O “Quarto Poder” e o controle da opinião pública (2° Parte)

Desde que pensadores como John Locke apontaram para a importância dos jornais na educação da população, muitos intelectuais e cientistas se dedicaram à compreensão do funcionamento da mídia de massa para estabelecer técnicas precisas de controle por meio de uma elite.

O “Quarto Poder” é uma expressão utilizada com conotação positiva de que a Mídia (meios de comunicação de massa) exerce tanto poder e influência em relação à sociedade quanto os Três Poderes nomeados em nosso Estado Democrático (Legislativo, Executivo e Judiciário).

Por: Cristian Derosa

Engenharia do consentimento

Edward Bernays trabalhou para o presidente norte-americano Woodrow Wilson e foi o responsável pela legitimação pública que o governo teve para entrar na guerra contra a Áustria, em 1917.

Então com apenas 27 anos, o exitoso assessor ficou a imaginar que resultados teriam estas técnicas de controle da opinião pública se aplicados em tempos de paz. Foi então que Bernays, retornando aos EUA, passou a trabalhar para grandes empresas na profissão que ele mesmo inventara. Assim, o jovem assessor criou grande parte da cultura que conhecemos, ao desvincular o consumo da necessidade, ligando-o aos desejos humanos expressados na esfera simbólica, a partir da aplicação massiva das teorias do seu tio Freud. Um ano após o lançamento do livro de Lippmann, coube a Bernays a tarefa de criar a profissão de relações públicas, o profissional encarregado de fomentar agendas públicas consonantes com objetivos políticos de seus assessorados. A profissão surgiu a partir do livro “Cristallizing Public Opinion”, de 1923, a partir das técnicas já utilizadas por Bernays.

A liberdade de expressão, dizia Bernays em seu artigo célebre “A engenharia do consentimento”, “expandiu a carta de direitos americanos para incluir o direito à persuasão”. Este foi o resultado da inevitável expansão da mídia e da livre expressão, como ele afirmou. “Qualquer um de nós pode, por meio dessas mídias, influenciar as atitudes e ações de nossos companheiros cidadãos”, diz Bernays. E recomenda: “o conhecimento de como usar esse enorme sistema de amplificação torna-se uma preocupação primária para aqueles interessados em uma ação socialmente construtiva”.

Baseado então nos pressupostos de Lippmann, Bernays pensa ser possível desenvolver técnicas de persuasão apoiadas no conhecimento da psicologia humana. Embora os resultados dos estudos de Bernays tivessem sido usados por Joseph Goebbels, o famoso publicitário do nazismo, segundo ele próprio admitira, os objetivos de Bernays estavam em consonância com os princípios democráticos, como se vê:

“A engenharia do consentimento é justamente a essência do processo democrático, a liberdade de persuadir e sugestionar. As liberdades de expressão, imprensa, petição e reunião, as liberdades que fazem a engenharia do consentimento possível, estão entre as mais celebradas garantias da Constituição dos Estados Unidos”.

Através do processo educacional, assegura Bernays, os governos devem conceder ao seu público um entendimento sobre os problemas para tomarem suas decisões. Mas a engenharia do consentimento, alerta ele, não deve confundir-se com o sistema educacional, pois deve completá-lo e ir além dele, já que se direciona à ação e não simplesmente à compreensão de determinadas situações. A engenharia do consentimento deve, portanto, suprir as lacunas do sistema educacional na determinação de ações.

Bernays alerta para os perigos de que suas técnicas sejam subvertidas e usadas para fins antidemocráticos. Por isso, “o líder responsável, de modo a realizar objetivos sociais, deve estar constantemente alerta às possibilidades de subversão”. Ironicamente, um exemplar bastante conhecido deste “líder responsável”, assessorado por um de seus discípulos involuntários, levou o povo alemão a bater continência para as atrocidades de Hitler.

Apesar do relativo sucesso da campanha nazista nos meios de comunicação da época (campanha até hoje considerada erroneamente pioneira na propaganda), Bernays salienta que a persuasão encontra o seu terreno fértil nas democracias liberais, “onde a livre comunicação e a competição de ideias no mercado são permitidas”. As democracias, portanto, funcionam bem à persuasão já que são as suas garantidoras por natureza. Estes sistemas, portanto, que constituem a base da política ocidental, se tomados como valores em si, servem a uma variada gama de objetivos, incluindo aqueles contra os quais o sistema mesmo busca ser uma defesa. Basta que a palavra democracia seja esvaziada do seu significado, que é substituído por outro, tática bastante simples e usual, para que mudem os propósitos a que essas técnicas servirão.

Seguindo o próprio curso liberal capitalista, se as ideias socialistas estão vencendo a concorrência das ideias, é para lá que se dirige o fluxo de dinheiro e esforços para campanhas políticas e publicitárias, o que explica a hegemonia de discursos ecológicos e socialistas na totalidade dos partidos e de campanhas publicitárias de empresas capitalistas ocidentais.

As teorias da comunicação, especificamente as ligadas ao jornalismo, têm estudado exaustivamente o comportamento da imprensa e dos jornalistas, em busca de uma lógica na circulação de notícias, como mostram os estudos de agendamento da mídia. Mas são insuficientes se não levarem em conta a evolução dos estudos no campo da publicidade e das técnicas de consentimento e controle da opinião pública usada há mais de um século por agências de inteligência, órgãos governamentais e institutos de pesquisas como o Instituto Tavistock, mantido por fundações internacionais. Hoje o consentimento político de caráter nacional ou empresarial deu lugar ao global e a criação de um discurso único que, por trás de todas as causas, trabalha para a acumulação de poder dos grupos ligados às Nações Unidas e sua agenda. Não deixa de ser estranho afirmar que aqueles estudos financiados por instituições como Rockefeller, Ford, entre outras, tinham somente uma curiosidade científica e nenhum interesse em descobrir técnicas de controle. Ainda mais ingênua nos parece essa afirmação se constatarmos que estas instituições hoje comandam os altos executivos das maiores empresas de mídia do mundo.

Os intelectuais globalistas, que como dissemos no início, são herdeiros daquela pequena burguesia revolucionária, órfã e saudosa do poder estatal, hoje controlam a opinião pública conduzindo-a como bem entendem e para os fins que deseja, sem que ninguém se oponha de forma eficiente nos mesmos termos, isto é, por influência simétrica na opinião pública. Neste sentido, a compreensão das suas técnicas e o seu reconhecimento na realidade deveria ser a primeira etapa para qualquer reação às campanhas de consentimento, já que elas atuam muitas vezes em terrenos simbólicos e até subliminares de significação.

Afinal, como afirmou Bernays, “a manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática. Aqueles que manipulam este mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder do nosso país”.

Cristian Derosa é jornalista.

  • Titulo original deste artigo: Edward Bernays e o controle da opinião pública – Publicado em Midia Sem Mascara.

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