Haiti: Cinco anos após terremoto

Após o terremoto em 2010, cerca de 1.000 pessoas estavam vivendo em tendas em vias movimentadas do Haiti. Cinco anos depois, dezenas de milhares de pessoas em Port-au-Prince ainda vivem em tendas e em abrigos temporários. – David Gilkey / NPR

Acordo para eleições parlamentares no fim do ano não é aprovado antes de acabar a maioria dos mandatos dos congressistas. ONU apela para que ajuda humanitária internacional continue.

Cinco anos depois, os vestígios da catástrofe ainda atormentam o Haiti. A população amanheceu, nesta segunda-feira (12/01), lembrando os mortos no dia 12 de janeiro de 2010, quando um terremoto de 7 graus na escala Richter devastou o país mais pobre do hemisfério ocidental. Segundo as autoridades locais, 316 mil pessoas morreram, 300 mil ficaram feridas e 1,5 milhão, desabrigadas.

Hoje, quase 80 mil pessoas continuam desabrigadas. Apesar de não haver mais campos de deslocados em Porto Príncipe, de acordo com a Organização Internacional de Migração, 105 acampamentos foram montados pelo país para receber as vítimas.

Na capital, algumas áreas atingidas pelo terremoto têm verificado progresso na reconstrução e reassentamento, mas grandes terrenos seguem abandonados, com escombros acumulados. No centro da cidade, algumas paredes brancas da antiga catedral ainda resistem. O histórico Mercado de Ferro, no centro, foi completamente destruído, mas reerguido, com minaretes decorativos e uma torre com um relógio.

“No fim das contas, o Haiti sempre vai correr o risco de novos terremotos. A prevenção custa menos do que a reconstrução”, diz o sismólogo Claude Preptit.

Protesto contra o presidente Martelly na capital haitiana

Saúde e segurança

Passados cinco anos, a ONU diz que o Haiti recebeu 80% dos 12,45 bilhões de dólares prometidos por 50 países e agências de cooperação. Cerca de 80% da população vive abaixo da linha da pobreza, em vulnerabilidade. O secretário-geral Ban Ki-moon apelou para que a comunidade internacional continue apoiando o Haiti.

A epidemia de cólera, que começou logo após o terremoto, ainda persiste e já causou 8 mil mortes. As Nações Unidas negam responsabilidade legal pelo início da epidemia, mas evidências indicam que na origem da epidemia está o precário saneamento numa base militar das tropas de paz da ONU.

O apoio da ONU mudou no país nos últimos dez anos. Ele começou com o esforço de restabelecimento da segurança com as tropas de paz. “Com a conquista desse cenário, já se pensava numa diminuição de tropa, mas nos deparamos com um terremoto e entramos na segunda fase, de apoio humanitário e reconstrução. Hoje, a postura das tropas da ONU é muito mais de apoio às instituições nacionais para manter a segurança”, disse o comandante da força de paz, o brasileiro José Luiz Jaborandy Júnior, em nota divulgada pela ONU.

O terremoto provocou imensa demanda por assistência à saúde mental, o que acaba sendo mais um grande desafio para um país com apenas 10 psiquiatras para 10 milhões de pessoas. “O impacto do terremoto na saúde mental é gigante e extremamente profundo. Alguns perderam todos os limites e referências devido a grandes perdas. Nós ainda temos pessoas chegando às clínicas com problemas mentais relacionados ao terremoto”, disse à agência de notícias Reuters o médico Reginald Fils-Aime.

Incertezas políticas

O histórico Palácio Nacional, cujas ruínas foram por muito tempo um símbolo involuntário do precário governo haitiano, foi demolido, e os escombros do prédio foram removidos. Os desafios para levar harmonia à política haitiana, porém, ainda são imensos. Governo e oposição não se entendem sobre a realização de eleições parlamentares, atrasadas desde 2011.

