O “Quarto Poder” e o controle da opinião pública (1° Parte)

Desde que pensadores como John Locke apontaram para a importância dos jornais na educação da população, muitos intelectuais e cientistas se dedicaram à compreensão do funcionamento da mídia de massa para estabelecer técnicas precisas de controle por meio de uma elite.

O “Quarto Poder” é uma expressão utilizada com conotação positiva de que a Mídia (meios de comunicação de massa) exerce tanto poder e influência em relação à sociedade quanto os Três Poderes nomeados em nosso Estado Democrático (Legislativo, Executivo e Judiciário).

Por: Cristian Derosa

A palavra propaganda, na sociologia e na política, nos remete às técnicas empregadas por Joseph Goebbels a serviço de Hitler, cujos crimes normalmente nos trazem à memória o que acreditamos ser o pior e mais devastador genocídio que já houve. Ocorre, porém, que nem Goebbels é idealizador da propaganda nazista e nem o nazismo seria merecedor do status de maior causa de mortes na história humana. Mas por que então palavras como esta e tantas outras nos remetem a ideias sobre as quais manifestamos opiniões de apoio ou repulsa quase que imediatamente?

O uso que Goebbels fez das técnicas de propaganda foi somente uma articulação possível dentre as diversas possibilidades desenvolvidas, na verdade, por Edward Bernays, o pai da profissão de relações públicas e uma das maiores mentes da propaganda no século XX. A inovação trazida por ele foi justamente a associação de palavras e ideias a determinadas emoções, tornando possível o controle dos sentimentos do público e, com isso, de suas ações.

Ao longo do século passado, essas técnicas foram usadas para suscitar repulsa a determinadas ideias, paixões por outras, desejos e até dependências psicológicas a conceitos ou produtos comerciais de clientes específicos. Puderam transferir a culpa de crimes a inocentes mediante exposições na mídia, assim como transformar heróis em bandidos e vice-versa.

Bernays pode ser considerado o idealizador de grande parte da cultura de massa do século passado, do consumismo e da cultura sentimental que vemos hoje. Foi inspirador de Goebbels e deu à propaganda o nome mais genérico e menos agressivo de relações públicas. Com técnicas ligadas à psicanálise, ele empreendeu uma das maiores e mais decisivas mudanças na mente do cidadão comum ao transferir o interesse do consumo da necessidade prática ao desejo simbólico.

Junto aos trabalhos de outros pesquisadores de comunicação social anteriores e posteriores, as técnicas de Bernays foram utilizadas amplamente por institutos de pesquisa social e empresas interessadas em controlar a opinião pública. Este interesse foi crescendo a partir do que era visto como uma necessidade desde o século anterior: a do controle social por meio de uma elite esclarecida. Vejamos como essa necessidade veio a se formar para compreendermos então o papel de Bernays e dos resultados perceptíveis à nossa volta.

O primeiro mito a se desfazer é o de que ideias de controle social são oriundas de mentalidades ligadas a regimes totalitários. Estes regimes só aperfeiçoaram e deram caráter mais técnico a uma necessidade dos próprios regimes democráticos de caráter liberal. A prova disso é que essas ideias surgem da mente de liberais interessados no progresso das ideias e das liberdades. Em muitos aspectos, ideias totalitárias são decorrentes de uma hipertrofia de ideias profundamente democráticas. Afinal, a democracia para funcionar deve contar com o consentimento total. Isso não quer dizer que a democracia seja o problema, mas pode significar que a sua defesa meramente ideológica ou instrumental tem grandes chances de se transfigurar em uma campanha fascista. E gênios ideólogos souberam utilizar muito bem este potencial.

Desde que pensadores como John Locke apontaram para a importância dos jornais na educação da população, muitos intelectuais e cientistas se dedicaram à compreensão do funcionamento da mídia de massa para estabelecer técnicas precisas de controle por meio de uma elite. A própria ideia de democracia liberal exige um tipo de legitimação que vai além da mera defesa teórica de seus pressupostos, mas passa pela necessidade de se gerar um consentimento público ou o que Karl Mannheim chamaria de “democracia militante”. A existência de propostas de caráter controlador e totalitário, portanto, se deve ao tipo de intelectualidade que acabou ocupando lugar de destaque neste processo. A passagem da ideia de controle indireto da opinião pública para um processo de controle estatal da mídia propriamente, está diretamente ligado à ascensão de um tipo de elite, a socialista fabiana, que se origina das classes pequeno-burguesas historicamente carentes de atenção estatal.

