Vantagens e desvantagens de um Exército da Europa

Barreiras nacionais e uma tentativa fracassada deixam antever que proposta lançada pelo presidente da Comissão Europeia, apesar de algumas vantagens, é de difícil execução.

Tendo em conta as tensões com a Rússia, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, defendeu neste domingo (08/03) a criação de um exército europeu. A sugestão recebeu também o apoio da chanceler federal alemã, Angela Merkel. A DW responde as principais perguntas relacionadas ao tema.

Por que o tema ganha destaque agora?

O contexto é a crise da Ucrânia e a política externa da Rússia, que é percebida como sendo extremamente agressiva. Para Juncker, um exército europeu deixaria claro, para países como a Rússia, que os europeus levam a sério a defesa dos valores da União Europeia.

Como o governo alemão avalia a ideia?

O governo em Berlim vê de forma positiva a ideia de um exército europeu. Na última campanha eleitoral, o tema foi apoiado principalmente pelo Partido Social-Democrata (SPD). A proposta acabou sendo incluída no contrato de coalizão, assinado com a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CDU). A chanceler federal, Angela Merkel, e a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen (as duas da CDU) se pronunciaram a favor de uma cooperação militar mais aprofundada dentro da Europa, mas enfatizaram que se trata de um projeto de longo prazo.

Quais as vantagens de um exército europeu?

Atualmente há na União Europeia 28 exércitos nacionais com cerca de 1,5 milhão de soldados que, em grande parte, realizam as mesmas tarefas. Isso faz com que pessoal e recursos sejam destinados às mesmas tarefas, elevando os custos.

Uma cooperação europeia levaria a uma economia de custos no desenvolvimento, compra e utilização de aparelhos militares, afirmam os defensores da ideia. Por meio de uma divisão de tarefas, alguns países poderiam se especializar em determinadas habilidades militares e, se for necessário, assumi-las dentro do bloco.

Além disso, há muitos anos os países europeus vivem de forma pacífica. Em suas relações mútuas, uma defesa nacional não faz mais sentido para muitas nações. Os laços cada vez mais fortes de seus estados-membros fazem com que questões de segurança não afetem os países, mas a União Europeia como um todo. De acordo com os defensores da ideia, um exército europeu simboliza unidade e força.

Quais as barreiras para a criação do exército?

A base para um exército europeu é uma política externa e de segurança comum. Até o momento, isso não existe. Em última análise, cada nação europeia teria que renunciar a direitos soberanos e, com isso, a poder. É questionável se todos os países-membros estariam dispostos a transferir para Bruxelas as decisões sobre a utilização de suas próprias tropas no âmbito de um exército europeu.

As Forças Armadas são consideradas um símbolo essencial da soberania nacional e têm, na maioria dos países da União Europeia, uma longa tradição. Por muito tempo, uma subordinação à União Europeia era impensável, especialmente para os grandes países, que veem suas Forças Armadas como um elemento essencial para a sua influência política.

Pré-condição para um exército europeu seria que todos os países-membros chegassem a um acordo sobre a legislação que regulamentaria o uso das tropas comuns, mas entre os países europeus há diferenças substanciais nas condições legais para o uso de tropas no exterior. Na França, por exemplo, foi introduzida uma nova regra em 2008: é necessária a aprovação do Parlamento caso as tropas fiquem mais de quatro meses no exterior.

A ideia de um exército europeu é nova?

Não. A ideia de um exército europeu independente remonta ao início dos anos 1950 e é tão antiga quanto a ideia da própria União Europeia. Naquela época, França, Alemanha, Itália e os estados do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) queriam criar a Comunidade Europeia de Defesa, como reação à Segunda Guerra Mundial, mas o projeto não foi aprovado pela Assembleia Nacional da França.

Desde então, a proposta reaparece na agenda internacional. Após a Guerra Fria e o fim da polarização entre a Otan e o Pacto de Varsóvia, a ideia de um exército europeu ganhou novo impulso. Quando, na antiga Iugoslávia, os europeus não estiveram em condições de realizar uma intervenção, e viram EUA e Otan agirem, cresceu o entendimento de que a Europa deveria se reorganizar nessa área.

O que aconteceu desde então?

Por enquanto há apenas acordos bilaterais. A Alemanha já trabalha com a França no âmbito da Brigada Franco-Alemã, que atualmente participa de uma missão de treinamento no Mali. Em junho do ano passado, uma brigada móvel aérea da Holanda foi subordinada às Forças Armadas da Alemanha.

A Bundeswehr planeja com a Polônia uma cooperação parecida: uma brigada alemã deverá assumir o comando de um batalhão polonês. Em troca, os militares alemães vão entregar o comando de um batalhão com cerca de 600 soldados aos poloneses, anunciou recentemente o comandante do Exército alemão, Bruno Kasdorf.

Em 2004, a União Europeia decidiu disponibilizar tropas militares para intervenções em regiões em crise. Os chamados Grupos de Combate, organizações militares comuns rotativas, estão operacionais desde 2005. Porém, até agora, não foram colocados em ação.

Fonte: DW.DE

Proposta de um exército europeu já nasce morta

Presidente da Comissão Europeia sugere criar exército da UE em resposta a atitudes como a da Rússia na crise da Ucrânia. Tentativa anterior semelhante mostra que proposta não tem futuro, opina articulista Felix Steiner.

Será que Jean-Claude Juncker não tem nenhum livro de história europeia em seu escritório? Se tiver, poderia ler o capítulo sobre a Comunidade Europeia de Defesa. É história de um triste fracasso, já com mais de 60 anos.

O plano – e este é um paralelo interessante em relação aos dias atuais – surgiu em face de uma crise: em julho de 1950, com ajuda chinesa, a Coreia do Norte atacou a Coreia do Sul, com o objetivo de unir o país sob a bandeira do comunismo.

