Defesa & Geopolítica

Crise com Indonésia pode afetar comércio com Ásia, diz especialista

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Recentes desavenças diplomáticas podem prejudicar as relações comerciais brasileiras com Asean, um dos blocos que mais cresce no mundo, opina a especialista em relações internacionais Danielly Silva Ramos Becard.

Dilma RousseffDilma Rousseff se recusou a receber as credenciais do embaixador da Indonésia e irritou líderes políticos do país asiático
As relações diplomáticas entre Brasil e Indonésia vêm se deteriorando desde a execução do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, no dia 17 de janeiro. Em represália, o governo brasileiro se recusou a receber as credenciais do embaixador da Indonésia. O país asiático retaliou com a ameaça de cancelar a compra de 16 aviões da Embraer.O que começou como uma desavença bilateral pode ter consequências mais amplas para o Brasil, opina a especialista em relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Danielly Silva Ramos Becard.Em entrevista à DW, ela explica que a atual situação da política externa brasileira poderia desencadear reações econômicas nas negociações com países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) – um dos blocos econômicos que mais cresce no mundo.DW: Os acordos econômicos entre o Brasil e Asean cresceram nos últimos anos. Hoje, o Brasil exporta minério de ferro, farelo de soja e o grão de soja para o bloco econômico asiático. Como o impasse diplomático poderia influenciar nas relações comerciais brasileiras?Danielly Silva Ramos Becard: A pressão política feita pelo Brasil sobre o governo da Indonésia pode confrontar outros países da Asean. Os argumentos para a condenação do brasileiro à pena de morte valem igualmente para outros países-membros que também aplicam a pena capital contra traficantes. No geral, o sistema judiciário da Indonésia é semelhante ao de outros países do bloco econômico asiático formado por dez membros, entre eles Tailândia, Filipinas, Malásia e Cingapura. Caso haja uma solidariedade desses países-membros com a Indonésia, o Brasil poderia sair prejudicado em diversos setores econômicos. Entretanto, nós não podemos prever uma reação direta da Asean, já que o bloco prioriza as relações econômicas, postura essa que deveria também ser tomada pelo governo brasileiro.Como você avalia a recente atitude do governo brasileiro com relação à Indonésia?O Brasil não tem o direito de intervir na política interna da Indonésia. Considero a atitude da presidente Dilma Rousseff como dúbia. Ela não tomou nenhuma decisão concreta nas relações com a Indonésia. O credenciamento do novo embaixador no Brasil foi apenas adiado sem qualquer justificativa, e o episódio foi considerado um constrangimentonas relações diplomáticas.Além disso, o Brasil vai na contramão dos seus próprios preceitos. O governo brasileiro também assume uma postura de não deixar que pressões internacionais interfiram nas políticas internas, exatamente a mesma postura que agora é adotada pela Indonésia.Existem normas jurídicas e diplomáticas que deveriam ser ponderadas nas ações do governo brasileiro. Isso mostra que o desenvolvimento comercial no Brasil foi deixado em segundo plano pra defender os interesses político-sociais, não importando as consequências das atitudes do Itamaraty.Com relação ao caso da Indonésia, como você avalia o desempenho do Ministério das Relações Exteriores?

Brasilien Danielly Silva Ramos Becard EINSCHRÄNKUNGBecard afirma que o Brasil mostra dificuldades em separar as agendas internas e externas

A situação entre o Brasil e a Indonésia demonstra a dificuldade do governo brasileiro em lidar com situações internacionais que, na verdade, são de praxe no governo de qualquer país. A presidente Dilma já recebe severas críticas quanto a seu desempenho nas relações exteriores. Neste caso específico, politizou-se uma situação que poderia ter sido contornada de uma forma mais cética.Qual seria uma possível solução para o impasse?A melhor forma de lidar com situações tão delicadas no cenário internacional é focar nos interesses do desenvolvimento do país e aprender a separar os interesses comerciais dos interesses político-sociais. Essa é uma lição que a China já aprendeu.O maior país da Ásia oriental recebe muitas críticas em relação à violação de direitos humanos, mas não deixa que as relações internacionais abalem os acordos comerciais. Apesar de ter uma agenda política extremamente complicada, a China não deixa de ser produtiva na área de investimentos.No caso da Indonésia, pode ser que as boas relações entre os países possam ser retomadas, caso o Brasil haja com rapidez. Fato que poderia evitar qualquer efeito na parte comercial. Impasses diplomáticos como esse acontecem com frequência entre países, mas a duração das desavenças depende dos jogos diplomáticos.Fonte: DW

 

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