O impacto geopolítico da queda do preço do petróleo

Sugestão: HMS Tireless

Martin Feldstein aponta as consequências da queda do preço do barril para as economias que dependem da commodity para financiar seus programas de transferência de renda

Martin Feldstein
A nova era do petróleo: descobertas e avanços tecnológicos abrem espaço para expansão da oferta

Petróleo: queda do preço do barril pode beneficiar EUA e prejudicar Venezuela e Rússia (Viktor Veres/AFP/VEJA)

O preço do petróleo teve uma queda de mais de 25% nos últimos cinco meses, para menos de 80 dólares o barril. Se o preço permanecer neste nível, haverá implicações importantes – algumas boas, outras ruins – para muitos países ao redor do mundo. Se cair mais, como parece provável, as consequências geopolíticas em alguns países produtores de petróleo podem ser dramáticas.

Em qualquer momento, o preço do petróleo depende das expectativas do mercado sobre procura e oferta futuras. O papel das expectativas torna o mercado de petróleo muito diferente da maioria. No mercado de vegetais frescos, por exemplo, os preços devem equilibrar oferta e procura para a safra em curso. Em contraste, os produtores de petróleo e outros agentes da indústria podem retirar a oferta do mercado se acharem que o seu preço vai aumentar depois, ou introduzir uma oferta suplementar se acharem que o preço vai cair.

Companhias de petróleo em todo mundo retiram a oferta do mercado reduzindo a quantidade de óleo extraído. Produtores de petróleo também podem restringir a oferta guardando seus estoques em navios petroleiros ou outros locais de armazenamento. Por outro lado, os produtores podem introduzir mais petróleo no mercado aumentando a produção ou revisando seus estoques.

As expectativas do mercado refletidas no preço atual mostram procura mais baixa e oferta em alta no futuro. Uma procura mais baixa reflete tanto a atual fragilidade da atividade econômica, particularmente na Europa e na China, quanto, o que é mais importante, as mudanças de longo prazo na tecnologia, que irão aumentar a eficiência dos combustíveis e induzir o uso de energia solar e outras fontes de energia alternativas. O aumento da potencial oferta futura de petróleo reflete os novos resultados de produção ocasionados pelo rastreamento, pela exploração canadense do óleo de xisto, além da recente decisão do México de permitir que companhias estrangeiras de petróleo desenvolvam as fontes de energia do país.

As mudanças na oferta e na procura sugerem que o preço do petróleo no futuro será mais baixo do que os agentes da indústria esperavam até poucos meses atrás. Algumas das recentes mudanças nas expectativas sobre oferta e demanda futuras podiam ter sido antecipadas mais precocemente. Mas não há como saber quando atitudes e expectativas irão mudar. A volatilidade histórica do preço do petróleo reflete essas mudanças psicológicas, assim como mudanças na realidade objetiva.

O preço atual do petróleo também está ligado às expectativas quanto às futuras taxas de juros. Mais especificamente, os produtores de petróleo devem fazer uma escolha de investimento: podem aumentar a produção agora, vendendo o petróleo adicional pelo preço de hoje e investindo os lucros sob a taxa de juros de longo prazo, ou podem deixar de extrair o petróleo e deixá-lo no subsolo como investimento.

Uma taxa de juros baixa encoraja os produtores a deixar o petróleo no subsolo. Quando a atual taxa de juros de longo prazo, que está mais baixa que o normal, aumentar nos próximos anos, será mais atraente para os produtores aumentar também a oferta de petróleo e investir os rendimentos resultantes sob uma taxa mais alta. A menos que mudem as expectativas sobre as bases de oferta e demanda futuras, o aumento da taxa de juros fará o preço do petróleo cair ainda mais.

O preço do petróleo em queda é uma boa notícia para a economia dos Estados Unidos, porque implica num aumento da renda real para os consumidores americanos. Dentro do país, o preço mais baixo transfere a renda real dos produtores de petróleo para os lares americanos. Pelo mesmo motivo, o preço mais baixo também ajuda a aumentar a demanda agregada na Europa, Ásia e outras regiões importadoras de petróleo.

Os grandes perdedores com a queda do preço do petróleo incluem diversos países que não são amigos dos Estados Unidos e seus aliados, como Venezuela, Irã e Rússia. Esses países são profundamente dependentes das receitas de petróleo para sustentar os gastos de seus governos – especialmente programas de transferência de renda. Mesmo com o barril a 80 dólares ou 75 dólares, esses governos terão dificuldades para financiar os programas populistas de que precisam para continuarem tendo apoio popular.