No domingo, um dia antes do término do mandato dos parlamentares, o presidente Michel Martelly e cerca de 20 líderes políticos anunciaram um acordo para convocar eleições no final deste ano. O Parlamento, porém, não chegou a ratificá-lo. A situação cria um vácuo institucional e político.

Nos últimos dias, grupos oposicionistas protestaram nas ruas de Porto Príncipe, acusando Martelly de esperar acabar a legislatura para governar o país por decreto. Por outro lado, o governo acusa a oposição pela não aprovação de uma lei eleitoral.

O acordo, contudo, foi saudado pela União Europeia (UE). “O Haiti precisa da emergência de um governo estável e efetivo e uma oposição construtiva, que estejam acima das diferenças partidárias, para guiar o país a um desenvolvimento sustentável”, disse a alta representante da UE para Política Externa e Segurança, Federica Mogherini.

A UE é um dos principais atores externos que ajudam a reconstruir o Haiti após o terremoto. Mesmo com todo o apoio, a estrutura política e administrativa do país parece instável para que os recursos externos fluam de forma apropriada. “Eu espero que todos os atores políticos no Haiti assumam as suas reponsabilidades por estabilidade e progresso. A prioridade deveria ser dada à renovação legislativa através de eleições justas e abertas o mais rápido possível”, disse Mogherini.

Michel Joseph Martelly pode agora governar por decreto

Made in Haiti

O Haiti ocupa a 209ª posição entres as economias mundiais, atrás de Serra Leoa, Coreia do Norte e Bangladesh. Metade do orçamento do governo vem de doadores. O desemprego atinge cerca de 30% da população. No entanto, esse país tão pobre é vizinho do imenso mercado norte-americano e das economias emergentes da América Latina. Talvez essa posição geográfica motive algumas visões otimistas sobre o Haiti.

Alguns acreditam que o país poderia criar empregos na indústria, idealizando uma espécie de Taiwan do Caribe. É a aposta dos investidores da empresa Sûrtab, que, em junho de 2013, iniciou a produção de tablets com o sistema operacional Android em Porto Príncipe. Desde que abriu, a Sûrtab expandiu a sua produção para 20 mil unidades para o mercado local, caribenho e africano.

Agora oferece formação técnica para 60 mil trabalhadores haitianos. O diretor-geral, Diderot Musset, diz que a empresa espera triplicar a produção em 2015, mas admite que mesmo os haitianos suspeitam dos objetivos da empresa. “Até eles virem aqui e enxergarem as instalações da empresa, eles não acreditavam que nós realmente estavamos fazendo isso no Haiti. Nós temos trabalhadores que vão para casa e explicam o que estão fazendo aqui, mas as pessoas não acreditam”, disse.

MP/afp/rtr/ap

Fonte: DW.DE

 

13 Comentários

  1. Ate hoje me pergunto o que o Brasil ganhou no Haiti fora o humanitarismo !
    Por uma busca idiota de cadeira no CS assumimos no Haiti o papel dos EUA que desmoralizado perante a população Haitiana incentivou o Brasil achando que seria o começo do envolvimento conjunto com eles do Brasil em outros contigentes mundo afora.
    Ate mesmo a alegação de adestramento da tropa eu questiono.
    Por terem tido experiencia no Haiti pensaram que a narco-guerrilha no RJ seria um passeio e muitos com experiencia no Haiti mas totalmente fora da realidade do RJ passaram vergonha,pagaram foi mico.
    Alem de termos de bancarmos essa conta em nome da ONU e do humanitarismo ainda não nos tocamos no crescente exodo de refugiados Haitianos,Sulamericanos,Africanos e Asiaticos que adentram diariamente nosso territorio em busca de uma vida melhor.
    Não se faz nada de efetivo neste pais para realmente se acabar com deficiencias e problemas.
    Por mais que envolvam nossos guerreiros em policiamento de fronteiras ou contenções estaduais os resultados são inexpressivos frente o gigantismos de deficiencias e problemas.
    Ver nossos guerreiros ao largo na linha vermelha observando de binoculo o complexo e se submetendo a humilhações e exculachos sem o minimo de infraestrutura minima necessaria ate mesmo sanitaria chega a cortar o coração.
    Desde quando diplomacia,politica e humanitarismos entendem de assimetria e estrategia militar !
    Hoje a sociologia hipocrita travestida de humanitaria teoricamente dão as cartas numa pratica débil de se fazerem tudo com iniciativa de começo empurrando nas coxas a ineficiencia do estado e ausencia do mesmo transformando policiais e soldados do dia pra noite em agentes comunitarios,agentes sociais.
    Então o que aprendi é errado e ultrapassado não é mesmo !
    Aquele que representa a lei e a ordem deve cumpri-la para fazer-la cumprir.
    Aquele que representa a lei e a ordem deve estar a parte emocionalmente,psicologicamente da questão para não desenvolver tendencias,sentimentos pois é pago e constituido para cumprir e fazer cumprir.
    Aquele que representa a lei e a ordem não deve se socializar para que não haja interação que gere amizade,envolvimento,intimidade,que resulte em desvios ou facilitação de descumprimento.