A proeminência das classes intelectuais na opinião pública, a partir do processo de crescimento da circulação de jornais políticos desde o século XVIII, culminou, no final do século XIX, com o florescimento das ideologias massivas, herdeiras e saudosas dos “avanços” da Revolução Francesa. O puritanismo da classe burguesa (influenciado pelo protestantismo), aliado às crenças no poder redentor das revoluções populares, trouxe a idealização de um tipo de proletariado defensor de seus direitos e participativo nas lutas políticas. Esta expectativa, porém, existente só na mente dessa pequena burguesia, não se efetivou na prática, pois o povo proletário do final do século XIX não se interessava por política nem por revoluções, já que as próprias condições de trabalho não pioravam como tentara demonstrar Marx. Isso trouxe certa desilusão no poder popular transformador, por parte dos intelectuais. Marx foi um dos responsáveis pela confusão entre o proletariado e a pequena burguesia insatisfeita ao usar dados do proletariado inglês e cruzá-los com as suas supostas consequências, às revoluções de 1848. Ocorre que estas revoluções foram levantes provocados pela pequena burguesia alfabetizada e insatisfeita, não por operários.

O resultado deste processo psicológico, muito bem descrito porEmmanuel Todd em seu livro “O louco e o proletário – filosofia psiquiátrica da história” (1951), foi o estabelecimento de um poder paralelo dos herdeiros dessa recalcada burguesia intelectual, cuja expressão mais clara está na atual elite globalista que já no início do século XX estava no comando da intelectualidade mundial.

O início do século XX, portanto, foi marcado por pesquisas de opinião pública de caráter normativo, a chamada escola funcionalista, que tinha como principal objetivo o conhecimento de técnicas para a manutenção da ordem pública, objetivo de uma classe científica de escola positivista. Os institutos de pesquisa social, como Rockefeller e Tavistock, inspirados na antiga confraria de pesquisadores de Wellington House, dedicaram-se ao estudo do processo cognitivo e os seus resultados práticos para a política.

Mais tarde, porém, percebeu-se que as agendas políticas deviam ser trabalhadas no campo cultural, o que trouxe maior margem de ação a estes pesquisadores. Hoje, nomes como Edward Bernays, Kurt Lewin, Walter Lippmann, entre outros, são referências em matéria de opinião pública e psicologia das massas, apesar de seus estudos serem vistos como meras investigações sem funções práticas. Lippmann, em seu livro “Opinião Pública” (1922), revolucionou os estudos de mídia ao relacionar as decisões dos cidadãos às imagens do mundo em suas mentes, cuja construção caberia a uma elite de esclarecidos que tivessem o controle dos meios de comunicação. Suas conclusões foram derivadas das descobertas de Ivan Pavlov sobre o condicionamento cognitivo das ações e dos comportamentos dos animais aplicados ao homem. Assim,Lippmann salienta a importância dos diversos mecanismos de censura como condição para a construção social, e sua função de barreira necessária entre o público e os eventos para a construção dos pseudo-ambientes.

Lippman – importante fonte de estudos em comunicação hoje – argumentava que a democracia representativa não poderia funcionar sem uma “organização especializada e independente que torne os fatos invisíveis inteligíveis àqueles que tomam as decisões”. Ele concluia o primeiro capítulo dizendo: “Minha conclusão é que, para serem adequadas, as opiniões públicas precisam ser organizadas para a imprensa e não pela imprensa”.

Estando o público distanciado dos eventos reais por meio de barreiras naturais ou artificiais, este terá, portanto, como única imagem destes fatos o que é passado por meio da mídia, das notícias diárias. “O único sentimento que alguém pode ter acerca de um evento que ele não vivenciou é o sentimento provocado por sua imagem mental daquele evento”, diz Lippmann. Entre os seres humanos e o ambiente real, há a presença marcante dos pseudo-ambientes dos quais o comportamento é uma resposta. Este comportamento-resposta, porém, se é uma ação, não opera evidentemente no mundo dos pseudo-ambientes onde foi estimulado, mas no ambiente real onde de fato as ações acontecem.

Em termos práticos, isso quer dizer que, de posse do controle das notícias, pode-se determinar em grande parte as respostas dos cidadãos, por meio da geração destes pseudo-ambientes. Para determinar ações ou sentimentos específicos nos indivíduos, portanto, basta ater-se à forma como é construída a imagem do objeto e torná-lo socialmente válido. Ou seja, se as ações fossem respostas à realidade, seria muito difícil determinar ações, pois é impossível mudar os fatos dos quais as ações são a resposta. Esta é como se vê uma explicação lógica da mentira sistematizada.

Lippman foi membro da Sociedade Fabiana na juventude até se desiludir com o socialismo por não concordar com a ideia da luta de classes, embora aceitasse a sua existência na realidade. A imagem mental da ideia de luta de classes fomentaria o caos e a desordem, coisa tida como inevitável para os socialistas. Ele queria que a sociedade fosse controlada para a democracia e a ordem e via no marxismo ortodoxo um entrave à paz, apesar de concordar com a doutrina marxista quanto à economia. Não é a toa que Lippmann é um dos honoráveis fundadores do Council of Foreign Relations (CFR), em 1919, uma das mais atuantes entidades de influência da opinião pública no mundo. Com o CFR, o sonho de Lippmanne de muitos intelectuais fabianos estava mais perto de ser realizado.

— Cristian Derosa é jornalista.

