Foto: Vladimir Kyultygin
Foram nomeados os coordenadores do projeto, que irá fomentar a colaboração internacional entre os dois países. Da parte brasileira, é José Celso Freire Júnior, presidente do Fórum de Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais (FAUBAI). E da parte russa, é Elena Chernyshenkova, que chefia o Centro de Marketing Universitário e Recrutamento Acadêmico do 5-100.
Quando uma universidade brasileira quiser realizar uma parceria com a Rússia para realizar projetos conjuntos, pode entrar em contato com o professor José Celso, indicando as áreas em que pretende trabalhar e o nome da universidade ou das universidades com as quais quer colaborar, para iniciar o processo do estabelecimento do contato. Estabelecimentos acadêmicos russos poderão encaminhar os seus pedidos para a professora Elena.
Na fase final do seminário, o moderador da sessão, Fábio Alves, diretor de Relações Exteriores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou que a cooperação atual vai-se desenvolvendo em três áreas principais: a energética (petróleo e gás), a aeroespacial e a biomédica. Já os métodos de cooperação são quatro: a criação de projetos internacionais conjuntos, escolas de verão, mobilidade de pesquisadores e a de estudantes. Também o estudo de línguas (começando pelo inglês, mas implementando também o russo no Brasil e o português na Rússia) foi um dos assuntos destacados.
A lista não é completa, claro, pois cada universidade pode sugerir algo para si e cada projeto tem suas particularidades que podem ajudar a criar novas formas de cooperação. Mas essas ações individuais (porque cada instituição as implementará independentemente das outras, segundo as suas necessidades e possibilidades) são essenciais para começar.
Em breve, depois de um seminário semelhante em São Petersburgo, em 8 de dezembro, os coordenadores da parceria irão divulgar um comunicado final onde os passos seguintes serão relatados. Amanhã, no dia 3 de dezembro, a delegação brasileira encontrar-se-á com o vice-ministro da Educação e Ciência russo, Alexander Povalko.
Os líderes que internacionalizam a pesquisa russa
O evento, que teve lugar no Hotel Nacional, no centro de Moscou, começou com palestras sobre a situação acadêmica nos dois países. Grigori Andruschak, chefe do Departamento Estratégico do Ministério da Educação e Ciência da Federação da Rússia, explicou para a delegação brasileira a história da educação na Rússia. Já o diretor do projeto 5-100, Mikhail Antonov, fez uma breve descrição do projeto.
O projeto 5-100 visa internacionalizar a educação superior e as pesquisas científicas e aplicadas russas. A iniciativa foi proposta pelo decreto presidencial N.º 599 “Das medidas relativas à realização da política estatal na área da educação e da ciência”, de 7 de maio de 2007. Uma das cláusulas do decreto lista, entre outros objetivos, o seguinte: “A entrada, até 2020, de pelo menos cinco universidades russas na lista das cem melhores universidades do mundo de acordo com a lista internacional de universidades”. Agora, 15 universidades foram escolhidas para formar um núcleo internacional do sistema acadêmico russo. Mesmo se cinco delas se tornarem “líderes”, ocupando posições em ratings internacionais, o resto não se perderá de modo nenhum: essas universidades também estarão na vanguarda da educação e da pesquisa científica russa. Terão acumulado uma experiência enorme e útil, com perspectivas de desenvolvimento.
Entre as universidades “finalistas” do projeto, estão as Universidades Federais do Extremo Oriente, dos Urais, de Kazan, Universidade Estatal de Pesquisa de Tomsk, Universidade Estatal de Pesquisa de Tecnologia Informática, Mecânica e Ótica de São Petersburgo, Universidade Nacional de Ciência e Tecnologia MISiS etc.
Da parte brasileira, estavam presentes representantes das Universidades Federais de Pernambuco (UFPE), do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Santa Maria (UFSM), de Minas Gerais (UFMG), Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e outras.
