Pressão política interna eleva tensão econômica entre os EUA e a China

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, chegou ontem a Pequim.

Os Estados Unidos e a China, que enfrentam pressões políticas crescentes em casa, estão vendo as tensões econômicas atingir o pior ponto em anos por causa das práticas cambiais e comerciais.

A China derrubou o yuan ao menor nível em cinco anos em relação ao dólar, ressuscitando as acusações de empresas americanas de manipulação cambial para a obtenção de vantagens competitivas para os produtos chineses. O governo Barack Obama protocolou uma série de queixas comerciais e aumentou os impostos sobre vários setores chineses, de pés de galinha ao aço laminado a frio usado em utensílios e autopeças.

Os atritos entre as duas maiores economias globais podem crescer se as políticas internas colidirem com um crescimento já fraco. Os EUA, percebendo uma maior retórica contra a China na campanha presidencial, querem que Pequim avance nas promessas de abrir seus mercados e permitir maior entrada de investimentos externos.

Os líderes chineses, preocupados com uma maior desaceleração econômica, estão tentando manter as fábricas operando e também evitar o tipo de inquietação no mercado que vem contendo os investidores globais no último ano.

Autoridades do Tesouro e do Departamento de Estado dos EUA estão em Pequim para dois dias de negociações para tentar amenizar pontos que vêm causando irritação nas relações comerciais e resolver tensões geopolíticas, particularmente quanto ao mar do Sul da China, onde seus militares estão operando com uma proximidade às vezes perigosa.

Os EUA, que na semana passada se moveram para cortar a Coreia do Norte do sistema bancário, querem que Pequim ajude a conter seu aliado cada vez mais beligerante.

As autoridades americanas também querem uma garantia dos chineses de que prosseguirão com as reformas prometidas, como a reestruturação das empresas estatais e a redução do excesso de capacidade industrial. Tentarão, ainda, avançar nas discussões sobre um acordo de investimentos.

“Implementar essa agenda de reformas e resistir ao ímpeto de se manter preso a um modelo de crescimento ultrapassado são a melhor fórmula para a China conseguir uma transição ordenada e colocar a sua economia em uma base mais sólida”, diz Nathan Sheets, sub-secretário do Tesouro dos EUA para assuntos externos.

Zhu Guangyao, vice-ministro das Finanças da China, admitiu em entrevista coletiva na semana passada que a economia da China enfrenta grandes desafios, mas insistiu que Pequim vai cumprir a sua agenda de reformas e os compromissos assumidos pelo G-20 contra a desvalorização cambial competitiva.

Alguns analistas dizem que o presidente Xi Jinping, que quer consolidar o poder do Partido Comunista antes da transição da liderança no ano que vem, paralisou os esforços de reforma e, em vez disso, está acelerando a velha receita do crescimento alimentado pelo crédito e pelos gastos em infraestrutura. O objetivo do presidente seriam garantir a estabilidade econômica e apaziguar adversários.

Uma tentativa de Pequim no ano passado de permitir aos mercados definir a taxa de câmbio foi mal conduzida, contribuindo para um período de problemas para os mercados financeiros chineses e despertando preocupações no mundo todo. A reação surpreendeu as autoridades chinesas e provocou uma dor de cabeça para os reformistas no país.

O governo chinês está mantendo usinas siderúrgicas, minas de carvão e uma série de segmentos do setor industrial respirando, apesar da demanda fraca e da queda dos preços das commodities que já deveriam ter fechado muitas dessas usinas e empresas.

Recentemente, os EUA golpearam as importações de aço laminado a frio chinês com uma taxação de 267%, acusando o país de dumping, ao vender produtos abaixo dos preços de custo.

“Do controle sem rodeios pelo governo a um grande número de subsídios ilegais, muitas companhias siderúrgicas estrangeiras estão protegidas das realidades do mercado e da disciplina das igualdades de condições”, disse recentemente a analista John Ferriola, executivo-chefe da Nucor, a gigante siderúrgica da Carolina do Norte.

Essas “práticas que distorcem o comércio” são o maior problema que a indústria enfrenta, disse ele. A economia chinesa desacelerou após décadas de crescimento de dois dígitos. O crescimento está agora em 6,7%, o menor ritmo desde a crise financeira global, em meio a um aumento do endividamento, da insegurança no mercado de trabalho e da produção indústria bem acima da demanda.

A China reconhece que tem um problema de excesso de capacidade. “Mas precisamos evitar o desemprego em massa”, disse em março o premiê Li Keqiang.

Quando o presidente Bill Clinton convenceu o Congresso americano, em 2000, a apoiar a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), os EUA contavam com a ampliação do comércio como catalisador de mudanças políticas no regime comunista chinês. As empresas americanas esperavam se beneficiar com a industrialização da nação mais populosa do mundo.

Uma década e meia depois, as empresas e os eleitores americanos estão cada vez mais frustrados, apesar das promessas da China de abrir o país. Salários e custos menores tiraram a produção dos EUA, as importações chinesas aumentaram e a produção industrial americana caiu enquanto parcela da economia. O déficit comercial dos EUA com a China passou para US$ 365 bilhões, hoje correspondentes a cerca de 2% do PIB americano.

