Suíça decide se todos os seus cidadãos receberão R$ 9 mil por mês sem fazer nada

Cartaz em Genebra – Suíça Foto: Fabrice Coffrini / AFP / Getty Images

Imagine receber todos os meses cerca de R$ 9 mil (2500 francos) do governo sem ter que fazer absolutamente nada. Sem trabalho, sem esforço, sem precondições, apenas dinheiro. Essa é a proposta que está sendo levada a um plebiscito público neste domingo, dia 5, na Suíça.

Os eleitores do país vão decidir se desejam mudar o sistema social implementando uma renda mínima universal para todos os cidadãos, independentemente da riqueza de cada um. O valor substituiria outros subsídios e seria distribuído para todos os cidadãos e residentes no país. Para as crianças, o valor seria de R$ 2270 (625 francos).

A ideia não é nova – há 500 anos, o autor Thomas More defendeu a renda básica no livro Utopia, e projetos em escala regional foram testados em diversos países – mas a possibilidade de implementação incondicional, institucionalizada e em larga escala é inédita.

A Suíça passaria a ser a primeira sociedade a desfrutar da prosperidade gerada pelo “dividendo digital”, afirmam apoiadores do projeto.

A noção defendida por eles é de que a desassociação entre trabalho e renda será inevitável no futuro, pois cada vez mais a tecnologia está substituindo a atividade humana em países desenvolvidos. Ainda de acordo com esse pensamento, a Suíça deveria se adiantar a essa tendência e libertar a capacidade humana das obrigações econômicas como meio de garantir “segurança e liberdade” aos seus cidadãos.

“Robôs absorvem cada vez mais trabalho. É agora nosso dever reorganizar a sociedade de modo que a Revolução digital dê a todos uma vida digna: atividades de própria escolha e que façam sentido”, afirmam os defensores da causa em um documento explicativo enviado aos eleitores.

“Produzimos três vezes mais do que conseguimos consumir (…), mas isso não está acessível a todos. A renda mínima é um direito nesse contexto. Por que não tornar a riqueza acessível a todos?”, questiona o porta-voz do movimento pela renda mínima, Che Wagner, em entrevista à BBC Brasil.

O professor em história da Economia e Pensamento Político da Universidade de St.Gallen e autor do livro Austeridade: Breve História de um Grande Erro , Florian Schui, avalia que no contexto histórico a sociedade está mudando e há abertura para novos conceitos.

“É útil promover uma sociedade em que as pessoas tenham a estabilidade para tentar coisas novas (…), é útil dar a liberdade para as pessoas serem criativas. Isso vai ajudar muito a Suíça se for adotado”, opina.

Riqueza

Com uma renda per capita estimada em US$ 59 mil ao ano (R$ 211 mil) e taxa de desemprego inferior a 4%, o país não carece de políticas públicas de combate à pobreza. Isso, dizem defensores do projeto, permitiria ao país “dar-se ao luxo” de experimentar uma utopia.

“A Suíça está em uma situação única. Não temos pobreza, não temos desemprego e é realmente por isso que possuímos aqui a oportunidade de debater o revolucionário conceito de renda universal”, avalia Wagner.

Apesar da abundância econômica do país, o projeto não sairia barato aos cofres públicos. A estimativa oficial é de um custo de 208 bilhões de francos (R$ 750 bilhões), para atender 6,5 milhões de adultos e 1,5 milhão de crianças.

Desse valor, cerca de 55 bilhões viriam de cortes em outros projetos sociais. Outros 128 bilhões seriam financiados pelos assalariados: todos teriam 2500 francos abatidos de seu salário mensal, e aqueles que ganhassem menos que isso daria todo seu salário ao governo e receberiam o subsídio em troca.

Os 25 bilhões de francos que faltariam para cobrir o rombo poderiam ser obtidos por meio de um aumento no imposto de valor agregado (IVA), que atualmente é de 8% e passaria a 16%.

André Coelho, da BIEN – Basic Income Earth Network, ONG que defende uma renda universal incondicional, ressalta que o retorno de valor de um investimento desse porte ocorrerá também por meio de ganhos não monetários.

Para ele, o projeto oferece “retorno positivo” porque traz “estabilidade aos cidadãos, mais paz de espírito, mais tempo para a família e para os amigos, incentivo e condições para seguir atividades próprias e voluntariados diversos”.

Eleitores

Apesar dos argumentos, pesquisas de opinião sobre o apoio à iniciativa realizadas em abril apontaram uma rejeição de quase 60%.

A suíça Karin B. faz parte da minoria que votaria a favor. O motivo: já está vivendo do sistema social, mas sente-se uma “cidadã de segunda classe”.

Diagnosticada com depressão crônica, decorrente de um trauma de infância, ela recebe do Estado uma pensão por invalidez. Casada e com uma filha, a família depende do apoio estatal para sobreviver.

Karin conta que, se tivesse a renda garantida, em vez de uma pensão que a qualifica como inválida, ela buscaria uma reinserção no mundo do trabalho.

“Só que eu não posso tentar fazer nada hoje. Não posso tentar estudar, achar um trabalho temporário ou tentar abrir um negócio. Se eu for proativa, corro o risco de perder a minha pensão”, explica.

Pessoas como ela, que desejam participar da economia, mas encontram-se dependentes do modelo social atual, seria um dos grupos mais beneficiados pela medida.

“Estou certa de que muitas pessoas se mobilizariam para se tornarem produtivas e para empreender se tivessem essa garantia do ganho mínimo. Elas simplesmente não se aventuram porque correm o risco de perder o pouco que têm” conclui.

