Divergências limitam avanços nas negociações entre China e EUA

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry (à esq.), fala com o presidente da Chjna, Xi Jinping (à dir.), em encontro em Pequim.

Os Estados Unidos e a China fizeram pouco progresso em uma série de divergências durante os dois dias de negociações sobre economia e segurança da alta cúpula, num momento em que os dois países se preparam para mudança na liderança e mais incertezas econômicas.

Comunicados de autoridades dos dois lados ontem sugeriram que as conversas renderam resultados graduais. O secretário do Tesouro dos EUA, Jacob Lew, disse que as autoridades chinesas reafirmaram o compromisso de não desvalorizar o já abatido yuan por motivos de competitividade e prometeram não ter como “meta” uma expansão do setor de aço, cuja produção crescente ele disse anteriormente que estava distorcendo o mercado.

Pequim ampliou o acesso ao seus mercados financeiros fortemente regulados, oferecendo aos investidores americanos uma cota de 250 bilhões de yuans (US$ 38,1 bilhões) para comprar ações e títulos chineses. Os dois governos concordaram em designar bancos de compensação nos EUA para realizar transações em yuan, medida que promoveria um maior uso da divisa chinesa. Lew disse que é muito cedo para citar quais instituições financeiras americanas podem ser escolhidas, mas informou que os EUA terão a maior cota depois de Hong Kong.

Em questões mais controversas, as autoridades pareceram reafirmar posições e, em alguns casos, houve total desacordo. Uma nova lei chinesa que garante à polícia a autoridade de monitorar organizações estrangeiras sem fins lucrativos provocou fortes discordâncias.

A reunião deste ano dos Diálogos Estratégicos e Econômicos é o último da gestão de Barak Obama, com a eleição presidencial dos Estados Unidos se aproximando. A China logo enfrentará sua própria transição de liderança. Em 2017, cinco dos sete membros do Comitê Permanente Politburo, o principal órgão de decisão do governo, sairão.

O momento das reuniões, combinado com as tensões em torno do Mar da China do Sul — onde os EUA estão desafiando a afirmação de Pequim de soberania sobre ilhas, recifes e águas vizinhas reivindicadas por outros países —, limitaram perspectivas para avanços em questões como comércio, barreiras de investimentos e a política cambial da China.

O secretário de Estado americano, John Kerry, e o conselheiro de Estado da China, Yang Jiechi, mantiveram suas posições sobre o Mar da China do Sul. Kerry manifestou preocupações sobre passos unilaterais “de qualquer parte” — uma referência à reivindicação de terras pela China — e ele disse que os requerentes deveriam ser moderados. Ele disse que os EUA apoiam “uma resolução pacífica baseada na aplicação da lei”.

Yang pediu aos EUA para “honrarem sua promessa” de não tomar partido em disputas territoriais e disse que a China tem o direito de defender seus direitos territoriais nas águas disputadas. Ele reiterou que Pequim não reconhecerá uma decisão vinda de um painel de arbitragem criado em Haia em um processo aberto pelas Filipinas contra as reivindicações da China — um caso que os EUA apoiam.

A lei recentemente aprovada restringindo ONGs estrangeiras também atrapalharam os diálogos. Uma autoridade americana disse que a lei foi foco de discussões durante todas as negociações e que as discussões foram tensas.

“Nós não poderíamos ter registrado nossas preocupações de forma mais direta ou vigorosa”, disse Kerry a repórteres em uma coletiva de imprensa ontem à noite.

Em resposta aos receios americanos, Kerry disse que ele recebeu garantias do presidente chinês, Xi Jinping, em uma reunião ontem, que a lei não seria aplicada “de forma a afetar a capacidade de abrir empresas e fazer negócios e das pessoas se sentirem confiantes sobre o que estão fazendo aqui”. Segundo ele, a questão agora “é de fato o que acontece”.

