Tese de Doutorado, Tópico 3: “Estudo sobre a mentalidade portuguesa”
Isabela Gomes Bustamante
Tese de Doutorado “A reinvenção do real na obra de Augusto Abelaira” , Departamento de Letras da PUC-RJ, março/2011
“A nossa identidade, fundamento da nossa autonomia, é de ordem essencialmente cultural, isto é, de enraizamento no imemorial. Antes do seu nascimento político, Portugal é já uma longa memória, uma tradição, sobretudo uma língua com potencialidades de escrita e de imaginário.” Eduardo Lourenço;
“…um pequeno país, no seio da Europa, com imensas dificuldades em criar riqueza e avesso a uma mentalidade livre e democrática. Assumir isso seria o primeiro passo para conseguirmos, com boa vontade e realismo, cooperando entre todos, transformar um pequeno país numa sociedade justa, de bem-estar, desenvolvida, que ofereça aos seus membros as melhores condições para desenvolverem os seus talentos e darem assim as suas contribuições para o desenvolvimento da humanidade. Precisamos de melhor ensino, melhores políticos, melhor pensamento científico, filosófico e artístico. Nada disto se consegue enquanto continuarmos a tapar o Sol com a peneira da ilusória pátria grandiosa da língua portuguesa.” Desidério Murcho, da Universidade Federal de Ouro Preto;
Quase oitenta anos antes da descrição feita por Murcho, Fernando Pessoa, em 1932, escreveu que a melhor palavra para descrever a mentalidade do povo português, oriundo de todas as classes sociais, seria “provincianismo”, pois o progresso, se percebido pelo povo, o é de forma superficial. Para o escritor, todas as nações possuem um certo provincianismo em dada classe, no entanto, o que caracteriza Portugal é ter uma elite provinciana que encanta-se superficialmente com as “novidades sociais” como uma criança com um brinquedo. Para ele, o que torna essa característica prejudicial em se tratando de um povo, é que essa imaturidade sugere um desenvolvimento incompleto de sua mentalidade.
Mentalidade que muitas vezes não percebe a discrepância entre o real e o imaginário. Em se tratando de um povo, é o imaginário coletivo que agrega os sentimentos individuais e comuns de uma nação e, no caso da nação portuguesa, segundo Eduardo Lourenço, manter-se à margem tem a ver com uma recusa em ter um projeto em comum com outros povos e nações:
“A cultura portuguesa não produziu nunca – pelo menos até Eça de Queirós – (…) um olhar exterior a si mesma que a acordasse, não de qualquer cegueira dogmática ou culposa, mas da contemplação feliz e maravilhada de si mesma. Todos os povos vivem, mais ou menos, confinados no amor de si mesmos, Mas a maneira como os portugueses se comprazem nessa adoração é verdadeiramente singular. (…) Contudo, evitar o destino comum, instalar-se (…) à margem do mundo, foi um pouco aquilo que Portugal sempre tem feito.” Eduardo Lourenço; e
“Excessivamente sentimental, com horror à disciplina, individualista sem dar por isso, falho de espírito de continuidade e de tenacidade na acção. A própria facilidade de compreensão, diminuindo-lhe a necessidade de esforço, leva-o a estudar todos os assuntos pela rama, a confiar demasiado na espontaneidade e brilho da sua inteligência. Mas quando enquadrado, convenientemente dirigido, o português dá tudo quanto se quer.” Antonio Ferro, Chefe de Governo no período salazarista (1933 – 1968).
Para acessar e ler esse estudo no formato de PDF deveras interessante, clique na fonte.
Foto: Reprodução de pintura “Operários”, óleo sobre tela de Tarcila do Amaral (1886 – 1973).
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