Grécia: Alexis Tsipras, o líder que desafia a troica

Simpático e direto no trato pessoal, novo primeiro-ministro grego é considerado carismático e habilidoso estrategista. Ele não hesita em se livrar de antigos aliados caso eles se oponham a seus objetivos.

Criar e defender maiorias é um lema que caracteriza a ação política de Alexis Tsipras, a julgar por seu próprio currículo. Ironicamente, foi no histórico ano de 1989 que o então líder estudantil e hoje primeiro-ministro decidiu entrar na organização juvenil do Partido Comunista da Grécia (KKE).

A legenda defende posições comunistas ortodoxas e ainda hoje tem a foice e o martelo em seu emblema. Seus primeiros méritos, ele adquiriu como co-organizador de ocupações escolares em Atenas. Poucos anos depois, fez parte da então emergente Synaspismus (Coalizão da Esquerda e do Progresso), antecessora do atual partido Syriza.

Seu grande momento foi na eleição municipal grega de 2006. O então presidente da Synaspismus, Alekos Alavanos, abriu sua coalizão para movimentos extraparlamentares, ativistas verdes e movimentos de base, na tentativa de dar uma cara nova à campanha. A decisão recaiu sobre Tsipras, então com 32 anos, que se candidatou a prefeito de Atenas e obteve 10,5% dos votos, três vezes mais do que nas eleições de 2004.

Presidência do partido

A partir de então, o nome Alexis Tsipras se tornou parte integrante da vida política grega. Na convenção partidária do Syriza de 2008, o presidente do partido, Alekos Alavanos, renuncia ao cargo e alçou seu protegido Tsipras à liderança, sob forte resistência dos figurões da legenda. O ex-ministro da Justiça Fotis Kouverlis, outro aspirante a cargos elevados, abandonou, por isso, a agremiação e funda seu próprio partido.

Em seguida, saiu o velho comunista Alavanos. Tsipras não hesitou em deixar cair seu mentor político quando ele aparentemente começou a agir contra sua nova linha partidária. Razões para a disputa foram, provavelmente, os pontos de vista sobre distribuição de cargos e diferentes opiniões sobre a questão da adesão da Grécia ao euro.

Alavanos defende com fervor um retorno ao dracma e fundou seu próprio partido, apropriadamente chamado de Plano B. Até hoje, ele se recusa a falar sobre o conflito com Tsipras.

À margem das disputas, Tsipras trabalhou arduamente para a formação de um novo partido popular de esquerda, através da fusão de vários grupos e movimentos que, no jargão partidário, se chamam de ” componentes do Syriza” e que insistem em possuir um nível elevado de autonomia.

Os componentes incluem trotskistas, maoístas, eurocomunistas, ecossocialistas, intelectuais de esquerda e outros grupos que querem colocar suas próprias influências no trabalho da liderança do partido. O fato de Tsipras ter conseguido manter todos unidos já é considerado prova de habilidade tática.

Nos bastidores do poder

Mas Tsipras também pode ser simpático. Ele vive modestamente no centro de Atenas, com sua mulher, que conheceu na infância, e seus dois filhos. Ele gosta de se misturar com a multidão e de andar de motocicleta. No trato pessoal, é afável e direto. Mas pode se tornar duro quando se trata de forjar uma nova maioria.

Tsipras deixou poucas dúvidas de que estaria disposto a se aliar, se necessário, ao partido de direita populista Gregos Independentes, como, de fato, aconteceu. Ambos os partidos estão unidos por uma retórica afiada contra as medidas de austeridade e uma atitude mais crítica em relação à Alemanha.

A grande questão que resta é de Tsipras permanecerá preso a sua própria retórica ou dará uma guinada, caso necessário. Observadores atentos não deixaram de perceber que o político de esquerda passou nas últimas semanas a se expressar em tons mais suaves, dando garantias explícitas de que não aspira definir quaisquer medidas unilaterais. Mesmo equilíbrio orçamentário é coisa com que os políticos do Syriza parecem estar agora começando a simpatizar.

Fonte: DW.DE

Alexis Tsipras declara o fim da austeridade e da humilhação na Grecia

Líder da aliança esquerdista Syriza, vencedora das eleições parlamentares, reforça suspensão do “desastroso” programa de austeridade e propõe renegociação da dívida grega. “Hoje nós fizemos história”, comemorou.

Vitorioso nas eleições parlamentares deste domingo (25/01), o líder do partido de esquerda Syriza, Alexis Tsipras, declarou que o resultado das urnas representa o “fim da austeridade e da humilhação, assim como as frequentes e desgastante inspeções das dívidas do país, que agora são coisa do passado”.

Em pronunciamento feito em Atenas, Tsipras afirmou que o país vai trabalhar junto a seus credores – a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional – na busca de uma saída “viável” para a dívida de quase 240 milhões de euros, mas que está determinado a deixar para trás o “desastroso programa de austeridade”.

“Hoje nós escrevemos história”, afirmou o esquerdista, que deverá ser escolhido novo primeiro-ministro grego. Segundo ele, o país apresentará seu próprio plano de reforma.

Mais cedo, o atual primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, reconheceu a derrota de seu partido, Nova Democracia, e congratulou os opositores. “O povo grego se expressou e todos nós vamos respeitar esta decisão. Tenho a consciência tranquila”, afirmou Samaras, ressaltando que assumiu o governo em 2012 quando o país estava “à beira de uma catástrofe”, e lembrando que recebeu “uma batata quente nas mãos”.

O êxito da aliança de esquerda sobre os governistas foi confirmado logo no primeiro balanço oficial da apuração dos votos. Levantamento parcial já mostrava o Syriza com cerca de 36% dos votos, uma vitória clara sobre a legenda de Samaras, que chega em segundo com 28%.

A expectativa agora é com relação ao número exato de cadeiras que o Syriza vai assumir no Parlamento, para ter certeza se o partido conquistará a maioria absoluta dos 300 assentos. Resultados parciais mostram a legenda com algo entre 149 e 151 assentos. A Nova Democracia deve chegar a 76 cadeiras.

O terceiro mais votado, segundo projeção oficial parcial, foram os radicais de direita do partido Aurora Dourada, com 6,3%, ou 17 assentos.

Corte da dívida

O resultado das urnas é visto como decisivo para a futura política social e econômica do país altamente endividado. Tsipras, que aos 40 anos deverá ser o primeiro-ministro mais jovem da história da Grécia, pretende manter o país na zona do euro, mas rejeita as imposições dos credores impostas ao país.

O líder do Syriza exige um corte da dívida, algo que os credores da chamada troica – União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu – recusam categoricamente.

CA/MSB/dpa/afp

Fonte: DW.DE

1 Comentário

  1. Esse cara poderá ser um agente libertador e exemplar para o povo Europeu, hoje dominado por uma elite perversa cujo primeiro interesse e prioridade não é gente mas dinheiro. Bem que pouca gente possui e por isso torná-lo o centro dos interesses do poder o torna tão discricionário. Cada vez mais o mundo sucumbe na falacia financeira que bebeficia alguns poucos em detrimento de milhões, gerando distorções humanitárias, convertidas em efeito colateral como resposta minimizadora levadas a efeito pelas midias mundiais, não por acoso de propriedade de bilionários que desse movimento se beneficiam,

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