Cameron sofre para convencer britânicos sobre vantagens de permanência na UE

Com duas semanas para a realização do referendo sobre a permanência ou não da Grã-Bretanha como membro da União Europeia, o primeiro-ministro David Cameron estava esperando que sua campanha para “permanecer na UE”, chamada de “Remain”, estivesse na dianteira. Mas isso não é o que está acontecendo. As semanas de alertas de autoridades independentes do Reino Unido, Europa e do mundo deveriam ter convencido os eleitores de que os riscos de sair do bloco são elevados demais em termos de perda de comércio, investimentos e empregos. Os defensores da permanência afirmam que estão confiantes que sua mensagem chegou a um número suficiente de eleitores para garantir a vitória. Ainda assim, pesquisas de opinião mostram um empate. Cameron está lutando para salvar por sua vida política.

Como isso ocorreu? Um dos motivos é que os holofotes se mantiveram firmes sobre a questão crítica da imigração depois da divulgação, este mês, de dados mostrando que 333 mil pessoas migraram para o Reino Unido no ano passado. O número está bem acima da meta anual existente do governo de menos de 100 mil, o que reforçou as preocupações sobre as regras da EU que dão a todo cidadão do bloco o direito de viver e trabalhar no Reino Unido. A alegação dos defensores da saída dos britânicos da UE de que ela permitiria que o Reino Unido “retome o controle” de suas fronteiras e corte drasticamente a imigração tem um apelo claro para muitos eleitores que temem que a imigração excessiva coloque uma pressão intolerável no tecido econômico e social do país.

Se a saída do Reino Unido da UE, que está sendo chamada de “Brexit”, vai realmente levar a uma queda na imigração é uma questão aberta: mais de metade dos imigrantes que chegaram recentemente é de fora da UE, e as evidências sugerem que os imigrantes da UE contribuíram positivamente para a economia e o sistema fiscal. Enquanto isso, o desemprego no Reino Unido está em apenas 5% e não há evidências suficientes de que a imigração na UE tenha deprimido os salários. A promessa da campanha em favor da saída de restringir a imigração total em menos de 100 mil pessoas ao ano poderia ser cumprida apenas com a retirada do Reino Unido do mercado comum da UE, o que todas as análises econômicas independentes sugerem que seria a consequência de um Brexit mais prejudicial do ponto de vista econômico.

De qualquer forma, Cameron está vulnerável em relação à imigração em parte porque ele anteriormente prometeu e fracassou em reduzir o fluxo de migrantes para menos de 100 mil, e depois prometeu e fracassou em conseguir uma redução da imigração como parte de suas negociações com a UE antes do referendo.

Outra razão para o fortalecimento da campanha pela Brexit é que ela pega carona na onda global de revolta à autoridade estabelecida. Incapazes de citar um governo estrangeiro amigável que apoie a Brexit ou uma organização internacional confiável que confirme as afirmações da campanha de que o Reino Unido ficaria economicamente mais forte fora da UE, os defensores da saída têm apresentado os apoiadores da permanência no bloco como membros de uma elite global interesseira. Eles argumentam que sua campanha, ao contrário, é apoiada por empreendedores e pessoas e empresas que assumem riscos, embora haja pouca evidência disso: uma clara maioria de empresas de todos os formatos e tamanhos apoia a permanência, inclusive a grande maioria das empresas de tecnologia.

Na verdade, as alegações antielitistas da campanha para a saída contradizem as credenciais de muito de seus defensores como membros da elite estabelecida. Mas essa linha de ataque tem repercutido entre os principais apoiadores da Brexit: eleitores mais velhos, tanto aqueles de baixa renda quanto aquelas parcelas da sociedade britânica que perderam status relativo como resultado da globalização. Nesse grupo está incluída parte da antiga classe dominante cada vez mais pressionada por uma nova estrutura de profissionais com visão e foco internacional. Na verdade, a campanha Brexit esteja talvez sendo vista não como uma cruzada contra a sociedade estabelecida, mas como uma competição entre a nova e velha elite.

Mas talvez o principal problema da campanha para a permanência seja a inabilidade de seus líderes de produzir uma narrativa convincente do motivo da existência da UE, o que ela faz e para onde está indo. A campanha da saída tem reverberado em grande parte porque ela convenceu muitos eleitores de que a UE é um superestado antidemocrático, arrogante e distante ou um Estado prestes a fracassar que representa um perigo para a identidade britânica e para as instituições. Em vez de atacar essa caricatura, a abordagem de Cameron tem sido em grande parte em concordar, embora ressaltando as formas pelas quais o status especial do Reino Unido o protege dos excessos de Bruxelas.

Na verdade, o atual cenário econômico e político da Europa torna mais difícil atacar essa narrativa. Mas uma campanha pró-UE mais confiante teria contado uma história mais contundente sobre o papel vital do bloco como um mecanismo pelo qual 28 nações soberanas podem tentar encontrar soluções comuns para problemas enfrentados por um continente historicamente instável. A relutância de Cameron em apontar o papel da UE na resposta para desafios que ultrapassam fronteiras, de ameaças terroristas e imigração ilegal a mudanças climáticas, é desconcertante, assim como sua relutância em falar sobre sua própria jornada de crítico de Bruxelas a defensor da permanência do Reino Unido e o que ele aprendeu sobre a realidade da diplomacia internacional no trajeto.

Talvez isso ocorra porque o primeiro-ministro acredite que poucas semanas de campanha sejam insuficientes para conter 30 anos de hostilidade política e da mídia em relação à UE. Ou talvez ele se preocupe com o risco de parecer muito a favor da Europa enquanto espera poder unir seu partido depois do referendo de 23 de junho. De qualquer forma, ele se encontra batalhando contra uma campanha bastante emocional e baseada em identidade pela saída do Reino Unido armado em grande parte com estatísticas econômicas. Não está claro se isso será suficiente.

SIMON NIXON

Foto: REUTERS / FRANCOIS LENOIR

Fonte: The Wall Street Journal

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