    ESTUPRADOOOOOR,RADICAAAAL são os gritos de uma infima parcela que quer se fazer voz de todo um povo passando a mão na cabeça da delinquencia porque delinquem.
    Estamos apenas vivenciando problemas dentro de nossa casa que mais na frente eclodirão em convulsão social plantada pelos que delinquem no poder e potencializadas pelos que espreitam oportunidades de momento.
    Maioridade civil e criminal para maiores de 14 anos sim.
    Castração quimica para estupradores sim.
    Pena de morte para os que traem o Brasil e os Brasileiros sim.Classificando espionagem,facilitação e colaboração em espionagens,desvios de verba publica,corrompimentos,como crimes contra a segurança nacional.
    Helio Gomes que teve uma obra reeditada varias vezes e usada como espinha dorsal na formação academica de diversas cadeiras ate hoje embora hoje bem modificada pela hipocrisia que se entitula entendedora de tudo defendia a tese da proibição de relacionamento sexual entre portadores de disturbios psiquicos ou dependentes quimicos.Hoje a isterica ministra dos direitos humanos o classificaria como nazista e ele ate hoje esta certo.
    “Adequamos as coisas aos dias de hoje” mas não aceitam adequarem nossas leis aos dias de hoje nem a reverem nossa constituição que teve muitos pontos manipulados por verdadeiros traidores para facilitação de ganhos de externos.

  2. Quando há alguns anos o Brasil mostrou um pouquinho de proatividade e solidariedade no Haiti o rolo compressor dos EUA logo passou por cima para mostrar quem é que manda na área. Até por falta de equipamentos e pessoal os EUA assumiram o lugar do Brasil no controle das operações. Vários navios e 10.000 homens, claro que a maioria deles a bordo dos navios se juntaram às operações. Um navio próximo a costa provia o controle do espaço aéreo, então os EUA escolhiam quem iria pousar e quando. De certa forma foi uma situação humilhante da qual espero que o EB e a FAB tenha tirado alguma lição.
    Porém, passado o momento de dar o show, gostaria de ver os memos navios, e outros mais, os mesmos 10.000 homens, e muito mais, ajudando a reconstruir esse pais miserável em quase todos os sentidos. Não quero entrar em questões ideológicas, mas taí um exemplo de país onde o nosso governo poderia ter enterrado o dinheiro perdido em Cuba. Cuba vai receber milhões em investimentos dos EUA, Canadá e China, o Haiti, não.

  3. ”…ONU diz que o Haiti recebeu 80% dos 12,45 bilhões de dólares…”

    E o país ainda esta nesse caos todo,eu acredito que o BRASIL já vez oque pode para o Haiti,devemos entregar o comando que nos foi confiado e passar a contribuir de outra forma, ou o Haiti sera o nosso Vietnã, já fizemos muito e os resultados são pífios.

