Culpar os curdos sírios apenas isola ainda mais a Turquia de seus aliados. O que Ancara precisa é evitar confrontações internacionais e definir prioridades, opina Seda Serdar, chefe da redação turca da DW.
Ancara foi atingida por um novo atentado terrorista, depois das explosões de outubro de 2015. O ato vem numa hora em que a Turquia se vê encurralada e em desacordo com seus aliados de longa data no conflito sírio. O momento escolhido para o ataque, que matou ao menos 28 pessoas, parece comprovar a argumentação do governo turco sobre o perigo representado pelos grupos curdos na região.
O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, culpabilizou as organizações Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e Unidades de Proteção Popular (YPG). Enquanto o PKK é classificado como terrorista por instâncias internacionais, este não é o caso das YPG, braço armado do Partido da União Democrática (PYD) da Síria e aliada síria do PKK.
Pois os principais aliados da Turquia na luta contra o terrorismo, inclusive os Estados Unidos e a União Europeia, veem o YPG/PYD como um protagonista forte na luta contra o “Estado Islâmico”.
Já para Ancara, acontecimentos na região fronteiriça sírio-turca e o surgimento de núcleos curdos no norte da síria oferecem novos desafios, e o bombardeio das YPG foi uma reação aos ataques armados destas contra a Turquia.
As advertências de Ancara durante a última semana não bastaram para deixar claro à comunidade internacional onde está a “linha vermelha” da política turca: Ancara não quer de jeito nenhum que as YPG sejam vistas como um parceiro para negociações. Nesse ponto, o governo turco é irredutível.
Em seguida ao ataque à capital turca, a intenção do governo de aprovar no Parlamento uma lei antiterrorismo foi neutralizada pelo pró-curdo Partido Democrático dos Povos (HDP), enfurecido pela ofensiva governamental contra o PKK no leste do país.
Isso mostra, por um lado, que Ancara é incapaz de unir a nação, mesmo em situações extremas. Por outro lado, mostra que o HDP não vai assinar leis que condenem o PKK.
A esperança de Ancara, de que a crise de refugiados forçasse a comunidade internacional a encontrar uma solução mais rápida para o conflito na Síria, não vingou. Sua aspiração de que essa solução viria ao encontro dos interesses turcos também também se mostrou pouco realista. É verdade que a zona de exclusão aérea que a Turquia tem reivindicado encontrou alguma ressonância junto à chanceler federal alemã, Angela Merkel. Mas isso não foi suficiente e veio tarde demais.
Embora a guerra na Síria seja um problema internacional que remonta à “linha vermelha” imposta pelo presidente americano, Barack Obama, à agressiva intervenção russa e à inação da comunidade internacional, a Turquia está na linha de frente do conflito. E ela está sozinha e frágil porque é incapaz de resolver o problema curdo em nível doméstico e por ter permitido que este avançasse para além de suas fronteiras.
Esse isolamento poderá se transformar em ainda mais agressão. A Turquia está considerando enviar tropas terrestres para a Síria, algo que os Estados Unidos têm rejeitado desde o início do conflito. Se a segurança da Turquia está ameaçada, o governo turco deixou claro que está disposto a tudo que esteja em seu poder para assegurá-la.
O atentado em Ancara e sua alegada conexão com as YPG são como lenha na fogueira. A Turquia precisa evitar qualquer confrontação militar na Síria. O conflito no leste turco, sozinho, já custou centenas de vidas, e o maior erro do governo seria desestabilizar a região ainda mais.
Em declarações recentes, Davutoglu ressaltou as ligações do PKK com a antiga União Soviética, acrescentando que, desde então, a organização terrorista têm sido usada por outros Estados. Porém, exacerbar as atuais tensões entre a Rússia e a Turquia só vai prejudicar ainda mais esta última. Se os turcos entrarem numa confrontação militar em terra na Síria, eles ficarão ainda mais isolados do que já estão.
A Turquia precisa estabelecer suas prioridades. Ela está diante de problemas múltiplos: a questão curda em casa; a crise dos refugiados dentro e diante de suas fronteiras; e, não menos importante, o conflito sírio e as tensões internacionais que este cria. O governo precisa priorizar suas metas. O país precisa urgentemente de uma política externa sólida e de um plano claro para resolver seus problemas em nível interno, inclusive a crise dos refugiados e o terrorismo.
Fonte:DW
Mas Ancara não se escudou sempre em enfrentamentos ora contra Israel e agora contra a Siria e a Russia.
A verdade que a Turquia apenas é estrategica geograficamente a OTAN e nada a mais alem disso.
Nem a Europa e nem os EUA iriam em confronto direto contra a Russia nessa crise internacional dentro das circunstancias gerais globais.
Ancara conta nos dedos os dias para sua pulverização caso persista.
Essa chefe da redação turca do DW é uma verdadeira Seda mesmo!