Brasil deixará Haiti em 2016: ‘Serei o último a partir’, diz general

“Em outubro de 2016, as últimas tropas da ONU vão partir do Haiti. Vou ficar para o último avião e encerrar a missão militar”, afirma à BBC Brasil o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, que assumiu há cerca de dez dias o cargo de comandante-geral das forças da ONU no país caribenho e coordenará no próximo domingo a segurança das eleições presidenciais haitianas.

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Para Ajax, depois que ONU partir, país terá ‘capacidade de realizar eleições com seriedade’

O Conselho de Segurança da ONU determinou neste mês que a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) termine no dia 15 de outubro de 2016, ocasião em que a comunidade internacional espera que um novo presidente haitiano já esteja exercendo seu mandato.

O Brasil comanda o setor militar da missão desde seu início em 2004. Até agora, o governo brasileiro previa que seus 850 militares começassem a voltar para casa em algum momento no ano que vem. Mas uma data oficial não havia sido estabelecida.

Até outubro de 2016, a missão será mantida com o efetivo de hoje: 2.370 militares de 19 países. Apenas uma crise muito grave ou uma catástrofe podem alterar esse cronograma. Só que isso já aconteceu antes no Haiti.

No início de 2010, a ONU previa a retirada total de suas tropas em meados de 2011. Porém, no dia 12 de janeiro, um megaterremoto irrompeu praticamente na superfície da capital Porto Príncipe. Centenas de milhares de pessoas morreram e 1,5 milhão ficaram instantaneamente desabrigadas.

Os planos foram, então, alterados de forma radical, e a missão quase dobrou em tamanho. Além de fornecer ajuda humanitária, a ONU auxiliou na reconstrução do país e de suas instituições, como a polícia e o Judiciário, que perderam mais da metade de seus membros no terremoto.

Chegada difícil

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Antecessor de Ajax, general brasileiro morreu de mal súbido em voo do Haiti para o Brasil

Pinheiro é um veterano de Haiti. Dias depois do terremoto de 2010, ele desembarcava no país, então como coronel, para comandar um batalhão brasileiro. Ele chefiava uma unidade específica formada por brasileiros na ocasião. Hoje, comanda todos os militares da ONU no país.

“Nós havíamos sido treinados para proteger o processo eleitoral, mas as eleições daquele ano foram adiadas, e era preciso fornecer ajuda humanitária. Tivemos que nos adaptar”, diz.

Meses depois Pinheiro teve que retornar ao Brasil, pois foi promovido a general e teve que assumir um comando em território nacional.

“Sempre sonhei em voltar ao Haiti. Seria uma grande realização profissional e a última aventura militar da minha carreira. Porque, quando eu voltar ao Brasil, provavelmente assumirei uma função administrativa, sem comandar tropas”, afirma.

“Só lamento ter vindo nessas circunstâncias.”

Pinheiro se refere à morte de seu grande amigo e antecessor, o general José Luiz Jaborandy, que faleceu em agosto após sofrer um mal súbito em um voo do Haiti para o Brasil. Jaborandy deveria comandar as forças da ONU nas eleições do próximo domingo, e Pinheiro chegaria a Porto Príncipe só em novembro.

Uma de suas primeiras tarefas no comando foi participar de uma homenagem ao amigo, com quem serviu em cinco ocasiões diferentes dentro e fora do Brasil. A base da ONU em Porto Príncipe, que já foi a maior concentração de tropas das Nações Unidas no planeta à época do terremoto, foi rebatizada de Campo General Jaborandy.

“Assim como em 2010, cheguei em um momento de comoção, e podemos ter problemas pela frente. Precisaremos responder. Mas já estou plenamente integrado, e as tropas estão prontas”.

Eleições e violência

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Eleição presidencial no Haiti começa no domingo; ONU espera clima de tranquilidade

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Diferentemente do que ocorreu em anos anteriores, o clima pré-eleitoral é de relativa tranquilidade no Haiti. Segundo relatório da ONU, a violência está caindo. O número de homicídios no país entre março e agosto deste ano foi de 386. Nos seis meses anteriores, foram 538, o equivalente a uma queda de quase 30%.