Embora a Arábia Saudita e diversos países do Golfo também sejam grandes exportadores de petróleo, eles diferem de outros produtores em dois aspectos importantes. Primeiro, o custo para extraírem petróleo é extremamente baixo, o que significa que eles irão conseguir produzir de forma lucrativa com o preço corrente – ou mesmo até com um preço muito mais baixo. Segundo, as suas enormes reservas financeiras lhes permitem financiar suas atividades domésticas e internacionais por um longo período de tempo, à medida que buscam transformar suas economias para reduzir sua dependência das receitas do petróleo.

Uma maior queda do preço do petróleo poderia ter repercussões geopolíticas graves. Um preço de 60 dólares o galão criaria problemas severos para a Rússia em particular. O presidente Vladimir Putin não poderia mais manter os programas de transferência de renda que atualmente sustentam o seu apoio popular. Haveria consequências similares no Irã e na Venezuela.

Não está claro se os atuais regimes desses países poderiam sobreviver a uma futura queda substancial e sustentada do preço do petróleo. Em contraste, é óbvio que os países importadores de petróleo se beneficiariam enormemente – como já vêm se beneficiando.

Martin Feldstein é professor de Economia em Harvard e presidente emérito do National Bureau for Economic Research dos Estados Unidos. Também foi presidente do Conselho de Assessores de Economia de Ronald Reagan.

Fonte: Veja

13 Comentários

  1. Não vai prejudicar tanto assim a Rússia não. Isso é matemática simples no campo político.

    O petróleo cai, aumenta-se o preço do gás! Simples assim!

    Lembro bem de uma cena do Eddi Murph como político almoçando com outro que lhe explicava o jogo: a gente vai ter que aumentar o imposto, se as empresas não pagarem, o povo paga!

  2. Alguns países sofrerão com a queda do preço do petróleo, mas isso é passageiro, a humanidade vive em torno do petróleo, podem ficar falando repetidamente das energias renováveis mas elas só serão viáveis de verdade quando o petróleo estiver esgotado !

    Vejam como os EUA vão a guerra e destroem nações inteiras por petróleo !

  3. Falando em economia global…
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    8 de Dezembro de 2014

    REVISADO, PIB JAPONÊS CAI MAIS DO QUE O ESPERADO

    O governo japonês anunciou que o Produto Interno Bruto (PIB) do Japão caiu 0,5% entre julho e setembro com relação ao trimestre precedente. Com o anúncio desta segunda-feira (08), o país rebaixou em 0,1% a estimativa anterior. É a terceira vez desde 2000 que o país entra em recessão.

    Segundo os dados atualizados, o Japão apresentou queda de 1,7% entre Abril e Junho. Com isso, é a quinta vez desde 2000 que a terceira maior economia do mundo está em recessão. No ano, o país apresenta queda de 6,7%.

    O anúncio ocorreu uma semana antes das eleições legislativas convocadas pelo primeiro-ministro, Shinzo Abe. A medida foi adotada devido ao péssimo desempenho econômico do país.

    Fonte: Ansa

  4. Essa estratégia do BRASIL baseada nas commodities, em detrimento da indústria, é bem arriscada. O petróleo vai ter de ser substituído por combustíveis renováveis mais cedo ou mais tarde e pode ser cedo. Tecnologias pra isso já existem e agora que é mais interessante romper a dependência do petróleo, pelos grandes importadores, elas virão com força. No caso das commodities agrícolas não é diferente. A China está trabalhando duro para aumentar sua produção de milho, entre outras, rompendo aos poucos sua dependência de importações. Ela tem muito território, metade desértico, e pode usar novas e velhas tecnologias para aproveitá-lo e suprir sua demanda alimentar futuramente. Se o BRASIL não começar a retomar e aumentar sua capacidade tecnológica industrial estaremos condenados.