Erosão no consumo

O governo da Suíça pronunciou-se abertamente contrário à proposta de renda mínima. Em um documento explicativo enviado aos eleitores, o Parlamento desaconselha o apoio à ideia e elenca alguns motivos.

“A iniciativa deseja representar os anseios do povo. De fato, porém, enfraquece-se o serviço público, danifica a estrutura pública e gera aumento de impostos e erosão no consumo. De forma alguma ela cumpre o que promete”.

Na prática não seria possível suprir todas as necessidades sociais dos cidadãos somente com o pagamento de dinheiro, ou seja, uma substituição dos subsídios existentes pela renda fixa não atenderia à realidade. Por exemplo, idosos enfermos continuariam precisando do atendimento de agentes de saúde, cita o documento.

O governo afirma ainda que o conceito é “um experimento muito arriscado” e sustenta o argumento de que a parte da população com ganhos inferiores a 2500 francos não teria mais incentivos para trabalhar, ao mesmo tempo em que o polpudo benefício serviria para atrair imigrantes indesejados.

“Por esses motivos o Conselho Nacional e o Parlamento popular aconselham a rejeitar a iniciativa”, conclui o texto.

O ministro do Interior, Alain Berset, afirmou que quem votar “sim” no plebiscito estará se arriscando em uma aventura.

“O povo precisa estar ciente: em caso de sim, precisaremos reformular nosso sistema social (e isso trará) consequências imprevisíveis. Existem aventureiros que talvez queiram isso”, disse em entrevista ao jornal Tagesanzeiger.

BBC BRASIL

Fonte: Terra

4 Comentários

  1. O governo suisso esta pondo em pratica a proposta feita pelo ex Diretor do Federal Reserve Bureau. o FED, Ben Bernanke;s helicopter money. . de imprimir dolar e distribuir gratis por helicoptero a populacao norte Americana para ela comprar e consumir as mercadorias que estao no Mercado. Comentam-se que o Banco Central da Uniao Europeia e o Banco Central Britanico tambem estudam esse plano.. so que os beneficiados serao aqueles que tem contas bancarias. E uma maravilha se isso ocorrer. Como eu tenho conta bancaria em Londres. eu vou sacar esse grana que puserem e minha conta bancaria e comprar um imovel no Brasil. Repito que maravilha. Dao-me gratis um dinheiro, que vale menos que merda. um pedaco de papel imprimido. mas porque e merda de um pais mimperialista, eu poderei comprar um imovel construido com suor por pedreiros brasileiros. E aqueles mais fortunados que recebem esse mesmo dinheiro com lastro em merda, em maior quantidade poderao comprar o Brasil, ou um pedaco dele, como o Amazonas, a Petrobras por exemplo.

    • Merda se compra com merda, caro JOJO; por isso que nós adoramos dolares; na Bolívia não aceitam Reais, somente dólares; sinal que valemos menos que merda; rsrsrsrsrsrsrssssss; lembre-se; esse esquema de distribuir grana pro povão é coisa de socialista; lembro-me bem do PETISTA Supricy tentando emplacar essa a alguns anos; chamava-se “cota mínima”, onde até os ricos poderiam receber, desde que fosse um nacional; só socialistas tem essas brilhantes idéias; srsrsrsrsrsrssrssss; e qndo o dinheiro acabar, quem irá se dignar a trabalhar para sustentar os demais nessa “garantia social”; rsrsrrsrsrsrrssrsrsss; vc se apresentaria, caro JOJO ?

      • Patriota vc esta querendo me dizer que o Federal Reserve Bureau, o FED, o Banco Central dos EUA e uma instituicao socialista, ou os EUA e um pais socialista, e seu presidenter e um socialista? Porque sao eles os responsaveis pela introducao da politica financeira chamada Quantity Easy. QE para solver a crise financeira mundial que estourou em 2008. QE consiste em imprimir dolar e distribuir as grandes corporacoes e familias financeiras na base de 0.25% de juros/ Segundo o Senador Republicano Tea Party Ron Paul. $22 trilhoes de dolares foram imprimidos transferidos para as 17 familias que controlam os grandes Bancos. Segundo o economist Rob Kirby. $80 bilhoes de dolares estao sendo imprimidos mensalmentes desde Outubro 2014 e transferidos para os Grandes Bancos Norte Americanos para estes comprarem titulos do Tesouro do governo yanque que estao sendo vendidos pelo governo russo, chines e da Arabia Saudistas e novos titulos de dividas publicas do governo norte Americano.. Segundo Bernanke se essas impressoes e transferencias quase gratis de dolar nao for suficiente para resolver a crise economica, fazer o public comprar mercadorias. a solucao sera imprimir dolar e distribui-los gratis por helicopter a populacao; E so na sua cartilha Ben Bernanke pode ser socialistas; Nao reio que os grandes banqueiros sao tao estupidos que nao sao capazes de reconhecer um socialista, mesmo que disfarcados e deixa-lo ocupar a presidencia do FED. Socialista tipo Suplicy falava em cota minima, Bernanke, falava em quantidade infinita.para reinflacionar a economia

      • Quem empresta pra rico faz investimento; quem empresta pra pobre não recebe nunca mais; chama-se FUNDO PERDIDO; é o que fizemos ao emprestar BILHÕES a venezuelanos e cubanos; qnto aos africanos, ainda acredito mais neles que nos dois acima, ainda que seja num futuro longínquo.

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