  • Continuação do artigo – O “Quarto Poder” e o controle da opinião pública (2° Parte) – com o subtítuloEngenharia do consentimento.
  • Titulo original deste artigo: Edward Bernays e o controle da opinião pública – Publicado em Midia Sem Mascara.

7 Comentários

  1. Acesso a informação ampla não combina com democracia é simples assim.
    Paises democraticos (EUA, Canada, Japão, Dinamarca, Inglaterra …) tem leis que evitam ou tentam evitar manipulações por parte da imprensa, principalmente a mais tradicional e com isso tentar garantir a divulgação da informação de forma ampla e contextualizada. Aqui nosso cancer(Globo) adora dizer que uma lei nos moldes dos EUA ou Inglaterra é algo de bolivariano, um atentado contra a liberdade de imprensa.
    A Internet ainda é nosso contra ponto, por enquanto pois em breve a banda larga será limitada e com isso restrita.
    Sds

    • Verdade, o 4° poder esta fragilizado em decorrência da universalização da internet.
      A mídia expõe parte da verdade que lhe interessa, mas a internet acaba contrapondo com toda a verdade…
      Não creio que o governo vai consegui controlar a internet. Sera um tiro no próprio pé. O povo esta em ponto de explodir, basta mais um estopim.

      • Grato pelo comentario.
        Me coloquei mal quando disse limitada e restrita, o correto é cara.
        O que vai acabar retringindo o acesso de qualidade a apenas uma parte da população e o resto que fique com a “discada”.
        O plano é deixar a internet fixa nos moldes da que se tem na telefonia movél, com isso além de restringir o acesso se favorece as nossas TVs que não tem como competir com conteudo de qualidade, pois graças ao monopolio, sempre produziram lixo.
        Quanto a possibilidade do povo explodir eu concordo, como na revolta da vacina.
        Sds

      • O problema da internet e redes sociais é o descontrole total,a falta de conscientização e o mau uso.Não seria tambem castrando que se resolveria nada.
        O Brasil deixou de ser tão atrasado justamente quando abriram para a entrada da internet e componentes de informatica.Em tão pouco tempo demos um salto extratisferico.
        Hoje nosso povo que em maioria ainda não tem acesso a internet é um dos que mais pesquisa e mais compara,o que é essencial na formação de propria bopinião.
        Mesmo que monitorem tudo e que venham ate a querer castrar coisas,não seria possivel.Hoje internet é meio fundamental da raça humana e sua tndencia é que cada vez mais se torne gratuita e acessivel,mesmo com as grandes pressões corporativas e de governos autoritaros.
        Deveria-se sim filtrar o que vai de encontro a moral de formação e manutenção de Estado e nunca o que favorece tendencias,religiões ou o que quer que seja.
        A propria Biblia estimula : “Observai a todo conhecimento que se apresentar diante de ti e tenha discernimento em reter o que edifica”.

    • è o mais racional a se fazer mais é praticamente impossivel ter isse raciocineo no Brasil pela diferença cultural e pelo alto grau de prostituição institucional.

  2. Desde os primórdios da imprensa americana a mídia controlava a opinião pública; hoje ela, a mídia, em quase sua totalidade, pertence aos mesmos que controlam os formadores de opinião da esquerda, chamada por eles de “democrata” ou “progressista”; se buscarem com afinco, chegarão a sobrenomes com ênfase abraaônicas; tema de difícil digestão para alguns. Alguém com isenção tem que tematizar a situação atual e criar um mapa de influências e financiamentos da mídia ocidental para que as pessoas de senso comum possam vislumbrar o que se esconde por detrás dos bastidores; exemplo: o grupo IG pertence hoje a um grupo de portugueses ligados aos Clintons financeiramente e que ditam os costumes e regras para nós brasileiros através de seus canais de comunicação, servindo ao interesses dos GLOBALISTAS; podem pesquisar; é batata; por isso que a qualidade cultural e moral do povo brasileiro é solapado diuturnamente; é gayzismo, feminismo, glamorização da bandidagem, coitadismo barato, vitimização de “minorias” com intuito de criar celeumas no seio da sociedade e por ai vai; basta acessar o site que citei; assim como o site da deusa platinada; tudo com intuito de destruir a sociedade para que eles possam governar sem resistência.

  3. A BBC é o maior conglomerado midialitico do mundo e trabalha em sincronia com o sistema Britanico.
    Nos EUA os grandes meios midialiticos tambem trabalham em sincronia com o sistema.
    Isso é aceitavel e compreensivel,o que não é aceitavem e nem compreeensivel é vermos o segundo maior conglomerado midialitico do mundo que é a Rede Globo sempre trabalhar contra o sistema e o interesse nacional em beneficio do interesse externo alem de ser a maior sonegadora de nossos cofres publicos.
    Teve um deputado que votou a favor do impedimento e antes de dar seu voto virou para as cameras da Globo e disse : ” Voces pagarão muito caro por tudo o que estão fazendo,a hora de voces vai chegar”
    Ninguem em lugar nenhuma curte aquilo que se traveste de moralista para agir contra o interesse nacional e contra seu proprio povo.

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