Petróleo a preços baixos pode trazer 2015 turbulento

Se os níveis atuais forem mantidos, crise não afetará só produtores como a Rússia, mas também os EUA, além de levar a zona do euro a uma perigosa armadilha deflacionária, opina Henrik Böhme, da redação de economia da DW.

Henrik Böhme da redação de economia da DW

Onde quer que o petróleo seja consumido, há semanas que a alegria é grande. Encher o tanque de gasolina está significativamente mais barato que há um ano. Os especialistas do setor de petróleo avaliam que só os motoristas alemães economizaram cinco bilhões de euros em comparação a 2013.

O dinheiro é gasto, então, em outras coisas o que, por sua vez, fortalece a demanda interna. Isto tem um efeito positivo sobre a economia. E os exportadores da Alemanha também têm motivos para comemorar. Devido à acentuada queda do euro, eles podem vender mais barato seus produtos. Isso tudo leva a que cada vez mais pesquisadores econômicos corrijam para cima suas previsões de crescimento para o novo ano. Será que a Alemanha – e, com ela, a zona euro – está diante de um bom ano de 2015, economicamente falando?

Dificilmente, se o preço do petróleo continuar tão baixo. Já agora, os mercados globais estão extremamente nervosos. Os altos e bairros violentos dos mercados de ações nas últimas semanas é uma indicação disso. Se os preços caírem ainda mais, a zona euro pode cair numa armadilha deflacionária perigosa. Ao esperarem que os preços caiam ainda mais, as pessoas adiam grandes compras e as empresas adiam seus planos de investimento. Esta diminuição da procura leva a uma nova queda dos preços. No final, pode ocorrer um longo período de estagnação. O Japão, que é a terceira maior economia do mundo, é um exemplo disso.

Uma outra fonte de perigo são os países produtores de petróleo. Estes são ameaçados por turbulências consideráveis, como, por exemplo, Venezuela e Rússia, nações dependentes dessas receitas mais do que outros países. Quanto à Rússia, o misto de sanções e queda do preço do petróleo já provoca consequências violentas. A moeda do país está no fundo do poço, a fuga de capitais está a todo vapor, e os investidores perderam a confiança na economia russa.

Quem ainda acredita que a falência do império de Putin ocorrerá sem deixar rastros no Ocidente, está enganado. A situação lembra a última grande crise nos países emergentes da década de 90. Na época, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial ajudaram os russos com muitos bilhões de dólares. Isso seria politicamente improvável de acontecer no momento, especialmente porque os bilhões de então escorreram para canais obscuros.

Se, então, a Rússia se tornar insolvente, os profetas da economia deverão reescrever todas as suas belas previsões. Exatamente como nos EUA, também um país produtor e, desde a era do fracking(fraturamento hidráulico), um produtor muito importante e até, por assim dizer, um dos culpados pelo excesso de oferta nos mercados do petróleo e, consequentemente, pela queda nos preços.

Mas, mesmo ali, se esconde um perigo real. A indústria de fracking emitiu muitos empréstimos a juros elevados para financiar sua tecnologia cara. Mas há um limite a partir do qual o fracking já não vale mais a pena. Se as empresas entrarem em falência e não puderem mais pagar suas dívidas, isso pode levar a uma crise financeira similar à provocada pelo estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008.

Já é de se admirar quando o ministro saudita do Petróleo, pela primeira vez, admite abertamente que há preocupação com seu próprio poder de mercado. Ele afirmou que o preço do petróleo irá cair o que tiver que cair, que os outros serão duramente atingidos, enquanto os árabes ainda não sentirão nada. Uma retórica de guerra.

E mais uma coisa: por melhor que um preço baixo do petróleo seja no momento, não é um bom sinal quando, de repente, aumenta assustadoramente a procura pelo modelo Hummer da GM, considerado o beberrão entre os automóveis. Isso nos faz esquecer que o petróleo é um recurso finito. Faz com que percamos o foco na busca de sistemas modernos de locomoção e novas formas de fornecimento de energia.

Resta esperar que o preço do petróleo se estabilize novamente no ano novo e abandone seus níveis absurdamente baixos. Caso isso não aconteça – e no momento não parece que isso não acontecerá –, as conturbadas últimas semanas de 2014 só foram o prenúncio de um turbulento 2015.

