Presidente sírio ignora pedidos de Moscou por esforços diplomáticos

17 de fevereiro de 2016 SERGUÉI STROKAN, KOMMERSANT
Assad anunciou que irá lutar “até a vitória” e rejeitou proposta de cessar-fogo de grandes potências acertada em Genebra com participação de Moscou.

Syria's President Bashar al-Assad

Especialista compara líder sírio a “cachorro correndo atrás do próprio rabo” Foto:Reuters

Bashar al-Assad afirmou, na segunda-feira (15), que “faltam condições” para que o regime implemente o cessar-fogo proposto pelas grandes potências – entre elas a Rússia -, reunidas em Genebra.

“Eles dizem que querem iniciar o cessar-fogo em uma semana. Quem consegue realizar as condições e exigências necessárias para tanto? Ninguém”, disse.

Assim, Assad sinalizou ser irreal a iniciativa do Grupo Internacional de Apoio à Síria (ver box abaixo). Os membros do grupo, entre eles, Moscou e Washington, se encontraram na semana passada em Munique para discutir a possibilidade de um cessar-fogo.

Em entrevista polêmica à agência AFP, porém, Assad afirmou que é preciso lutar até a vitória. Depois, em uma transmissão televisiva, convidou os espectadores a se guiarem pela atual Constituição da Síria, dando a entender que discorda de acordos que tragam alterações à mesma.

Posições divergentes

Com as últimas declarações do presidente sírio, as posições de Moscou e Damasco passaram a apresentar visíveis divergências em questões-chaves para a resolução do conflito sírio.

Enquanto Moscou continua a clamar pela resolução política, no âmbito do processo de paz de Genebra, Damasco prefere manter o uso da força.

Segundo especialistas, a atitude de Assad pode não apenas impedir a conversão da vitória militar síria em uma vitória política, como também ameaça agravar ainda mais suas relações com o Ocidente e o mundo árabe.

“Pedindo, literalmente, um desmonte dos acordos de Genebra, Bashar al-Assad coloca a Rússia e o Irã em uma situação difícil. Chegou o momento da verdade na resolução síria, quando atores externos devem fazer pressão nos participantes locais do conflito”, diz o diretor do Conselho Russo para Assuntos Internacionais, Andrêi Kortunov.

Segundo ele, as forças armadas sírias hoje não teriam capacidade nem de vencer a guerra, nem de manter as posições atuais.

“O presidente Assad passou a agir como um cachorro correndo atrás do próprio rabo. Ele tenta incutir em Moscou uma linha de pensamento segundo a qual nenhum possível sucessor seu poderá manter relações tão amigáveis com o país”, diz o pesquisador do Centro Carnegie de Moscou, Aleksêi Malachenko.

Segundo ele, Assad considera que, enquanto estiver no poder, a Rússia manterá suas posições, situação que não poderá ser mantida sem ele.

De acordo com os especialistas, a situação é um exemplo de como, ao interferir em conflitos locais, as grandes potências tornam-se reféns de países menores.

“Como mostra a experiência soviética no Afeganistão e a americana no Vietnã, em tais operações é muito importante não perder de vista o processo político das relações. Não raro, acontece de as apostas das grandes potências serem tão altas que os países em jogo tentam especular”, diz o pesquisador da Academia Russa de Ciências, Aleksêi Arbatov.

Grupo Internacional de Apoio à Síria

O Grupo Internacional de Apoio à Síria  (ISSG, na sigla em inglês) é composto por 21 membros, entre organizações e países: Liga Árabe, China, Egito, União Europeia, Francça, Alemanha, Irã, Iraque, Itália, Jordânia, Líbano, Organização de Cooperação Islâmica, Omã, Catar, Rússia, Arábia Saudita, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Nações Unidas, Estados Unidos.

Fonte: Gazeta Russa

13 Comentários

  1. Nada é sem sentido, Assad sabe que só está avançando devido ao apoio russo, se os mesmos se retirarem sua cabeça vai pro ocidente numa bandeja de prata, logo, o que ele está fazendo é um jogo de pressão para conquistar algumas coisas.

  2. Muito bem, Assad: Você que é o comandante em chefe do bravo Exército Árabe Sírio prossiga adiante o extermínio de até o último terrorista dessa corja que vem ensanguentando sua nação e destruindo seu País desde 2011 sob o pretexto de “libertar” seu povo da luz e da razão para impor ao mesmo um regime de ódio e obscurantismo. Avante, Bravo Exército Árabe Sírio: Extermine até o último terrorista!

    • …..o Assad não está fazendo nada que não tenha sido combinado entre ele e Putin…..essa história de ” cessar hostilidades” pra falar com oposição é uma jogada de um rearranjo de fòrças pra pega-lo desprevenido…quem vem de “bandeira branca” é porque tá ferrado, sem saída plausível e por conseguinte parte pra tapeação ……é um truque tão velho que Sun Tzu ja referia-se a êle no Arte da Guerra como uma tramóia a ser evitada……não dá pra confiar em inimigo…….

