Energia Nuclear nos BRICS

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É inequívoca a importância estratégica do Brasil se manter ativo na exploração dos usos pacíficos da energia nuclear, expandindo seu domínio tecnológico e capacidade industrial instalada nos diversos setores associados, como produção de radioisótopos para medicina e indústria, produção de combustível nuclear, propulsão nuclear naval e geração elétrica nuclear. Para isso, a cooperação dentro dos BRICSdesponta como uma excelente oportunidade.

Um aspecto pouco discutido sobre os BRICS é o fato de todos os cinco países terem uma indústria nuclear desenvolvida. Esse aspecto comum é pouco explorado nas discussões sobre as relações internas do grupo e externas, ou seja, do grupo com o resto do mundo.

A geração elétrica nuclear faz parte da matriz energética de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sulcom diferentes graus de contribuição. Somado, o parque de geração nuclear do BRICS monta a 86 usinas em operação (2 no Brasil, 34 na Rússia, 27 na China, 21 na Índia e 2 na África do Sul), o que representa 20% do parque mundial. O grupo também tem 40 usinas em construção (1 no Brasil, 24 na China, 6 naÍndia e 9 na Rússia), o que representa 60% das futuras usinas a entrarem em operação ao longo dessa década. Em termos de geração líquida em 2014, o Brasil produziu 15.385 GW.h de eletricidade nuclear (2,86% do total de geração nacional), a Rússia 169.049 GW.h (18,57%), a Índia 33.232 GW.h (3,53%), aChina 130.580 GW.h (2,39%) e a África do Sul 14.749 GW.h (6,20%)[1].

O projeto e construção das usinas russas são totalmente autóctones. O parque nuclear chinês se iniciou também de forma autóctone, porém a China passou a adotar na década de 1990 a política de adquirir usinas de outros países, incluindo a Rússia, mas também dos EUA e França, e promover transferência de tecnologia que lhe permitisse desenvolvê-las localmente. A política teve sucesso e hoje seu parque já inclui usinas de projeto e construção local. A grande maioria das usinas indianas também é de projeto e construção nacional, mas se derivam de uma transferência de tecnologia inicial do Canadá. Só recentemente a Índia adquiriu usinas no exterior, no caso da Rússia, e tem negociado a compra de outras com outros países fora do grupo.

As usinas brasileiras e sul-africanas foram adquiridas de países fora do grupo: EUA e Alemanha, no caso do Brasil; França, no caso da África do Sul. Esses países tentaram uma política de transferência de tecnologia com, respectivamente, Alemanha e França, similar àquela adotada pela China, porém sem sucesso, dependendo hoje da importação de tecnologia para expansão de seus parques.

A Rússia é hoje o maior exportador de usinas nucleares no mundo, com 11 projetos em andamento no exterior[2]. A China deverá em breve tornar-se também importante ator nesse mercado, no passado dominado pelos EUA e Europa, já tendo concluído uma venda de um projeto autóctone para o Paquistão.

Em termos de recursos razoavelmente assegurados (Reasonably Assured ResourcesRAR) e inferidos de urânio, os BRICS somam 22,72% dos recursos globais (Brasil 3,62%; Rússia 9,03%; Índia 1,57%;China 2,61% e África do Sul 5,9%)[3]. Entretanto, o Brasil teve apenas 1/3 de seu território prospectado até o momento. As características geológicas do país, cujas áreas de formação pré-cambriana, propícias à ocorrência de urânio, tem extensão quase idêntica às mesmas áreas na Austrália, país que detêm a maior reserva (24% dos recursos RAR e inferidos globais), fazem crer que um esforço de pesquisa nacional poderia alterar em muito o quadro atual[4]. A China também tem significativa parte de seu território ainda sem prospecção adequada e está fazendo esforços nesse sentido.

A Rússia também atua no mercado internacional como fornecedor de serviços de conversão, enriquecimento e fabricação de elementos combustíveis. A China depende de importações de urânio para produzir o combustível para seus reatores, mas a conversão, enriquecimento e fabricação de elementos combustíveis são feitas localmente. A Índia também depende de importações de urânio e enriquecimento, mas faz a conversão e fabrica os elementos combustíveis localmente. Note-se que a maior parte do parque indiano de usinas usa urânio natural, não requerendo enriquecimento. A África do Sul produz o urânio, faz a conversão e fabrica elementos combustíveis para suas usinas localmente, mas o enriquecimento é feito no exterior. OBrasil também produz o urânio e fabrica os elementos combustíveis localmente, mas importa os serviços de conversão e enriquecimento, este último parcialmente, na medida em que tem uma capacidade de produção nacional insuficiente.

Todos os cinco países operam reatores de pesquisa e de produção de radioisótopos para usos médicos e industriais, também produzindo o combustível para esses reatores, e fazem amplo uso das diversas aplicações nucleares não energéticas. Rússia e África do Sul são também exportadores de radioisótopos.

As Marinhas de Rússia, China e Índia projetam, constroem e operam submarinos de propulsão nuclear. AÍndia se iniciou alugando unidades de origem russa, mas recentemente lançou ao mar sua primeira unidade de projeto e construção nacional. O Brasil desenvolve de forma autóctone um programa para obtenção desses navios, que se encontra em estágio avançado.