Fonte: DW.DE

9 Comentários

  1. Esse preço no barril é um tiro no pé e favorece a China que está a economizar bilhões com a compra de petróleo

    • Exatamente isso ! Petroleo é sinonimo de energia, e agora é energia barata, e desde quando energia é ruim. Com o petroleo barato os paises importadores vão gastar em outras commodities – ate os EUA vão se dar bem.

  2. Alguém pode me dizer se o preço da gasolina no Brasil caiu depois dessa despencada no preço do barril? Dando uma rápida pesquisada na web já vi lugares em que a gasolina caiu até 45% !!!!!!!.
    Aliás, eu não me lembro de ver preço de gasolina cair no Brasil, já vi do álcool, e me lembro quando cheguei a pagar R$1,09/litro, no interior de SP.
    Mas parece que a gosolina só muda para cima.

  3. ,..só espero q o BRASIL aguente, esse preço do petróleo q acredito vai ficar ainda + baixo. Essa guerra está voltada p tornar inviável às novas formas de enrgia tão propalada pelos iankSS, xisto. Parar o rearma/ e modernização das Forças Russas, castigar à Venezuela, BRIC’s…real/ 2015 promete.Quem viver verá. Sds. 😀

    • Giancarlos, hoje bateu nos $55/barril. Já está bem crítico, principalmente para o óleo do pré-sal. Tem gente que acredita que dá para segurar até os $40, mas eu não sei, não. Duvido.

  4. Sempre pensei que um dia o petróleo acabaria e na Arábia Saldita voltariam a um cortar a garganta do outro, o que nunca imaginei é na possibilidade de isso acontecer por excesso de produção e queda nos preços. Como estou vivo talvez veja. Sds.

  5. Um texto para subsidiar a análise do tema:
    —————————————————————-

    PETRÓLEO: O INÍCIO DA PRÓXIMA CRISE?

    4 de janeiro de 2015
    Do Informação Incorrecta

    A recente guerra dos preços do petróleo pode desencadear uma profunda crise financeira?
    A dúvida existe mas a resposta parece ser: não de forma directa.

    O que começou como uma estratégia para pôr em dificuldades alguns Países (Rússia em primeiro lugar) não tem a capacidade tornar-se algo parecido com a crise que despoletou a crise global em 2008.

    Não de forma directa, como afirmado. Ao comparar as “bolhas” (aquela dos subprimes de 2008 e aquela do petróleo hoje) é possível observar como a primeira fosse 5 vezes maior.

    No geral, os economistas pró-establishment baseiam-se nisso para negar o perigo; todavia, outros analistas indicam a existência de diferentes elementos que podem contribuir para um quadro de potencial contágio:

    as perdas dos produtores de petróleo;

    as perdas dos bancos expostos perante o mercado de petróleo, muito endividado;

    as perdas no mercado dos derivativos da energia, o que equivale a 4.000 mil milhões de Dólares;

    as perdas sobre os Credit Default Swaps (CDS) contra o risco de insolvência do mercado da energia;

    a circulação de “produtos estruturados” que contêm estes CDS.

    Como é possível observar, mais uma vez grande parte dos riscos provêm do sector da especulação financeira (derivativos, CDS, produtos estruturados…).

    Mas há também a vertente económica. A primeira “vaga” já está a afectar os produtores norte-americanos que exploram o xisto e que precisam de um preço do barril (Brent) entre 80 e 120 Dólares para pagar as dívidas. Com um preço menor, a extracção deles não compensa e actualmente o barril fica abaixo dos 60 Dólares. Bem longe do valor mínimo que seria preciso.

    Caso a guerra do petróleo não acabar, a indústria petrolífera irá recolher menos do que 400 biliões em receitas. Muito, sem dúvida, mas sempre menos do que a dívida que atinge um total de 1.600 biliões de Dólares.

    Depois, como vimos, há o sector especulativo (financeiro), cujo derivativos apresentam uma exposição de 20.000 biliões. Muito, muito dinheiro: e é aqui que se joga o futuro da crise.