Nas eleições legislativas ocorridas em agosto deste ano não foram registrados incidentes graves.

As forças da ONU (2.370 militares e 2.060 policiais internacionais) e a Polícia Nacional do Haiti (11.900 policiais) terão que proteger neste domingo 13 mil urnas em 1.508 locais de votação, no primeiro turno das eleições presidenciais e segundo das eleições legislativas.

Há bases dos capacetes azuis, como são chamados os soldados da ONU, em Porto Príncipe, Cap-Haitien e Morne Casse e os contigentes militares estarão presentes em ao menos mais sete cidades. A proteção das urnas nas áreas mais sensíveis ficará a cargo de tropas brasileiras.

Segundo Ajax Porto Pinheiro, uma companhia de tropas especiais brasileiras ficará de prontidão em uma base em Porto Príncipe. Ela poderá se deslocar de helicóptero e chegar em 30 minutos a qualquer região do país em que haja problemas.

Neste pleito, o órgão eleitoral haitiano antecipou a organização e a divulgação de informações, o que, na opinião do general, deve facilitar a votação.

As manifestações de rua relacionadas à eleição também têm sido de pequenas proporções, reunindo geralmente menos de duas centenas de pessoas. A maior teve três mil participantes.

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Eleições de domingo no Haiti terão 58 candidatos a presidente

“A única coisa que nos preocupa é a ação de gangues que apoiam partidos políticos. Em eleições anteriores, eles invadiram áreas de votação e roubaram urnas”, afirma.

Quando o Brasil desembarcou no Haiti em 2004, os grupos armados mais organizados estavam supostamente ligados ao partido Fanmi Lavalas, do ex-presidente Jean Bertrand Aristide e a ex-militares.

Atualmente, segundo o general, os grupos armados estão mais fracos e espalhados, dando apoio a diferentes partidos.

No atual ciclo eleitoral, 128 partidos e 58 candidatos a presidente estão concorrendo. Deles, três se destacam: o Fanmi Lavalas (de Aristide, mas representado por outro candidato), o Parti Haitien Tèt Kale (do atual presidente Michel Martelly) e o Verité (do ex-presidente Renè Preval).

Autoridades esperam que ao menos 20% dos 6 milhões de eleitores compareçam às urnas. Se houver violência, a polícia nacional deve ser acionada para agir. As tropas da ONU ficarão de prontidão caso algum incidente fuja do controle.

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General Ajax assumiu cargo de comandante das forças da ONU no Haiti

Desde o início da missão em 2004, 11 generais e milhares de soldados de todas as partes do Brasil estiveram no Haiti.

O governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva se envolveu na missão, dentro de sua política de aumentar a influência internacional brasileira. Além dos objetivos humanitários e de treinamento de tropas, seu governo tentava com a ação facilitar seu acesso a uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.

Tropas brasileiras entraram no Haiti após a queda do ex-presidente Aristide. Na época, diferentes rebeldes e grupos criminosos lutavam pelo poder.

Os capacetes azuis passaram por uma série de batalhas para conquistar territórios e desbaratar grupos guerrilheiros até 2007, quando os últimos integrantes das principais milícias foram presos ou mortos em combate.

Os soldados internacionais também ofereceram ajuda humanitária em crises de fome, enchentes e furacões de grandes proporções. A partir do megaterremoto, se concentraram em auxiliar a reconstrução do país e manter a ordem.

Tropas da ONU do Nepal foram acusadas de levar acidentalmente ao país um surto de cólera que matou ao menos 8 mil haitianos. Durante a missão, a presença brasileira e a política de imigração do governo trouxeram levas de imigrantes haitianos para o Brasil.

Durante esses anos, os capacetes azuis possibilitaram a eleição de dois presidentes, que transmitiram seus cargos democraticamente – o que não ocorria em décadas no país.

Fazer com que o país conclua mais um ciclo eleitoral pode ser a última tarefa dos militares da Minustah. A votação, a apuração, um eventual segundo turno e a posse do presidente devem se desenrolar até o início de 2016.

