
Moradores enchem recipientes de água nas ruas de Aleppo, alvo de combates entre as forças do governo sírio e rebeldes – STRINGER / REUTERS
Segundo ex-negociador citado pelo ‘The Guardian’, EUA, França e Reino Unido perderam oportunidade ao acreditarem que ditador sírio estava prestes a cair
Sugestão Iuri Gomes
LONDRES — A Rússia propôs há mais de três anos que o ditador sírio, Bashar al-Assad, poderia renunciar como parte de um acordo de paz, o que foi ignorado pelo Ocidente, informou o jornal britânico “The Guardian” nesta terça-feira, citando um ex-negociador envolvido nas discussões.
Segundo o ex-presidente da Finlândia e Nobel da Paz Martti Ahtisaari, as potências ocidentais não conseguiram aproveitar a oportunidade em 2012. Ahtisaari afirmou que EUA, França e Reino Unido estavam tão convencidos de que Assad estava prestes a cair e acabaram não dando importância à oferta.
— Foi uma oportunidade perdida em 2012 — avaliou Ahtisaari.
Desde então, dezenas de milhares de pessoas foram mortas e milhões tiveram de ser deslocadas, provocando a maior crise de refugiados do mundo desde a Segunda Guerra Mundial.
Ahtisaari manteve conversas com representantes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU em fevereiro de 2012. Ele explicou que durante as discussões, o embaixador russo, Vitaly Churkin, estabeleceu um plano de três pontos, que incluía uma proposta para Assad deixar o poder em algum momento depois que as negociações de paz tivessem começado entre o regime e a oposição.
— Ele (Vitaly Churkin) disse três coisas. Primeiro: não devemos dar armas para a oposição. Segundo: nós devemos começar um diálogo entre a oposição e Assad. Terceiro: devemos encontrar uma maneira elegante para Assad se afastar — disse Ahtisaari, citando uma declaração do embaixador russo durante uma conversa privada entre os dois.
Segundo o ex-presidente da Finlândia, parecia haver pouca dúvida de que Churkin estava levantando a proposta em nome do Kremlin.
Ahtisaari disse que repassou a mensagem para as missões americanas, britânicas e francesas na ONU, sem que tivesse efeito.
— Não aconteceu nada porque eu acho que todos eles, e muitos outros, estavam convencidos de que Assad seria deposto em poucas semanas por isso não havia necessidade de fazer nada — acrescentou o Nobel da Paz.
Em junho de 2012, Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, presidiu as negociações internacionais em Genebra. Foi acordado um plano de paz no qual um governo de transição seria formado por “consentimento mútuo” entre o regime e a oposição. No entanto, logo se desfez por causa das divergências em torno de uma possível renúncia de Assad. Annan renunciou ao cargo de enviado um mês depois, e o destino de Assad tem sido um dos principais entraves para todas as iniciativas de paz desde então.
Oficialmente, a Rússia tem apoiado firmemente o regime sírio durante a guerra, insistindo que a retirada de Assad do poder não pode ser parte de qualquer acordo de paz. Assad, por sua vez, sustenta que a Rússia nunca o abandonará.
Moscou começou recentemente o envio de tropas, tanques e aviões, em um esforço para estabilizar o regime de Assad e lutar contra os extremistas do Estado Islâmico (EI).
Fonte: O Globo
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