O primeiro-ministro que transformou Cingapura de ilha sem recursos a centro financeiro

  • Lee Kuan Yew | Foto: AFP
Estadista cingapuriano era carismático, mas perseguia opositores e meios de comunicação

Lee Kuan Yew ficou conhecido como o estadista que transformou Cingapura de pequena cidade portuária, em uma ilha sem recursos natuais, em um dos mais ricos centros mundiais. Ele morreu neste domingo, aos 91 anos.

Lee foi primeiro-ministro da cidade-estado por 31 anos e trabalhou no governo até 2011.

Sob seu comando o crescimento do país foi classificado por muitos como uma espécie de milagre econômico, uma mistura de capitalismo privado e estatal.

Hoje, o país é reconhecido como próspero, moderno e com pouca corrupção.

O estadista, no entanto, foi bastante criticado por violações de direitos humanos. Durante seu governo, ele estabeleceu restrições à liberdade de expressão que ainda estão em prática no país.

O anúncio de sua morte foi feito pelo assessor de imprensa do primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong, que é filho de Lee.

Ele estava no hospital há semanas, recebendo tratamento para uma pneumonia severa.

‘Estado babá’

Lee foi co-fundador do Partido da Ação Popular (PAP, na sigla em inglês), que governou o país desde 1959 – e também o primeiro do partido a ocupar o cargo de primeiro-ministro.

Quando deixou o poder em 1985, Lee tinha vencido sete eleições e era o primeiro-ministro mais longevo do mundo.

Advogado formado na Universidade de Cambridge, ele comandou o país durante sua fusão e sua subsequente separação da Malásia, algo que descreveu como “um momento de angústia”. Falando à imprensa após a separação, em 1965, ele afirmou que construiria uma nação meritocrática e multirracial.

Mas a pequena Cingapura – com pouquíssimos recursos naturais – precisava de um novo modelo econômico.

“Sabíamos que se fossemos iguais a nossos vizinhos, morreríamos. Não tinhamos nada para oferecer além do que eles tinham para oferecer. Então tivemos que produzir algo diferente e melhor do que o que eles tinham”, disse ao jornal americano New York Times em 2007.

Lee tomou medidas para coibir a corrupção do país, criou programas de construção de casas a preços populares e de industrialização, para criar emprego.

Foto: Getty
Ex-primeiro-ministro mantinha controle sobre cada detalhe da vida em Cingapura, incluindo hábitos dos cidadãos
Foto: AFP/STR/New Nation
Ainda nos anos 1950, Lee deu início a programa de desenvolvimento na cidade-estado

Ele também tentou unir os diversos grupos étnicos que habitavam na ilha, forjando uma identidade baseada no multiculturalismo.

O primeiro-ministro, no entanto, mantinha um firme controle da cidade-estado, o que a transformou em uma das sociedades mais reguladas do mundo.

Para controlar o crescimento populacional, ele aumentou os impostos para os que tinham mais de dois filhos. Anos depois, isentou as mulheres com educação superior dessas políticas para encorajá-las a terem famílias maiores.

Havia políticas em prática para que os cidadãos fossem mais gentis, menos barulhentos, aprendessem a dar descarga e até deixassem de mascar chiclete. O governo também proibiu o grafite em muros.

“Éramos chamados de Estado babá, mas o resultado é que hoje nos comportamos melhor e vivemos em um lugar mais agradável do que há 30 anos”, disse à BBC.

Um socialista de formação, Lee tornou-se anticomunista, mas foi acusado por críticos de adotar uma série de práticas de regimes comunistas em Cingapura, como o controle de diversos aspectos da vida dos cidadãos.

Assista: Religiosos e ativistas gays travam batalha entre ‘rosa’ e ‘branco’ em Cingapura

Crescimento e repressão

Através do investimento em educação, Lee se propôs a criar novas gerações de profissionais altamente qualificados e fluentes em inglês. Além disso, ele ofereceu incentivos para empresas e investidores estrangeiros, com o objetivo de transformar Cingapura em um polo industrial.

De 1960 a 1980, o PIB per capita de Cingapura aumentou 15 vezes e Cingaputa tornou-se um centro financeiro global.

Cingapura | Foto: BBC
Em 20 anos, PIB per capita do país aumentou 15 vezes, e ilha tornou-se centro financeiro global

No entanto, um dos legados de Lee é também a repressão à imprensa. Muitos críticos afirmam que o desenvolvimento do país foi conseguido às custas da liberdade de expressão, citando seu hábito de processar meios de comunicação que não concordavam com ele.