Yang disse no encerramento da reunião que a lei forneceria uma melhor proteção para tais grupos e, à medida que eles cumprirem essa e outras leis, eles “não serão afetados de maneira alguma”. Mas a lei, da forma que está redigida, será difícil de ser cumprida pela maioria das ONGs, disse a autoridade americana. Ela exige notificações de reuniões, por exemplo, com um ano de antecedência.

As discussões tiveram progresso limitado devido às divergências, embora autoridades dos dois países tenham salientado áreas onde eles estiveram trabalhando juntos, incluindo mudanças climáticas e não proliferação nuclear. Os EUA têm insistido para que a China pressione mais a Coreia do Norte para que ela desista de seu programa nuclear.

Kerry afirmou que Washington e Pequim se comprometeram em cumprir totalmente as sanções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas contra Pyongyang aprovadas no início do ano e que especialistas dos dois países se encontrarão para cooperar na implementação delas.

Yang disse que a China está comprometida com a desnuclearização da Península Coreana.

Os dois lados concordaram em acelerar as negociações em um tratado de investimento entre as duas maiores economias do mundo, depois de anos de discussão.

Os negociadores chineses submeterão no fim deste ano uma proposta revisada delineando quais os setores que estão fora dos limites de investimento estrangeiro, disse o vice-primeiro-ministro, Wang Yang. A proposta anterior da China de uma “lista negativa” continha mais de 40 setores e foi considerada ampla demais por Washington. Especialistas em comércio exterior não esperam que um tratado seja concluído antes de Obama deixe o governo.

De positivo, Lew citou a promessa da China de restringir a expansão de sua indústria siderúrgica, disse ele, embora garantias similares não foram dadas para outros setores industriais. “Lamentavelmente nós não fomos capazes em chegar a um entendimento comum sobre a situação de excesso de capacidade de alumínio no mundo”, disse Lew, afirmando que outros países devem manifestar suas preocupações no encontro do Grupo das 20 maiores economias do mundo que será sediado na China em setembro. “Essas são questões internacionais, não apenas dos EUA”, disse ele.

Lew disse que Pequim também prometeu trabalhar para acabar com as “empresas zumbis” — aquelas que não são lucrativas mas continuam operando e cuja produção eleva o excedente de produtos industriais nos mercados globais.

FALICIA SCHWARTZ e MARK MAGNIER

Colaborou Lingling Wei

Foto: EUROPEAN PRESSPHOTO AGENCY

Fonte: The Wall Street Journal

5 Comentários

  1. O Poder econômico dos chineses é impressionante assim como a da Rússia .. basta vê as sabotagem que o tio satã, o rei dos golpes, faz para neutralizar as demandas do dragão e do urso no cenário mundial e mesmo assim as economias destes dois ainda continuam em pé e muito bem vigoroso … mais uma vez .. parabéns Konner pelo excelente trabalho que vocês faz aqui.

    • O poder econômico da Rússia não é nem de perto impressionate como o da China. A Rússia está mais para Canadá, é so pesquisar.

      Principalmente depois da gueda do rublo, que rebaixou a Rússia algumas posições.

      A economia da Rússia está em queda, os salários diminuíndo e as despesas públicas também por falta de dinheiro. Pelo contrário, está longe ser “bem vigoroso”.

      Não faz sentido querer colocar a Rússia sempre de carona com a China em tudo.

      A Rússia tá mal sim.

      Perdoem fugir do tópico, mas alguém precisa corrigir essas inverdades.

  2. Não há muito o que fazer no cenário de conversações, a China segue seu histórico milenar no caminho para a hegemonia, e pra consolidar esta posição antecipadamente precisa dominar os territórios necessários ao seu redor, a fim de criar bloqueios ao Cinturão Oriental, e isso já está perto de acontecer, as ilhas artificiais criadas até então dão aporte aos chineses em cenário de conflito, criando uma zona de exclusão aérea e limitações de ação de qualquer esquadra ( no caso de a China cumprir a colocação de mísseis anti navio e sistemas anti aéreos ).
    Com base nessa linha de pensamento afirmo, a China não retrocederá, e devido ao seu poder financeiro e militar os EUA e aliados não poderão confrontar de frente.

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