Barreiras linguísticas
Os palestrantes notaram em suas comunicações que, para se ter uma parceria acadêmica normal, é necessário que o professor, pesquisador ou estudante convidado tenha uma estadia confortável no país anfitrião. No entanto, nem na Rússia, nem no Brasil se fala muito inglês. “Perto das universidades, sim”, corrigiu um participante siberiano, admitindo, contudo, a situação geral.
No entanto, o inglês permanece a língua geral de parceria internacional, quase em todas as áreas. Por isso, é preciso que, pelo menos no ambiente universitário, sempre exista a possibilidade de comunicação livre. Várias universidades russas introduzem, além da preparação de cursos em inglês, cursos de inglês para o seu pessoal, tanto docente como técnico. Um representante russo até falou em português durante o evento.
Cursos em inglês, accessíveis para categorias amplas de estudantes e docentes estrangeiros, permanecem no foco das atenções. No Brasil, disse Anísio Brasileiro de Freitas Dourado, presidente da Comissão de Relações Internacionais da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), não existem cursos completamente em inglês. Nem em espanhol, francês ou qualquer outra língua estrangeira. Mas isso é um dos objetivos que já está na mira, assegurou.
Colaboração para subir na lista
O Brasil e a Rússia são quase vizinhos no rating internacional de atividade científica, a que se referiu o presidente da comissão da ANDIFES. Em 2013, o Brasil ocupou a 13ª posição, a Rússia sendo a 15ª. Os primeiros são os países de língua inglesa: os EUA, o Reino Unido e o Canadá.
Quase todos os representantes de universidades e organizações brasileiras concordaram em que os dois países têm muito em comum. Resta fomentar a mobilidade e a interação mútua. Para isso, é preciso se conhecer melhor, estabelecer contatos permanentes e elaborar um esquema de ações conjuntas para coordenar as pesquisas e reduzir a diferença nas referências. A atuação do grupo BRICS, ajudando a unir os esforços em várias áreas de atividade internacional, deve tornar mais eficiente essa interação e os contatos.
Há contatos que existem e existiam antes. Por exemplo, a universidade russa MISiS tem parceria com a PUC-RJ, uma universidade de Tomsk (na Sibéria), com a USP. A USP também tem parceria com a Universidade Estatal de Moscou Lomonosov, Universidade Estatal Russa Ciências Humanas etc. Há professores de origem russa que trabalham ou trabalharam no Brasil. Mas são casos pontuais e sem coordenação geral.
Já a coordenação mútua da vida acadêmica é um bom instrumento que pode fazer o Brasil e a Rússia subirem na lista mencionada antes, “derrubando” assim os EUA do primeiro lugar. O Brasil, como a Rússia, não se alinha com o sistema educativo de Bolonha, o que dificulta parcialmente o reconhecimento pela comunidade internacional, mais aberta para o sistema unificado já conhecido. Portanto, a coordenação dos esforços, especialmente no aspecto da mobilidade acadêmica, pode permitir um análogo do Erasmus europeu.
Como um dos primeiros passos para o fomento de tal mobilidade, os organizadores do projeto 5-100 organizam uma visit Brasil em abril e maio de 2015, no quadro da conferência da FAUBAI em Cuiabá.
Legal, o Brasil não pode e não deve menosprezar parcerias que se proponham a compartilhar seu conhecimento. Russos, franceses, alemães,,turcos, yankes, todos que queiram. Sds.
É verdade Julio, Putin demonstra boa vontade de desenvolver cooperações e parceria com o Brasil e a América Latina. Nesse Ponto eu simpatizo com ele e concordo que devemos aproveitar as oportunidades.
Se angariarmos transferência de conhecimento da Rússia o irmão do norte vai bater o pezinho, e nos classificar como “comunistas”! 🙂
Obviamente temos muito, mas muito mesmo, a ganhar aprendendo com os russos! Isso não quer dizer que tenhamos que abraçar suas ideologias, ou as de qualquer outro povo que queira apertar nossas mãos!