Alguns de seus críticos e oponentes foram presos sem julgamento, o acesso a veículos de comunicação estrangeiros era restrito e diversos jornalistas foram presos.

“A liberdade de imprensa deve estar subordinada à necessidade prioritária de integridade em Cingapura”, afirmou.

Ele justificava sua posição dizendo que os jornais eram financiados por interesses estrangeiros hostis ao seu governo.

As restrições continuam hoje em dia. Cingapura ocupa o 153º lugar no índice de liberdade de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras, atrás de países como Rússia, Birmânia e Zimbábue, conhecidos pela perseguição a jornalistas.

Em 2015, o Brasil subiu 12 posições no ranking e chegou ao 99º lugar.

No Parlamento de Cingapura há apenas seis legisladores da oposição. Outras medidas estabelecidas por Lee, como leis que estabeleciam castigos físicos e o investimento do governo em fazer com que as mentes mais brilhantes do país se casassem – para terem bebês mais inteligentes – continuam a gerar críticas.

Lee, no entanto, manteve suas convicções até o fim. “Quem governa Cingapura tem que ser de ferro ou desistir. Passei minha vida inteira construindo-a e enquanto eu estiver no comando, ninguém vai derrubá-la”, disse, em um comício em 1980.

Fonte: BBC Brasil

17 Comentários

  1. Com a sua postura de controlar a imprensa, até parece, na ótica de alguns tupiniquins barriga branca;coisa de um chavista bolivarianista … hahahah .. a imprensa GOLPISTA não sobreviria ali. 😉
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    O Brasil na posição 99 como ? … hahahah … é até uma piada esse Rank … Hahahah … mais do que as imprensas golpistas como a GLOBO e a VEJA fazem aqui … hahahahah … se estas imprensas fizessem um décimo que elas fazem aqui na Grã-Betânia e nos EUA, de fabricar fatos sem provas, seriam levados a justiça para provar o improvável …hahahahah.
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    A revista VEJA da editora ABRIL que começou vendendo gibis do tio patinhas, apostou na cultura americana,uma autêntica sucursal do sionismo no Brasil …Hahahahah …. assim como a GLOBO, elas construíram o seu império midiático com a massificação da cultura amerina nas mentes opacas dos coXinhas. 😀
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    Muita criançada se divertiu lendo as revistinhas do tio patinhas,pato Donald e que dede ali, os dentes de leite foram catequizados na cultura sionista, em especial aquelas crianças que foram criadas pela vó …. rsrsrs..
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    A revista VEJA, adora contar as suas estorinhas de conto de fadas, para os mais fevrosos de mentes empedernida,seu leitores, como aquela impagável entrevista com o Felipão no avião e depois descobriu-se que ali não era o Felipão más alguém fazendo uma pegadinha com o jornalista da VEJA ..rsrsr ..realmente a VEJA faz jus a fama da revistinha semanal dos sionistas … Hahahahah…
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    Essa rapaziada que foram criada pela vó e hoje, com barba na cara e tem a mania feia, depois de “cabra-veio”, de botar chifre em mulher casa … não perde uma matéria bombástica da revistinha VEJA . 😉
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    HAAA ! ….SE O BRASIL SEGUISSE O EXEMPLO DO SOCIALISTA DA CINGAPURA .. !!!

    • A PROPAGANDA DA VEJA CONTRA A VENEZUELA E O IRÃ TERÃO CONSEQUÊNCIAS PARA A AMERICA DO SUL
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      arece que a revista Veja assumiu sua posição ativa na guerra contra a Venezuela e o Irã, pois inventou uma suposta relação entre estes dois países com a Argentina. O texto foi publicado no dia 14-03-2015, titulado “Chavistas confirmam conspiração denunciada por Nisman“.
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      Vejamos, a Veja quer relacionar a Venezuela com o Irã através da causa AMIA na Argentina? Está claro que querem arrumar um pretexto para uma intervenção na Venezuela e um ataque ao Irã, ambos países ricos em petróleo.
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      Os meios corporativos sionistas internacionais já estão republicando o artigo da Veja, ou seja, a “notícia bombástica” se alastra de forma sincronizada para cumprir um objetivo específico, desestabilizar a Argentina e demonizar a Venezuela e o Irã.
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      (*)fonte: [ noticia-final.blogspot.com.br/2015/03/a-propaganda-da-veja-contra-venezuela-e.html ]
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      (…) As consequências a nível diplomático para o Brasil são graves, pois a Veja cita o nome da embaixadora argentina Nilda Garré, como sendo a “interlocutora” entre Irã-Venezuela e no texto não é citado nenhum nome dos supostos “chavistas”. Como a revista da extrema-direta brasileira não divulgou nenhuma evidência, a reação da embaixadora argentina foi imediata. (…)

  2. Caio Blinder faz uma interessante comparação entre Lee Kuan Yew e Fidel Castro. Ambos incidiram em praticamente os mesmos pecados ao suprimir a democracia, mas a escolha do sistema econômico mostra que o político de Singapura estava correto ao passo que o ditador cubano, errado.