      • Quando Assad tinha apenas 20% do território sírio sob controle no início de Setembro, os Estados Unidos acreditavam que o Estado Islâmico com apoio de outras quadrilhas tomaria Damasco em Outubro e começaram a cantar vitoria, pensando que já tinham acabado com flanco Sul russo, no Mediterrâneo e por isso chegaram até a anunciar uma base de caráter permanente para os seus F-22 Raptors na Europa, para fazer frente à “ameaça russa”, ao mesmo tempo que Obama aumentou os seus esforços junto ao senado estadunidense para acabar com o histórico embargo econômico à Cuba, por receio de uma segunda Crise dos mísseis, – que se vier a acontecer não poderá ser solucionada com quarentenas e bloqueios navais, como foi da primeira vez, quando a então URSS não tinha um só submarino com propulsão nuclear -, mas os cubanos não são tolos: Não basta apenas o fim do histórico embargo econômico para se aproximarem dos Estados Unidos, é necessário que o Tio Sam escolha entre manter a sua centenária base naval de Guatanamo no território cubano ao preço deste acolher inúmeras baterias de Topols russos lhe assegurar sua soberania. Assad irá vencer. A grande estrela dessa guerra é o bravo, fiel e irredutível Exército Árabe Sírio que vai finalizar esse conflito mostrando ao mundo que é possível dizer NÃO e fazer valer o mesmo, às potências que o arquitetaram e deram suporte aos criminosos o efetivaram. Parabéns Assad, parabéns ao Exército Árabe Sírio e às Forças Aeroespaciais Russas que demonstraram exímia proficiência e inquebrantável honra no cumprimento do seu dever.
        O real objetivo dessa guerra não é a Rússia e sim a China. O objetivo desse conflito é a base naval russa de Tartus que dá apoio à Marinha Russa para que esta cubra o flanco Sul europeu, em caso de conflito. Derubando Assad, os Estados Unidos pediriam a base russa, seus aliados ficariam à vontade para fazer pressão nos russos pelo leste. Estes teriam que escolher entre a guerra direta contra a Otan ou à adesão a esta, para de imediato compor o flanco Sul da mesma contra a China, a real potência cuja nova rota da seda tirará a teoria da heart land do célebre geografo Mackinder do papel e se tornará a primeira ultra potência da história, com capacidades que sequer conseguimos imaginar.

      • Se os EUA acordarem de seu sono asiático e passarem a dar prioridade para América do Sul nas suas relações, prevendo o desenvolvimento das industrias dessas regiões ao invés de tigres asiáticos, China e Japão, construindo rodovias e ferrovias do Alaska a Patagônia, facilitando ao máximo a migração de mão de obra e capital entre os países da América, não teria que temer uma Eurásia. Mas para isso teriam que superar o racismo e a visão de que o sul é seu quintal e seus povos seus escravos. A inação, no caso, tem nomes, BRICS, Grupo dos 20 e Banco da China.

  3. Ele está é fazendo o jogo Russo, o cessar fogo não interessa aos Russos, nem a Ele ou a Síria laica. O acordo assinado pelos Russos é apenas um papel pura burocracia e jogo de cena, nos propomos e assinamos blá, blá ,blá … e o Assad joga água no chopp, um cessar fogo agora só interessa aos rebeldes e portanto não interessa a Russos ou Sírios laicos.
    Sds

  4. Eu estou falando sobre isso ja faz algum tempo e nunca obtive reacao. Pare que estou diante de um tabu. Mas nao e de hoje que Assad desconfia que os russos podem entregar sua cabeca num prato se for conveniente. Assad nao esqueceu que Kadafi era “amigo” dos russos. Na epoca, todo mundo com pouca excessoes condenavam Kadafi, e uma das excessoes foi Assad. Os russos, os chineses, os iranianos, os trotskystas, os “euro-estalinistas”, os anarquistas, todos viam a rebeliao que surgiu no Leste da Libia, como se fosse um movimento popular de oposicao que surgiu espontaneamente, e nao um movimento criado pelas ONGs criadas em Washington. Quando a midia Ocidental comecou circular noticiias que Kadafi estariam usando seus avioes militares para bombardear os rebeldes, todos condenaram Kadafi, inclusive os russos e os iranianos. menos Assad, e os russos tinham informacao de seus satelites, que esse bombardeo libio era falso, no entanto eles votaram na ONU a proposta norte americana de proibir voo dos avioes libios.O resto e historia como diz o proverbio, mas para Assad. e uma lembranca do que se pode esperar de seu amigo urso.

  5. Como cessar fogo com os vizinhos (e inimigos como Turquia ) se arregimentando com tropas e veículos e aeronaves pra tentar dar o bote em seu país??? Tem que escoltar a ajuda humanitária é com tanques T-90 e guarnições de soldados bem armados seguidos do alto por aeronaves Mi-35 ,o resto o Su-35 e o S-400 dao conta numa boa.

  6. Sustentar uma guerra local, mesmo para uma superpotência como os EUA, é caro, caro demais. Creio que com o petróleo e gás na atual cotação, o orçamento russo fica prejudicado. É provavel que os ursos, após alcançar a vitória política que desejavam, queiram sair o quanto antes da Siria. Mas como os yankees ensinaram no Iraque, entrar numa guerra é facil, já sair….

  7. Essa notícia é só para denegrir a Rússia. Eles nunca entregarão o Assad, nem em troca da queda dos neonazistas na Ucrânia, nem em troca de nenhum acordo nos bastidores. Nunca. Putin assistiu o vídeo do Kadafi sendo sodomizado com uma faca pelos “rebeldes moderados” do ocidente 3 vezes. E jurou que nunca mais permitiria que isso acontecesse novamente.

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