Os candidatos à Presidência dos EUA estão aproveitando a raiva dos americanos com a perda de empregos para a China para ganhar votos. Muitas das áreas mais duramente afetadas pela ascensão da China vêm registrando o apoio mais sólido ao candidato republicano, Donald Trump, que já ameaçou impor uma tarifa de 45% à China para forçar uma mudança nas políticas comerciais de Pequim.

O governo Obama aponta para a grande valorização do yuan desde 2005, a retomada das negociações para um acordo bilateral de investimentos e as promessas de Pequim de permitir aos mercados ter um papel maior na economia, como provas de que sua diplomacia está dando resultado. Mas a desvalorização recente do yuan e os contínuos obstáculos ao acesso das empresas americanas ameaçam corroer esses avanços.

“Há um risco crescente de que, se a China permanecer fechada, veremos uma preocupação cada vez maior com o aumento do desequilíbrio dos investimentos”, diz Jeremie Waterman, executivo da Câmara de Comércio dos Estados Unidos que supervisiona a China.

A China também enfrenta problemas de acesso aos EUA. Suas empresas reclamam de uma teia complicada de leis federais e estaduais, e de regras que “não são transparentes o suficiente”, além de restrições a investimentos chineses em áreas tidas como estratégicas, afirma Zhang Xiaoqiang, vice-presidente executivo do China Center for International Economic Exchanges. As autoridades chinesas também estão observando atentamente o cenário político americano, temendo assumir compromissos que a próxima administração possa voltar atrás.

Artigos publicados recentemente na imprensa chinesa, controlada pelo governo, questionaram quem está no controle da política econômica dos EUA.

“A capacidade de implementação do presidente Obama sempre foi meio fraca, e no lado chinês, a situação agora pode ser a mesma”, diz Jing Huang, professor de relações EUA-China na Universidade Nacional de Cingapura.

MARK MAGNIER

Foto: REUTERS

Fonte: The Wall Street Journal

8 Comentários

  1. “A China derrubou o yuan ao menor nível em cinco anos em relação ao dólar, ressuscitando as acusações de empresas americanas de manipulação cambial para a obtenção de vantagens competitivas para os produtos chineses.”—–
    Foi justamente graças a esse yuan competitivo e mão de obra barata que muitas empresas dos EUA migraram para a China na decada de 80, levando com elas empregos e mais empregos mas garantindo aos executivos salarios astronomicos. Aos pouco o parque industrial chines foi ganhando corpo (a quantidade de engenheiros formados por lá é astronomica, e em contra partida formam-se muito poucos advogados) e agregando mais tecnologia ao que era construido e o resto da historia todo mundo sabe.
    Alguns anos atras teve uma choradeira dessas e a China simplismente comprou algumas toneladas de aviões da Boeing e tudo ficou na boa. Infelismente para a população dos EUA o setor especulativo tão grande influencia nos politicos do Pais.
    Sds

    • PERFEITA ANÁLISE; isso serve para nós também; temos que nos livrar da esquerda que está nos bolsos dos banqueiros especuladores; a indústria nacional não aguenta mais juros tão altos; assim iremos a bancarrota, mais ainda.

      • A esquerda esta no bolso dos banqueiros especuladores.Alem de total desconhecimento dos assuntos aqui tratados ainda inverte valores.

      • Suma Sapiencia voce é um serio candidato a bganhar o generico do premio Nobel,o premio —–.
        Mesmo apos terem botado pra fora o que voce classifica de esqurdalha,comunalha,ratos bolivarianos e por ai vai,o Brasil continua no bolso dos carteis financeiros internacionais e não tem como sair disso.A unica forma é facilitando tudo o que eles quiserem e sufocando o povo com medidas impopulares que eles jamais teriam coragem de tomarem agora o que viria transformar as Olimpiadas em um inferno.
        O mercado desconhece bandeiras,ele reconhece apenas lucros segundo suas diretrizes e ponto.
        Da ate pena de sovar voce.

    • De 80 pra ca quantos anis tem mesmo ? O que a China faz agora é o mesmo que os EUA estavam fazendo ate 2013 quando Brasileiros,Chineses e turistas dos quatro cantos iam la deixar seus milhões.Ate seus emigrantes Latinos eram importantes a eles não so por votos mas o montante que arrecadavam deles atravez de impostos e consumo interno.

    • Cogitam ate abocanharem nossa previdencia pois ela é altamente rentavel,os otarios a pagam religiosamente e quando precisam dela morrem não implicando na diminuição dos lucros.

  2. Quero ver quando os Ching Lings resolverem fechar a torneira para os EUA,sera um Deus nos acuda.
    Não é so aqui que inclusive marcas Brasileiras vendidas en grandes lojas de departamento são made in China,la nos EUA tambem.
    Quem mais investe,aplica,empresta,compra titulos e rola a divida Americana é a China.
    Vejo a China com um leque mais variado de contramedidas contra o unilateralismo Yankee.Basta que os Chineses lhes fechem a torneira para elesa ficarem a deriva.

    • A maior vulneralidade e deficiencia Chinesa é a impossivel manutenção de linhas de suprimento em caso de grande conflito por estarem distantes do centro consumidor.
      A China pode ser derrotada facilmente pelo seu estomago.

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