Defesa & Geopolítica

O inimigo do meu inimigo é meu amigo e também inimigo do meu amigo

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Muammar Gaddafi (Kadafi)[2]

Autor: E.M.Pinto

Parece confuso? mas é isso mesmo…

Após as trapalhadas na Líbia,  as Potências ocidentais e as nações que financiaram os “rebeldes moderados” no golpe que derrubou o regime do ditador líbio  Muammar Al-Gaddafi, parecem ter mudado de ideia ao decidiram liberar o fornecimento de armas para o atual governo da Líbia combater os terroristas islâmicos e rebeldes que anos atrás recebiam seu apoio. 

Trágico se não fosse verdadeiro, porém, conforme havia profetizado antes do seu assassinato, o General Muammar Al-Gaddafi, advertiu as nações mundiais que financiavam os levantes contra o seu regime, de que estas estariam cometendo um erro absurdo .

“Kadafi adverte que guerra pode chegar ao Ocidente”. “Dar armas para terroristas e assassinos  terá consequências  desastrosas para o mundo”.

Por fim, o coronel líbio afirmou que as forças leais ao seu regime estavam lutando contra grupos da Al Qaeda, e questionou:

“estarão estes grupos dispostos a respeitar um cessar-fogo? Desafio a Aliança Atlântica a obrigar essa gente a um cessar-fogo”.

Dito e feito, não precisou esperar muito tempo, pois desde sua morte em 2011, a Líbia mergulhou numa sangrenta guerra civil que se intensifiou e que desde 2014 tem promovido uma catastrófica onda de imigração no mediterrâneo, assolando as nações do sul da Europa.

Adicionalmente, o país agora dividido em sete regiões comandandas por diferentes grupos está mergulhada numa guerra sanguinária a qual o mundo parecia não se importar em relatar nos noticiários e meios de comunicação livres.

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Porém, nesta segunda 16.05, numa tomada de decisão conjunta que  ocorreu em Viena, Austria, representantes de nações vizinhas à Líbia, bem como da União Européia e Estados Unidos, decidiram ceder armamento para que os Líbios possam combater os grupos terroristas como o Estado Islâmico (ISIS) que se aproveitaram do caos instalado no país.

É notório que o embargo à venda de armas de 2011 imposto à Líbia só agravou ainda mais a situação e permitiu que estes grupos muitas vezes travestidos de “rebeldes moderados” se fortalecessem e passassem a integrar as fileiras de organizações mais estruturadas como o ISIS, uma receita diabólica que não poderia ter outro resultado.

Não é exagero afirmar portanto, que a decisão tomada em Viena é uma medida desesperada que visa apoiar o rearmamento do governo líbio de união nacional, que tenta garantir a sua autoridade num país assolado por divisões políticas e pela ameaça terrorista que anos atrás foi estimulada por alguns dos atores que hoje se reuniram em Viena.

Do ponto de vista Líbio, este evento trata-se sem dúvida de uma importante vitória para o governo de unidade nacional, liderado por Fayez al-Sarraj, que recebe o apoio da comunidade internacional e cuja sede na capital Trípoli tem tido dificuldade em reestabelecer a unidade nacional. Al-Sarraj que estava presente em Viena, avaliou como muito positivo a suspensão do embargo.

O grupo de Viena composto por 24 delegações nacionais e/ou uniões regionais, inclui os Estados Unidos a Rússia, Arábia Saudita, China, Egito, Tunísia, França, Reino Unido, Alemanha e Itália. Num esforço conjunto, estas nações declararam em conjunto que apoiarão o esforço do novo executivo líbio que pedirá o levantamento do embargo sobre as armas à Líbia em vigor desde 2011. Afirmando estarem prontos para

“responder às demandas do governo líbio, em vista de treinar e equipar a guarda presidencial e as forças autorizadas”.

Em declaração o secretário de Estado americano, John Kerry enfatizou que o grupo de Viena objetiva

“Fornecer  armas e munições necessárias para que o governo de Unidade Nacional Líbio possa combater o Auto intitulado Estado Islâmico e demais grupos terroristas”. 

De fato o embargo das Nações Unidas sobre a venda de armas para a Líbia que foi imposto no início da revolta contra o regime de Muammar Khaddafi em 2011, vinha sendo violado com frequência em inúmeras situações e ambos os lados vinham recebendo suporte financeiro e material militar.

Analistas internacionais afirmam que apesar do apoio das nações européias, este governo terá dificuldades em estabelecer sua autoridade, especialmente frente às iniciativas de um governo paralelo com base no leste do país cujo lider, General Khalifa Hafter tem conseguido arrebatar mais seguidores a cada dia.

A confusão no estado Líbio pode ser medido frente aos recentes combates que se horizontam, curiosamente as duas  autoproclamadas autoridades, a União nacional liderada apor Al-Sarraj e pelo seu rival o general Hafter, preparam-se para lançar uma gigantesca ofensiva contra o Estado Islâmico (ISIS) em Syrte ao mesmo tempo, sem medir as consequências de um provável confronto de três inimigos num mesmo território.

Porém, analista ocidentais avaliam como difícil a vitória do governo de Al-Sarraj nesta outra frente com sua sede na cidade de Syrte, que foi controlada em junho de 2015 pelo Estado Islâmico (ISIS). Após  a ampliação de sua zona de influência para  oeste o ISIS tem lançado seus ataques e conquistado territórios.

O Estado Islâmico hoje conta com efetivo estimado entre 3000 a 5000 combatentes na Líbia e tem se expandido aproveitando o vazio deixado pelo regime de Kadafi que logo se sucedeu a uma disputa política e que como profetizado pelo prórpio Kadafi, se tornaria uma ameaça clara para a Europa.

O apoio europeu não é infundado, uma das mais emergenciais medidas a serem tomadas pelo governo de unidade nacional é a de combater e conter o fluxo de imigrantes da Líbia para a Europa, especialmente para a Itália que se situa a menos de 300 km do litoral Líbio e tem sido segundo analistas europeus,

“um corredor de refugiados que pode estar sendo usado como porta de entrada de jihadistas”.

A situação na Líbia está longe de ser resolvida e ao contrário, parece mergulhar ainda mais num conflito semelhante ao Sírio, cujas consequências respingam em todos os seus vizinhos e que só agora causou a preocupação dos Europeus quanto aquilo que Kadafi havia alertado.

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