Na Europa, temia-se algo semelhante, e assim nasceu o revolucionário conceito de retirar a autonomia nacional das Forças Armadas de França, Itália e dos países do Benelux, bem como da nascente força militar da Alemanha Ocidental, sujeitando-as a um comando supranacional comum. Tudo isso fiel ao lema: somente unidos seremos fortes e só assim um de nós não será forte demais – em especial a Alemanha, de quem ainda se desconfiava fortemente depois do fim da era nazista.

Embora o plano estivesse quase concluído, passados apenas quatro anos, acabou fracassando no Parlamento do país-membro mais poderoso da época – na Assembleia Nacional da França. Por quê? Porque a Grande Nation não queria abdicar de tanta soberania. Além disso, o medo de uma nova guerra, forte em meados de 1950, havia diminuído em agosto de 1954.

Assim, fica uma pergunta até banal: o que é diferente na França de 2015 em relação à França de 1954? Como, por exemplo, a França daria prosseguimento ao seu extenso envolvimento militar na África se a União Europeia tivesse que decidir sobre cada detalhe? Impossível! Paris vai permitir? Claro que não! A proposta de Juncker fracassa, portanto, no mesmo ponto em que proposta semelhante já fracassou antes.

E não existe somente a França. O Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) tem os mais amplos direitos de autorização, no que diz respeito à atuação das Forças Armadas, entre todos os parlamentos da União Europeia (UE). Alguém acredita mesmo que os parlamentares alemães abdicariam desse direito em favor de uma instituição da UE – não importa se ela for o Parlamento Europeu ou a Comissão Europeia?

Não, a iniciativa de Juncker não tem nenhuma chance, também porque a sua justificativa é simplesmente errada. Juncker alega que a política europeia não teria credibilidade e que, com um exército comum, seria possível mostrar à Rússia que a defesa dos valores da UE é levada a sério. Mais uma vez fica a pergunta: mas o que mudaria com um exército comum? Um exército comum, cuja atuação estivesse excluída categoricamente desde o início de uma crise, amedronta tanto quanto 28 exércitos nacionais, cujas atuações também foram descartadas de antemão na atual crise.

É por isso que a política externa europeia não tem credibilidade. E também porque, muito frequentemente, os políticos europeus não falam em uníssono e não atuam em conjunto. Por exemplo quando uma maioria quer isolar Putin, enquanto alguns poucos o recebem ou até mesmo visitam!

O problema do poderio militar da Europa também não reside na existência de exércitos nacionais. Se os países-membros da UE ainda não conseguem se defender sozinhos e dependem dos EUA mais do que nos tempos da Guerra Fria, isso tem a ver apenas e simplesmente com o fato de que ninguém quer gastar o dinheiro necessário.

E é precisamente aí que se encontra a parte traiçoeira dos aplausos que Juncker recebeu dos social-democratas alemães: segundo eles, um Exército comum cria sinergias, podendo-se assim economizar muito dinheiro. Ou seja, o objetivo é investir ainda menos em segurança.

A UE poderia aprender muito com os seus pequenos Estados-membros: a maioria já especializou suas tropas nas divisões militares usadas pela Otan. Somente os grandes países, como França, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Polônia e Itália, ainda mantêm suas próprias divisões, que fazem de tudo um pouco, mas nada direito.

Órgãos competentes para levar adiante a especialização de tropas e a divisão de tarefas em nível de Otan e UE já existem há muito tempo. Mas, até agora, eles são modestos em seus resultados. As maneiras de grande potência dos países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU impedem qualquer progresso.

Uma dica final para Juncker: já faz dez anos que os Grupos de Combate da UE estão em prontidão – como tropas de ação rápida na Europa ou em regiões de crise no Oriente Médio e África. A responsabilidade passa de forma rotativa de uma nação para a outra, algumas organizações já estão exemplarmente constituídas de forma multinacional. Só que, em dez anos, os Grupos de Combate nunca entraram em ação. No fundo, tudo é uma questão da vontade política comum.

Fonte: DW.DE

6 Comentários

  1. “O problema do poderio militar da Europa também não reside na existência de exércitos nacionais. Se os países-membros da UE ainda não conseguem se defender sozinhos e dependem dos EUA mais do que nos tempos da Guerra Fria, isso tem a ver apenas e simplesmente com o fato de que ninguém quer gastar o dinheiro necessário.”
    Isso sempre foi obvio pois os EUA ocuparam a Europa. Se não tivessem pretençoes de ocupação já teriam deixado ela se virar há tempos – o fim da URSS apenas expos ainda mais isso – uma Europa forte militarmente não é de interesse dos EUA.

  2. TODA EUROPA MENOS A RÚSSIA SÃO FANTOCHES NAS MÃOS DOS EUA QUE POR ISSO VIVE EM CONFLITO CONSTANTE COM O URSO QUE NÃO ACEITA NEM ACEITARÁ OS DESMANDOS ESQUIZOFRÊNICOS DE WASHINGTON

    • Todo mundo que não odeia os Estados Unidos é fantoche.
      Assim como todos os que amam a Rússia são heróis defensores liberdade.

      Agora só falta saber a opinião das pessoas do leste europeu que conhecem a Rússia de perto.

      Geopolítca é simples, é a luta entre o bem e o mal.

  3. UM Exército da Europa ? … com que dinheiro cara pálida …quem banca a OTAN, pode-se dizer que é os EUA .
    .
    Se eles ( EUA ) estão mal das pernas, o resto com certeza estará.
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    Só com essa guerrinha financeira e comercial com a Rússia já tem pais europeu pedindo pinico … rsrsr. imagine uma guerra . 😉

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