Rússia e China são estados nuclearmente armados “de juris”, isto é, de acordo com o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). A Índia também possui armas nucleares, mas não é membro do TNP, sendo um estado nuclearmente armado “de facto”. A África do Sul já foi também um estado nuclearmente armado “de facto”, porém abandonou este tipo de armamento com a mudança de regime e assunção de Nelson Mandela à Presidência do país. O Brasil renunciou às armas nucleares pela Constituição de 1988 e, posteriormente, em 1999, aderiu ao TNP como estado não nuclearmente armado.

Os BRICS, portanto, são um grupo de países nuclearmente desenvolvidos. Inclui a Rússia, que comparte com os EUA a liderança mundial no setor e a China, que muito em breve se ombreará e esses dois países. A Índia tem um alto grau de avanço no setor, pouco inferior à Rússia e China. Brasil e África do Sul, por sua vez, fazem parte também da vanguarda do setor no mundo, ainda que num patamar inferior aos outros três parceiros.

O fato de todos os BRICS terem uma indústria nuclear desenvolvida, ainda que em diferentes graus, abre um amplo leque de possibilidades de cooperação e sinergias que explorem as complementaridades entre os países e que possam reforçar a competitividade do grupo como um todo.

Note-se aqui que o Brasil é o único país do grupo que não possui nem nunca possuiu armas nucleares. Interessa muito a nosso país manter sua opção constitucional pelo uso exclusivamente pacífico da energia nuclear. Isso lhe dá um caráter único junto aos parceiros do BRICS, que se reflete numa autoridade moral e ética que pode ser explorada politicamente em diversas situações como, por exemplo, na necessária reforma do Conselho de Segurança da ONU e na arbitragem de crises nucleares internacionais. Essa “vantagem competitiva” é muito mais valiosa do que a posse de armas nucleares que, ao final das contas, são feitas para nunca serem usadas.

Entretanto, uma análise equilibrada[5] mostra de forma inequívoca a importância estratégica do Brasil se manter ativo na exploração dos usos pacíficos da energia nuclear, expandindo seu domínio tecnológico e capacidade industrial instalada nos diversos setores associados, como produção de radioisótopos para medicina e indústria, produção de combustível nuclear, propulsão nuclear naval e geração elétrica nuclear. Para isso, a cooperação dentro dos BRICS desponta como uma excelente oportunidade.

Fonte: CEIRI NEWS PAPER

4 Comentários

  1. (…)As usinas brasileiras e sul-africanas foram adquiridas de países fora do grupo: EUA e Alemanha, no caso do Brasil; França, no caso da África do Sul. Esses países tentaram uma política de transferência de tecnologia com, respectivamente, Alemanha e França, similar àquela adotada pela China, porém sem sucesso, dependendo hoje da importação de tecnologia para expansão de seus parques. (…)
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    Estou aqui analisando qual a contribuição positiva e construtiva que os EUA deu ao projeto nuclear brasileiro de Angra dos Reis .
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    Foi e é igual aos outros projetos estratégico brasileiro como o VLS e os projetos espaciais em geral … só fez dificultar e sabotar através de embargos e sansões.
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    E continua …basta vê a movimentação daqueles que sempre procuram sabotara o Brasil no grupo dos BRICS ( RIC ) .
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    O Brasil está perdendo outra grande chance nesse novo cenário mundial e o que tem gente que vive querendo jogar areia no ventilador do Brasil não é brincadeira ..a velha gangue do ” quanto pior é melhor ” , faz isso sistematicamente, e não é porque este governo seja de esquerda …. não ! … isso existe antes do governo de esquerda, até no governo do FHC já existia esses tipos de mamíferos,
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    Essa história de subserviência é uma coisa cultural implantada na cabeça oca de muitos que agora, descobriram outra utilidade para as panelas. .. rsrsr

    • E por fala na turma do ” quanto pior é melhor ” .
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      PMDB QUER PRESIDÊNCIA EM 2018 E JÁ DISCUTE PLATAFORMA
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      Após anos de política sem uma ideologia clara, lideranças do partido estão em busca de uma plataforma que una as várias correntes do PMDB e ajude a quebrar a resistência de eleitores que associam a legenda com clientelismo e corrupção.
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      (*)fonte: [ br.reuters.com/article/topNews/idBRKBN0O023O20150515 ]
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      (…) Eduardo Cunha, que entrou no PMDB somente há pouco mais de dez anos, nega interesse. Mas ele têm feito viagens semanais pelo Brasil, visitando políticos e até pacientes em hospitais.
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      Cunha também está imprimindo um ritmo forte aos trabalhos da Câmara dos Deputados, colocando em pauta temas polêmicos como a maioridade penal. A estratégia o coloca como referência para eleitores conservadores e de direita e ajuda a dividir a atenção da mídia com o escândalo na Petrobras, no qual ele e outros políticos do PMDB estão sendo investigados. (…)
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      Agora sim … com o Eduado Cunha o candidatos dos coXinhas esta pais vai vê o que é seriedade na coisa pública … Hahahah …
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      Essa elite hipócrita de paneliros que colocou este congresso podre que ai está, querem por que querem, ser exemplo de moralidade, castidade e exemplo de família para o Brasil … e que exemplo de família …quê família …hahahah

  2. ,..Pelo q eu sei a África do Sul já detonou um artefato nuclear há tempo idos…posso estar errado, o q seria mt bom. Então, sobra só o BRASIL q nunca se aventurou, apesar da teoria da conspiração dizerem q temos 3 NUCK’s , sendo um montada e duas p serem montadas e sem meio de entrega o VLS, o míssil de amanhã…Será?!?! Quem viver verá e p ontem. Sds. 😉

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