai e elogia a sua boa qualidade. Em um livro de um autor Americano que presenciou a guerra do lado de Solano e seu estado maior, ele descreve os pormenores das peças de artilharia e da munição fabricadas localmente nas fábricas paraguaias. A sociedade paraguaia era de pessoas livres, a brasileira era de escravos. Se eles tivessem ganhado essa guerra, ou a evitado, possivelmente seriam um país bem industrializado hoje. Foi nessa época que o Japão começou a se industrializar por exemplo. O Brasil até tentou, mas não conseguiu, pois era uma sociedade escravocrata assim como o Sul dos EUA que também não conseguiu.

  4. Continuando….

    A economia paraguaia era baseada na erva-mate que exportavam para a europa. Com o fim da guerra, o paraguai destruido não pode suprir a demanda de erva-mate e assim os produtores argentinos e gaúchos entraram no negócio. Um outro reflexo foi a popularização ainda maior do café na europa. Hoje o café é o chá mais popular do mundo, talvez se o Paraguai tivesse ganho a guerra o mate seria o chá mais popular. O Brasil era a 4ª nação mais rica do planeta à época e só produzia café.

    • Manda o nome do livro desse autor norte americano,se você tiver.tenho muito interesse nesse tema e qualquer ponto de vista me é importante. Desde já agradeço !

      • Olá César,tem também esse outro: Calúnia – Elisa Lynch e a Guerra do Paraguai, de Michel Lillis e Ronan Fanning, que mostra uma visão interessante do lado paraguaio. Ajuda a compor o quadro histórico do período.
        É uma pena que não existam mais livros sobre esse episódio.
        Abs

      • Olá, Cesar. O livro chama-se “War in Paraguay: With a Historical Sketch of the Country and Its People” O autor não é americano e sim Inglês. Ele serviu como engenheiro e como comandante de artilharia na guerra. Tem esse livro em PDF na net.

  5. O império de Pedro II não primou pela prevenção. Tudo teria sido evitado se tropas fossem suficientes e apropriadamente equipadas para gerar dissuasão. O imperador não soube fazer a transformação da economia escravista para a economia capitalista. Se ele tivesse criado um exército preventivamente capaz de apoiá-lo desde o início, ao invés de ter criado um só para remediar a guerra do Paraguai, teria evitado a guerra, dissuadido o inimigo, e se mantido no poder promovendo a transição econômica. Porém, graças a garra dos soldados brasileiros, o território foi defendido e graças ao povo brasileiro pudemos bancar a compra das armas necessárias. O custo foi alto em vidas e economicamente. O Império caiu e a Bandeira Republicana é hasteada, uma bandeira que não pertence a casas reais, pertence aos brasileiros. Se tudo começou de algo diferente ou torto não importa, a evolução nos torna capaz de endireitar o que for preciso, assimilar o que for bom e progredir. Sendo que o todo já conquistado pelas gerações de brasileiros, que não é pouco, comparado ao que existe ao redor do planeta, é descomunal e ainda apresenta um potencial enorme que todos invejam e cobiçam. Aparece comunista querendo nos escravizar pela bandeira vermelha e monarquista dizendo que as cores da bandeira não são do BRASIL e sim de duas casas imperiais não sei das quantas, baboseira!!! Independente do que elas representaram no passado, pra mim, as cores da bandeira sempre serão o verde das matas, o amarelo do ouro, o azul do céu e o branco da paz. E nunca será vermelha. A América herdou as cores britânicas, a Rússia as cores dos czares e isso não torna essas cores propriedade de casas reais do passado. É claro que temos que levar em conta de onde evolui nossa história, portugueses, índios, africanos, italianos, alemães, libaneses, japoneses, polacos, etc. Mas os princípios patrióticos não podem ser maculados por monarquistas, comunistas ou qualquer outra coisa alienígena a identidade nacional. A bandeira nacional, os hinos e os símbolos nacionais são princípios que nos unem e nos distinguem como brasileiros. Defender a Bandeira Nacional é defender nosso direito de existir. Por essa Bandeira protegemos o território onde nossos compatriotas e entes queridos vivem, nosso legado, nossa gênese.
    Não é atoa que o BRASIL é grande, muitos lutaram e lutam. Por isso obrigado aos voluntários da pátria de ontem e de hoje. Viva a Marinha do Brasil! Viva ao Exército do Brasil! E viva a Força Aérea Brasileira!…

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