Uma comissão de avaliação da ONU terá então 90 dias para decidir se o país continua estável. Se todo ocorrer como o previsto, a desmobilização das tropas acontecerá em 15 de outubro.

“A minha impressão é que as instituições do Haiti evoluíram muito. Depois que a ONU sair, eles terão condições de realizar eleições com seriedade”, diz o general brasileiro.

“O legado da ONU vai ser esse ensinamento de como conduzir a parte eleitoral do país.”

Fonte: BBC Brasil 

6 Comentários

  1. A missao nao passou de uma megalomania do 19 dedos , o brasil ja colhe os frutos por ter metido o nariz naquela pocilga sem utilidade , missao que traz ganho de experiencia eh a realizada na africa e OM , dizem que a importancia brasileira foi tao importante para os haitianos que fez a terra ateh tremer , as mazelas do HAITI saao caausadas por habitos culturais , enquaanto nao largarem de serem misticos e superticiosos , continuarao sendo massa de manobra na mao de lideres malucos e desonestos , qualquer semelhan;a com a maioria dos bolivarianos brasileiros nao eh mera coinciddencia !

  2. Fico feliz que nossas tropas irão voltar,mas triste pelo bravo povo haitiano,a ONU pouco fez para que esse país caminhe com as próprias pernas, o caos ainda impera nas ruas, e fatalmente irá crescer ainda mais, a ONU deixou muito a desejar,como sempre !

  3. Que boa notícia, primeiro pela questão do conhecimento adquirido nessa ocupação, segundo porque serão economizados 2 bilhões.

  4. DEPOIS RECLAMAM QUE NÃO SOBRA DINHEIRO PARA COMPRAR EQUIPAMENTOS NOVOS PRAS FAs…

    A LIBERTAÇÃO ESTÁ NOS FATOS

    Por Fernão Lara Mesquita

    Poucas vezes terá havido situação semelhante à deste nosso banquete de horrores no qual 90% dos comensais declaram-se com nojo da comida que lhes tem sido servida mas são obrigados a continuar a traga-la simplesmente porque não sabem pedir outro prato.

    Na 2a feira, 19, O Globo publicou nova reportagem da série “Cofres Abertos” sobre a realidade do estado petista. O título era “Remuneração em ministério vai até R$ 152 mil”.

    Eis alguns dados:

    Lula acrescentou 18,3 mil funcionários à folha da União em oito anos. Em apenas quatro Dilma enfiou mais 16,3 mil. Agora são 618 mil, só na ativa. 103.313 têm “cargos de chefia”. Os títulos são qualquer coisa de fascinante. Ha um que inclui 38 palavras. “Chefe de Divisão de Avaliação e Controle de Programas, da Coordenação dos Programas de Geração de Emprego e Renda…” e vai por aí enfileirando outras 30, com o escárnio de referir um acinte desses à “geração de emprego e renda”…

    O “teto” dos salários é o da presidente, de R$ 24,3 mil. Mas a grande tribo só de caciques constituída não pelos funcionários concursados ou de carreira mas pelos “de confiança”, com estrela vermelha no peito, ganha R$ 77 mil, somadas as “gratificações” que podem chegar a 37 diferentes. No fim do ano tem bônus “por desempenho”. A Petrobras distribuiu mais de R$ 1 bi aos funcionários em pleno “petrolão”, depois de negar dividendos a acionistas. A Eletronorte distribuiu R$ 2,2 bilhões em “participação nos lucros” proporcionados pelo aumento médio de 29% nas contas de luz dos pobres do Brasil entre os seus 3.400 funcionários. Houve um que embolsou R$ 152 mil.

    A folha de salários da União, sem as estatais que são 142, passará este ano de R$ 100 bilhões, 58% mais, fora inflação, do que o PT recebeu lá atrás.

    Essa boa gente emite 520 novos “regulamentos” (média) todo santo dia. Existem 49.500 e tantas “áreas administrativas” divididas em 53.000 e não sei quantos “núcleos responsáveis por políticas públicas”! Qualquer decisão sobre água tem de passar pela aprovação de 134 órgãos diferentes. Uma sobre saúde pública pode envolver 1.385 “instâncias de decisão”. Na educação podem ser 1.036. Na segurança pública 2.375!