    • O Brasil deve desenvolver sua capacidade de exploração desse minério cada vez mais, sem deixar-se influenciar por más noticias temporais e momentaneas, para não ser pego de surpresa como já aconteceu em outro momento em que eramos muito mais frageis. Isso não significa que devamos abdicar de pesquisa de outras fontes. Penso tambem que devamos sair do lugar comum de seguirmos as regras de pesquisa que ficam no lugar comum das inovações dirigidas pelo “ocidente”. Devemos dar liberdade aos nossos inventores e cientistas para expor e propor tudo que possam ter para revolucionar o campo cientifico sem nos preocupar com os dirigismos internacionais responsaveis por verdadeiros crimes na manipulação para beneficio de seus interesses. Bem que o Brasil poderia revolucionar sendo o país que a se insurgir contra as limitações e bloqueios, economicos e estrategicos, da criatividade cientifica.

    • jnpnhr concordo com voce e lembrando de que o petroleo não esta ligado somente a combustivel mas tambem é usado em muitas outras areas o petroleo não perdera seu valor daqui algum tempo descobriram que ele é mais importante para outros fins do que o combustivel automotivo vai ser a virada do seculo e os paises que tiverem grandes reservas ou forem auto suficientes nesta area estaram bem MAS CONCORDO COM VOCE PLENAMENTE NÃO PODEMOS DEPENDER SOMENTE DO PETROLEO TEMOS IMENSAS RIQUEZAS QUE SE DIGA DO NIOBIO MAS DEVEMOS INVESTIR EM TECNOLOGIA PARA PODERMOS AGREGAR VALORES AS NOSSAS RIQUEZAS E TECNOLOGIA PROPRIA SÓ SE CONQUISTA COM EDUCAÇÃO.

      • Sim más para alguns dos subprodutos do petróleo já existe equivalentes sintéticos como o querosene, gasolina, diesel, óleos lubrificantes derivados de mamona inclusive. Desses derivados uns já são economicamente viáveis já comercializados, outros são quase viáveis e já comercializados pelo fator ambiental positivo e outros não viáveis economicamente por não serem produzidos em grande escala, o que baixaria os custos, más é preciso decisão governamental para por em prática. O petróleo ainda é mais barato porque dominamos o processo e há pesquisas contínuas para aperfeiçoar sua produção e refino. O que ditará seu fim é sua disponibilidade não só pela existência de reservas, más também por fatores políticos estratégicos e econômicos. Que isso não paralise outras alternativas…

    • O Brasil, como país historicamente sem estratégia político/industrial, perdeu a fase da bonança onde poderia ter investido maciçamente em tecnologia, infraestrutura, ciência, educação e eficientização do parque industrial nacional em troca da corrupção institucionalizada e investimentos em parceiros “ideológicos” acreditando que os preços dos commodities (como petróleo) continuariam subindo sempre.
      Se uma guinada radical não for dada em prol do real desenvolvimento do país estaremos realmente fadados um horizonte muito difícil pela frente.
      Abraço,

      • É só lembrar do cara acendedor de poste a querosene. Quando chega a eletricidade acaba a fonte de renda. O carro elétrico vai acabar com o carro ciclo otto e diesel quando a produção ganhar escala. Não é bom por todos os ovos na mesma cesta.

  5. A sorte do brasil eque o setor agroindustrial eh responsavel por quase 40% das exportaçoes e tambem segura as pontas no mercado interno , mas mesmo assim o governo populista e parasita encista em criminalizar o setor ,sao chamados pelos bolivarianos de latifundiarios ,de exploradores do povo e todas as pataquadas que sao peculiares dos trabalhistas preguiçosos , nestes doze anos os setores energeticos renovaveis foram relegados a um terceiro plano ,falaram muito em pre-sal ,nao investiram em logistica para escoamento da produçao agricula, o credito liberado para os produtores exerce pressao sobre os mesmos , abandonaram os programas de combustiveis renovaveis ,o setor ainda existe por merito de empresarios visionarios e patriotas ,se depender desta patriotada que ai estah ,estariamos importando alimento , a esquerda brasileira e adepta da partilha do BOLO, 9/10 para eles e para cuba ,o resto para a escoria , quando nao houver BOLO para partir ,os ratos abandonam o navio , o politico de direita rouba e FAZ,o politico de esquerda rouba,rouba e culpa o passado por nao terem competencia em fazer !

  6. Fonte: Veja. Sempre, dos fatos se chega a conclusão que interessa aos bilionários. O maior programa de distribuição de renda que existe é o pagamento de juros que retira do Tesouro Nacional de inúmeras nações os recursos para bancar a vida nababesca que alguns.

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