  4. O Haiti é um país que devia servir de laboratório para todos os países da ONU aplicarem suas tecnologias para tentar desenvolvê-lo. O povo haitiano não tem cidadania mesmo, tem miséria e oportunismo lhes tirando proveito, inclusive pelo Brasil, que está lá para aparecer grande mas que de fato muito pouca contribuição leva para aquele povo. Devíamos nos envergonhar de fazer parte desse teatro dos absurdos.

    • muito bem julio ,mas a ONU 90 por cento dela é feita para os estados unidos ganhar vantagens em cima de outros países

      mas sua ideia é ótima pena que não temos ninguém humanista nesses cargos

      mas sobre o Haiti ,faz um plebiscito sobre a anexação do Haiti como estado brasileiro
      pergunta la para eles é melhor do que eles virem para ca daria mais certo ,o estilo de vida brasileiro salvaria aquela naçao
      anexação do Haiti JÁ !!!!! RS

      • Meu caro, nem brinca, essa sua idéia iria gerar tanta confusão para nosso país, que até já imagino as manchetes aqui: ” Brasil imperialista que incorporar o Haiti”, ” Brasil usa a ONU para explorar o pobre povo haitiano” e por aí vai. Mas o pior é que vislumbro isso principalmente partindo daqui de dentro, por todas as motivações obscuras que se esconde na alma de nossa depravada elite, indutora de pessimos habitos culturais e patrios, muito boa para olhar pra fora, mas pessima em olhar pra dentro dela mesma, onde esconde desde o pessimo carater como cidadãos até seu racismo. Nem pense meu caro, ao invés de melhorarmos o Haiti piorariamos o Brasil. Sds.

      • Julio é uma total falta de educação moral.
        Para se mudar tudo levariamos mais de um seculo apenas conscientizando e educando a moral de nossa sociedade que reflete na aceitação,conivencia e covardia em um sistema desumano,sem moral e corrompido.
        Infelizmente resultados satisfatorios de curto e medio prazo so na marra mesmo.
        0800 é essencia e entorpecimento alegria.

      • Oque você quer dizer com o o estilo de vida brasileiro salvaria o Haiti?

        Que estilo de vida é esse,explique-nos por favor ?

      • você não conhece o estilo de vida do brasileiro

        coloca um carnaval no Haiti economia voltada ao turismo ,já ajudaria esse pais a não ser o mais pobre das américas
        e isso o brasil sabe muito bem
        inserido no modo de vida do brasileiro esta o turismo .
        apenas 1 dos exemplos pois temos outros que seriam absorvidos pelo Haiti rapidamente

        plebiscito no Haiti já !!!!

      • Eu concordo, em muitas coisas com você,mas esta eu tenho que discordar,o BRASIL tem potencial para turismo,mas só potencial, nós não temos estrutura nenhuma,hotéis, segurança,estradas,nada que possa atrair turista em segurança !

        É melhor tanto para BRASIL como o Haiti,que não se juntem em uma só nação,sera ruim para ambos !

    • Concordo Julio.
      Enganam nossos soldados com a ilusão do humanitarismo.
      Não existe povo mais honrado no continente que o Haitiano.
      Negros escravos armados unicamente de catanas derrotaram,mataram e enterraram no Haiti nada mais nada menos que 14 generais de Napoleão o exercito mais forte da epoca.
      O Haiti por sua ousadia foi boicotado pela França e pela Europa por não pagar indenização pela independencia.
      O Brasil pagou muito bem a Portugal e outros paises europeus por sua independencia.
      No caso do Haiti o boicote europeu forçou todos a darem as costa para o Haiti.
      Nem Simão Bolivar os incluiu.
      E assim o Haiti ficou conhecido como o pais mais pobre e atrazado da America.
      Alem de não ter como desenvolver-se ainda teve covernos tiranos.

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