    E para trabalhar no inferno que isso cria? Quanto vale a venda de indulgências?

    Essa conversa da CPMF como única alternativa para a salvação da pátria face à “incompressibilidade” dos gastos públicos a favor dos pobres não duraria 10 segundos se fatos como esses fossem sistematicamente justapostos às declarações que 100 vezes por dia, os jornais, do papel à telinha, põem no ar para afirmar o contrário. Se fossem editados e perseguidos pelas televisões com as mesmas minúcia, competência técnica e paixão com que seus departamentos de jornalismo fazem de temas desimportantes ou meramente deletérios verdadeiras guerras-santas, então, a Bastilha já teria caído.

    Passados 10 meses de paralisia da nação diante da ferocidade do sítio aos dinheiros públicos e ao que ainda resta no bolso do brasileiro de 2a classe, com a tragédia pairando no ar depois do governo mutilar até à paraplegia todos os investimentos em saúde, educação, segurança pública e infraestrutura, a série do Globo é, no entanto, o único esforço concentrado do jornalismo brasileiro na linha de apontar com fatos e números que dispensam as opiniões de “especialistas” imediatamente contestáveis pelas opiniões de outros “especialistas” para expor a criminosa mentira de que este país está sendo vítima.

    Nem por isso deixou de sofrer restrições mesmo “dentro de casa” pois apesar da contundência dos fatos, da oportunidade da denúncia e da exclusividade do que estava sendo apresentado, a 1a página do jornal daquele dia não trazia qualquer “chamada” para o seu próprio “furo” e nem as televisões da casa o repercutiram. O tipo de informação sem a disseminação da qual o Brasil jamais desatolará da condição medieval em que tem sido mantido, tornou-se conhecida, portanto, apenas da ínfima parcela da ínfima minoria dos brasileiros alfabetizados que lê jornal que tenha folheado O Globo inteiro daquele dia até seus olhos esbarrarem nela por acaso e que se deixaram levar pela curiosidade página abaixo.

    É por aí que se agarra insidiosamente ao chão essa cultivada perplexidade do brasileiro que, em plena “era da informação”, traga sem nem sequer argumentar aquilo que já não admitia que lhe impingissem 200 anos atrás mesmo que a custa de se fazer enforcar e esquartejar em praça pública.
    Do palco à plateia, Brasília vive imersa no seu “infinito particular“. Enquanto o país real, com as veias abertas, segue amarrado ao poste à espera de que a Pátria Estupradora decida quem vai ou não participar da próxima rodada de abusos, os criminosos mandam prender a polícia e a plateia discute apaixonadamente quem deu em quem, entre os atores da farsa, a mais esperta rasteira do dia.

    Deter o estupro não entra nas cogitações de ninguém. A pauta da imprensa – e com ela a do Brasil – foi terceirizada para as “fontes” que disputam o comando de um sistema de opressão cuja lógica opõe-se diametralmente à do trabalho. Os fatos, substância da crítica que pode demolir os “factóides“, esses todos querem ocultados.

    Perdemos as referências do passado, terceirizamos a “busca da felicidade” no presente, somos avessos à fórmula asiática de sucesso quanto ao futuro. Condenamo-nos a reinventar a roda em matéria de construção de instituições democráticas porque a que foi inventada pela melhor geração da humanidade no seu mais “iluminado” momento e vem libertando povo após povo que dela se serve, está banida das nossas escolas e da pauta terceirizada pela imprensa a quem nos quer para sempre amarrados a um rei e seus barões. Como o resto do mundo resolve os mesmos problemas que temos absolutamente não interessa aos “olheiros” dos nossos jornais e TVs no exterior que, de lá, só nos mostram o que há de pior…

    A imprensa nacional está devendo muito mais à democracia brasileira do que tem cobrado aos outros nas suas cada vez mais segregadas páginas de opinião.”

    Fernão Lara Mesquita é Jornalista. Originalmente publicado em O Vespeiro em 24 de outubro de 2015.

    • Muito bom. Esse tipo de trabalho deveria fazer parte do café da manhã de todo trabalhador. Pra ver se esse povo acorda.

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