    • E um viva para o sr. Lee Kuan Yew, que soube unir o bom senso (combate aos interesses do ‘Capital Status Quo’) com o pragmatismo econômico e ética política.

      E um chupa para os interesses estrangeiros alheios aos interesses da nação.

      😀

      • Lee Kuan Yew apenas conseguiu transformar Singapura no que é ela é hoje graças ao malvado “Capital Status Quo”minha cara Carolzita surtada! Não venha mentir, que é feio…..hehehehehehehe

    • Voce esquece que ele era comunista tal qual Deng Shal Ping da China. Singapura se beneficiou do fato que Chineses tradicionalmente usam a ilha como entreposto commercial enquanto Castro estava isolado nas Americas.

      • Pelo visto você preferiu omitir a leitura integral do texto meu caro JOJOzinho bipolar! Lee Kuan Yew tornou anticomunista embora tenha permanecido no mau hábito de cercear a liberdade individual dos cidadão. Ele certamente cumpriu o vaticínio de Ronald Reagan, que dizia que “um comunista é um cara que lê Marx, enquanto um anticomunista é um cara que entende Marx”

  3. Interessante a abordagem do Sr. Lee Kuan Yew. Porém fazer isso em uma ilhota é bem mais fácil do que em um país, o que dirá em um país como o Brasil…

    Sempre questionei a percepção do Brasil potência, país tropical e bonito por natureza… Os contrastes são grandes demais, as necessidades diferentes demais e os problemas de infraestrutura profundos demais.

    Acredito que uma forma de viabilizar atuações específicas é favorecer uma maior liberdade de atuação dos estados e dos municípios, uma reorganização política em forma de algo como uma confederação brasileira e acima de tudo seguir pelo caminho do Sr. Lee Kuan Yew e realizar um combate implacável a corrupção!

    Apesar de não concordar integralmente com a percepção deste autor que cito a seguir, vale a pena ler e refletir, principalmente quando ele cita a Kleinstaaterei que vigorou na Alemanha no século XVIII:

    http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1788

  4. Lee Kuan Yew, pode ter seus defeitos,mas pelo que sei ele fez uma coisa fundamental pelo povo,proporcionou-lhe saúde,educação,moradia,segurança,ou seja o bem estar necessário a qualquer cidadão,foi a sua mão forte que transformou Cingapura em um país desenvolvido,seu grande mérito foi ter governado realmente para o povo e não para uma elite,como ocorre aqui no BRASIL !

    Se o BRASIL tivesse um “ditador“ desses nós estaríamos muito bem !

  5. O que mais posso dizer além de personalidade extraordinária? Um líder com características de Estadistas deve atuar conforme a necessidade e que a ocasião exija, Ex: Lee Kuan Yew, pessoa capas de maneja o poder em prol da elevação do seu povo, um pecado grave das democracias quase que em geral é desdenhar certo aspectos Ditatórias, aos quais sem fazem necessários em momentos de transições Social ou para correção de ordem (disciplina) Social com objetivos afim, conforme vemos no caso à cima.

  6. “Passei minha vida inteira construindo-a e enquanto eu estiver no comando, ninguém vai derrubá-la”

    Os poucos textos que li de Churchil e De Gaule dão a entender que tinham a mesma mentalidade.

  7. Um bom exemplo de um socialista dedicado em fazer seu país crescer. Enquanto isso vivemos sobre as asas de uma ditadura de direita incompetente, imoral e traiçoeira.

    • A única característica socialista empregada pelo Sr. Lee é a intromissão na vida privada dos seus cidadãos… todo o resto (leia-se o sucesso econômico da cidade-estado) deve-se a uma abordagem capitalista e ao investimento maciço em educação, nada mais.

      • O Próprio texto deixa bem claro que ele era anticomunista, mas era um socialista de formação. E certas características como programas de construção de casas a preços populares, mostram esse lado dele.

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