    O analista Peter Lewis advertiu, numa carta ao Financial Times do passado dia 18 de Dezembro, que os actuais preços do petróleo podem provocar uma vaga de insolvência que atingiria um terço dos que têm dívidas com os bancos, com uma perda de 135 mil milhões de Dólares pelos bancos que venderam CDS.

    135 biliões são um gota no meio do oceano dos derivativos; mas é bom lembrar que a americana AIG (seguros) afundou em 2007 por causa de onze biliões de perdas em CDS sobre títulos imobiliários subprimes, e teve de ser salva com 85 biliões da Federal Reserve e outros 150 biliões do governo.

    Mas não é tudo: há também outros produtos, os tais “produtos estruturados”, títulos que contêm entre outros também vários CDS, incluindo aqueles sobre a energia.

    Além disso, Lewis adverte:

    O aumento da volatilidade dos derivativos sobre as commodities geralmente é transmitida a outras classes de valores mobiliários e provoca perdas nos derivativos sobre as taxas de juros (em que os bancos americanos estão expostos em 192 mil biliões de Dólares) e sobre os câmbios (31 mil biliões). As perdas num segmento de mercado podem tornar-se contagiosas por causa dos emaranhados financeiros.

    É uma situação que obriga a reflectir: será que os Estados Unidos estão dispostos a precipitar numa nova crise apenas para pôr em dificuldades a Rússia? Pode esta ser vista como uma atitude desesperada por parte da Administração americana?

    Provavelmente a resposta para ambas a perguntas é “não”: difícil pensar que os analistas perto do governo não tenham previsto por tempo as eventuais implicações. Difícil, portanto, que não haja um “Plano B” em caso de dificuldades.

    Entretanto, eis uma notícia para quem vive nos Estados Unidos: a revogação da emenda à Lei Dodd-Frank Lincoln assegurou que agora os produtos derivativos serão protegidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos (FDIC). Isto significa que as perdas registada pelos derivativos da energia serão pagas pelos contribuintes.

    Assim, tanto para começar bem o novo ano.

    Ipse dixit.

    • Bom comentario Alvez80, mas o que Peter Lewis parece ignorar e que criar problema para Russia nao e o unico objetivo dessa manipulacao cometida pelo goverfno norte americano no preco do petroleo.. E verdade que existe razoes economicas para baixa no preco do petroleo. Lei da oferta e procura, O mundo esta consumindo menos petroleo por causa da estagnacao/depressao economica do miundo capitalista. Mas a crise economica nao explica tudo. os saudistas estao vendendo futuros contratos, isto contrato para petroleo ser entregue numa data no futuro. E ai que a manipulacao ocorre. Pode ser que Arabia Saudista nem estara em condicoes de cumprir esse contrato. Problema para o futuro. No presente esta ocorrendo a queda no preco do petroleo.A bolha nas bolsas de valores esta para explodir. O mercado de derivativo no mercado de moeda/carry trade e outro para explodir. As empresas que retiraram dinheiro empretado para investir na exploracao do xisto estao nas beiras do precipicio. Isto e da bancarrota.O FED suspendeu oficialmente o QE3, o programa de imprimir 80 bilhoes de dolares por mes para salvar os bancos. Digo oficialmente, porque ha muito analistas que dizem que o FED continuam imprimindo mais de 200 bilhoes de dolares mensalmente para salvar o mercado de derivativos Mas assume que o FED nao esta mentindo, e o QE3 trerminou. Com a nova implosao do sistema financeiro, seja no mercado de derivativo, seja na industria Xisto/shale, os neoconservativos estao simplesmente criando as condicoes para que um novo programa de impressao de dolar , QE4 possa ser justificado. Como os bancos teve suas dividas e prejuijos nacionalizados pelo gocverno de Bush Filho, os bancos e agora a industria exploradora do Xisto terao suas dividas e prejuizos wencampados pelo governo de Obama. Presidente muda, ora e , Clinton, ora e Bush Filho, ora e Obama. Mas os neoconservadores continuam no posto.

  6. A Rússia tem enormes reservas monetárias e pode fazer uma promoção no mercado de armas que deixará os EUA e Arábia Saudita em uma situação muito complicada.

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