Defesa & Geopolítica

‘Brasil não está em guerra para ter fuzis’, afirma secretário de Segurança

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Beltrame vai a Brasília na quarta-feira para encontrar deputados e questionar flexibilização do Estatuto do Desarmamento

POR GUSTAVO GOULART

RIO — O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou, nesta segunda-feira, que “o Brasil não está em guerra” para ter fuzis em seu território e que “o país é um verdadeiro queijo suíço”, ao criticar a fiscalização deficiente nas fronteiras, que facilita a entrada de armas contrabandeadas. Como O GLOBO noticiou domingo, uma equipe do jornal comprou uma réplica de fuzil M16 em Ciudad del Este, no Paraguai, e entrou tranquilamente no Brasil pela fronteira com Foz de Iguaçu, no Paraná, viajando 1.700 quilômetros até o Rio sem ser incomodada.

Beltrame informou que voltará na quarta-feira a Brasília para conversar com a bancada do Rio e questionar a flexibilização do Estatuto do Desarmamento. Seu objetivo é pedir penas mais rigorosas para quem estiver com armamento de guerra. O secretário não descarta, no entanto, a possibilidade de conversar sobre a facilidade da entrada das armas pelas fronteiras:

— O país é um verdadeiro queijo suíço. Existe uma série de estradas vicinais e formais. Mas o problema não está só nas fronteiras nacionais. Tenho esperança de que uma pena severa para quem esteja com esse tipo de armamento seja uma resposta bastante eficiente.

3º BPM APREENDEU 36 RÉPLICAS

O uso de armas falsas em crimes também é motivo de preocupação. Num levantamento feito com exclusividade para O GLOBO, o 3º BPM (Méier) constatou que, de janeiro a agosto deste ano, apreendeu em sua área de atuação (23 bairros) 36 réplicas. No mesmo período, foram presas em flagrante 36 pessoas, entre elas adolescentes, praticando roubos com essas cópias de pistolas e fuzis.

As réplicas que têm sido apreendidas durante assaltos na cidade são facilmente encontradas no mercado. E não apenas em países vizinhos. No Centro do Rio, lojas como Nova Agro Esporte e Lazer e Caça & Pesca Esporte e Aventura vendem, para praticantes de airsoft e paintball, modelos como o comprado pela equipe do GLOBO no Paraguai.

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Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, vai a Brasília na próxima quarta-feira – Agência O Globo / Márcio Alves

As armas disparam setas metálicas ou grãos de chumbo com energia menor que as de fogo. Funcionam por pressão, ação de mola ou gás comprimido. Há, ainda, réplicas elétricas dessas armas, que são muito semelhantes a fuzis e pistolas. Segundo Rodrigo Castro, dono da loja virtual RF Airsoft, 90% dos cerca de quatro mil praticantes de airsoft no Rio usam armamento elétrico, cuja venda não é controlada e pode ser feita a qualquer pessoa com mais de 18 anos:

— A arma elétrica é muito mais fraca que as outras e mais barata. Não é necessário que o comprador tenha o CR (Certificado de Registro no Exército) para comprar.

Na Assembleia Legislativa, a deputada Martha Rocha (PSD), presidente da Comissão de Segurança e Assuntos de Polícia da Casa, informou que vai apresentar nesta terça-feira um projeto de lei para o cadastramento, na Polícia Civil, dos praticantes de paintball e airsoft.

 

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Umas das lojas onde podem ser encontradas armas de airsoft na Av. Marechal Floriano – Pablo Jacob / Agência O Globo

— Fui procurada por um praticante, que enfatizou a necessidade de esclarecer à população o caráter esportivo da atividade. O projeto sugere o cadastro dos esportistas — disse a deputada. Em nota, o Comando Militar do Leste (CML) informou que “as armas de pressão por ação de gás comprimido, com calibre igual ou inferior a seis milímetros, não têm a sua comercialização controlada” pelo Exército. O texto frisa que os modelos usados no airsoft estão nessa categoria. Ainda segundo a nota, a loja, no entanto, precisa ser registrada no Exército.

*Colaborou Giselle Ouchana

Fonte: O Globo 

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